sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Pastoral

    Fim de ano

   Vem com o kit começo de ano. É aquela época em que a gente tenta fazer um back up e, ao mesmo tempo, votos de mudanças.

    Bem, para quem experimenta, de modo genuíno, o evangelho em sua vida, ele significa mesmo renovação. Evangelho autêntico é renovação.

    No conjunto das chamadas "cartas da prisão", que envolvem Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon, tomadas em seu conjunto, Paulo define essa feição renovadora do evangelho.

    Em Colossenses, afirma que, em Cristo habita, corporalmente, toda a plenitude de Deus. Para logo depois dizer que seu ministério é formar Cristo em nós.

    Já havia dito, aos Efésios, que orava para que pudéssemos compreender, abarcar o amor de Deus que, por sua vez, excede todo o entendimento. Mas é urgente, para nós, ser tomados pela plenitude de Deus.

    E aos Filipenses, exorta que tenhamos em nós o sentimento de Cristo. E que isso não é declarar-se, de si mesmos, perfeitos mas, ao contrário, dar sinais evidentes de busca contínua por perfeição.

    E a Filemon demonstra, nessa curta epístola, o que Oseias, profeta do AT, quis dizer com "cordas de amor". Paulo enleia, quer dizer, amarra seu destinatário de um jeito, que não lhe deixa saída, senão o amor.

     Tateando, assim, termo de um sermão de Paulo, garimpando textos e estruturas de raciocínio da Bíblia é que vamos, de ano a ano, pondo fim e, ao mesmo tempo, recomeçando.

     Opera em nós o poder de Deus. Aos Filipenses, Paulo também diz que Deus opera em nós o querer e o realizar, segundo a sua vontade. E que vai completar, em nós, a obra que começou.

     Aos Efésios, diz que é por meio do Espírito que Cristo habita em nós, tornando possível que o amor de Deus esteja presente e agente em nossa vida. 

     E aos Colossenses que, se recebermos, de verdade, Jesus, nele devemos andar, radicados, edificados e confirmados na fé, tal como fomos instruídos, crescendo em ações de graça.

    E como o apóstolo mesmo disse a Filemon, podemos encarar tudo isso como um mandamento, que vai parecer imposição, como quando Jesus mencionou "amor" como mandamento.

      Ou considerar tudo isso como voluntário em nossa vida, resultado do exercício de nossa preferência pelo que Deus aspira a exercer em nós. Parceiros com Ele, cooperadores, como Paulo diz em outra carta, desta vez aos Coríntios 2.

      Escolhamos experimentar o poder renovador do evangelho. Não somente, de modo artificial, na euforia da queima dos fogos, mas real e continuamente dia a dia.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Pastoral

Natal

    Tenho que escrever. Vou tentar fugir do comum, do tipo "são tantas emoções, bicho". Todo mundo tem coisas a lembrar sobre o Natal, de um jeito ou de outro.

    São muitos e são um. Bem, nos últimos 23 deles estabelecemos uma tensão entre Natal/Ano Bom, quer dizer, Ano Novo, por causa dos 4.100 km entre Rio, onde está toda a família, e Rio Branco, terra por adoção.

      Natal comércio, festa e fonte bíblica costumam se misturar. Claro que a fonte de tudo é o presépio que Lucas descreve na Bíblia. Mas espraiado o significado, virou troca de presentes, euforia e cheiro de feriado e reveillon.

       Lá se vão meus Natais da infância, sempre associados à igreja, ensaios de cânticos de época e das pecinhas teatrais sobre pastores, reis magos, José, Maria e o menino.

      Veio à memória um micão, bem assinalado o ano, 1980, conta redonda, Natal meu como estagiário na Igreja Congregacional do Largo do Barradas, Niterói, RJ. Uma tal peça de um tal sapateiro, nunca vi antes, sem fala, mimética, eu como protagonista.

     Não deu certo. Houve uma entrada extra de um "salvador da pátria", nada a ver com Jesus, para transformar o enredo, criando ação, mudando o foco para a comédia.

     Fora esse Natal, se voltamos o foco para as reuniões de família, duas citadas como simbólicas, no Meier, as do Ap de Dorcas, mesa lauta,  quer dizer, farta, decoradíssima, sortida, cheia de capricho.

