terça-feira, 1 de julho de 2025

Afinal, que Deus queremos?

 O grau de credibilidade conferida ao texto biblico define a personalidade do Deus que adotamos. Se for distorcida, não  será novidade, porém uma forma a mais de idolatria.

  É irremediável. Tenha Deus participação no que vai escrito ou apenas piedosos autores tenham imaginado assim, o Deus que se desenha se prende a toda a tecitura do texto, fatos, diálogos e milagres.

   Se não pôde, enfim, abrir o Mar Vermelho ou guiar os nômades no deserto, tudo se reduz a uma espécie de mitologia, por meio da qual se deseja conduzir à fé, ou se validar uma opção preferencial pelo povo judeu.

   O pai que conta histórias bíblicas ao filho, exercitando sua imaginação, ilude a criança. Não  se deseja,  por esse argumento, prova comprobatória. Apenas supor que os textos devem servir somente para isso, fáceis de se entender, ao alcance de crianças.

  Porém o Deus revelado não será objetivamente o personagem por detrás delas. Há uma necessária depuração de especialistas, sem a qual nunca se conhecerá, verdadeiramente, a excelsa e divina personalidade. 

   Que feitos ou fatos narrados se sugere ter esse Deus, efetivamente, realizado? Serão esses que os textos descrevem? E os declarados milagres, desacreditados ou não, seriam meramente admitidos como ficcionais?

   Por exemplo, como seria Abraão confirmado "pai da fé", sem essa saga geográfica e historicamente reconhecida? Os diálogos de Deus com seu amigo, apenas contêm beleza e maestria, porém as personagens são ficcionais (bem, pelo menos Deus, espera-se, não seja)?

  Seriam as Escrituras apenas uma obra ficcional de grande envergadura, à espera de mentes lúcidas em alto grau que decifrem o enigma por detrás desses ensaios literários?

   Trata-se de genial tecitura literária humana, sem nada de inspirado, revelando a identidade de que Deus, mesmo porque até os diálogos são fictícios?

   Nada é direto. Quando lido "No princípio criou Deus", trata-se de um narrador expressando sua fé, detalhando como a personagem divina de sua ilustre ficção cumpre sua agenda criadora.

   E quando a personagem diz a Abrão "Sai da tua terra e da tua parentela", trata-se de uma nova personagem, agora movida por uma intenção divina de fazê-lo migrar e se tornar peregrino.

   Não sendo uma personagem histórica, trabalhe-se toda a ficção, apenas como peça literária. Define-se, evidente, um perfil de Deus, a quem crer e adorar. Um Deus ficcional, ora, para uma fé idem.

   Que Deus queremos? Pode ser uma pergunta. Há uma presença autoral, subjacente, porém desconhecida. Aumentou-se, aqui e ali, com tradição oral, noutras vezes escrita, com registros em material da época. Mas que época?

   Épocas o quanto próximas dos fatos narrados? Ou distantes em que contexto mais recente? Há intenção divina a lhes inspirar? Afinal, seria possível Deus assim proceder? Afinal, o que seria possível para Deus?

   Há, no ser humano,  uma luta íntima em reconhecer a fronteira do que está para além dele. Uma vez diante de sua própria razão, avaliar o agir de Deus. Seria o homem diante da sua razão e Deus diante da dEle.

   Que milagres? O perigo sempre será a vocação idolátrica do ser humano, qual seja, ao final das contas, o que ele mesmo avalia como permitido ao Deus que supõe existir fazer, ser, realizar.

  É tão óbvia a potência de Deus em falar ao homem, amá-lo intensamente, dirigir-lhe a vida, porpor-lhe escolhas, enfim, entregar-se, como homem, numa cruz, depois de encarnar-se num corpo de mulher que, até para quem se aventura a crer, a fé se revela hesitante.

   Que limites impor a Deus? Se Ele entra na história, digam então o que pode e não pode, o que, enfim, ser-lHe-á permitido ou não realizar? Poderá falar com ou ao homem ou mulher que criou? Poderá agir, a Seu modo, de modo que classifiquemos isso como milagre?

   Que Deus queremos? Afinal, a iniciativa é dEle? Sabemos, porque Se revelou? Ou constru(ímos)(íram) esse Deus? Vai se saber. Por isso prefiro o Deus das Escrituras, tais quais se me apresentam.

 Esse menino que ouviu do pai as histórias sou eu. Certa vez, um professor, ironizando sobre tradições orais que conferissem, às Escrituras, essa sua sequência de narrativas, perguntou se eu achava mesmo ter Isaque sentado ao colo de Abraão para ouvi-lo falar de Deus.

  Está aí minha resposta. Deus pode. Somos nós esses meninos. 

domingo, 22 de junho de 2025

Para ver, saber e conhecer o amor

 ⁴ "Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa." Os 6.

   A pergunta de Deus é como se estivesse num dilema. Porque Efraim rejeita o amor de Deus.  Aceitar o amor é se converter.

  O profeta faz esse apelo:
⁵ "O Senhor, o Deus dos Exércitos, o Senhor é o seu nome; ⁶ converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo e no teu Deus espera sempre."  Os 12.

  Definitivamente, Deus ama. E revela emoção. A primeira lição sobre amor é que Deus nele sensibiliza-se. O profeta volta a nos revelar:

⁹ "Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira." Os 11.

   O dilema de Deus é o dilema de amar. Deus é amor. Esse dilema se aplica a todos,  indiscriminadamente. A fala a Efraim é a fala a cada um:

⁴ "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer ." Os 11.

   Mas Efraim tem de se converter. Senão, o pecado a destrói. E pecado é distância de Deus. Nem física, porém espiritual.

