sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Caríssimos
     Adailton e Thaísa Novaes

      Somos muito gratos pelo seu engajamento conosco nos sonhos e projetos aqui no Acre. Cravina tem sido a mediadora, o anjo que Deus tem colocado entre nós, para que seja possível o contato e a ajuda de vocês. 
      Estamos no Acre já há 25 anos, completando agora em janeiro. Quando chegamos aqui era muito diferente, como muito do que ainda se imagina, mas que, nesse período, mudou para melhor. 
      Eu acompanhava a história do casal de missionários, Nelson e Josilene Rosa, que aqui chegaram em 1984, onze anos antes de nós. Quando visitei o campo em 1993, foi amor à primeira vista.
     E Deus nos tem abençoado continuamente desde que aqui pisamos. Minha esposa logo no terceiro ano aqui iniciou como professora de arte numa escola onde está até hoje. Eu, nesse mesmo ano dela, iniciei magistério como professor também. 
     Assim pudemos providenciar nosso sustento e ajudar os irmãos, primeiro de 1998 a 2018, na construção do templo, e a partir de então, como Congregação da Fluminense, iniciar esse ministério com crianças.
      Nossa prioridade foi adquirir a chácara onde hoje as assistimos. Temos duas classes, lideradas por meus filhos: os menores, até 5 ou 6 anos, com Isaac, e os maiores com Ana Luísa. A quantidade flutua entre 15 e 20 crianças, mas cerca de 10 a 12 estão firmes. 
     Colocamos nossas comemorações e classes de domingo, por meio de fotografias, no Face "Projeto Chácara Jesus o Bom Pastor". A Igreja Fluminense esteve conosco, com sua equipe, por três vezes, ajudando-nos a construir o muro (área de 60 X 80 m2).
      Nesses últimos dias, colocamos a cinta de cimento para consolidar todo o perímetro e agora vamos instalar itens de segurança. Orem pela legalização do terreno: 6 lotes já estão sob procuração e os outros 8 precisam ainda de ajustes documentais. 
     Nossa sincera gratidão pela participação de vocês, caminhando conosco em oração, informações e ofertas. É claro que ainda falta uma coisa: vir ao Acre. Mas não há nenhum problema quanto a isso. É só nos avisarem com certa antecedência. 
    Mas há um risco: amor à primeira vista, como ocorreu conosco. Falando em ministério, que envolve fé, amor e muita coragem, lembro de sua mãe,  Thaíse, e querida sogra, Adailton.
    Quando comecei nos acampamentos em Pedra de Guaratiba, ela e suas amigas eram seminaristas e equipantes no Acampamento Ebenézer. Sem dúvida esse time que eles e elas formavam me influenciou nas decisões futuras.
    Deus abençoe vocês. Continuem engajados no ministério. Criem os filhos com essa mesma visão. Nosso tempo requer desafios e diversificação de modelos inteligentes de trabalho missionário. 
    Ainda há muito por fazer em nossa chácara. Mas temos avançado num ritmo animador. Deus nunca nos deixou estacionados. Orem também pela definição de minha aposentadoria. Muito vai contribuir para que eu disponha mais atenção aos nossos objetivos. 
      Grande abraço. Um ano de 2020 com a mesma visão e vitorias ainda maiores para o Reino de Deus. Sejam fortalecidos no Senhor e na força do Seu poder. Efésios 6,10. Em nome de nossa Congregação,

     Cid Mauro Araujo de Oliveira.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Pai Nosso

     Os discípulos tiveram dúvidas sobre como orar. Pediram ajuda a Jesus. Ele orientou para que sua oração fosse direta, secreta, desprovida de vaidade e repetições desnecessárias.
    O chamado "Pai nosso" não deve ser repetido apenas mecanicamente, no sentido automático, pois contrariaria a própria instrução de seu contexto, dada por Jesus: evitar vã repetição.
    Pode até ser simbolicamente repetido, como se faz costumeiramente, como oração de comunhão entre pessoas de diferentes religiões, emergencialmente, como socorro em situações coletivas de aperto ou no contexto do culto.
    Mas o detalhamento de suas partes cobre um espectro amplo de necessidades imediatas, que todas devem, permanente e diariamente, fazer parte de nossa vida.
    "Santificado seja o teu nome". Já é. Deus é santo, aliás, o único santo, independentemente de atribuirmos santidade ao Seu nome. Esse primeiro rogo significa o compromisso de quem assume, constantemente, santificar o nome de Deus em sua própria vida.
    O "venha a nós o teu reino" significa a ação de Deus na história. Deus existe e age. Senão, se não age presente e constantemente no mundo, nem precisava existir. Ou contrariaria Seu próprio nome se fosse imóvel, muito "na Sua", sem intrometer-se no dia a dia.
     Mas Deus age no homem/mulher e pelo homem/mulher. Quem crê em Deus abre-se à ação de Deus e, por esse meio e dessa forma, Deus age no mundo. Jesus foi matriz e padrão dessa ação. E Paulo Apóstolo diz que sua missão foi formar Cristo em nós.
     Esse é o agir de Deus. Por isso, o "seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" se torna possível. Vontade é o primeiro exercício da autonomia humana. Agora, compartilhar todas as nossas decisões com Deus significa, de modo concreto, tornar reino e vontade de Deus concretos no mundo.
     "O pão nosso de cada dia nos dai hoje". O povo, na antiga Palestina, na época de Jesus, procurou-o na semana seguinte à da multiplicação dos pães para comer pão, de graça, novamente. Jesus estabeleceu a diferença/semelhança entre fé e trabalho.
    Para comer o "pão nosso de cada dia", precisamos de trabalho. E quanto mais e melhor estudos, mais digno e profícuo o trabalho. Desde a mais tenra infância, em casa e na escola, aprende-se o trabalho.
    Agora, quanto à fé, não existe trabalho para obtê-la: é dádiva de Deus. Há muito trabalho, sim, após obtê-la. Por isso Tiago diz, ironicamente, "mostra-me a tua fé sem obras que eu, com minhas obras, mostro a minha fé".
    Mas cuidado para não usar obras como moeda de troca. Elas são um compromisso social e horizontal com o semelhante. Primeiro a fé, antes a fé, para só então autênticas obras como seu fruto. Quanto ao trabalho, esse é obrigatório e gratificante para pagar o pão.
    "Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos a nossos devedores". É muito fácil nos tornarmos hipócritas. Vejamos bem: quem é perdoador por excelência é Deus. Não somos, naturalmente bons, ou magnânimos perdoadores.
    Não somos. Bondade se aprende com Deus. Pedir perdão a Deus, na mesma medida que perdoamos, é praticar, em essência, o que Deus pratica. Temos de aprender com Ele. Senão, seremos hipócritas, apenas "religiosos", sem nunca, efetivamente, praticar o perdão.
     "Não nos deixe cair em tentação, mas livrai-nos do mal". Jesus disse que a maldade não está nas ruas, imaginária e equivocadamente falando: está dentro do coração dos homens/mulheres. Todos e todas.
     Querem salvar a Amazônia ou todos os demais ecossistemas no Planeta? Uma praga que externinasse os animais "racionais" no Planeta, salvaria completamente toda a natureza. Porque os animais "irracionais" não destroem o meio ambiente.
      Essa é somente uma faceta da maldade humana. Ela prevalece, porque o ser humano levanta-se contra o Criador, contra si mesmo e contra o outro, simultânea e sistematicamente.
    Mas rogar ao Pai que nos livre do mal não é magia e nem milagre: livrar-se do mal é cada um trabalhar para bloqueá-lo em si mesmo e, quem sabe e só então servir como exemplo e modelo de conduta. Hipocrisia minha será não bloquear o mal em mim e ainda querer dar uma de "profeta", repreendendo o outro.
     "Porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre", nem precisa repetir, porque já é dEle, para quem nisso crê. Mas tornar isso participativo para mim, inclui que eu admita que Deus seja Senhor em minha vida.
     Pronunciar "Deus", defender a própria religião e a dos outros ou simular contrição, até mesmo pela recitação mecânica do "Pai Nosso", não torna ninguém autêntico diante de Deus.
    É necessário fé. Como diz o autor anônimo da epístola aos Hebreus, "sem fé, é impossível agradar a Deus". E Tiago, em sua epístola (carta) logo ao lado diz, novamente de modo irônico, "você tem fé? Pois demônios também têm, e estremecem", diante de Deus.
      Ê  uma questão de autenticidade.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Um Jesus para cada consumo

Um Jesus para cada consumo
   (Siga os links abaixo)