      Na casa de Lourdes, desde o Ap do Cachambi, a mesma mesa, quanta saudade, passando pelo Ap da Venceslau e esticando até Teresópolis. Em certo Natal, fizemos Rio Branco-4 dias de estrada-Méier-Teresópolis, para comemorar o Natal todos juntos.

     Natais recentes em Rio Branco, nos anos iniciais. Sendo de igreja, Natal e Culto de Vigília são extensão um do outro: sempre estamos pela igreja. Aqui no Acre, já dissemos, mais de 20 anos, mas destacamos um dos primeiros, pela perda coletiva do salpicão, azedado por causa do calor típico de época.

     Natais. Natal. Espírito de época. Desde crianças, quando nossa expectativa era o presente. Há uma certa nota muito particular e individual nessas memórias, porque há quem para quem nunca foi Natal.

     Ou o que viu de Natal, nos outros, reprimiu o que nele nunca foi sinal de alegria. Pobreza, por exemplo. Meu pai, 1949, em Nilópolis, viu mesa farta na casa de Eunice, minha avó. Dorcas esclareceu que, com emprego de Merinho, Ebinho e Maninha, deu para remediar.

      E Tula pôde fritar umas rabanadas (paridas, aqui no Acre) a mais. Mesmo sendo filho de casal de poucas posses financeiras, ainda assim vi primos, ora, parentes próximos, com menos posses ainda na comemoração do Natal.

     Portanto, que Natal? O do presépio de Lucas? Não tem nada a ver com dinheiro o dar presentes. A não ser para dizer que Jesus é o maior presente. Mas nasceu entre pobres e ainda rejeitado, duplamente: não havia dinheiro com José e Maria para bancar uma estalagem e não havia lugar específico e preparado nem para o parto espontâneo.

       Maior dádiva versus maior rejeição. No lugar onde Jesus nasceu, fedia a cheiro de bicho: por isso, puseram o bebê numa manjedoura, envolto em panos. Radical o sentido do Natal.

      Riqueza, para Deus, definitivamente não tem o mesmo sentido de riqueza para os homens. Maior presente, Jesus, ou é aceito de uma vez, identidade completa, ou é rejeitado de uma vez, sem meios termos.

           Hoje, na rua, dei com um bêbado antecipando sua comemoração. Atarrachava com muito cuidado a tampinha do prático bujãozinho de cachaça. Já vi em prateleira de supermercado. Nada contra beber, embora eu mesmo não ingira álcool. Algo muito pessoal, porque o próprio Jesus bebia e, pelo menos uma vez, transformou água em vinho.

         O problema não é ingerir/não ingerir álcool. É rejeitar/não rejeitar Jesus. Mas se você vai rejeitar Jesus, esteja bem lúcido hoje. Desatarrache a tampinha, beba seu gole, faça a clássica careta e, depois, cuspa para os lados. Mas entenda uma coisa: sorver cachaça nada tem a ver com sorver rejeição. Ah, sim: não esqueça, antes, de derramar uma para o santo.


      Feliz Natal.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Pastoral

        Restante de sermão. Sabe quando o pastor percebe que faltou dizer algo no sermão de domingo?

       Segue aqui. A oração de louvor de Simeão a Deus, por ter pegado no colo o bebê Jesus, é uma profecia.

      Profecia é uma oração que deu certo. A gente queria que toda oração nossa fosse ouvida e Deus fosse como o "gênio da lâmpada", com uma diferença: infinitos desejos satisfeitos.

       Isso mesmo. Somos egoístas a ponto de achar que Deus deveria estar a nosso serviço, ao nosso dispor, para satisfazer todos e quaisquer nossos caprichos.

      Mas profecia tem efeito coletivo. É bênção individual, também, mas de efeito comum. Igual na trindade: Deus é de identidade própria, ao mesmo tempo um e(em) três.

     Não existe profecia individualista. O que mais o pessoal corre atrás é dizer, como Esaú ao pai dele, não tem uma bênção aí para mim não?

     Primeiro, ele não considerou santo o que Deus santificara. Tentou ser mais malandro do que Jacó, o irmão que, desde o nascimento, literalmente "pegava no seu pé".

     Malandro e mané, como diz o sambista. Não queira ser malandro com Deus. Não fique alugando quem te forneça profecias por encomenda.