  Quem dizer que não se mede por unidade de medida. O único antídoto para isso é comunhão. Com Deus, ou existe comunhão ou não existe.

  E o lugar dessa comunhão chama-se igreja. De novo, não fisicamente igreja. Mas espiritualmente igreja. Se não, não é igreja.

   Igreja é um lugar de comunhão. Um lugar de amor. Não dá para saber do que significa amor, fora da igreja.

   Deus põe na igreja para se viver intensamente. Se, por acaso, virar simulação, não será nunca igreja. Não será Deus, mas perda de amor e perda de comunhão.

  O risco da igreja em Éfeso.

² Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; ³ e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer" Ap 2.

  Muito provavelmente, uma igreja soberba. Paulo afirmou, em sua carta, quase 40 anos antes dessa, de Jesus, que o amor excede todo o entendimento.

  Como se fosse intuitivo. Mas exatamente, espiritual. Porque o Espírito o derrama em nossos corações, ao mesmo tempo que é amor fruto do Espírito.

  Tentar transformar em saber, ensoberbece também:

¹ "O saber ensoberbece, mas o amor edifica. ² Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. ³ Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele." 1 Coríntios 8.

  Não é voluntário amar. É mandamento, por isso inseparável de obedecer. E isso não é natural em nós.  Não é espontâneo.

  Amar implica morrer e nascer de novo. Por isso, Deus chama Efraim à conversão. Por isso Jesus disse a Nicodemos:

⁷ "Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo." João 3.

   Começa no novo nascimento. Amor não existe antes de nascer de novo. Demole-se, para reconstruir. Paulo a Tito denomina:

⁴ Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, ⁵ não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, ⁶ que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador". Tito 3.

   Paulo passou por esse processo, de inimigo a amigo de Deus, de amor nulo a amor pleno.  A Caim, foi proposto. Deus o procurou, para trazê-lo para si.

  A samaritana,  de volta aos amigos, que perguntaram pelo cântaro,  ela disse que havia saciado a sua sede. Eles estranharam.

   Então ela disse: "Encontrei Jesus: será ele o Messias?" Até Judas, sim, o traidor, não estava predestinado a ser. Não existe predestinação para o não amor. Existe predestinação de toda a humanidade para a cruz.

   Nela e por ela se faz opção. Na cruz e pela cruz se manifesta todo o amor.

⁸ "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
⁹ Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. ¹⁰ Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Rm 5.

Nela Jesus crava e anula todo o escrito de dívida do pecado, tornando-nos aceitáveis diante de Deus.

¹³ "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; ¹⁴ tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; ¹⁵ e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz." Cl 2.

    Vitória total e completa que nos torna participantes da glória de Deus:

⁹ "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ¹⁰ ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. Jo 17.

¹¹ "Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé, ¹² a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Na oração sacedortal Jesus sinetisa o seu ministério e, ao final, indica como o ministério da igreja é expor, anunciar e ser modelo do amor de Deus que nela está:

²⁶ "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja." Jo 17.

  Jesus indica nela como 1. a igreja recebe da palavra de Deus; 2. como nela é santificada; 3. como nela a comunhão é vocação e identidade; 4. como a igreja glorifica Jesus; 5. como nela está presente e tipificado o amor.

domingo, 15 de junho de 2025

Antes de Missões

 ²⁰ "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; ²¹ a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." Jo 17.

   Na chamada oração sacedortal Jesus como que apresenta uma síntese de seu ministério, do mesmo modo que desenha, para a igreja, uma síntese do ministério que ela vai herdar.

   A igreja fica como substituta de Jesus. Algo somente concebível ao nível divino de concepção e somente exequível ao nível Trindade de desempenho.

   Paulo, aos Efésios, afirma que Jesus é uma dádiva à igreja:

²² "E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, ²³ a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas." Efésios 1.

E aos Tessalonicenses 2, afirma o mesmo que Jesus nessa oração, que a igreja é a glória de Jesus:

¹² "...a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Em Atos está descrita a ascensão de Jesus, quando os discípulos, numa inversão de prioridades, desejam saber quando, em termos humanos, as preferências políticas se alinhariam.

   A diferença entre reino de Deus e reino dos homens. A prioridade de Jesus é a outra e, pelo Espírito Santo, profeticamente prometido e derramado, os discípulos, que ali representam toda a igreja, entendem o que é ser testemunha de Jesus.

   A igreja não tem como missão angariar seguidores, demarcar marketing, sanear a sociedade, governar o mundo. Jesus torna explícito, numa sentença:

⁸ "...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra." Atos 1.

  Conhece Jesus? É meu irmão mais velho. Tenho dEle o DNA de sangue. Mas a virtude é toda dele. O que fez a mim, quer fazer ao mundo todo. Seu amor é sem igual.  Mas sempre compartilhado.

   Qual o efeito da comunhão com Deus? A perfeita, somente Jesus a tem. Aliás,  a Trindade dela priva. Podemos compreender as pefeições e a identidade deles três como efeito dessa comunhão, a mesma que desejam tenhamos com Eles.

   A comunhão com Deus não é retórica. Nem fantasiosa ou simulada. Deus realiza a comunhão. Ele se mistura a nós. A mediação do sangue de Jesus Cristo é perfeita e santifica suficientemente.

²² "...agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Cl1.

   A igreja é o lugar real, geográfico, prático e vivencial dessa comunhão. Não fomos nós que nos escolhemos ou que escolhemos uns aos outros. Deus escolheu.

¹⁶ "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda." Jo15.

  E a nós foram entregues os recursos para vivenciar essa comunhão. A igreja de Atos, em seu começo,  exercia variadas atividades de comunhão:

⁴⁴ "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. ⁴⁵ Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. ⁴⁶ Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, ⁴⁷ louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." Atos 2.

