terça-feira, 19 de novembro de 2024

Zacarias e o testemunho de Jesus

 Zacarias foi contemporâneo de Ageu, os dois profetizando em 520 a. C., com ênfase na reconstrução do Templo, em Jerusalém. Zc 4.

¹⁰ "Pois quem despreza o dia dos humildes começos, esse alegrar-se-á vendo o prumo na mão de Zorobabel. Aqueles sete olhos são os olhos do Senhor, que percorrem toda a terra."

   Este clássico texto do profeta indica, a um só tempo, a promessa da obra concluída, assim como a liderança marcante de Zorobabel. Ele acompanhou a primeira leva de povo que retornou do exílio em Babilônia, em 535 a. C.

   Mais duas levas, respectivamente com Neemias, lider da reconstrução dos muros, e Esdras, reconstrutor do Templo, marcaram essa época. Ambos, Neemais e Esdras, como Zorobabel, homens cheios do temor de Deus.

   Zacarias também se destaca por suas profecias messiânicas, assim como, detalhe acima mencionado, dos simbólicos 7 olhos do Senhor, pela porção de literatura apocalíptica de seu livro.

    Messiânica é a profecia do despojamento, aos olhos humanos, do rei que entra em Jerusalém montado num jumentinho, Jesus, o personagem principal de todas as Escrituras, sendo sua primeira vinda o principal sinal de sua segunda vinda:

⁹ "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta." Zc 9.

     NEle e por meio dEle a certeza de que o pecado está expiado, ou seja, totalmente esgotado, pago todo o preço num só dia, num só gesto, num só sacrifício, como também afirma o autor anônimo da carta aos Hebreus:

¹ "Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza." Zc 13.

²⁶ "Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, ²⁷ que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu." Hb 7.

    Zacarias reporta-se à promessa futura quando Israel, que agora rejeita, enfim, porá olhos de fé no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, como anunciou João Batista, o maior entre os profetas.

   O Messias tão aguardado, que já veio, como também apontou Pedro Apóstolo, o que dEle fizeram, traspassando o Autor da vida: Zc 12.

¹⁰ "E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito."

¹³ "O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo. ¹⁴ Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida. ¹⁵ Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas." At 3.

   A menção ao futuro da nação de Israel vem associada à simbologia típica da literatura apocalíptica. Surge esse gênero coincidindo com a derrocada final de Israel, no colapso do reino do sul, em 586 a. C.,  pela invasão babilônica, quando perdem terra, trono e templo.

    O retorno à Palestina se deu em 535 a. C., mas a restauração final completa, além de Israel, incluiu todas as demais nações, agora reconhecidas como igreja, que em si reúne todos que crerem no Messias. O Apocalipse, único livro profético do Novo Testamento, menciona "toda tribo, língua, povo e nação": Ap 5:

⁹ "... e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação". 

   Daniel, Ezequiel e Zacarias exploram esse gênero de típicas visões, posteriormente reunidas também no Apocalipse. Por exemplo, a visão dos cavaleiros na abertura do 1⁰ selo.

   Assim como a visão do anjo vestido de branco, com um cordel de medir à mão, retomada de Ezequiel, além daquela do par de ramos de oliveira, a ser retomada, no Apocalipse, desta vez citação de Zacarias, aplicada às duas testemunhas que profetizam:

⁸ "Tive de noite uma visão, e eis um homem montado num cavalo vermelho; estava parado entre as murteiras que havia num vale profundo; atrás dele se achavam cavalos vermelhos, baios e brancos." Zc 1.

¹ Tornei a levantar os olhos e vi, e eis um homem que tinha na mão um cordel de medir. ² Então, perguntei: para onde vais tu? Ele me respondeu: Medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual o seu comprimento." Zc 2.

¹ "Tornou o anjo que falava comigo e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono, ² e me perguntou: Que vês? Respondi: olho, e eis um candelabro todo de ouro e um vaso de azeite em cima com as suas sete lâmpadas e sete tubos, um para cada uma das lâmpadas que estão em cima do candelabro. ³ Junto a este, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e a outra à sua esquerda. ⁴ Então, perguntei ao anjo que falava comigo: meu senhor, que é isto?" Zc 4.