      Olhe à volta e se firme nas autênticas. A Bíblia está cheia delas. São tão poderosas, em Deus, que até corrigem nossa tendência de buscar, no varejo, um "horóscopo gospel".

    Ensinam a pensar como Deus pensa, vivermos como Ele requer e testemunhar segundo nossa missão no mundo. Para com essa mania de querer prever o futuro ou achar que Deus está a seu serviço.

     Jacó disse para Esaú que carestia, guerras e servidão estavam reservadas para ele como bênção. Paulo disse que naufragou, foi assaltado, levou mais de 100 açoites e, pior, foi acuado por falsos irmãos várias vezes. Tudo bênção. Quer essas?

      Larga essa ideia de mercado. Olho aberto nas profecias, mas nas autênticas. Falsos profetas (até os bens intencionados e até bem apessoados) existem aos montes.

     Se liga, meu irmão, na verdade. Exercício para casa: anotar, na profecia de Simeão (Lc 2,29-35), itens que são individuais/coletivos para os que creem. Até bênçãos para quem ainda não creu. Todos garantidos por autenticidade.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Pastoral

      Olá, realidade

      Costuma-se dizê-la nua e crua. Rima e assonância propositais, assim como o sentido, ajustados a definir realidade como um surto.

      Seria projeção de outra realidade, digamos, virtual, como está na moda, algo como o "mito da caverna", segundo a filosofia, ou predestinação, pelo lado, digamos, teológico?

      Mito da caverna é a história que Platão contava, de que não há originalidade no mundo, tudo trazemos de uma experiência-matriz anterior. Quase uma espécie de reencarnação.

      Ou mesmo encarnação, porém com cartas marcadas. Quanto à outra posição mencionada, a teológica, ironicamente aqui chamada, é que, de antemão, Deus definiu tudo, bom para uns, ruim para outros, não dá pra mudar a regra no meio do jogo (da vida).

      Chico já dizia "a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá. Roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião. O tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração".

       Escolhas também desenham a realidade. Racionalizações tornam más escolhas falso brilhante, deformando o caráter. Escolhas certas moldam caráter. Opções acertadas no que é essencial marcam positivamente.

      Enfim, a realidade se impõe, sou joguete dentro dela ou tenho capacidade real de escolha? Sou produto do meio até onde (ou quando)? Minha personalidade é rascunho ou desenho original?

       Será que a realidade se define no encontro com Deus? Sim? Mas quem não crê nEle? Estão fora da realidade, expressão tão usualmente citada por meu pai?

       Se caíram as máscaras, se realmente nus e fora do paraíso, está aí o batismo no real. Quando nos vemos nesse espelho, temos um encontro conosco mesmos e com Deus, não necessariamente nessa ordem.

      Jesus disse "examinais as Escrituras", desejando sondar seus mistérios. E ele disse ainda "pois são elas que testificam de min, contudo, não quereis vir a mim para terdes vida".

      Choque de realidade. A partir desse clamor, ó, Pai, implanta Tua vida em mim, aprendemos a filtrar ilusão e realidade, fantasia e roda viva. Passamos a ter voz ativa e no nosso destino mandar.

       Mas olha, cuidado para não abusar de sua autonomia. Seja humilde e considere no que Deus te tem a dizer. Encontrou-se, mesmo, com Ele? Encontrar-se conosco é a essência dEle.

      Caso sim, caminhe com Ele. Enoque andou com ele e já não era. Sem andar com Ele, já era (não resisti ao trocadilho). Mas não espere que, com você, ocorra o mesmo.

       Não quer dizer que, com quem anda com Deus, vai ocorrer igual. Não é essa a leitura. A leitura é ande com Deus. Parceria com ele, doce realidade. Ou que adjetivo apor?

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Pastoral

     Viagens

     É costume nosso, entre nós evangélicos, escolher Paulo Apóstolo como modelo. Aliás, ele mesmo propõe isto em uma de suas cartas.

      "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo". Esse "como" pode ser trocado por "quando", porque Paulo (nem ninguém) imita Cristo 100% do tempo.

      Mas podemos definir vida cristã, por esse aspecto: contínua tentativa de imitar Cristo. Neste caso de Paulo, por exemplo, pastor e missionário, tentar imitá-lo.