   E Paulo exorta aos Efésios ser uma parceira com o Espírito,  preservada com diligência, visto que, por nós mesmos, com a munição do velho homem, ou ainda por ação dos demônios, será quebrada.

¹ "Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, ² com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, ³ esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz". Ef 4.

   Missões foi entregue à igreja. A capacidade de vivenciar a comunhão autêntica foi entregue à igreja. O amor foi revelado e derramado na igreja. Enfim,  Jesus Cristo foi entregue à igreja.

domingo, 8 de junho de 2025

A pergunta retórica de Joel

 ¹³ "Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. ¹⁴ Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação para o Senhor, vosso Deus?" Joel 2.

  Quem sabe? A pergunta retórica de Joel.  Este é o mais misterioso dos Profetas Menores.  Não pelo tamanho e nem pela importância.

   Decisivo este livrinho.  Ele narra uma calamidade,  entre muitas por quais passou o povo de Israel, algumas delas, como esta, descritas nas Escrituras.

  A qualificação dela está indicada no início do livrinho:

² "Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? ³ Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração."  Joel 1.

   Das pragas sucessivas, em si, não se identifica  a data. Mas o que elas tipificam, pode ter sido ou na época da invasão assíria, em 722 a.C., em Israel do Norte, ou em 587 a. C., na invasão de Judá do Sul.

     A descrição dos exércitos, que avançam sem desalinhar as tropas, como gafanhotos em sucessão, é assombrosa. Há,  no Apocalipse, um eco escatológico desta descrição.

³ "Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, ⁴ e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte. Ap 9.  
  
   E como nas outras profecias, após a prescrição profética do que é horrendo e destrutivo, assim como a indicação de sua causa, a franca infidelidade ao Senhor, vêm as promessas de restauração.

   E também como qualquer outro profeta, aponta a conversão ao Senhor como única saída, como início de toda a restauração. Perante o Senhor, perante Jesus, o seu Ungido, não vale o teatro ou a mistificação:

⁶⁵ "Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia". Mt 26.

  Blasfêmia ou pecado sem perdão é não reconhecer a necessidade de converter-se ao Senhor. O livro de Joel foi usado por Pedro, no dia de Pentecoste, para indicar o modo como, cumprida a profecia, é possível converter-se pelo Espírito.

   Joel, a partir de uma calamidade,  anuncia o tempo de vislumbre da salvação,  sem jogo de cena,  sem máscara ou hipocrisia. Caem as máscaras. A nossa já caiu, na conversão. Seja esmigalhada, sob os pés, sempre que se insinuar como disfarce.

   Porque vem o Espírito que Jesus prometeu derramar. E, por ele, é derramado o amor no coração de quem crer. E sua primeira iniciativa,  em nós, é mostrar nosso avesso:

⁵ "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado." Romanos 5.

   Prevenir é o melhor. Porque, por quatro vezes, Joel adverte sobre o Dia do Senhor. É melhor começá-lo pela conversão.  E quanto à inevitabilidade desse dia,  é melhor estar preparado. Porque a própria garantia vem do Senhor, como único refúgio:

¹⁶ "O Senhor brama de Sião e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do seu povo e a fortaleza dos filhos de Israel."
Joel 3.

   Quem sabe após si deixa esta bênção. Tanta chance dada por Deus, que até mencionar o arrependimento dEle, insistente em abençoar, atreve-se Joel. Atrevido esse profeta,  irônico em sua retórica. Quem sabe.

sábado, 7 de junho de 2025

O pastor que substituiu Kalley na Fluminense

 

 Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 7 de Agosto de 1842. Era filho legítimo do Sr. Manoel Gonçalves dos Santos e de D. Clara Gonçalves dos Santos. Seus pais faleceram em 1852, deixando dois filhos menores - João Manoel e Henriqueta. Como não tinham parente próximo, foram entregues à tutela de um senhor designado pelo Juiz que funcionou nos autos de inventário de seus progenitores. Esse tutor, entretanto, não os tratava com o devido carinho. Quando completou maioridade, o Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos requereu a tutela de sua irmã Henriqueta,o que lhe foi deferido. Essa jovem casou-se, mais tarde, com o Sr. Antonio de Souza Lobo, um dos crentes presos por ocasião da perseguição de Outubro de 1860, em Santa Luzia, que depois foi solto, após ter sido ouvido pelo Chefe de Polícia.

Do seu casamento com Sr. Souza Lobo, D. Henriqueta teve os seguintes filhos:

Henriqueta de Souza Lobo, que se casou com o Sr. Henrique Faulhaber da Gama, sobrinho da saudosa irmã D. Cristina Fernandes Braga, esposa do Sr. José Luiz Fernandes Braga, de saudosa memória, e mãe do venerado presbítero Sr. José Luiz Fernandes Braga Júnior.

Alice de Souza Lobo, que se consorciou com o Sr. Tomás Plácido Teixeira de Farias, que hoje (07.08.1942), com a graça de Deus, comemora o jubileu de sua profissão de fé e batismo, cerimônia essa que foi presidida pelo saudoso Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos, no dia em que via passar o cinqüentenário do seu nascimento.

Isabel de Souza Lobo, João de Souza Lobo e Antônio de Souza Lobo Jr. Os dois primeiros ainda vivem e os três últimos já renderam o Espírito ao Criador.

O Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos passou a sua infância no chamado Bairro da Saúde. Muito criança ainda, começou a trabalhar. Foi funcionário da Casa de Calçados Clark, onde saiu para se empregar numa papelaria em que o Sr. José Luiz Fernandes Braga ia comprar papéis selados para o seu mano e patrão, dono de uma Fábrica de Chapéus sita no Largo de Santa Rita e em que teve o privilégio de ouvir as primeiras mensagens evangélicas, que o levaram a aceitar a Cristo como o seu único Salvador.