      Certamente as Escrituras indicam um perfil definitivo e suficiente para definir sua principal personagem: Jesus. 
      E o acesso a ela democratizou-se com a Reforma, do séc XVI, quando versões em línguas nativas chegaram às mãos do populacho.
     E a partir de então, ciências para uma interpretação segura do texto também se popularizaram e foi natural que houvesse, aqui e ali, discordâncias de pontos de vista e, historicamente, grupos de diferentes nomes e vieses se formassem. 
    Surgia(m) a(s) ortodoxia(s), ou seja, reivindicações, a partir de cada diferente visão, de linhas bem definidas de síntese e resumos de pontos de fé: quem as professasse estaria quites e bem ajustado à verdade.
    Aplique-se a Jesus e teremos o primeiro perfil de consumo. Qual é a visão ortodoxa de Jesus? Poderíamos pensar, de início, a partir de que ponto de vista? Qual ortodoxia? Dele mesmo? Qual a crítica que Jesus faria a respeito dessa busca humana pela ortodoxia?
    E que outro perfil podemos estabelecer? Talvez o mais popular. Jesus, o homem das massas, do povo, dos marginalizados. Então, o perfil verdadeiro, bem claro e definido viria a partir dessa classe. Precisaríamos estar atentos, de olhos e ouvidos bem fixados, porque a partir deles emergiria a visão precisa do Cristo.
     Ou quem sabe, para ficar nessas três, uma visão mais acéptica, certamente mais precisamente ortodoxa, puritana, quem sabe, escolástica, com certeza, a partir de uma camada  mais ilustre da sociedade, que mais naturalmente reuniria condições, em todos os sentidos, para formar e enunciar um perfil final do Mestre. Uma visão burguesa, diríamos.
     Um mosaico ortodoxo-marginal-burguês de Jesus, para ficar nessas três, sem antecipar o perfil carnavalesco 2020, já delineado na mídia, ou ainda sem comentar o perfil Netflix, ao gosto da comunidade LGBT e mais letras.  Jesus para todos os gostos. Sem mencionar, do mesmo jeito, o perfil neopentecostal, confirmado a partir do sobrenatural, insofismável, apenas questionado por incréus.
     Na conversa com a samaritana Jesus procurou definir seu perfil. A cada conversa nas Escrituras, uma busca por definição, que é um jogo, com peças bem (in)definidas. Certa vez ele disse que seus patrícios escarafunchavam as Escrituras pela vantagem pessoal de auferir vida eterna. Mas não queriam ir a Jesus para ter vida.
     O perfil de Jesus está definido nas Escrituras. Ela é um livro, de uma vez por todas, dado aos homens (e mulheres). Na maioria das vezes, escrito por gente do povo, alguns intelectuais, talvez mulheres anônimas, traduzido desde a antiguidade para que fosse acessível. 
    Ir a Jesus significa procurá-lo, sim, é possível  encontrar. Sempre nas (e pelas) Escrituras. Sempre encontrá-lo a partir de quem já fez a leitura, creu e o conhece, porque antecipadamente o encontrou. Não adianta achar que do encontro com Jesus alguém vai retornar sem perdas. Vai perder tudo, para ganhar Cristo.
    Daí que sua definição ou perfil não cabem nem na ortodoxia, nem na democracia racial, classista, popular, genérica dos marginalizados ou na pretensa crença classuda e impositiva dos bem nascidos. Porque quem encontra Jesus tudo perde. Tem que perder sua vida. Terá de renunciar a tudo. 
     Paulo apóstolo disse "deveras, considero tudo como perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar Cristo e ser achado nele sem justiça própria".
    PP - Procedimento Padrão. Não há como se fundir a Cristo, como ser batizado nele sem perder todas as coisas. Desculpem, quem defende toda(s) a(s) ortodoxia(s). Ou quem, sem reservas, defende todos os direitos dos oprimidos. Ou que se impõe, porque está acima de todos os outros, equiparado somente a seus iguais, na faixa de cima acima de todas as outras. 
    Não há como se aproximar de Cristo e voltar sendo o mesmo. A samaritana entendeu isso.  Voltou aliviada por entender isso. Zaqueu entendeu isso. Desceu de seu falso patamar, para igualar-se a todos, porque entendeu isso. A prostituta na casa do fariseu derramou sua vida: broken and spilled out, just for love of you, Jesus.
     Jesus, sim, é perfil de consumo. Mas foca na imagem, para não adquirir "gato por lebre". A responsabilidade é individual. Caia sobre nós o sangue desse justo. Caiu sobre todos e cada um. Para a vida ou para a definitiva morte: problema seu, nosso, de cada um.
Letra:

domingo, 8 de dezembro de 2019

Sermão - Pós-modernidade e a identidade de Jesus


Isaías 52,13-15

13 Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime. 14 Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens), 15 assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão.

 1. Exposição do servo sofredor: identidade;
 2. Imagem e intensidade do sofrimento;
 3. Relevância dele e descaso dos poderosos. 

Isaías 53,1-12

v.1 - Credibilidade e acesso ao evangelho: "Quem creu em nossa pregação?";
- A verdadeira gênese do evangelho: 1. Na época atual, é necessário restaurar as raízes da mensagem evengélica. O kerigma é o principal indicador de identidade, usado na canonicidade dos livros. Ver Mc 1,14-15: Jesus é o primeiro a anunciar o evangelho.
1. Como o servo é visto pelos homens: APARÊNCIA
v.2 - a) renovo e raiz de terra seca: sem aparência ou formosura e nenhuma beleza;
v.3 - b) desprezado/mais rejeitado/homem de dores/sabe o padecimento: como de quem se esconde o rosto e de quem não se faz caso; 2. Vivemos um tempo em que a identidade do “ser” é questionada: niilismo, que significa vir, viver e ir para o nada; a “teologia” da “morte de Deus”: a ressaca do modernismo gerou o pós-modernismo: a ciência desbancou a Bíblia e a própria decepção da humanidade com ela predispõe a um sentido existencialista de vida, vida como acontecimento, apenas um prenúncio de morte.
2. O que o servo conquista para Deus. REALIDADE - Certamente ele:
v.4 - a) tomou sobre si nossas enfermidades/nossas dores tomou sobre si (nós o reputávamos aflito, ferido de Deus é oprimido);
v.5 - b) foi traspassado por nossas transgressões/moído por nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz/sobre ele; por suas ligaduras/sarados; 3. Precisamos destacar e indicar o específico da Bíblia: a) a fé socorre a razão. Esta, destituída de fé, não melhora, não converte, não transforma nem o homem e nem a sociedade; b) o específico da Bíblia não são milagres ou promessas de prosperidade: mas a realidade da morte e ressurreição de Jesus, nosso batismo nEle e da possibilidade real de sermos imitadores de Deus (Ef 5,1-2); c) da realidade de viver uma igreja posta no mundo, vista nas ruas, arriscando-se no testemunho verdadeiro do evangelho, como Jesus viveu e nos dá poder de viver.

COMO ESTÁVAMOS: 4. A realidade do ser humano como a Bíblia a mostra;
v.6 - a) desgarrados como ovelhas;
        b) desviados pelo caminho;
O QUE FEZ O SENHOR 5. A história de Jesus: a pós-modernidade defende o fim da história: não se sustenta como argumento a continuidade histórica: criação, revelação, história da humanidade, termo e juízo final. Essa “ressaca” da modernidade rompe com essa visão teológica. Na virada do séc XV para o XVI, por ocasião do Renascimento/Iluminismo é requerido romper-se definitivamente com essa visão da tradição judaico-cristã.
Mas o Senhor fez cair sobre ele nossa iniquidade;
E O SERVO - v.7 – 6. A identidade do servo: a Bíblia no-la mostra.
a) oprimido/humilhado não abriu a boca;
b) como cordeiro ao matadouro;
c) ovelha muda perante tosquiadores;
                  v.8 -
a) arrebatado por juízo opressor;
b) sem linhagem/cortado da terra;
c) ferido pela transgressão do povo;
                  v.9 -
a) sepultura com perversos/com ricos esteve;
b) nunca injustiça/nem dolo em sua boca;

A DEUS - v. 10 7. A revelação do amor de Deus: a Bíblia é uma história de amor.
a) agradou moer;
b) fez enfermar;
O SERVO -
a) qdo der sua vida oferta pelo pecado;
b) verá posteridade;
c) prolongará seus dias;
d) a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
                  v. 11
a) verá penoso fruto de seu trabalho;
b) ficará satisfeito;
c) justificará a muitos/levando sobre si suas iniquidades.