        Ele, na carta 2 aos Coríntios, comenta sobre o modo como toma decisões. Diz que, ao deliberar, procura evitar nele, ao mesmo tempo, sim/não, devo/não devo, vou/não vou (2 Co 1,15-20).

       E fala ali sobre viagens. Como a viagem que fizemos recentemente a Manaus. Estamos ainda sob efeito dela. Desde a decisão, passando pelo percurso, contatos e missão, doce acolhida, retorno em segurança.

      Viagem tem a ver com visão. Expande a visão. Contatos permitem conhecer novas realidades. Modos diversos pelos quais Deus opera. E o efeito disso na vida de obreiros e do povo em geral.

       E nos enche de esperança. Renova nosso modo de enxergar realidades e necessidades do Reino. A gente vê nos Evangelhos Jesus em constante mudança. Sua visão, seu empenho e seu percurso.

      A prioridade de Jesus são as pessoas. Se ele percorria o entorno do Mar da Galileia que, de tão pequeno se chama "mar", visava pessoas. Pegadas e percurso atrás de pessoas.

       Fomos empossar um pastor e consagrar outro por ordenação. Focamos tanto o obreiro mais experiente, quanto o mais novato. E nos vimos neles.

      São duas pessoas como dádiva para outras pessoas e, se vão imitar Jesus, é para dizer como Paulo: "Ei, imitem a mim, como eu imito Cristo". É o resumo do ministério. Mas não é tão simples pôr em prática como dizer aqui.

      Mas é necessário, é vital pôr em prática. Na casa do calejado missionário mergulhamos na família. Imersão. Pelo menos nessa hora, somos imersionistas. Ha ha ha.

      Exposição. Vida ministerial, como diz Paulo, é pura mídia: "...pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens", 1 Co 4,9b. Mídia dos calos, cicatrizes e modelo permanente.

      Jesus focava em pessoas. Não passamos de pessoas. Ministros são pessoas que Deus chama e usa como cobaias do que Cristo deseja fazer no mundo.

     As pisadas são dele. Precisamos seguir nelas, porque quem vem após nós deseja saber onde pisar. Por isso Deus disse a Josué que orientasse o povo em "tudo" o que estivesse nas Escrituras.

      E que não houvesse nenhum desvio, à direita ou à esquerda. Há um hino de Steev Green que diz "somos peregrinos na jornada numa estrada estreita".

      No refrão ele diz "oh, mas que os que vêm atrás nos encontrem fidedignos, que a luz de nossa dedicação ilumine o caminho deles e as pegadas que deixamos marquem sua fé e sirvam de exortação a que obedeçam". <https://m.youtube.com/
watch?v=grzEojmkL7w>

      Nem sim, nem não: em Jesus, o Amém. O Amém de todas as decisões. A imitação de Jesus. Como cobaias dedicadas a pessoas.

   

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Pastoral

    Fora do paraíso

    Fico imaginando a primeira noite de Adão e Eva fora do paraíso. Devem ter perdido o sono e, quando acordaram, enfrentaram a dura realidade.

    É certo que natureza esbelta, à volta, mesmo fora do paraíso, havia. Alguma coisa começava a ficar mais hostil, sem dúvida, no reino animal no entorno.

    Anteriormente o homem dera nome a cada animal. Provavelmente numa relação de confiança. Agora, não havia confiança entre o casal e, muito menos, com relação a Deus.

     A dúvida foi posta no coação do homem. Sempre teria dúvida se seria vantajoso obedecer a Deus. Adão continuaria a culpar sua esposa? Insistiria na injustiça de atribuir somente a ela um erro que foi de ambos?

      E Eva continuaria, solitariamente, culpando-se a si mesma por não ter deduzido a tempo que estava sendo enganada pela serpente?

      Tornou-se mulher de oração. Pelo menos, era assim que recebia e devolvia a Deus, como Ana fez com Samuel, séculos depois, os filhos que nasciam.

     Gozado que, o único por quem não orou, foi o convertido, Abel, assassinado por Caim. Não sei se estou certo porque, somente após o nascimento do neto Enos, filho de Sete, pelo qual também Eva orou, é que lemos que iniciou-se a busca pelo Senhor.