Com a herança que recebeu de seus pais, acrescida de mais algumas economias, o Rev. João M. G. dos Santos associa-se ao saudoso presbítero Sr. Antonio Gonçalves Lopes, de memória saudosa, abrindo ambos uma sapataria.

Em princípio de 1858, começou a assistir os cultos os cultos que eram dirigidos pelo consagrado presbítero e colportor, Sr. Francisco da Gama, que já descansa na glória, no edifício da antiga Rua Boa Vista, 45 (hoje Conselheiro Zacarias, 52), no morro da Saúde.

No dia 11 de Julho desse mesmo ano, foi organizada solenemente a Igreja Evangélica, do Bairro da Saúde, tendo o Rev. Santos tido o grande privilégio de ser testemunha ocular de tão significativo acontecimento. Nesse dia, foi batizado o Sr. Pedro Nolasco de Andrade, primeiro brasileiro que recebeu a água batismal, depois de haver publicamente confessado o nome de Cristo.

O Rev. Santos continuava a examinar as Escrituras. No dia 9 de Janeiro de 1859,foi submetido, com outra pessoa, o Sr. Felipe Néri, a rigoroso exame feito pelo Dr. Kalley, que depois,os julgou em condições de se tornarem membros da Igreja Fluminense. Nesse mesmo dia, na Rua do Propósito, 52 hoje 64 e 66 foram ambos os candidatos batizados pelo Dr. Kalley. O rev. Santos foi, portanto o segundo brasileiro batizado nestas plagas.

Com a vinda de alguns missionários para o Rio de Janeiro e com a fundação de outra Denominação, havia confusão, quando se falava sobre Igreja Evangélica. Em uma reunião legal, o Rev. Santos propõe e é aprovado o acréscimo da palavra Fluminense ao nome de Igreja Evangélica, do Bairro da Saúde,que passou a designar-se Igreja Evangélica Fluminense. Essa resolução foi tomada em 3 de Setembro de 1863.

Nesse mesmo dia e ano, cumprindo uma determinação eclesiástica, o Rev. Santos como secretário e o presbítero Gama, par cumprir o Capítulo IV do Decreto de 17 de abril de 1863, assinam a seguinte Certidão - "Nós abaixo assinados, certificamos que, no dia 2 deste mês de Outubro de 1863, os presbíteros e membros da Igreja Evangélica Fluminense ajuntaram-se por chamada especial na casa em que celebram seu culto, na Rua do Propósito, e em vista do Capítulo IV do Decreto de 17 de Abril de 1863, foi proposto pelo Sr. Francisco da Gama que o Dr. Robert Reid Kalley, que já durante 7 anos cumpriu os deveres de ministro desta Igreja,fosse eleito finalmente para ser seu ministro. A eleição foi feita unanimemente e foi mandado que se passasse esta certidão de eleição para poder conseguir os efeitos civis dos casamentos que foram celebrados pelo Sr. Dr. Kalley".

Mais tarde, o Rev. Santos começou a sentir verdadeira paixão pela salvação das almas. Sentiu ainda que essa paixão era o chamado de Cristo para trabalhar na sua vasta seara no Brasil. Contou ao Dr. Kalley o seu intenso desejo de se preparar para a carreira ministerial. Depois de trocarem idéias sobre assunto de tão grande responsabilidade, ficou resolvido entra ambos o seguinte: O Dr. Kalley providenciaria a sua ida para Londres, onde estudaria no Colégios dos Pastores, fundado pelo grande evangelista Charles H. Spurgeon, sendo as despesas feitas, em partes iguais pelos dois.

O Rev. Santos tratou logo de liquidar a sociedade com o Sr. Antônio Gonçalves Lopes e preparar-se para partir para a Inglaterra. Assim, no dia 9 de Agosto de 1872, seguiu ela para a Grã Bretanha, acalentando no peito o mais elevado desejo de preparar-se para melhor servir o seu Mestre Divino aqui neste mundo.

Em fins de 1875, regressa ao Brasil, com seu diploma de formando em Teologia. Foi eleito co-pastor da Igreja Evangélica Fluminense em 31 de Dezembro desse ano, sendo consagrado ministro evangélico no dia seguinte, 1º de Janeiro de 1876, pelo Dr. Kalley.

No dia 9 de Agosto de 1877, consorciou-se com D. Filomena Araújo dos Santos, que lhe foi uma bênção no ministério. Essa irmã faleceu em 8 de Julho de 1885, dando um belíssimo testemunho de sua confiança em seu Salvador. O Rev. Santos em linguagem clara, publicou um folheto sob o título Uma morte feliz no Rio de Janeiro, onde estão registrados os últimos momentos da existência terrena de sua primeira companheira de lutas. Esse excelente folheto que teve milhares de exemplares distribuídos entre os habitantes do Brasil e Portugal, e que tantos benefícios causou a um sem número de pessoas, foi transcrito em O Christão de 15 de Fevereiro de 1928 e seguintes, por insistência do autor.

A pedido do Dr. Kalley, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira abriu uma Agência no Rio de Janeiro e entregou sua direção ao Rev. Ricardo Holden, que exerceu o co-pastorado da Igreja Evangélica Fluminense, de 3 de Março de 1863 a 2 de Janeiro de 1872. Essa agência, porém não estava se desenvolvendo como era de esperar, razão pela qual a matriz de Londres resolveu fechá-la. O Dr. Kalley se opõe ao fechamento e entra em entendimentos direitos com os seus diretores. Estes atendem o seu apelo resolvendo continuar a manter a a referida agência. Em 1º de Março de 1879, por indicação do mesmo Dr. Kalley, é nomeado o Rev. João dos Santos para dirigi-la.