   O percurso e a instrução da literatura apocalíptica, como ensina Daniel, é despertar o estado de alerta, sem pestanejar, para o cumprimento de toda a profecia, da qual Jesus é o principal indicador. Desperte-se a curiosidade e aumente-se a sabedoria:

⁴ "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará." Dn 12.

¹⁰ "... mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia." Ap 19.

    Essa perda total de Israel, como havia sido apontada por Isaías, o "restante fiel", foi o cursor da profecia até a vida de Jesus. No exílio, Israel aprende a valorizar as Escrituras, lidas no espaço mais similar ao que hoje se constitui igreja, que foi a sinagoga.

  Por ela Paulo iniciava sua pregação, como ele mesmo demarcou sua estratégia, "primeiro aos judeus e também aos gregos", pois nela estavam as Escrituras, pelas quais ele sempre iniciou a exortação em atender ao evangelho, como foi em Listra, após a cura de um coxo:

¹⁵ "...e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; [...] ¹⁷ contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo". At 14.

   E não se distraia, como Mateus, atribuindo a Jeremias, outro sinal profético indicado por Zacarias:

¹² "Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata. ¹³ Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor." Zc 11.

   Além de estimular, com Ageu, o retorno à constatação do Templo de Jerusalém, finalmente consagrado com festa, por Esdras, Zacarias projeta o dia final, o Dia do Senhor, o mais esperado pelos que creem na redenção final, demarcada na agenda de Deus, anunciada no decorrer de toda a história:

¹ "Ora, os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel, cujo Espírito estava com eles." Ed 5.

¹⁶ "Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e o restante dos exilados celebraram com regozijo a dedicação desta Casa de Deus." Ed 6.

⁹ "O Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o Senhor, e um só será o seu nome." Zc 14.

domingo, 17 de novembro de 2024

O pouco essencial

 ⁴¹ "Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. ⁴² Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada." Lc 8.

   Pouco é necessário. Não nos contentamos com o pouco. Lembrem-se de que não se contentar com o pouco é uma tentação constante. A pretensão pelo muito ou pelo tudo constituiu Satanás:

¹³ "Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; ¹⁴ subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo." Is 14.

   O próprio Jesus foi tentando por Satanás a ambicionar o muito:

⁶ "Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. ⁷ Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. ⁸ Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto." Lc 4.

  Jesus destaca o perigo da inquietação, pelo foco fora do essencial. Exorta a considerar o pouco, e afirma do que se trata, o que ele destaca como a melhor parte, que nunca será tirada de quem a escolhe.

   Num versículo anterior mostra o foco escolhido por Maria:

³⁹ "Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos." Lc 10.

   Qual o lugar de sentar aos pés de Jesus hoje para lhe ouvir os ensinamentos? Em casa? No trabalho? Na rua? Na igreja? Podemos hierarquizar essa importância?

   Todos concordamos que a Bíblia será central na opção por ouvir a palavra de Jesus. Seria somente no Novo Testamento? Há uma edição da Bíblia que traz, em vermelho, as palavras de Jesus.

  Teríamos de adquirir? Não seria preciso. As palavras de Jesus não estão hoje somente no Novo Testamento. Estão em toda a Bíblia. Porque ele mesmo prometeu que o Espírito Santo nos vai lembrar suas, de Jesus, palavras:

¹³ "... quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. ¹⁴ Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. ¹⁵ Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar." Jo 16.

   Toda a Escritura é inspirada por Deus. Portanto, quando a lemos (e se a lemos), vamos ouvir e vamos atender à voz de Deus. 2 Tm 3:

¹⁶ Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, ¹⁷ a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra."

   Podemos ouvir a voz de Deus, guardada na memória o que ouvimos e lemos da Bíblia. Vai fazer toda a diferença, quando tivermos que fazer nossas escolhas. Essencial aplicar isso na vida, assim como ensinar a outros:

 "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; ⁷ tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. ⁸ Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. ⁹ E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas." Dt 6.