RECOMPENSA DE DEUS COMPARTILHADA
v.12 - a) dará muitos como sua parte;
           b) repartirá despojos com poderosos;
O SERVO
    a) derramou sua alma na morte;
    b) contado com transgressores/esteve entre ricos;
    c) intercedeu por transgressores;
    d) levou sobre si os pecados de muitos;
       




quinta-feira, 5 de dezembro de 2019


 O casal Gerson e Neli Coelho são fundamentais em minha vida. A primeira igreja que pastoreei, assim como o convite a pastoreá-la estão relacionados a eles.
    E com os demais membros da Congregacional em Cascadura, Igreja que se destacou nas ofertas missionárias, desde 1972, assim como entregou vocacionados ao ministério outros pastores, como o pastor Helio Martins. 
    Formavam essa igreja um grupo homogêneo de heróis da fé, nome de uma galeria de retratos onde figuravam alguns desses irmãos. Aqui mencionados os pastores Amaury e Henrique Jardim, mais outros dois entregues por vocação ao ministério. 
    E foi entre esses membros que saiu um grupo de onze irmãos, na época indicados numa assembleia de membros dirigida pelo pastor Maurilo Neves Moreira que, entre outros, batizou a mim e a minha esposa. 
   Foram indicados a cuidar da Congregação em Curicica, Jacarepaguá, Rio, RJ. Entre esses irmãos o casal Gerson e Neli e, na época, seu filho Gielson, ainda na primeira infância. 
    Eles contavam como, desde recém-nascido, dormindo em esteiras de palha no chão, até nos retiros, sempre os acompanhou em quaisquer das programações nas igrejas. O presbítero Gerson, com sua mãe e irmãos, pertenceu ao grupo de pioneiros da Congregacional de Cascadura, desde 1958, a partir da antiga Congregacional de Piedade. 
    E agora, com sua esposa e filho, aos pioneiros da Congregacional em Curicica. E não somente assim. Certo dia, à noite, num domingo de 1982, Gerson e Valdemir entraram pelo velho portão em Cascadura. 
   Naquela época, o coral sentava atrás do púlpito. Por isso os vi entrando no finalzinho do culto. Vinham de Curicica para me fazer tremer, quando me cercaram à saída do templo, para conferir minha resposta a um convite já feito para pastorear Curicica.
   Tentei, igual a Saul, Jonas ou Moisés, fugir. Não obtive êxito. E foi esse casal que me conduzia, pela estrada Grajaú-Jacarepaguá, no seu Fiat 147, o chamado "caixa de fósforo", na época o único a desbancar o Fusca.
   Gerson foi campeão nessas duas marcas. Com a esposa percorreram o Brasil. Sempre treinaram para ser desbravadores e pioneiros. Esse grupo de Curicica é o que todo e qualquer pastor deseja ver como modelo de fundadores de igrejas. 
   Eu já aqui no Acre acompanhei a dedicação desse casal em efetuar a compra dos imóveis da esquina do terreno da Rua Arália, naquele bairro, para maior largueza aos irmãos, necessidade desde a década de 80, cumprida por bênção de Deus nos anos 90.
    Como foram decisivos no apoio que me deram o casal Gerson e Neli. Quantas visitas fizemos, rodando toda Jacarepaguá naquele Fiat, assim como outras famílias e cultos, até mesmo na Congregacional em Mato Alto, igreja que os sogros do presbítero Gerson iniciaram em seu sítio. 
    E muitas conversas dentro do Fiat, subindo de ida e de vinda, pela estrada Grajaú-Jacarepaguá foram de valor premente numa fase de minha vida ainda de início e confirmação no ministério. 
    A experiência desse casal se espalhou pelo Brasil. Seu empenho missionário é exemplo em toda a denominação dos congregacionais. Eles investiram toda a sua vida no apoio, inclusive financeiro, a um grupo de abnegados desbravadores, que são os nossos missionários. 
    Amplamente suprida, irmão Gerson, sua entrada nos céus, como afirma Pedro, em 2 Pe 1,10-11. Muitos outros carregam consigo essa marca de fidelidade e serviço, influenciados por vocês dois, Gerson e Neli.
    O maior tesouro que Deus concedeu a vocês, Gean e Gabriel, fruto do casal Gielson e Dorinha, certamente hão de cumprir essa mesma vocação, com dedicação, serviço e amor a missionários. Ó, Pai, dê-nos casais que desse mesmo modo se dediquem por levar adiante esse ministério.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019


O retrato
     Meus pais, mal eu me via como gente, mencionavam "tirar retrato", nos anos 60, com revelação em preto e branco. 
     Não era uma Rolleyflex, como na bossa-nova de João Gilberto, mas era uma daquelas sanfonadas alemãs. 
     Hoje chamam foto, em lugar do termo "retrato". Mas este é mais completo. "Foto", que já está abreviado de "fotografia", mais parece mesmo um instantâneo fugidio.
    Retrato pretende mais revelar. Transmite a ideia de "retratar". Uma ideia de permanência dos contornos. Ou que mais ainda se mostre.
    Eventualmente pergunta-se, curiosidade justificável, se a Bíblia descreve com minúcias o retrato de sua mais importante personagem: Jesus. 
    A resposta é sim e não, ao mesmo tempo. A primeira, sim e de modo radical, esclarece que "quem me vê a mim, vê o Pai", como disse a Felipe o próprio Jesus. 
   Nesse caso, está visto, pronto e retratado. Quando dizemos não, é porque não é com a aparência desejada, uma fotografia ou descrição física, cor dos olhos, tipo de cabelo, barba e as vestes de Jesus. 
    Essa informação a Bíblia não tem. Mas descreve o fundamental. Todos os aspectos relevantes. Sem os quais, a identidade de Jesus estaria falseada nas próprias Escrituras. 
    Isaías, o profeta do séc VIII a. C., vivendo em torno de 700 a. C., descreve o Servo Sofredor. Seu retrato. E mistura o retrato dele ao nosso. Isso mesmo. Nosso retrato é Deus que conhece. 
     E no Cântico do Servo Sofredor, Isaías funde o retrato profético de Jesus Cristo ao nosso. Cada um que crer, terá chapado seu retrato ao retrato de Cristo, expresso em Isaías 53,1-12.
    Que começa com a pergunta: "Quem creu em nossa pregação?". Pois "Quem creu", teve chapado o seu retrato ao de Cristo. Ali, no poema, fala-se de Cristo como um renovo que brota desprezado. 
    Que não se dá conta, como raiz de uma terra seca. Feia, sem beleza, quando se olha. Mas aí, começa o nosso retrato. A enfermidade do pecado, as transgressões e iniquidades. Ele carrega com todas.
    Mais do que enfermidades físicas. Mazelas espirituais. Impregnados delas. E todo o peso e o preço delas recaem sobre o Servo Sofredor, que é Jesus. A partir daí se desenha a nossa nova identidade. 
    E se revela a identidade do Cristo de Deus. No gesto da cruz, revelam-se as identidades do Pai, do Filho e a da humanidade. Aí estão retratadas.
    A Deus agradou moer o Filho, fazê-lo enfermo, que desse sua vida como oferta pelo pecado. A única maneira pela qual o amor de Deus poderia ser revelado e compartilhado. 
    A identidade do Pai se revela no gesto de amor do Filho. E enseja a que se creia nessa pregação. Porque a palavra é fiel. 
     O próprio Filho ao entrar na história, no início de seu ministério, pregou: "Arrependei-vos e crede no evangelho". O próprio Filho é a dádiva do evangelho. 
     A mensagem dessa pregação é que Jesus é a única e suficiente oferta pelo pecado. O nosso retrato é medonho. Há quem queira esconder sua imagem.
    Mas nesse Cântico do Servo Sofredor se revela a imagem de Jesus, a nossa imagem e a imagem do Pai. Anunciando como nos restaurar o lindo retrato como resultado final.

domingo, 1 de dezembro de 2019

SERVO SOFREDOR- SERMÃO

Isaías 52,13-15

13 Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime. 14 Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens), 15 assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão.

 1. Exposição do servo sofredor: identidade;
 2. Imagem e intensidade do sofrimento;
 3. Relevância dele e descaso dos poderosos. 

Isaías 53,1-12

v.1 - Credibilidade e acesso ao evangelho: "Quem creu em nossa pregação?";
- A verdadeira gênese do evangelho:
1. Como o servo é visto pelos homens: APARÊNCIA
v.2 - a) renovo e raiz de terra seca: sem aparência ou formosura e nenhuma beleza;
v.3 - b) desprezado/mais rejeitado/homem de dores/sabe o padecimento: como de quem se esconde o rosto e de quem não se faz caso;
2. O que o servo conquista para Deus. REALIDADE - Certamente ele:
v.4 - a) tomou sobre si nossas enfermidades/nossas dores tomou sobre si (nós o reputávamos aflito, ferido de Deus é oprimido);
v.5 - b) foi traspassado por nossas transgressões/moído por nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz/sobre ele; por suas ligaduras/sarados;
COMO ESTÁVAMOS:
v.6 - a) desgarrados como ovelhas;
        b) desviados pelo caminho;
O QUE FEZ O SENHOR
Mas o Senhor fez cair sobre ele nossa iniquidade;
E O SERVO - v.7 -
a) oprimido/humilhado não abriu a boca;
b) como cordeiro ao matadouro;
c) ovelha muda perante tosquiadores;
                  v.8 -
a) arrebatado por juízo opressor;
b) sem linhagem/cortado da terra;
c) ferido pela transgressão do povo;
                  v.9 -
a) sepultura com perversos/com ricos esteve;
b) nunca injustiça/nem dolo em sua boca;

A DEUS - v. 10
a) agradou moer;
b) fez enfermar;
O SERVO -
a) qdo der sua vida oferta pelo pecado;
b) verá posteridade;
c) prolongará seus dias;
d) a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
                  v. 11
a) verá penoso fruto de seu trabalho;
b) ficará satisfeito;
c) justificará a muitos/levando sobre si suas iniquidades.