Para melhor desenvolver o a seu cargo, o Rev. Santos escreve a Londres, pedindo licença para vender também, por sua conta tratados religiosos, que lhe foi concedida. No número 2 de O Cristão, lemos: "A Livraria Evangélica da Trav. da Barreira, 15 (hoje Silva Jardim), passou para a Livraria Evangélica - Rua 7 de Setembro, 71, Rio de Janeiro - onde encontram-se à venda livros e tratados evangélicos"...

Nesse mesmo prédio funcionou a Redação de O Cristão e foi sede da Sociedade de Evangelização, por alguns anos.

Essa idéia do Rev. Santos de ótimos resultados. Além de beneficiá-lo, materialmente, também beneficiou os colportores, os crentes e demais interessados pela literatura evangélica.

Dessa data até 31.12.1901, quando resignou e foi substituído pelo Rev. Frank Uttley, fez circular 413.946 volumes, sendo 54.066 Bíblias, 111956 Novos Testamentos e 247.924 evangelhos. A Diretoria de Londres pediu que Rev. Santos ficasse por alguns anos como agente auxiliar. Foi durante o tempo em que trabalhou na Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira que o Rev. Santos visitou a maioria dos Estados do Brasil, semeando a palavra da Verdade no coração dos nossos amados patrícios.

Em 31 de Dezembro de 1881, por determinação da Diretoria de Londres, teve o privilégio de ser recebido por S. M. o Imperador D. Pedro II, em audiência especial, a quem entregou um luxuoso exemplar das Sagradas Escrituras, acompanhado da seguinte mensagem: "Senhor - A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira me encarregou, como seu representante neste Império, para em seu nome, oferecer a V.M. Imperial esta Bíblia Sagrada.

V. Majestade sabe que a Bíblia é a palavra de Deus, pois os escritores dela foram "homens inspirados pelo Espírito Santo, 2ª Pedro, 1:21: e que "toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir na justiça, afim de que o homem de Deus seja perfeito, estando preparado para toda a boa obra", 2ª Timóteo 3:16 e 17. Deus, por Moisés, disse aos israelitas, concernente ao Rei: "Depois que ele (o Rei) estiver assentado no Trono do seu reino, fará escrever para seu uso, num livro,o Deuteronômio desta lei e te-lo-á consigo e o lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o Senhor seu Deus e guardar as duas palavras", Deuteronômio 17:14 a 20.

Assim, por mim e em nome da Sociedade Bíblica, desejo que esta Bíblia sirva para consolação de V.M. Imperial, debaixo do temor de Deus e para nutrição de uma fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, o Rei dos reis e o Salvador dos que nele confiam - Rio de Janeiro, 31 de Dezembro de 1881 - De V.M. Imperial humilde súdito - a) João Manoel Gonçalves dos Santos."

Com o recebimento de um legado que lhe deixou um membro da Igreja Evangélica Fluminense e com algumas economias que conseguiu reunir, principalmente na venda dos tratados evangélicos, adquiriu 5 prédios, sendo um na Ladeira do Barroso,104, onde nasceu, no dia 5 de abril de 1873, o Sr. José Luiz Fernandes Braga Júnior,o qual é hoje propriedade de sua filha Cristina.

Quando surgiu entre os jovens Dr. Couto Esher e Sr. Braga Júnior a idéia da fundação de um jornal que viesse preencher a lacuna aberta com desaparecimento de O Bíblia, o Rev. Santos aprovou-a e sugeriu o nome O Cristão, que apareceu em Janeiro de 1892.

Em 2 de Setembro de 1892, apresentou-se-lhe o então jovem Antônio Marques, que desejava estudar para o Santo Ministério. Surgem algumas dificuldades, dentre as quais, a maior, a referente à finanças. O Rev. Santos resolveu então desistir do auxílio que lhe dava a Igreja Fluminense para aluguel de casa, em favor do jovem Marques, que assim pode seguir para Londres, onde se preparou para a carreira ministerial, sob os auspícios da Sociedade de Evangelização, hoje Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal.

Foi um grande amigo da mocidade. Antes de Myron Lark vir ao Brasil, onde fundou a Associação Cristã de Moços, já o Rev. Santos, com vários jovens, trabalhava para que a idéia da referida fundação se tornasse uma grata realidade. Logo depois da sua instalação, em 4 de Julho de 1893, escreveu ele a seguinte nota, que publicou em O Cristão desse mês - A Associação de Moços -"Temos prazer de ver organizada no Rio de Janeiro uma Associação de Moços. Na Inglaterra assistimos a algumas das reuniões da Young Man's Christian Association, em Manchester e em Londres. Sabemos o grande e útil trabalho que as Associações de Moços na Inglaterra fazem e desejamos ver os mesmos resultados no Brasil. Que a árvore levantada no Rio de Janeiro estenda aos seus ramos em todo o Brasil. Todas as Igrejas Evangélicas devem coadjuvar essa Associação. O futuro do trabalho evangélico no Brasil está nos moços.

Os que agora trabalham em breve ficarão velhos, doentes ou cansados e, portanto, precisamos preparar os moços para substituir-nos.

Além disso, há muitos moços que não estão convertidos. É conveniente buscá-los e guiá-los com amor, prudência e sabedoria no caminho do céu. Aos pastores algumas vezes falta-lhes o tempo para procurar e falar aos moços, mas uma associação de moços cristãos pode auxiliar os pastores e, portanto, todos os pastores e Igrejas devem se interessar pela organização dessa Associação.