      Nenhum homem da família, até esse neto, muito provavelmente evangelizado pela avó, havia buscado a presença do Senhor em sua vida. Será que Adão nutria por Deus mágoa tão profunda, por terem sido expulsos do Jardim e, ainda, Deus ter colocado um vigia que impedia a volta?

      Mágoa acentuada na morte de Abel. Adão deveria ter se perguntado para que servia a fé num Deus que não livra o justo de ser assassinado pelo ímpio.

      Muito embora Deus não tenha nada a ver com isso. Mesmo porque advertiu o ímpio que dominasse a si próprio. E ímpio todos somos. Abel foi um ímpio que ouviu de Deus o mesmo que o irmão.

     Deus, um dia, também disse a Abel, "o teu desejo é contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo". Abel atendeu à voz de Deus. Abel foi um Caim que deu certo. Porque obedeceu à Deus.

     O primeiro casal conviveu, durante sua vida, com o estigma de se jujgar a si mesmo culpados por tudo de ruim que se desencadeou. Nós vivemos por culpá-los. Erro deles e nosso.

      E erro igual. Não dá para voltar atrás, sem assumir a própria responsabilidade. Um dos principais desvios de personalidade do ser humano é não assumir as escolhas que faz.

     A tendência é supor que a culpa é sempre do outro. Isso faz o homem, que sempre se acovarda, como Adão fez, tentando isentar-se da culpa: a mulher que tu me deste. Covarde. Assuma a culpa. Seja homem.

      Todos pecaram. A culpa de Adão é dele. Custou mais a admitir. A culpa de Eva é dela. Compreendeu mais rápido do que o marido. A culpa de Caim é dele. Não assumiu, mas Deus lhe concedeu invulnerabilidade: quem mexer com você, Caim, mexe comigo sete vezes mais, Deus disse.

     Abel, mesmo depois de morto, como menciona o autor de Hebreus, ainda fala. Fala que é possível a qualquer um(a) atender a voz de Deus, como ele, para que possa dominar a si mesmo.

        Assumir a própria culpa, admitir de Deus que tem em si um desejo contra si, contra o outro, enfim, contra Deus. E que, para isso, só existe um remédio, que é atender à voz de Deus.





Pastoral

    Dia da Bíblia

      Em que sentindo? Sim, porque exatamente este é o ponto nevrálgico: o sentido. O sentido da Bíblia, o sentido do texto e o sentido do dia.

      Foi escrita para todos. Pescadores, discípulos de um filho adotivo de carpinteiro, escreveram. Também doutoures escreveram. Não do tipo empavonado, como aquele que quis discutir sobre amor com Jesus.

     Profetas escreveram. E quem sabe alguma mulher, visto que há autoria anônima. Por que não? Vai ver que é por isso que é anônima: o preconceito milenar contra elas prevaleceu.

         Pode ser que algumas delas tenham escrito trechos de Cantares, por exemplo. Porque já sabemos que elas foram inspiração para Salomão. Basta ler o chamado "Cântico dos cânticos", para saber que vida, com poesia, precisa de mulher.  

      Outra coisa é compreender a Bíblia. Outra, ainda, apoderar-se dela como se fossem donos. Tendo o apelido (não depreciativo) de "Palavra de Deus", é necessário garimpar nela o que Deus diz.

      Porque há muito do homem nela. Assassinato de irmão, por exemplo, é coisa de homem. Alguém pode até perguntar, então, onde está nisso a palavra de Deus?

      Ora, está na advertência ao assassino, antes do assassinato: "Por que descaiu (pelo ódio) o teu semblante? O teu desejo é contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo". Não dominou. Aprendemos que nosso desejo é contra Deus, contra nós e contra o próximo, tudo ao mesmo tempo.

        Tem de tudo, na Bíblia, como marca do humano: profeta falso, juíz (e magistrado) corrupto, rei déspota (esclarecido ou não), genocídio, tortura e até estupro coletivo (praticado por judeus, ora vejam só).

        Muitas marcas do humano há na Bíblia. A mais característica delas é exatamente não ouvir a palavra de Deus. Na Bíblia, ela está tão acessível e tão misturada às coisas do homem que, às vezes, dão-se desculpas por não se entender.

       Quem escreveu é gente como nós. Texto e livro têm sua história, que se mistura à nossa. Senão, seria incompreensível. Há quem finja, de má vontade, não entendê-la e, hoje em dia, está na moda dizer que a querem impor a outrem.