RECOMPENSA DE DEUS COMPARTILHADA
v.12 - a) dará muitos como sua parte;
           b) repartirá despojos com poderosos;
O SERVO
    a) derramou sua alma na morte;
    b) contado com transgressores/esteve entre ricos;
    c) intercedeu por transgressores;
    d) levou sobre si os pecados de muitos;
       



quinta-feira, 14 de novembro de 2019

"Sacrifício santo" - Romanos 12,1-2 - Parte 4

     Santidade na Bíblia significa ser separado, por Deus, para o seu serviço. Como diz Paulo Apóstolo, "importa que os homens nos considerem ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus".
     Impossível que assim ocorra, sem que tais ministros, homens e mulheres de Deus, não tenham passado por esse processo: santificação. A legenda do sacerdote em Levítico é "sede santos, porque eu, o Senhor, sou santo".
    E somente por meio de Cristo e em Cristo isso é possível. A afetação do pecado no ser humano, que marca seu afastamento de Deus, soluciona-se na morte é ressurreição em Cristo, por parte daquele que crê. 
    A fé em Jesus significa compreender, acolher e se render a ele, para que, por meio do Espírito, haja o batismo, em Cristo, que une ao Pai. Inicia-se o processo de santificação, a partir da regeneração, que é a nova vida.
   Paulo descreve que "quem está em Cristo é nova criatura, as coisas velhas já passaram e eis que tudo se fez novo". Santificação é esse processo que, indicado a partir de regeneração, prossegue por toda a vida, até o encontro com o Pai.
    Santidade é viver, no dia a dia, de modo a sinalizar aos outros quais são os limites que Deus estabelece entre o bem e o mal. Paulo Apóstolo também afirma "não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem".
   Mas não se trata de uma estatística de lista dupla do certo/errado. A Bíblia sabe que, desde os 10 mandamentos, homem/mulher nenhum(a) os cumpriu, a não ser Jesus. Daí Paulo afirmar que o preceito da lei, por meio de Cristo, cumpre-se em nós. 
    Santidade é fruto do Espírito em nós, tem autoria dEle, opção consciente e resultado da atuação em nós do poder de Deus. Paulo afirma a Tito que houve em nós um "lavar regenerador" do Espírito Santo, para vivermos "sensata, justa e piedosamente" neste século. 
     E completa dizendo que a graça de Deus, desse modo, "manifestou-se salvadora" a todo o que crer. Limites de santidade. Agora de modo natural, de dentro para fora, fruto da ação do Espírito em nós.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

"Sacrifício vivo" - Romanos 12,1-2 - Parte 3

     Paulo qualifica o sacrifício que representamos para Deus, uma vez batizados, quer dizer, unidos a Jesus, por meio do Espírito Santo, como resultado de nossa fé e entrega. 
    Ele diz "sacrifício vivo, santo e agradável". Vivo, porque vida, na sua expressão plena e original, provém de Deus. Jesus afirma que veio para que tenhamos vida plena.
    A vida perdeu o viço. Este somente é restaurado em Jesus. Fontes da vida. Estão em Deus. Por isso "sacrifício vivo" é prova autêntica da ação de Deus como fonte de vida no ser humano. 
    Não se trata de religião. Nem de performance, mas da originalidade de todo o bem, beleza a virtudes que qualificam e conferem identidade ao que é vida.
    "Corpo como sacrifício vivo" é restauração da condição plena de vida em comunhão com Deus e todo bem, beleza e virtudes decorrentes dessa relação. 
     O nome disso é igreja. Corpo vivo é tudo que se opõe a morte. E morte não é somente a cessação de vida biológica, mas é desde a inexistência de vida espiritual em comunhão com Deus.
    Portanto, sacrifício vivo tem todo o reverso do sentido apenas biológico do que significa vida. Representa a ação de Deus no homem/mulher, restaurando o sentido total do que vida representa. 
   Ela é eterna. Constituída à imagem e semelhança de Deus, por seus atributos e virtudes. Obtida a partir da fé em Jesus, assim como, a partir dele vivida em plenitude. 
     A vocação da igreja é vivê-la neste mundo, como alerta e sinal profético a quantos ainda não a receberam como dádiva e milagre exclusivo de Deus. 
    O amor de Deus em ação no homem e por meio do homem é a principal marca dessa vida. Com todos os demais atributos que, como o amor e para se poder amar, Deus oferece. 
    Paulo Apóstolo diz que o fruto do Espírito é o amor. E relaciona alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.
   É fruto espontâneo do Espírito, é vida, é amor.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

"Apresenteis o vosso corpo como sacrifício" - Romanos 12,1-2 - Parte 2

      Se a Bíblia é o livro que descreve o modo como "o verbo de fez carne e habitou no meio de nós", o corpo se torna essa máxima expressão. 
     Na 2 Coríntios, Paulo Apóstolo escreve que "um (Jesus) morreu por todos, para que os que vivem (em e por Jesus) não vivam mais para si mesmos".
    Aos Gálatas, o mesmo apóstolo diz "não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim". Portanto, o sacrifício que Deus aceita é o de Jesus Cristo.
   Porém, nosso batismo em Jesus, pelo Espírito, e a comunhão decorrente dessa verdade bíblica permite que Deus nos aceite como sacrifício vivo em Jesus, por meio de Jesus e do modo como, em santidade, aceitou Jesus. 
     O sacrifício é o de Jesus, sendo nós mesmos a oferta que Ele conquistou para o Pai. Redenção, além de significar nossa salvação individual, indica o preço pago, assim como a abrangência do sacrifício de Jesus. 
     Jesus nos redime e, conosco, restaura tudo o mais. Nos que nEle creem, restaura todos em todas as épocas da história. Os propósitos de Deus não se frustraram. E a indicação profética dessa verdade é a igreja. 
    No Antigo Testamento, sacrifício, além de cruento, ou seja, indicar sofrimento, derramamento de sangue e morte, tinha embutido na sua simbologia outros aspectos fundamentais. 
    Entrega total, como holocausto; voluntariedade, como oferta de manjares; prioridade, como oferta das primícias; expiação, como oferta pelo pecado; e admissão, confissão ou perdão, como oferta pela culpa. 
    A nossa oferta pessoal ao Senhor abarca esses cinco aspectos dos sacrifícios descritos em Levítico, assumidos e satisfeitos em Jesus, para que possamos vivenciar em nossa própria entrega a Deus. 
    Deus nos quer totalmente dEle, de modo voluntário e com prioridade, assim como santificados do pecado original e dispostos a combater, em Cristo, a culpa que se insinua, como diz o autor de Hebreus, "tenazmente nos assediando".
     Paulo expõe três qualificações desse sacrifício vivo que Deus deseja que sejamos, para ele, como Cristo o foi: vivo, santo e agradável. Esse é o desdobramento do ministério que Deus tem para a igreja de Jesus. Veja no texto que segue.
     Como esclarece Paulo Apóstolo, agora aos Colossenses, na igreja o principal ministério é formar Cristo em nós. Em todos os sentidos, o mundo a nossa volta precisa nos reconhecer como sacrifício em total dedicação e oferta contínua a Deus.