Avante moços! Tomai Cristo como o vosso estandarte, ide procurar os vossos companheiros e trazei-os para o aprisco do nosso Salvador Jesus Cristo".

Em Maio de 1893, sofreu uma perseguição em Piraí. O padre da localidade, italiano, quis sublevar o povo contra o Rev. Santos. Para isso, mandou colocar algumas imagens na Rua, em sinal de protesto pela presença de um herege protestante em Piraí. O povo, porém revoltou-se contra o representante papal, ameaçando-o. Diante de tal atitude, o padre "declarou que havia errado e, apontando para a imagem de Santana, disse: "Aquela velha me enganou". Os habitantes de Piraí, indignados com semelhante atitude, obrigaram o padre a carregar as imagens para dentro da matriz e telegrafaram ao bispo pedindo a imediata substituição do vigário. O Rev. Santos ficou triste com o incidente,para o qual não concorreu, e demonstrou desejo de deixar a cidade. O povo, porém, não consentiu e pediu que continuasse a realizar as conferências. O Rev. Santos ora a Deus e depois resolveu ficar, realizando mais uma pregação que foi ouvida por um grande auditório,com religiosa atenção.

O bispo resolveu atender o apelo do povo, tendo enviado um padre brasileiro para substituir o italiano.

Em Maio de 1895, realiza uma nova excursão por algumas cidades do Estado do Rio. Depois de passar por Passa Três, foi à São João Marcos (antiga São João do Príncipe), hoje desaparecida debaixo da represa da Light,onde sofreu uma grande perseguição, de que foi promotor o próprio delegado de polícia. O Rev. Santos, para não perder a vida, foi obrigado a retirar-se, embora estivesse com a esposa bem enferma,por não lhe haver sido dada nenhuma garantida humana. Deixou a cidade às 21 horas e andou 18 kilômetros à cavalo,na mais completa escuridão. Deus, porém, os guardou. Depois dessa perseguição, escreveu ele: "A nossa posição está definida pelo Senhor Jesus. Ele nos diz: "Bem-aventurados os que padecem perseguições por amor da justiça: porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem e disserem todo o mal de vós, mentindo por meu respeito. Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso nos céus: pois assim perseguiram também os profetas, que foram antes de vós", Mat. 5: 10 a 12.

Não deixaremos de pregar o Evangelho,ainda mesmo em S. João Marcos e esperamos que daqueles que nos perseguem alguns amanhã receberão e propagarão este Evangelho como sucedeu com o apóstolo Paulo, pois "dura coisa é recalcitar contra o agulhão", Atos, 9:1-6."Dois meses depois, O Rev. Thomas Collins Joyce, então pastor da Igreja de Passa Três, foi a S. João Marcos, e o povo o recebeu muito bem, ouvindo com atenção a mensagem divina! Deus havia ouvido a oração do Rev. Santos.

Em 17 de Setembro de 1889, casou-se, em segundas núpcias, com D. Leopoldina de Araújo. Dez anos mais tarde, esteve com ela em São Paulo, onde foi acometida, repentinamente, de uma congestão cerebral. O resto de sua vida foi uma constante luta. Alguns amigos aconselharam ao Rev. Santos a interná-la em alguma casa de saúde. Ele, porém, preferiu não abandoná-la, até que Deus a chamou no dia 4 de Abril de 1907.

Durante esses 8 anos, o Rev. Santos sofreu imensamente, mas nunca desanimou. Suas forças físicas, sim, é que ficaram bem abaladas. Um descanso era-lhe aconselhado. A igreja Evangélica Fluminense resolve conceder-lhe algum tempo de férias, que deviam ser gozadas na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte, correndo todas as despesas por conta dela.

O Rev. Alexander Telford, pastor da Igreja Pernambucana, é convidado para substituir o Rev. Santos na Igreja Fluminense, o que ele aceitou.

No dia 29 de Maio, realiza-se um culto de despedida e no dia 2 de Junho o Rev. Santos segue para a Inglaterra, levando a incumbência de conseguir ofertas para O Hospital Evangélico do Rio. Acompanhou-o até Lisboa o presbítero José Luiz Novais, já falecido.

Visitou várias cidades da Inglaterra e foi até Edinburgo,onde quis visitar a Sra. Sarah P. Kalley. Estando gravemente enferma, o médico assistente não permitiu que ele a visse, a fim de evitar um choque, que lhe poderia ser fatal.

Em 8 de Agosto, o Rev. Santos recebe notícia de que havia ela falecido. Imediatamente voltou a Edinburgo, onde assistiu o funeral de D. Sarah Kalley e tomou parte na cerimônia fúnebre.

Depois de visitar a sepultura do seu grande amigo, o Dr. Robert Reid Kalley, deixa Edinburgo o Rev. Santos.

Assistiu uma reunião da Diretoria da Help for Brazil, na qual agradeceu o auxílio que vem prestando à evangelização do Brasil e pediu que esse auxílio continuasse a ser dado, o que foi aprovado unanimemente.

Em Lisboa, depois dos entendimentos indispensáveis, organizou a Igreja Evangélica Lisboense, com 22 membros, em 12 de Janeiro de 1908. Essa Igreja tinha antes o nome de Igreja Evangélica do bairro de Estefânia e estava jurisdicionada à Igreja Metodista, cuja missão não pode continuar a auxilia-la. A Sociedade de Evangelização, assume, então, a responsabilidade de ajudar essa Igreja, cujo primeiro pastor foi o saudoso Rev. José Augusto dos Santos e Silva. Na mesma ocasião, o Rev. Santos instala a Delegação Portuguesa da Sociedade de Evangelização, que ficou assim constituída: Superintendente, Sr. Henrique Maxwell Wright, Vice, Rev. José A. Santos e Silva; tesoureiro, Sr. Júlio Francisco da Silva Oliveira; Secretário, Sr. Roberto Moreton e Procurador, Sr. Antônio P. Fernandes.