      Nem uma coisa, nem outra. Tanto a história da composição da Bíblia, palavra de Deus, de uma vez por todas dada aos homens, quanto sua compreensão e aceitabilidade são ampla e totalmente voluntárias.

      Se você não quiser atender à palavra de Deus, assuma isto. Mas não me venha tentar distorcer o texto ao seu bel prazer. Faça-me o favor: acate a palavra ou rejeite-a, frio ou quente. Requentar a Bíblia, provoca vômito.

        O Dia da Bíblia deveria ser para vestirmos a carapuça, como evangélicos, que ela se tornou, para nós, língua estranha. Meu pai dizia: "Estou falando grego?", quando eu ouvia, mas não atendia à palavra dele.

      Por ironia, a Bíblia é grego, no NT, e hebraico/aramaico (90/10 %, de uma e de outra), no AT. Mas chega às nossas mãos "mastigadinha", traduzida e atualizada, em variados tipos de linguagem e suportes (smartphone, digitalizada, áudio e vídeo etc).

       Sem desculpas. A igreja estabelecida tem envergonhado seu nome, quando aparece na mídia, exatamente por não apresentar, como identidade, a mensagem do Livro.

      Paulo diz a Timóteo, "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina".

       As palavras acima mais atrevidas são quase todas, com altíssimo índice de rejeição na sociedade atual. "Pregar", politicamente incorreto (claro, se for Bíblia: proselitismo e doutrinação de outras ideologias pode).

      "Insta", insistir? Viola a liberdade alheia. Mais ainda se for inoportuno. Corrigir (quem quer ser corrigido?), repreender e exortar, meio fora de moda e propósito. E quando se fala em "doutrina", ha ha ha ha ha, cinco vezes: cada um quer estabelecer a sua.

       Dia da Bíblia. Todo dia é dia da Bíblia. Por falar nela, apreciei muito a versão mais recente da SBB: sua divisão em blocos de sentido apressam a leitura, auxiliam na transição de ideias e aproximam mais da sensação de diálogo com o texto (e seu Autor).

      Pra encerrar, fiquemos com essa apreciação de um salmista anônimo: Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
                                              Salmo 1,1-2.

        Dia da Bíblia: todo dia, dia e noite.


      

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Pastoral

     "Porque a ardente expectação da criação espera a manifestação dos filhos de Deus". Romanos 8,19.

      Desde a queda, no início da Criação, esta sofre com o desmando da história humana no planeta.

      Uma vez criado, foi dada ao homem a responsabilidade de preservação do meio ambiente. Como parte integrante da natureza, precisa saber que, se a destrói, destrói a si mesmo junto com ela.

      Mas a própria manifestação do pecado na vida humana, como denuncia a Bíblia (e somente ela diz isso), o ser humano, por si, não tem como admitir e nem como pôr freio no seu instinto autodestrutivo.

     A própria salvação do homem, como a Bíblia a define, está associada à salvação da natureza como um todo. Por exemplo, até para ocupar o solo, Deus instruiu o ser humano a espalhar-se na superfície terrestre, usando com inteligência seus recursos.

      Mas o homem resolveu concentrar-se em cidades e, por meio delas, estabelecer todas as raízes de conflitos, decidindo-se "dono do pedaço" e, por definição, contra os outros donos.

      E ainda assinala a si próprio construir uma torre que projete seu nome, típico nas cidades modernas, como foram as duas derrubadas nos EUA em 2001.

      Nada contra construir torres. Embora sejam resquício de vaidade humana, dinheiro que poderia ser aplicado em outras carências mais urgentes.

     O problema é a vaidade humana, que não leva a nada, assim como sua capacidade de não atinar com o que seria essencial para a vida e preservação do meio ambiente.

     E, por fim, a invenção humana de a tudo atribuir valor monetário e, por meio de seu acúmulo, agora sim, projetar seu próprio ego, lançando a humanidade num abismo sem retorno.

        Mais se tem e quanto mais, mais se quer, sem escrúpulos, independentemente de que sejam esgotadas todas as reservas do planeta, haja contínua promoção de desigualdades sociais irreversíveis e se torne inviável a continuidade de vida na Terra.