   Até aqui, podemos dizer que, caso façamos esta escolha, de ter a Bíblia perto, ao alcance dos olhos, do entendimento e do coração, estaremos perto desse pouco, dessa melhor escolha, que nunca nos será tirada.

   Que outro lugar, além da nossa casa, em nossa intimidade com a palavra, podemos encontrar a Bíblia e reconhecer que seu efeito, sua leitura é essencial?  Seria na igreja?
 
   A referência é a igreja. Será a partir dela que a casa poderá ser alcançada. Jesus chamou a partir da casa e da família para fora, para então reenviar ao mundo. Por isso que ele diz que pode haver uma quebra na relação familiar:

³⁴ "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. ³⁵ Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. ³⁶ Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa." Mt 10.

   O chamado de Jesus é para fora da condição humana natural. Nenhuma relação humana está acima da relação com Deus. É a relação com Deus que vai restaurar todas as relações humanas.

   O amor de Deus em nós é que vai restaurar em nós todas as relações. Deus refunda a nossa vida. Refunda todas as nossas relações. Somente uma família restaurada vai compreender a importância disso.

   Não podemos confundir nascimento biológico com novo nascimento. Jesus ensinou a Nicodemos. Ninguém nasce salvo. Nem em meio a um povo escolhido e nem numa casa de bem nascidos.

   Paulo ensina o que é ser errante no mundo:
¹² "... naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo." Ef 2.

   E não foi a família que nos trouxe a Jesus. Ainda que alguém de sua casa lhe tenha evangelizado primeiro. Pode ter acontecido assim, como pode acontecer o contrário, ou seja, para você ser ajustado na ou à ou como igreja, fazer o contrário do que alguém de sua casa faz.

  Como pode também haver, em casa, um excelente exemplo não seguido. Que terá sido um excelente exemplo de igreja:

¹⁷ "E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; ¹⁸ porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. ¹⁹ Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus." Ef 2.

   O pouco, a parte que nunca nos será tirada, passa pelas Escrituras, essencialmente, como ela preside a igreja, derivando dela para o mundo, dela para casa e com ela em todos os lugares.

  Quando Jesus, com apenas cerca de 12 anos, surpreendeu, no Templo, os chamados "doutores da lei", não foi o local, em si, que se tornou essencial, mas o enfoque dado às Escrituras.

   E quando em outro espaço essencial, na Sinagoga, Jesus expôs as Escrituras, ainda que houvesse sido rejeitado, marcou com sua pessoa o essencial na interpretação da Palavra de Deus:

¹⁶ "Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. ¹⁷ Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: ¹⁸ O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, ¹⁹ e apregoar o ano aceitável do Senhor." Lc 4.

   Jesus é o referencial de sua própria palavra e nos chama para fora, à salvação, para nos devolver salvos à vida. Chama para fora da vida biológica, da família biológica, para dentro da comunhão de sua igreja, para nos tornar família de Deus.

   E como família de Deus, escolher o essencial, o pouco de Deus, parte que nunca nos será tirada, proclamando "o ano aceitável do Senhor" Jesus.

sábado, 16 de novembro de 2024

Ageu e a avareza

 ⁵ Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. ⁶ Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém não vos saciais; vestis-vos, porém ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o num saco furado." Ag 1.

  Ageu é o profeta do saco furado. Ele fala sobre dinheiro. Algo muito sensível. Alguém já disse "bom servo e péssimo senhor."

   Falar sobre dinheiro é falar sobre posse. Ilusão, porque não somos donos nem de nossa vida, o maior dom. Aliás, as maiores riquezas o dinheiro não compra.

  O autor anônimo de Hebreus menciona isso, quando fala do que vai passar à eternidade e como se dá esse acesso:

²³ "Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores."

  As "coisas celestiais" somos os que cremos no acesso, pelo sangue de Jesus, sem dinheiro e sem preço:

¹ "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite." Is 55.

   Seja incrédulo, seja crente, não é dono de nada, principalmente da vida, todos vamos dar no cemitério, destino democrático. Será muito bom se, antes, entregar a vida a Jesus.

   Hipotecar a vida inteira. Somente assim, dando-se, é que tudo o mais se consagra. Uma das mais estúpidas discussões é sobre o 1/10, popularmente chamado dízimo.