De volta ao Brasil, esteve alguns dias em Pernambuco, onde visitou as igrejas mais próximas da capital pernambucana.

Chegou ao Rio no dia 16 de Março de 1908. Aproveitando a estadia do Rev. Telford no Rio visitou algumas cidade de S. Paulo. Só em 20 de Maio é que reassumiu o pastorado da Igreja Evangélica Fluminense.

Em 1910, esteve em Campinas, onde assistiu a formatura do Rev. Francisco Antônio de Souza que fora encaminhado por ele para o Seminário Presbiteriano, com sede na cidade paulista.

Em 4 de Junho de 1909, a Igreja Fluminense considerando a sua idade bastante avançada, pois já contava perto de 67 anos, resolveu dar-lhe um auxiliar, elegendo o Rev. Alexander Telford para o cargo de co-pastor. Em 21 de Abril de 1911, quando já quase septuagenário, a Igreja Fluminense, querendo dar-lhe um merecido descanso, resolveu elegê-lo seu pastor honorário e para o cargo de efetivo foi escolhido o Rev. Alexander Telford.

O Rev. Santos, entretanto,não se conformou com tão sábia resolução. Entristecido, afastou-se da Igreja de que fora pastor e ofereceu os seus serviços a qualquer Igreja que estivesse filiada à Aliança Evangélica Brasileira.

Certo jornal evangélico publicou uma nota deixando entender que Rev. Santos iria deixar a Igreja Fluminense e filiar-se a outra denominação diferente. Imediatamente, o Rev. Santos publica uma nota em O Cristão, na qual disse: "Não me uni, nem pretendo me unir a outra Igreja Evangélica... Continuo em comunhão com a minha Igreja, na conservação dos mesmos princípios e convicções que nela recebi em 1859"... E o Rev. também publica no mesmo Jornal uma nota enérgica, declarando sem fundamento a notícia propalada pelo jornal referido.

Esse pequeno incidente, como não podia deixar de acontecer, teve o seu epílogo. O Cristão de 31 de Dezembro de 1914 publicou a seguinte nota: "É com a máxima satisfação que comunicamos aos nossos leitores que a questão entre o Rev. Santos e a Igreja Fluminense está terminada desde o dia 11 do corrente mês, em que a Igreja, quase unanimemente, resolveu tornar sem efeito o ato de 21 de Abril de 1911, que considera o Rev. Santos como pastor honorário." No seu número de 15 de Janeiro de 1915, o mesmo Jornal publica esta nota: "Rev. João dos Santos - Resignou solenemente, no domingo, 27 de Dezembro p. passado, por ocasião do culto da manhã, o cargo de pastor da Igreja Evangélica Fluminense, cargo que exerceu por 39 anos, o Rev. João dos Santos. Foi o mesmo irmão, em sessão de 1 do corrente mês da referida Igreja, eleito o seu pastor jubilado, honra essa aliás mais do que merecida"...

Em 3 de Maio de 1914, esteve presente e assistiu a consagração do novo templo da Igreja Fluminense, sito à Rua Camerino 102. Fez ele a oração consagratória e presidiu a Ceia do Senhor.

De Novembro de 1918 a Maio de 1925, esteve quase cego, atacado de catarata nos 2 órgãos visuais. Mesmo assim, nunca deixou de pregar. Pedia a um irmão para ler as sagradas Escrituras e fazia o resto do serviço.

Em 21 de Maio de 1925, foi operado no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro, conseguindo com a graça divina, recuperar a vista.

A Igreja Fluminense atendendo os grandes trabalhos que lhe prestara o Rev. Santos homenageou-o no dia 7 de Agosto de 1920, quando completava 78 anos de idade, inaugurando o seu retrato no gabinete pastoral, ao lado do Dr. Kalley.

Nos meses de Novembro e Dezembro de 1922 e Janeiro de 1923, durante o impedimento do Rev. Francisco de Souza que faleceu no dia 13 do último mês (Janeiro) o Rev. Santos esteve à frente da Igreja Fluminense, pregando e celebrando a Santa Ceia.

Em 1º de Janeiro de 1926, quando viu passar o jubileu de sua ordenação ao santo ministério, a Igreja Fluminense e um grande número de colegas e irmãos em Cristo, prestaram-lhe uma significativa homenagem, fazendo realizar um culto de ação de graças a Deus pela existência abençoada do seu fiel servo.

Impressionado com o exagero das modas femininas, o Rev. Santos envia, em 11 de Janeiro de 1927, expressivo memorial à União dos Obreiros do Rio de Janeiro, que causou profunda impressão em quantos ouviram a sua leitura,ficando resolvido que se mandassem cópias aos jornais evangélicos, com o pedido de que as publicassem, para conhecimento do povo de Deus.

No dia 10 de Março de 1928, embora quase não pudesse andar, foi à Igreja do Encantado assistir o 25º aniversário de sua organização eclesiástica, de cuja solenidade foi presidente.

Depois de apresentar uma impressionante mensagem, despediu-se dos irmãos, dizendo que, dentro de poucos dias, ia se encontrar com José e Joaquim Rodrigues Martins e outros irmãos que já descansavam na glória. O auditório inteiro chorava, diante das palavras do venerando servo de Jesus Cristo.

Ainda Deus lhe deu forças para assistir a Sétima Convenção Geral de nossas igrejas. No dia 20 de Maio, sob delírio geral, é o venerando Rev. Santos aclamado presidente honorário da então União Evangélica Congregacional do Brasil e Portugal.