      A doença está contida no ser humano, homem e mulher. Não têm como conter sua gana. Estamos condenados à extinção. A não ser que haja intervenção externa.

      Não virá de outros planetas, mas Deus já a promoveu. Só que não foi e nunca será imposta. A intervenção de Deus é gesto próprio de amor, que deve ser acolhido voluntariamente. E quem acolher, será curado.

     A restauração da Criação depende de ação divina, que já se deu por meio de Jesus. Ele salva o ser humano, quando este crê, assim como o planeta será salvo.

     Bem provável que a influência positiva dos filhos de Deus nunca desperte o senso crítico da maioria. Assim como não será valorizada.

     É necessário que os filhos de Deus, regenerados, também se tornem regeneradores. Que deles provenham as iniciativas para a preservação do planeta, desde os pequenos detalhes.

      Que sejam exemplo profético da salvação, em todos os sentidos, proposta por Deus que, não somente com relação ao indivíduo, mas também incluindo a natureza, reintegra com ela quem deveria, por vocação primordial, preservá-la.


Memorial atual

Torres em construção
1971

Vista da Estátua da Liberdade
maio de 2001

Vista em 11 de setembro de
2001

Antes da construção
1936

Março de 2001

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Pastoral

      História de amor

         Se houvesse um limite ao amor, não seria. É mesmo incompreensível o amor de Deus. Porque não é seletivo. Inclui todos.

       Por isso, achamo-lo vulgar, sem requinte, como o nosso. Coitados de nós. A Bíblia chama nossa justiça "trapo de imundícia". Nem sei como chamaria nosso "amor".

      Não existe amor no homem. Ou Deus amou o mundo, de tal maneira, ou nem existe amor. Não há limites para o amor de Deus.

      Indistintamente ama. Nem o pecado é limite ao amor de Deus. O amor de Deus é maior do que o pecado. Aliás, todos pecaram. Se Deus não amasse pecadores, não teria quem amar.

      Sua glória não seria manifesta nos céus, às criaturas de lá. Seria um Deus sem identidade, seria um Deus sem nome.
   
     Guia-nos pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome. A maldade humana não é limite para o amor de Deus. O amor de Deus pretende guiar-nos por veredas de justiça.

       E a prova do amor de Deus é ter dado Seu filho. Não haveria amor se esta história fosse falsa. Não há outra maneira de amar. Se você não acredita nessa história, mesmo assim seja grato a Deus.

      Porque se você ama, é por Deus que ama. NEle vivemos, movemo-nos e existimos. Até um ateu precisa brigar contra si mesmo para não experimentar amor.

     Até maior do que a fé é o amor. Se você espera vingança, Deus derrama Sua graça. O pecado se plenifica, a graça transborda sobre ele. Não há obstáculo nenhum ao amor de Deus.

     Agradeça a Deus. Louve-O pelo amor que derramou sobre sua vida. Ainda que você nem creia em Deus. Há amor em sua vida? Procede de Deus.

     Vá lá fora e grite que Ele não existe. Talvez até você mesmo acredite nisso. Se não, grite no íntimo, bem fundo em você mesmo. Achas ridícula a sugestão?

     Deve ser. Ele não existe mesmo, não é mesmo? Ainda que você não creia, duas coisas: Ele te ouve, Ele te ama. Pela liberdade que te deu, você é o único que pode impor barreira o amor.

      Lute muito contra isso. Perdeu.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Pastoral

     Fé - sentido prático

     Absolutamente individual e intransferível, faz sentido para quem nutre. Besteira você zombar da fé dos outros.

     Você não tem nada a ver com isso. Crê, problema dele; não crê, problema seu. Fé, por si, não muda fatos.

      Fatos são dados independentes de fé. Se Deus existe, crendo-se nisso ou não, indiferente.

     Minha crença em Deus não muda o fato. A descrença do outro, também não afeta. Fé  só diz respeito a quem tem ou deixa de ter.

      É fato de que a Bíblia diz "sem fé, é impossível agradar a Deus". Mas Deus não depende da fé: nós é que dela dependemos. E dEle também.

      Existem, pelo menos, dois tipos de fé: essa que agrada a Deus e aquela que Tiago menciona, típica dos demônios: creem e estremecem.