"Rogo-vos, pelas misericórdias de Deus"" - Romanos 12,1-2 - Parte 1

    "Juro por Deus". Quando menino, e isso vai até a virada anos 50/60, essa fala encerrava toda polêmica. Era um rogo. Quem afirmava, queria credibilidade a seu favor.
    Paulo usa um recurso parecido, mas em tudo diferente, quando diz: "Rogo-vos, pelas misericórdias de Deus". Ele não está simplesmente rogando, ou seja, fazendo um veemente pedido em seu próprio nome.
    E também não está usando o nome de Deus como se fosse apenas uma instância maior, à qual se apela para emprestar credibilidade no que se está empenhado, como na sentença de meu tempo de infância. 
    Ele pede que se leve em conta o que Deus, por sua misericórdia, é capaz de realizar e, com empenho e de modo essencial vai fazer na e por meio de Sua igreja. A esta comprou pelo seu próprio sangue, em Jesus Cristo. 
     O rogo é dirigido a nós. Pede em veemente súplica compreendermos a dimensão do que segue como indispensável à identidade e função precípua da Igreja.
    Ele, portanto, roga, porque Deus vai realizar, pela misericórdia que O move e do modo como age, o que Paulo nos indica como essencial, nossa resposta ao agir diferencial de Deus em Sua Igreja, corpo de Cristo.
    "Pelas misericórdias de Deus". As versões modernas já optam por traduzir "misericórdia" por "amor". Deus é amor. Age somente em e por amor. Por isso Paulo antecipa, no seu rogo, que o que vai pedir está condicionado ao amor de Deus.
     Deus concede que sejamos, no e por Seu amor capazes de fazer o que, como igreja, temos missão e identidade específicas para realizar. Trata-se do que Deus deseja que façamos e do modo como nos supre a fazer.
    Em amor. Por amor. Pois o amor, que só existe, no seu estado original, em Deus, Ele mesmo nos concede, para que aprendamos a amá-lo, consequentemente a nós mesmos e ao outro, agindo sempre por meio desse amor. 
    Voltados para Deus e para a nossa missão como igreja, agora regenerados na identidade do Pai, na linguagem de Pedro Apóstolo, co-participantes da natureza divina, efetuamos nosso próprio aumento, como diz Paulo Apóstolo aos Efésios.
     Pelas misericórdias de Deus é que ele derrama Sua graça. E esse é o efeito dela em nós. O que segue, pela leitura de Paulo, compõe o rogo a que somos estimulados, em amor, a assumir, de modo absoluto e irrestrito, como fruto da graça de Deus.

sábado, 2 de novembro de 2019

A igreja está nas ruas.
     (veja também o link alusivo)

       Irrompeu. A história que a Bíblia conta é que, se há um Deus, ele se fez homem, encarnou e saiu, pôs sua cara nas ruas.
     Imagine o nazareno, como Jesus era chamado, escondendo-se dentro do templo, como Neemias não fez. "Homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo para que viva?". Ne 6,11.
     Nem Jesus. Jesus vivia nas ruas. Estava onde houvesse gente. Percorria as margens do Genesaré ou escolhia conversar com marginalizados.
       Bem caracterizado na chamada Parábola das Grandes Bodas: preparem a grande festa, o grande basquete e convidem.  Não confirmaram presença. Ora, então saiam e convidem a marginália. Convidamos. Mas ainda há lugar. Voltem às ruas: façam o pente fino. Superlotem. Depois, fechem as portas e comecem o grande banquete.
     Ele ia às festas, sim, adorava festas. Porque estavam cheias de gente. Jesus não tinha nenhum preconceito contra gente. Gentios eram a primeira barreira à qual se impunham os judeus. 
      A Igreja atual tem, pelos menos, três problemas solucionados por Jesus em sua postura original: linguagem, barreiras e lugar.
      Jesus era único. A partir de pedir um copo d'água, terminava com uma aula de teologia, na conversa com alguém triplamente discriminado: mulher, samaritana e leviana. 
      Preferia mais a festa do que o ritual. Por isso, mandou encher as vasilhas consagradas com água, para que servissem vinho até amanhecer: a festa, o riso, o regalo e, principalmente, a conversa e a presença de Jesus precisavam continuar. 
      "Se bem que Jesus mesmo não batizava", cita João. Mero ritual. Mas o outro João alertou os emissários de Jerusalém advertindo ser Jesus o único a batizar no Espírito.
     Este um outro andarilho, desde o caos inicial, quando dizem as Escrituras que pairava, de lá para cá, por sobre as águas. Afirma Jesus sobre ele que nem de onde e nem para onde se sabe: venta onde quer.
     Andar no Espírito, como diz Paulo, é ser andarilho. Peregrino neste mundo. E o lugar é nas ruas. A igreja experimenta crise de linguagem, identidade e lugar de vivência. 
     Identidade, porque foi feita para agregar, promover comunhão, anunciar o evangelho que torna um com Deus, um com os homens. Mas criou barreiras de proteção para si mesma, isolando-se dentro dos templos. 
     Vulgarizou sua mensagem. Não consegue, a partir das necessidades essenciais, como a sede dos homens e mulheres, ensaiar uma aula de teologia. Vende barato um evangelho falso, alheia à advertência de Paulo de que "não há outro evangelho".
     E não consegue definir seu lugar de sacerdócio, próxima de Deus para estar próxima dos homens: "o sacerdote é tomado de entre os homens, constituído nas coisas que dizem respeito a Deus".
     "Importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus". Embaixadores de Cristo, como se fosse o próprio Deus falando.
      Basta a igreja ser como Cristo, que apresentou o Espírito com função precípua de glorificá-lo. Falar como se Deus por ela falasse. Introduzir sua fala com o distintivo de simplicidade que vai descortinar o conhecimento de Deus. 
      Entender que, como Jesus, seu lugar é na rua. O templo jamais como lugar de fuga. Quem, como ela, entraria no templo para que vivesse?  Lugar de viver é na rua. Prolongando a festa, enquanto o noivo não chega.

https://youtu.be/tOGjCSGd2eU

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Porque é 31 de outubro


   Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est” . Gilbertus Voet  (1589-1676)

      Esse teólogo reformado holandês concorda com o Apóstolo Paulo, que escreveu: "E vos renoveis no espírito da vosso entendimento". Efésios 4:23

       Reforma não deve ser vista como revanche. É claro que ela teve seu momento histórico e todos os condicionantes de época. Mas o seu espírito é condizente com a ideia de missão, identidade e finalidade da igreja. 

      Esta é concepção de Jesus. Edificarei a minha igreja, Jesus disse. Quem quiser ser dono da igreja, falseou a ideia original. Mas ela é composta por homens, específica e genericamente falando. 
    
        Portanto, haverá avanços, recuos, erros e acertos. Por isso a sentença "igreja reformada sempre se reformando". Ora, se a Bíblia mesma afirma que Jesus "crescia em sabedoria, estatura e graça" e que ainda "aprendeu a obedecer" mesmo e precipuamente pelo que sofreu, como não a própria igreja não terá essa experiência?

      Qual igreja? De que tipo a igreja? Aqui vão entrar as reivindicações de autenticidade exaustiva e reincidentemente requeridas. E a costumeira discussão sobre quem tem o selo de marca. Ora, o selo é o Espírito, que Jesus ensinou a Nicodemos que vem, vai ou venta onde quer. 

      A Igreja está no mundo. Deveria estar nas ruas, boêmia, como Jesus sempre esteve encarnado. Por razões históricas, que se institucionalizasse, até, mas que não tentasse nunca aprisionar o Espírito em suas celas.

     Mas Jesus nas ruas não significa encontrá-lo e sair o mesmo, como aquele jovem rico, cioso de guardar todos os mandamentos, mas o amor, o único, demonstrou não querer como opção para a sua vida.

      Ninguém encontra Jesus e sai o mesmo desse encontro. E não se trata de ortodoxia ou um banho galvanizado de qualquer pensamento, filosofia ou ideologia de ocasião. A metanoia de Jesus tem a marca de autenticidade dEle. 

      Tem um lado místico sim. Se Jesus, que derramou o Espírito, como Pedro atestou na primeira pregação após a ressureição do Cristo, não batizar no Espírito, como João, o Batista, atestou que somente Jesus faz, pode até haver reinvidicação legal de pertença a uma igreja qualquer, mas não haverá selo de autenticidade. 

      Jesus é o Senhor da igreja. Isso não é reivindicação de senhorio político ou legenda de exclusão. Não. É marca de autenticidade. O grupo que anda com ele. O grupo marginal, que seja, dentro do tecido social, ainda que autêntico, que decidiu chamar-se por esse nome, associado a Cristo. É mais roda que instituição. 

     Sem placa. Sem nome. Chamada igreja. Ou a reforma preserva a identidade e prevalece a marca de presença do Espírito. Ou a placa, o nome barato que seja, até às vezes carismático, que a ela emprestaram, ou outros ricos em sinônimos galácticos, mundiais ou siderais, roubam a sua identidade.

domingo, 6 de outubro de 2019

Simples assim.