O Rev. Santos era um conhecedor profundo das Sagradas Escrituras. Seus sermões, altamente espirituais, eram muitíssimo apreciados.

Publicou alguns folhetos, dentre os quais citamos - Uma morte feliz no Rio de Janeiro, O Batismo e a Circuncisão, O Dia Santificado, A Túnica de Cristo Esfrangalhada,cujas edições já se acham esgotadas.

Em O Cristão de Janeiro de 1892 a Setembro de 1928 encontra-se centenas de Estudos Bíblicos, verdadeiros manás do céu. Mantemos a mesma opinião que exposamos em Julho de 1928 - esses artigos deviam ser publicados, para gozo e felicidade dos crentes e para a salvação dos pecadores. Quem, porém, custeará as despesas com essa útil publicação?

No dia 10 de Junho de 1928, com 86 anos de idade foi internado no Hospital Evangélico, onde, dez dias depois, entregou sua alma a Deus, após 69 anos como membro da Igreja Fluminense e 52 como ministro evangélico.

Concluindo estas toscas notas biográfica, fazemos nossa a oração do Dr. Marques, contida na parte final de seu último artigo publicado em O Cristão de 31 de Agosto de 1928: "Senhor, permite que possamos guardar, sempre viva, a lembrança das qualidades inolvidáveis do teu amado servo e do longo contato e convívio que com ele mantivemos por 38 largos anos, para que esta viva e santa reminiscência nos inspire e nos alente na vida d'agora, até o dia bendito em que com ele encontrarmo-nos em tua glória."

E que cada um de nós, hoje, resolva imitar a vida do venerando Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos, escolhendo, como ele o fez, os seguintes conselhos da Palavra divina:

Para a nossa regra de vida - "Procura apresentar-te a Deus aprovado,como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da Verdade,mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade". "Lançando sobre Cristo toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós", 2ª Timóteo 2:15 e 16 e 1ª Pedro 5:7.

Para a nossa oração - "Não me rejeites na minha velhice; não me desampares quando for acabando a minha força... Agora também quando eu estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que tenha anunciado a tua força a esta geração e o teu poder a todos os vindouros", Salmo 71:9 e 18

Para o nosso propósito - "Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho", Filipenses 1:21 e

Para a nossa esperança - "Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas", Filipenses 3:20 e 21.

Praza aos céus que todos nós estejamos preparados ou para nos encontrarmos com Cristo nos ares, ou para, pela morte, deixarmos este mundo de pecados para ir viver nas mansões celestiais, onde já descansa a alma do venerando ancião,cujo centenário de nascimento hoje comemoramos

Nota - As datas e dados deste discurso revogam as que foram publicadas no Programa comemorativo do Centenário do Rev. Santos. - I.S.J. (Ismael da Silva Júnior)

Texto extraído do Jornal O Cristão - Ano LI - 15 de Agosto de 1942 - Nº 15

Ver na net:

https://robertkalley.epizy.com/html/joaomanuel.htm?i=1

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Páginas Corridas 3

21. Recordando a vigília 2023/2024

https://iecmjuliao.blogspot.com/2024/02/recordando-vigilia-20232024.html

Canticos do Apocalipse 3

 ⁷ "Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono; ⁸ e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, ⁹ e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação ¹⁰ e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra." Apocalipse 5.

  Enquanto o primeiro Cântico expressa a santidade de Deus, e o segundo Seu atributo soberano de ser o Criador, este terceiro Cântico exprime outra obra específica de Deus, a salvação.

  Porque o Livro aqui mencionado, na mão de Deus,  inacessível e para o qual, ao menos nem olhar era possível, da mão de Deus o toma o Cordeiro. E as razões únicas pelas quais pode realizar esse feito exclusivo estão indicadas:

"...porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação ¹⁰ e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra."

   Cada etapa dessa justificativa: 1. o Cordeiro foi morto; 2. Com o Seu sangue,  comprou para Deus; 3. Os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação; 4. E para Deus são constituídos reino e sacerdotes; 5. E reinarão sobre a terra.

   A dignidade do Cordeiro está direta e especificamente condicionada à identidade de Seu sacrifício na cruz. E também vem expressa a finalidade desse sacrifício, que é comprar para Deus o povo salvo. E o que se tornam, diante de Deus, reino de sacedortes que reinarão sobre a terra.

   Essa condição confere com os propósitos de Deus, desde o pacto do deserto do Sinal, após o resgate do povo de Israel, saído do Egito, porém não cumprido por esse mesmo povo.

    E a revelação de que na e pela igreja de Jesus, como continuidade da obra de Deus, esse objetivo é alcançado. O Apocalipse, numa de suas funções, percorre as páginas das Escrituras, estabelecendo vínculo e continuidade que demonstra o efeito do agir de Deus na história.

   O que foi condicionalmente proposto a Israel ser, no Sinai:

⁵ "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; ⁶ vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel."
Êxodo 19.

   O que é dito à igreja ser, em sua composição mista, para judeus e não judeus:

⁹ "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; ¹⁰ vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia." 1 Pedro 2.

  Desse modo, o terceiro cântico, no Apocalipse,  destaca,  como num arco estabelecido pela providência de Deus, a vocação para o Seu povo, assim chamado e identificado, como não tendo solução de continuidade.

   O que foi proposto a Israel,  tem continuidade na igreja, para alcançar, como está expresso,  "toda tribo, língua, povo e nação". Tomar do Livro, destaca a enunciação dessa verdade, e toda a ação do Apocalipse se dá pela autoridade do Cordeiro em lhe abrir os selos.