segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Bom dia

      Mais um dia. Vida em curso. É o planeta que completa mais uma volta em torno do assim chamado "astro rei".

      O sol invade mais um dia. Continuamente. Sem parar. Mais uma chance a tantos. Mais uma chance a todos.

      Para quantos o fim dos dias chegou nesta madrugada? Para quantos nem completarão o dia de hoje? Basta a cada dia o seu mal. Oh, Deus: cessa tanta violência.

       Jesus disse isso. Ora, tantos exegetas, estudiosos que escavam, escacaviam, como se diz, o texto, desencavando entrelinhas.

     E que dizem, ora, quanta coisa foi colocada na boca de Jesus, que ele nem disse. Será que essa ele disse: "basta a cada dia o seu mal". Então, o que quis dizer?

       Está aqui o contexto: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal."
                                 Mateus 6:34
       Ao inverso Jesus quis argumentar. Preferiu destacar a ênfase no mal como argumento para o abandono ativo da ansiedade.

      Ele deve ter dito que ansiedade é um mal que não devemos trazer, mais este, para nenhum dia. Eles já trazem consigo o seu próprio. Abandonem-na.

      Mas ainda mais. Fora de contexto a frase soa displicente. Como se Jesus, por um pouco, mostrasse a si mesmo, por essa frase em fim de frase, indiferente ao mal de cada dia.

     Vem o dia. Nasce mais este dia. Acrescenta-se, como chance, a tantos outros. O salmista diz que o sol nasce soberano, vai percorrer como noivo seu percurso, anunciando a glória de seu Criador.

      O salmista diz que "um dia discursa a outro dia/uma noite revela conhecimento a outra noite". É sequencial. Quantos dias já tive? Quantos ainda terei?

      Outro salmista ensina a contar os dias, para alcançar coração sábio. Cada dia mais uma chance. Chance de deixar o mal para ontem. Ontem foi seu último dia de ser mal.

     Seja bom hoje. Tenha um bom dia. Ao jovem rico Jesus disse que bom só um existe, que é Deus. A vida escorre contínua como um só dia. A noite é ilusão.

      Todos temos só um dia. Corra, então. O sol anuncia mais este dia. Corra ao encontro de Deus, que te espera. Que Ele te conceda um bom dia. E te digo uma coisa: desta ansiedade Deus não se cura.
     
       Ansiedade por te conceder vida. Ansiedade por te conceder um bom dia. Para Deus tua vida é um só dia. Aproveite essa chance que te dá para ter um bom dia.
     

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Puro estresse

          Não há como pressupor, em Deus, previsibilidade. Quer dizer, sim e não, ao mesmo tempo porque, em Sua insondavisibilidade (se é que existe esta palavra: inescrutabilidade, pronto) e em Sua soberania (esta existe), não se pode forçá-Lo a nada.

       Bem, mas falar dEle (e com Ele) pode. Aliás, a Bíblia esnoba tal possibilidade. Fala dEle todo o tempo (e o suficiente) para torná-Lo conhecido. Não fala tudo sobre Ele (pura pretensão), mas fala o suficiente.

      Como disse Lucas Evangelista que Paulo Apóstolo falou: "não é necessário que se lHe procurem tateando, para que O possam achar". Mas aqui desejo falar (dEle) uma certa capacidade provocativa de procurar amizade com o ser humano (que criou a Sua imagem e semelhança).

      Interessante. A Bíblia fala de anjos, seres celestiais também pelo Altíssimo criados que, inclusive, não partilham as limitações do homem. Mas não foram criados "à imagem e semelhança" de Deus. Estes são privilégios exclusivos do ser humano homem e mulher.

       Mas vamos ao assunto. A primeira vez que a Bíblia fala dessa gana divina por amizade é quando, já sabendo da besteira fundante de todas as outras que o casal primordial fizera, dando ouvidos à oposição, procurou-os.

     E a Bíblia diz que foi "na viração do dia", ao entardecer, supostamente a melhor parte do dia para diálogos reflexivos. Pois postas em dia as diferenças que, a partir desse diálogo, impuseram-se, anotadas as medidas emergenciais e compensatórias de todo o dano e exposto à expulsão o casal primordial, vida que segue.

      Surpreendentemente o Livro nos coloca diante de outra provocação de amizade, desta vez ao inverso, em nossa reles opinião porque, para nós, entre Abel, o justo, e Caim, o canalha, preferivelmente o Altíssimo deveria ter procurado o primeiro. Mas não. Contradição de todas, procurou o canalha.

       Confrontou esse inimigo de Deus. Aliás, não é exclusiva de Caim essa alcunha. Paulo Apóstolo, em sua teologia, esboça que todos, indistintamente, somos, por natureza, ou seja, inato é sermos inimigos de Deus (no entendimento e, como resultado, na práxis).

      Sugeriu duas coisas a Caim: que se contivesse e que dominasse, como causa, em si mesmo, o pecado, sentimento este sobre que a Bíblia tem duas coisas a dizer: habita o ser humano, também inato a ele; é sempre contra o ser humano, contra a vida, contra o outro, contra Deus.

      Caim nem aí para Deus. Esse pessoal que define um "deus de consumo" (que, definitivamente, não é o da Bíblia), esconde de todos esse texto, essa história: Abel ser assim, assim com o Altíssimo não lhe conferiu nem prosperidade, nem livrar-se do mal.

      Também contra essa "fé utilitarista" clama, da terra (ainda), o sangue de Abel. E Deus continua em Sua tentativa de amizade com o ser humano. Com Noé, fê-lo passar por profeta louco, por construir longe da praia do mar uma arca monumental: não lhe seria útil para nada e nem poderia transportá-la aos oceanos.

      Sem problemas, porque foram as águas que vieram ao encontro da arca. Ser amigo de Deus, para muitos ao redor, aliás, para a mídia, pode significar de duas uma (ou as duas): absolutamente inútil; loucura total.

       Com Abraão Deus provocou amizade para lhe testar a paciência. Para que quando, e só quando, humanamente falando, fosse impossível, só então Deus agisse. Chamou isso de fé e declarou Abraão "pai da fé". Haja paciência (de Jó).

       Aliás, falando de Jó, já dissemos, haja (nessa amizade) paciência. Com Moisés (pulando muitos outros, José seu antepassado, por exemplo - e sem mencionar mulheres, desculpem o machismo, porque Eva foi a primeira amiga, que ensinou a Enos, seu neto, os segredos dessa amizade).

       Com Moisés foi provocação total. Deus estressa primeiro, antes de se mostrar (ou já se mostrando) amigo. (Mas também, lidar com ser humano estressa qualquer um(a)). Até Moisés entender que, no caminhar com Deus, no andar no Espírito, no aceitar deixar-se modelar, em caráter, do mesmo modo que Cristo se deixou modelar pelo Pai - "o filho não pode fazer de si mesmo nada, senão aquilo que vir fazer o Pai".

           Amigo por excelência. Aqui está bem empregada esta palavra. No texto da videira, em que João Evangelista afirma que somos enxertados em Jesus e que Deus, o Pai, se torna agricultor, aperfeiçoando as varas que somos nós, nesse texto está escrito que Jesus nos torna amigos de Deus.

     Mais essa do Galileu. Muito bom começarmos a entender isso.