    Uma camarada chamado Eli Shukron afirma, peremptoriamente, que encontrou o lugar onde Abraão ofertou a Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, o dízimo. v'hu' cohen l''el "elion, no hebraico, quer dizer "e era sacerdote do Deus altíssimo", Gn 14,18. 
   Esse arqueólogo descreve o aparato despojado do local. Uma pedra como mesa, uma canaleta para escorrer as sobras do sacrifício, fosse sangue ou a gordura, é mais nada.
    Confirmado ou não como o local exato, o que importa é a simplicidade e o despojamento sugeridos. A reportagem destaca: "O arqueólogo lembra que em outros povos como no Egito e Mesopotâmia a adoração era feita em templos, com ouro e ídolos, mas apenas os hebreus usavam pedras".
     E acrescenta: “A pedra é a casa de Deus, não há ouro nem diamantes, tudo é simples, é o que Deus quer que sejamos, simples. É fantástico. Por quê? Por que razão? Para nos conectar com Deus”, declarou Shukron.
     O mais importante foi a dimensão do encontro. Entre os dois e deles com Deus. Não que o Altíssimo os esperasse ali. O lugar, mesmo despojado de regalias, ainda não era o mais importante.
     Histórias antes desta a Bíblia já havia definido o diferencial: andar com Deus. Esses dois homens andavam com Deus. Seu encontro celebrava essa parceria.
     E Abraão, na época em processo de se declarar patriarca, seu nome significa "pai do povo", aplicou a si o principio que Paulo destaca aos filipenses: "considerar o outro superior a si mesmo".
     Todos somos sacerdotes do Deus Altíssimo. E dar o dízimo significa que nos demos a Ele que, antes ainda, havia se dado por nós e em nosso lugar na cruz.
    Vivamos para ele, porque vivemos por ele, e ele morreu "para que os que vivem (por ele) não vivam mais para si mesmos". Simplicidade e despojamento.
     Como atesta Paulo, de novo ele, "a palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração". Ter perto a palavra, significa ter ao alcance, compreender, saber dela compartilhar e tê-la segura no coração.
    Simples assim. A comunhão é assim simples e despojada. Mas foi conquistada a preço de sangue. A canaleta, pela qual escorreu sangue e óleo.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

              Uma foto
          Tem o poder de nos mergulhar no tempo. Memórias. Única vez que meu pai veio ao Acre. Setembro/outubro de 1995. Mês 09/10 de nossa chegada, em janeiro daquele ano.
         Muito significativo que o pastor batista segure o batistério congregacional, para que eu ministrasse batismo: Josué, Jorgemar, Claudio e Ducileia, nessa ordem.
       Primícias no Acre. Fruto do ministério de Nelson Rosa. Gratidão que, simbolicamente, eu os batizasse. E dei ao Cid o privilégio de segurar nosso batistério.
     Um dos últimos atos pastorais de Cid Gonçalves. Pelo menos, aqui no Acre. 11 meses depois, quando já avaliava preços para a passagem aérea, de volta ao Acre, fez o voo definitivo. 
     Olhando a foto, imóvel, flash de uma época, permito-me surfar na sua simbologia. Nos significados que ela sugere. Tão notáveis e fundamentais, para uns, irrelevantes e sem significado algum, para outros. 
      Ainda estou lidando com esses sentidos aqui sugeridos. Quando cheguei à idade de confirmar minha fé, não somente pela herança do discurso dos pais, mas pelas Escrituras, chamou minha atenção o sentido do batismo. 
      Pela experiência parecida à do Batista. Perguntaram a ele sobre autoridade e identidade do batismo dele. Ele replicou: entre vocês está quem, verdadeiramente, batiza. Meu batismo aponta para o dele.
     Mesma coisa. Esse batismo da foto tem sentido, na medida em que sinaliza para o batismo que Jesus efetua na vida de quem crê. Se for possível negar o batismo que Jesus efetua, esse da foto não terá nenhum valor. 
     Igreja e fé vêm sendo, começando pelos próprios igrejeiros, menosprezadas. Estão errados os dois: os somente igrejeiros e os pseudo críticos, que querem justificar nesse descaso seu abandono da congregação. 
      Atentem para o batismo de Jesus, porque ele batiza no/com o Espírito Santo. Neguem que esse batismo exista. Então, menosprezem todo o resto. Porque o protocolo do batismo da foto não terá nenhum valor.
      Estão por aqui os quatro batizados. Exceto um deles, o mais próximo da lente, que é pastor em Alta Floresta, MT. E a mocinha, com família, duas filhas e esposo em Natal. Certamente a trajetória vai confirmar o trato dado ao batismo, em forma, apenas, de protocolo ou efetivo, no Espírito. 
      Quanto a mim, avalio que, certas horas, precisamos reduzir ao ponto. A vez em que estive pela PUC/RJ, 1977-1978, pensando que seria Engenheiro Elétrico, cursei Geometria Descritiva. Apreciei muito a definição de ponto.
      Ponto é ponto. É um axioma. Quer dizer, não tem definição. O batismo em Jesus Cristo, levado a efeito pelo Espírito Santo, é o ponto da fé. Se ele existe na tua (ou na minha) vida, então. Se não existe, pode ser pastor, apostolo de ocasião, profeta (falso), igrejeiro, enfim.
     Nenhum valor. Mas se o batismo no Espírito é realidade em sua vida, nenhum protocolo. Faz sentido Cid Gonçalves segurar o batistério congregacional. Faz sentido Cid Mauro, filho dele, aspergir água sobre suas cabeças. 
      Faz sentido o casal Rosa ter pregado. Faz sentido sua vida. Plena. Porque Jesus veio para que tenhamos vida e vida plena. Se a sua não tem sido, não está nele, em Jesus, o problema.  
     Em Jesus está  a solução.

sábado, 14 de setembro de 2019

Máscara

Quem é você?
- Adivinha, se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
                             (Chico Buarque)
        Procurando essa letra, achei quase umas 10 começando assim. Algumas eram de gente gospel. Mas eu preferi esse profeta profano. 
      Às vezes, quer dizer, talvez mais frequentemente do que gostaríamos, estão falando melhor. Nesse caso aí em cima, destaco a pergunta e a condição de mascarados. 
     Quem diz ser fácil responder "quem é você?", é porque não entendeu a pergunta ou está fugindo dela. Somos mascarados. Então, como responder?
    Certas atitudes, na condição humana, generalizam-se. Uma delas é a máscara social. Mas não se pode negar que há gente transparente. 
    Serão, prontamente, declaradas hipócritas, ingênuas ou soberbas. Essa primeira alcunha, razão de que dirão ser simulação tal transparência: fingem-na, portanto são, sim, mascarados. 
     A segunda alcunha adverte de que quem age de modo aberto, só pode ser simplório, pois na vida não existe espaço para gente assim. A não ser que queira se fazer de tola.
     E a terceira, porque querem aparecer, posar de sinceros, ou seja, planar acima dos outros e escolheram essa simulação de conduta como "virtude".
    Jesus era um sujeito transparente. E não tinha nenhuma das três alcunhas acima indicadas. Não era hipócrita, ingênuo ou soberbo. Tinha uma só cara, era, como ensinou, "símplice como pombas, prudente como serpentes" e humilde. 
     E viveu, também, para ensinar que retirássemos nossas próprias máscaras. Caíram as máscaras. Se alguém pretende dizer-se portador de relação com Jesus, refiro-me a dizer comunhão, aliás, a única relação possível, caiu a sua máscara. 
     Porque se ainda se luta contra mantê-la, reluta-se em retirar, será necessário rever se, verdadeiramente há, com Jesus, comunhão. Ou se apenas se tornou "Jesus", gospel trademark.
     No filme O Máscara, retirá-la era agonizante. Bom que isso represente um processo. Que talvez seja demorado. E tenha íntima relação com o que, na Bíblia, está definido como luta de si contra si mesmo. 
     Não confie em quem não trava, diuturnamente, essa luta. Porque se diz que não ou a simula, é mascarado. Votando ao homem sem máscara, o dia a dia de Jesus, descrito em algumas cenas dos Evangelhos, revela-nos essa personalidade. 
     Limpar somente o exterior ou ser um sepulcro caiado, expresso aos fariseus, e o "vai e chama teu marido", dirigido à samaritana, são três exemplos de situações em que Jesus reclama autenticidade.
    "Quem é você, diga logo, que eu quero saber o teu jogo", repete o profeta profano. E a letra vai justificar, completando:  "Mas é Carnaval!/Não me diga mais quem é você!/Amanhã tudo volta ao normal./Deixa a festa acabar,/Deixa o barco correr".
     É uma solução. Seja gospel. Deixa o barco correr. Vai ver que a máscara, como no filme, permite que sejamos o que quisermos ser. E a vida vire um Carnaval.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Era uma vez

Era uma vez
O dia em que todo dia era bom
Delicioso gosto e o bom gosto das nuvens serem feitas de algodão
Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão
E acabava tudo em lanche
Um banho quente e talvez um arranhão
Era uma vez, era uma vez, era uma vez, era uma vez
O dia em que todo dia era bom
Era uma vez
É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido
É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido
Dá pra viver
Mesmo depois de descobrir que o mundo ficou normal
É só não permitir que a maldade do mundo te pareça normal
Pra não perder a magia de acreditar na felicidade real
E entender que ela mora no caminho e não no final
Dava pra ver, a ingenuidade, a inocência cantando no tom
Milhões de mundos, e universos tão reais quanto a nossa imaginação
Bastava um colo, um carinho
E o remédio era beijo e proteção
Tudo voltava a ser novo no outro dia
Sem muita preocupação
Era uma vez, era uma vez, era uma vez, era uma vez
O dia em que todo dia era bom
Era uma vez
É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido
É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido
Era uma vez (era uma vez)