       Donde se deduz que apenas crer que Deus existe, de nada adianta. Logo, percebe-se que ter fé, unilateralmente, pode até ser coerente, prudente e inteligente: mas pode ainda não produzir nenhum resultado prático, o principal deles, salvação do mal.

     Pretensão do ser humano querer, por seu próprio método, provar que Deus existe. Ainda que recorra, suprassumo de sua história e competência, ao método científico.

     Por quê? Por uma razão muito simples: Deus não é objeto de conhecimento. É fonte de todo o conhecimento. Como exara a máxima filosófica: o objeto nunca pergunta ao autor por que o fez assim.

      E mesmo para quem acha que é puro fruto do acaso (ou Acaso), isto é, que o Big Bang, a partir do caos, não teve nenhum Autor, continua sendo, esse que não crê, objeto do acaso e não autor. Então, que estude o Big Bang, mas conhecimento da autoria, nunca caberá no seu apparatus.

      E, para quem acha que o ser humano é o autor de Deus e não Deus o autor do ser humano, dá no mesmo: com fé ou sem fé o ser humano é objeto, seja do acaso ou de Deus.

       Por isso o objeto não pode perguntar por que ao autor. Para quem acha que acaba na morte, tanto para quem acha que na morte não se acaba, crer ou deixar de crer não vai mudar os fatos.

       Para quem crê, a fé constitui-se no veículo preciso de acesso ao Autor. Não há como errar. Para esses, isso muda a condição humana na luta contra o mal.

      Para quem não crê, como diletante, ou para quem administra, consigo mesmo, um conflito de fé, sua luta solitária contra o mal tem, em Deus, uma ajuda anônima, desconhecida e inadmissível.

       Deus não depende de você. Deus não é objeto de estudo. Deus se revela a você, a todos e a qualquer um tornando-se homem, simples assim: Jesus.

       Jesus, sim, é Autor e objeto de fé. Deus em Sua misericórdia torna a Si mesmo objeto de fé para o homem. Glória ao Senhor, Autor da minha fé.


     
     

sábado, 1 de dezembro de 2018

Pastorais

    Pecado

    Polêmica esta definição, para muitos. Fundamental nas definições de conceitos bíblicos.

     O autor de Hebreus se refere ao justo Abel que, mesmo depois de morto, ainda fala.

     Não menciona Caim, seu irmão e assassino. Mas o que Deus disse a este, também grita até hoje: "o desejo do pecado é contra ti, e cumpre a ti dominá-lo".

     Serve indistintamente para todos nós essa afirmativa. Desde essa história do Gênesis, até a cena do Apocalipse, que descreve um "Cordeiro como fora morto", marcas e definições de pecado perpassam o texto bíblico.

      São listas e mais listas de atitudes, práticas e conceitos aos quais homens e mulheres, por não atender a advertência feita a Caim, deixam-se dominar.

     Em Romanos, Paulo os declara cheios de iniquidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade.

      Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia.

        Há mais listas, algumas exaustivas, outras mais genéricas, nas cartas aos Gálatas, aos Colossenses, a Timóteo, 1 e 2. Seria além de prolixo, também deprimente expor aqui esse rol de vícios humanos de personalidade.

      Aos Gálatas, ao lado do que chama "obras da carne", numa lista incompleta, à qual ele agrega a expressão "outras coisas semelhantes a essas", Paulo apresenta o "fruto de Espírito", no singular.

       Ele deseja, utilizando a palavra "fruto", demonstrar o meio natural pelo qual pode brotar no ser humano, indicando-o unicamente como resultado da ação do Espírito.

     Presos pelas extremidades que são amor e domínio próprio, duas virtudes que, logo se vê, faltaram a Caim, por fechar ouvidos à advertência de Deus e bloquear, em si, ação do Espírito.

     Ódio e incontinência, que levam ao extremo da morte, dominaram-no. Presos a esses dois extremos, amarrados por laços de amor, outras sete características desse único fruto: alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão.

       Antídoto para todas as listas de maldades tão afeitas ao ser humano. Remédio único para sanar do pecado, em todas as suas manifestações.

       Em Cristo somos batizados pelo e no Espírito. Basta reconhecer a aptidão de nossa natureza para tanta maldade. Que Deus vem em nosso socorro com o Seu remédio.

     Planta em nós, Senhor, o fruto do Espírito. Amém.