Metaoração

Meta
     Metalinguagem. Meta-: além de, para além de, transformação. Esse radical significa passar além e debruçar-se de volta.
    Metalinguagem, significa debruçar-se sobre a linguagem, refletindo sobre ela mesma. Metacognição, significa refletir sobre o processo do conhecimento. 
    E metaoração, deve ser debruçar-se ou refletir sobre oração. Se não existe o termo, aqui inventamos. Refletir sobre orar deve ser muito útil, em nome de uma oração autêntica. 
    Jesus até faz umas recomendações. A primeira é chamar Deus de "aba", pai. Sumo atrevimento. Muita intimidade. Mas a resposta de Jesus foi essa que, quando orar, disséssemos "Pai nosso que estais nos céus".
    De tão repetida, passa-se batido por essa expressão: "Pai". Sumo atrevimento. Voltando os olhos sobre o que seja "oração", é assim que deve começar. 
     Ora, vem logo a pergunta: e para os que não são filhos, devem assim chamar Deus, desse mesmo modo? Ora, não podemos começar uma oração, simplesmente, por "Deus nosso, que estás nos céus"?
      É uma primeira indagação. É comum reivindicar-se sermos todos "filhos de Deus". Porém, levando-se em conta o básico da condição paterna, serão filhos aqueles assumidos por ele.
     Todos somos filhos, repetir-se-ia. A Bíblia vai dizer que filhos são aqueles a quem Deus gerou. Com respeito ao Filho, Jesus, chamado no Livro "unigênito do Pai", está escrito "Eu hoje te gerei".
     Deus assume os filhos que gerou. Será toda a humanidade, então, indistintamente, composta por "filhos de Deus"? Certamente não. Poderemos listar, por antipatia, assim como por simpatia, lista dupla.
     Numa coluna, somente os(as) filhos(as), segundo ou seguindo nosso critério (claro que estou incluído nesta coluna). E  na outra, os nossos desafetos, os que não queremos que sejam.
     Simples assim. E somente, concordaremos, então, os filhos e filhas poderão chamar, com justiça, Deus de Pai. E assim começam as orações. 
    Somente um detalhe: supondo que há quem não seja filho, a primeira oração feita pode ter sido sem o vocativo "Pai". Ou até usado o vocativo, sensibilizando o Altíssimo, diante da sinceridade da oração. 
     Donde se supõe que sinceridade na oração é tudo. A verdade, no íntimo, como diz Davi no Salmo 51: "Deus se compraz com a verdade no íntimo".
     Sendo assim, certamente, a primeira oração foi feita por não filhos que, uma vez tendo sido, por Deus, sensibilizados, são convidados a chamar, a invocar, o nome do Senhor. 
    E como diz o mesmo salmista, "todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo". E ainda outro salmista, "perto está (Deus) de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade".
       Portanto, desculpem-se, sua lista deve estar furada. Você se inclui como filho(a), mas serão filhos e filhas aqueles a quem Deus gerou, por fé, como filhos e filhas.
     Ou você é daqueles que invocam o nome de Deus, até admitem, hipocritamente, Sua existência, mas descartando que Ele tenha iniciativa?
      Limite-se a orar, no seu íntimo, para que todos se tornem filhos e filhas, experimentado, no íntimo, a verdade e o amor que dizemos, nós que nos consideramos filhos e filhas, experimentarmos.
      Está aí uma bela opção: orarmos por quem não consideramos que sejam filhos. Amá-los intensamente, primeiro, para que, quem sabe, sejam sensibilizados. João Apóstolo diz que "quem não ama o irmão a quem vê, não pode dizer que ama a Deus, a quem não vê".
      Eu discordo que haja permissão para odiar. E ainda digo que há um só tipo de amor. Deus é amor, escreveu esse mesmo João. Portanto, só há uma forma de amar.
     E quem não ama por esse modo único de amar, odeia. Vai "pela vida afora", como dizia meu pai, completando a lista dos que não são filhos ou filhas de Deus: incluindo-se e excluindo quem desejar.
      "Tenha a santa paciência", como também dizia meu pai, em tom de reprovação. 

domingo, 8 de setembro de 2019

Olhai a flor da pitangueira

       Doença crônica é persistente. Não se cura num curto espaço de tempo. E talvez nunca se cure. Minha mãe carregava consigo uma doença crônica. Mas não morreu por causa dela.
      A Bíblia denuncia uma doença crônica que todos carregamos conosco, cuja morte é efeito colateral. Só que, nesse caso, ela define a cura. É o único livro que define como doença, único livro que indica a cura.
      Sim, morte, porque defuntos são de total e inteira confiança. Antes de você criticar o Altíssimo, por ter instituído a morte como o fim da trajetória do pecado, no ser humano, considere que quando for um defunto, você será alguém de inteira confiança. 
      Pois a nossa condição humana, como portadores dessa doença crônica, com todos os seus efeitos colaterais, não nos permite enxergar beleza à volta. Quem viu que a pitangueira floriu?
      No seu tempo. As mangueiras também floriram. E isso é prenúncio dos frutos. As cigarras estão zoando. E cai chuva temporã. A natureza segue seu curso.
     E o ser humano segue o seu próprio. O único ser que se divorcia da natureza. Esse é mais um sintoma de sua doença. A natureza segue um curso, o homem outro, contrário. 
     Ainda depende, direta e indiretamente, dela. Mas a cobiça se tornou seu principal motor. Dadivosa, a natureza poderia, com sobra, suprir-lhe o sustento. Mas o homem entrou em desequilíbrio consigo mesmo, com o outro e com ela.
     Esse tripé do conflito humano drena toda a sua energia. A vida do homem no planeta não segue mais o curso que a natureza ensina. Por isso não enxerga nela os sinais de vida.
     Na perda desse equilíbrio, reside o descaminho na terra. A cegueira para a flor que nasce. A surdez para o passarinho que canta. A insensibilidade para o outro.
     A falta de amor. As compensações para suprir a falta de vida vicejante. Por exemplo, a religião, com seu culto, sua ortodoxia, seus rituais e todo preconceito contra quem inventou outra diferente. 
     Jesus pensava e agia diferente. Olhaí os lírios no campo, que não trabalham ou fiam, mas nem Salomão lhes ultrapassa em beleza. E não estejais ansiosos de coisa alguma.
     Deve ser a ansiedade que nos impede de olhar à volta. Gratidão a Deus por nos ensinar a olhar, ouvir, enxergar, sentir e cheirar a criação.

domingo, 1 de setembro de 2019

Pastores parceiros: 80 anos de bênçãos.

       Cheguei a  Cascadura em 1966. Minha mãe havia sido contratada para professora em Nilópolis, município onde nascera em 1930 e, desde essa época, na Congregacional de Nilópolis. 
         Meu pai havia ganhado no argumento de que, agora professora em Nilópolis, de 2a a 6a feira, deslocando-se de Cascadura, uma ida a mais no domingo era puro estresse.
       Então, fomos para a Congregacional de nosso bairro, porque era sair da Mendes de Aguiar, atravessar a Ernani Cardoso, ladear o atalho pela vila, ao lado da horta, e chegar à João Romeiro 212.
      E foi ali que, aos 7 anos incompletos, comecei a fazer parte da história da igreja, conhecendo os heróis de fé que a fundaram, desde 1953, sem saber que, um dia, seria seu pastor em 1983-1994. 
      Um dos heróis era "seu" Guedes, esse da foto, ao lado de crianças, sua especialidade. Foi nesse tempo que conheci, na Vila das Torres, a comunidade de Magno, em Madureira, apertada entre a linha do trem e a horta.
       Aquela mesma horta que começava (ou terminava) ali, na João Romeiro, encostada na subida do Morro do Fubá. Ali conheci Milton e Edinalva, Possidônio e Rita, Manuel  e Maria Marques. 
     Pastores sabem que eles passam e as igrejas ficam. Mas carregamos essas lembranças. E por alguns, quase que não podemos dizer isso, sem despertar um santo ciúme, ficamos marcados. 
      Esse grupo de Magno me marcou profundamente. Manoel Marques meu soldado de todas as guerras em Curicica. Trabalho tão antigo e tão traumatizado. 
     Pr Zefanias, octogenário já, estagiou nessa igreja que quase, definitivamente, fechou. Cheguei lá em 1982. Era uma Congregação reaberta por Cascadura, que ninguém queria. 
      Manoel Marques agigantava-se. Chuva torrencial. Eu chegava lá, vindo da Uerj, pela Grajaú-Jacarepaguá, lá estava plantado no portão, ainda fechado, debaixo de um enorme guarda-chuva, com seu sorriso angelical. Olhando aquele sorriso, eu sabia como Jesus sorri.
     Possidônio, certa vez, d. Rita, esposa dele, desobedeceu-o. Porque ele atravessou por cima da linha do trem, na Vila das Torres, um carrinho de mão e muito ferro velho, andando até Turiaçu, para vender: era mês de missões em Cascadura. 
     Escondido dele, agora com luxação nos joelhos, pelo esforço feito, mais de 70 anos, ela pedia ajuda. Levei-o ao hospital de Mangueira. Lá ele quis que eu confessasse a arte de d. Rita. Eu disse, deixa pra lá, irmão: afinal, ela tem razão. 
     E com relação à Edinalva, era a família inteira. Aquela de Manoel Marques também era grande. A de Possidônio, apenas um filho, já adulto e casado. Mas principal marca da família Santos era a união. 
     Lembro certa vez, e se torna fácil lembrar, que o telefone tocou no ap do Méier. Dia 5 de julho de 1982, dia da chamada "Tragédia do Sarriá". Edinalva, avisando que Milton estava em casa.
     E o assunto era exortar o marido a estar mais presente na Igreja. Ela pediu que fosse urgente, para cercar o pai das meninas e do menino Enéas. Parti do Méier nesse dia fatídico. Lá se foi o fusca azul entrar na apertada Vila das Torres.
       E cerquei mesmo o Milton na Vila das Torres, para conversarmos sobre a importância de não abandonar a congregação, como diz o autor de Hebreus. Enquanto eu e Milton conversávamos, entre a linha do trem e a casa dele, Paolo Rossi marcava o terceiro contra a seleção de Telê Santana.
     Se alguém disser que não era essa a hora de conversa, é porque não conhece Edinalva. Pelo cuidado com o marido e com os filhos, não media esforços. Ora, se ele estava ligado no jogo do Brasil X Itália, mais do que estratégico cercar o homem. Estratégia de mulher: deixa Telê para lá, entre em campo o pastor. 
       Foi assim que lutou todo o tempo para manter a família unida e unida em torno do evangelho. Sempre existiu reciprocidade. Ela sempre foi grande apoio na União Feminina da igreja e sempre atendeu e reagiu positivamente aos estímulos que, como pastor e liderança da igreja ela recebeu.
      Dorcas, minha mãe, Lourdes, a sogra e Arsylene, esta a esposa do pr Henrique Jardim e, mais atrás no tempo, Rute, esposa do pr Amaury sabiam que era para toda a obra o seu esforço e prontidão. 
     Rute conhecia sua disposição nos dias de 21 de abril, festas do Abrigo em Pedra de Guaratiba. Por isso a história da congregação de Magno e de Cascadura confundem-se, misturadas ao serviço, preocupações e prontidão de Edinalva. 
     Há pessoas que têm a igreja como referência, arrastando-a para o restante da vida. Outras são assíduas, não falham com relação aos seus compromissos com ela. E outras, ainda, como diz o salmista, moram na Igreja ou desejam isso continuamente. 
      Fazem seu ninho na Igreja. Ao longo de sua vida, essa mulher percebeu, e bem rápido, que deveria ser assim com sua família. Por isso, pastoreava seu marido. O filho e todas as filhas. E aposto que também netos e netas.
     Sem dúvida o chamado para o filho, agora pastor, teve  no zelo de Edinalva essa ressalva positiva. Parabéns, Edinalva, por seus muito bem vividos 80 anos. Nós, seus pastores, Nelson Quaotti, Maurilo Moreira, Cid Mauro e Manoel Bernardino carregamos a lição desse seu zelo, que tornou tão bonita a sua família, continuamente exortada a estar sempre ao lado de Jesus.

        Cheguei a  Cascadura em 1966. Minha mãe havia sido contratada para professora em Nilópolis, município onde nascera em 1930 e, desde essa época, na Congregacional de Nilópolis. 
         Meu pai havia ganhado no argumento de que, agora professora em Nilópolis, de 2a a 6a feira, deslocando-se de Cascadura, uma ida a mais no domingo era puro estresse.
       Então, fomos para a Congregacional de nosso bairro, porque era sair da Mendes de Aguiar, atravessar a Ernani Cardoso, ladear o atalho pela vila, ao lado da horta, e chegar à João Romeiro 212.
      E foi ali que, aos 7 anos incompletos, comecei a fazer parte da história da igreja, conhecendo os heróis de fé que a fundaram, desde 1953, se saber que seria seu pastor em 1983-1994. 
      Um dos heróis era "seu" Guedes, esse da foto, ao lado de crianças, sua especialidade. Foi nesse tempo que conheci, na Vila das Torres, a comunidade de Magno, em Madureira, apertada entre a linha do trem e a horta.
       Aquela mesma horta que começava (ou terminava) ali, na João Romeiro, encostada na subida do Morro do Fubá. Ali conheci Milton e Edinalva, Possidônio e Rita, Manuel  e Maria Marques. 
     Pastores sabem que eles passam e as igrejas ficam. Mas carregamos essas lembranças. E por alguns, quase que não podemos dizer isso, sem despertar um santo ciúme, ficamos marcados. 
      Esse grupo de Magno me marcou profundamente. Manoel Marques meu soldado de tosse as guerras em Curicica. Trabalho tão antigo e tão traumatizado. 
     Pr Zefanias, octogenário já, estagiou nessa igreja que quase, definitivamente, fechou. Cheguei lá em 1982. Era uma Congregação reaberta por Cascadura, que ninguém queria. 
      Manoel Marques agigantava-se. Chuva torrencial. Eu chegava lá, vindo da Uerj, pela Grajaú-Jacarepaguá, lá estava plantado no portão, ainda fechado, debaixo de um enorme guarda-chuva, com seu sorriso angelical. Olhando aquele sorriso, eu sabia como Jesus sorri.
     Possidônio, certa vez, d. Rita, esposa dele, desobedeceu-o. Porque ele atravessou por cima da linha do trem, na Vila das Torres, um carrinho de mão e muito ferro velho, andando até Turiaçu, para vender: era mês de missões em Cascadura. 
     Escondido dele, agora com luxação nos joelhos, pelo esforço feito, mais de 70 anos, ela pedia ajuda. Levei-o ao hospital DE Mangueira. Lá ele quis que eu confessasse a arte de d. Rita. Eu disse, deixa pra lá, irmão: afinal, ela tem razão. 
     E com relação à Edinalva, era a família inteira. Aquela de Manoel Marques também era grande. A de Possidônio, apenas um filho, já adulto e casado. Mas principal marca da família Santos era a união. 
     Lembro certa vez, e se torna fácil lembrar, que o telefone tocou no ap do Méier. Dia 5 de julho de 1982, dia da chamada "Tragédia do Sarriá". Edinalva, avisando que Milton estava em casa.
     E o assunto era ezortar o marido a estar mais presente na Igreja. Ela pediu que fosse urgente, para cercar o pai das meninas e do menino Enéas. Parti do Méier nesse dia fatídico. 
       E cerquei mesmo o Milton na Vila das Torres, para conversarmos sobre a importância de não abandonar a congregação, como diz o autor de Hebreus. Enquanto eu a Milton conversávamos, Paolo Rossi marcava o terceiro contra a seleção de Telê Santana.
     Se alguém disser que não era essa a hora de conversa, é porque não conhece Edinalva. Pelo cuidado com o marido e com os filhos, não media esforços. Ora, se ele estava ligado no jogo do Brasil X Itália, mais do que estratégico cercar o homem. Estratégia de mulher: deixa Telê para lá, entre em campo o pastor. 
       Foi assim que lutou todo o tempo para manter a família unida e unida em torno do evangelho. Sempre existiu reciprocidade. Ela sempre foi grande apoio na União Feminina da igreja é sempre atendeu e reagiu positivamente aos estímulos que, como pastor e liderança da igreja ela recebeu.
      Dorcas, minha mãe, Lourdes, a sogra e Arsylene, esta a esposa do pr Henrique Jardim e, mais atrás no tempo, Rute, esposa do pr Amaury sabiam que era para toda a obra o seu esforço e prontidão. 
     Rute conhecia sua disposição nos dias de 21 de abril, festas do Abrigo e Pedra de Guaratiba. Por isso a história da congregação de Magno e de Cascadura confundem-se, misturadas ao serviços, preocupações e prontidão de Edinalva. 
     Há pessoas que têm a igreja como referência, arrastando-a para o restante da vida. Outras são assíduas, não falham com relação aos seus compromissos com ela. E outras, ainda, como diz o salmista, moram na Igreja ou desejam isso continuamente. 
      Fazem seu ninho na Igreja. Ao longo de sua vida, essa mulher percebeu, e bem rápido, que deveria ser assim com sua família. Por isso, pastoreava seu marido. O filho e todas as filhas. E aposto que também netos e netas.
     Sem dúvida o chamado para o filho, agora pastor, teve  no zelo de Edinalva essa ressalva positiva. Parabéns, Edinalva, por seus muito bem vividos 80 anos. Nós, seus pastores, carregamos a lição desse seu zelo, que tornou tão bonita a sua família, continuamente exortada a estar sempre ao lado de Jesus.