   Nunca foi obrigatório. Nada na Bíblia é obrigatório. O exemplo mais bíblico de oferta voluntária está no AT, em Êxodo 35:

²⁹ Todo homem e mulher, cujo coração voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o Senhor ordenara se fizesse pela mão de Moisés; assim os filhos de Israel trouxeram por oferta voluntária ao Senhor."

   Se teu coração não te mover, não faça. Mas reconheça que a avareza te persegue. É melhor mudar o coração. No AT, 1/10 dados por todos, sustentava a tribo do cerimonial, do culto, da instrução pela palavra, os Levitas.

   Eles não tinham campos, posse, trabalho: porque sua vocação era o culto, o louvor pelos cânticos, a instrução pela Palavra. Eram sustentados especificamente para isso.

   Evidente que, ora falhava o sustento, ora falhava o ministério deles, ou os dois. Muitos reis piedosos restauraram esse expediente vital, como Davi, que o instituiu, Josafá, que enviou levitas para ensinar a Palavra, e Josias, que reformou o Templo, resgatou o culto e a Páscoa, e encontrou esquecido o livro da Lei.

   O dízimo, no Novo Testamento, também deveria sustentar a igreja, em todos os seus compromissos. Sejam os serviços do templo, sua manutenção e quem nele trabalha, seja o pastor e os missionários da igreja.

   Com sustento digno. Para cobrir todas as despesas justas. Trata-se de um privilégio. E é tão sério que um dos mais assombrosos exemplos de disciplina de Deus, na Bíblia, ocorreu por causa de avareza, justo com o casal Ananias e Safira, ironicamente aqui o nome de uma pedra preciosa:

⁹ "Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. At 5.

  O levita Barnabé, na comunidade primitiva, havia vendido toda a sua herança, para ofertar à igreja. O casal ricão do pedaço achou que não poderia ficar mal na fita, só por isso.

   O coração deles não estava nisso. Mas não se preocupe: mesmo sendo avarento, nem você, nem sua esposa vão infartar "no altar". Apenas não serão voluntários com o Senhor.

⁵ "Sendo assim, fazei morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixão, vontades más e a ganância, que também é idolatria." Cl 3.

   A família de Castor de Andrade, no Rio, famoso bicheiro desde os anos 60, matou-se entre si por causa do dinheiro. Primos se mataram, cunhado assassinado, sobrinho também e filhas gêmeas deste que se odeiam.

¹ De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? ² Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. ³ Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." Tg 4.

   Esse é o diagnóstico de Tiago para esse mal. E pasmem, acima ele está escrevendo a crentes, pelo menos, no nome. Muito sensível essa coisa de dinheiro. Trata-se de um indicador de nossa consagração.

  Essa época de Ageu, em 520 a.C., era de reconstruírem o Templo, em Jerusalém, após o retorno do exílio, que já havia ocorrido 15 anos antes. As obras estavam paradas. Ageu e seu colega profeta Zacarias empenharam-se em motivar o povo a retornar às obras.

   Como Ageu sugere, vamos considerar, ou seja, deter nossa atenção e refletir sobre essa questão da posse. O pertencermos, de verdade, ao Senhor, com tudo o que temos, ou então estamos sendo avarentos e idólatras.

⁶ "Então mandou Moisés que proclamassem por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais, ⁷ porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava."

   Isso mesmo que você leu. O modelo bíblico de dízimo é este o do Antigo Testamento. Trazer muito e trazer tudo, voluntariamente, até sobrar, e alguém pedir para parar.

  O sentimento de dar-se ao Senhor, por inteiro, percorre toda a Bíblia, desde Abel, que deve ter aprendido com Eva, sua mãe, aquela que sempre invocou o nome do Senhor.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Salmo 20

 Oração a favor do rei - Ao mestre de canto. Salmo de Davi

O Senhor te responda no dia da tribulação; o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança. Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha. Lembre-se de todas as tuas ofertas de manjares e aceite os teus holocaustos. Conceda-te segundo o teu coração e realize todos os teus desígnios. Celebraremos com júbilo a tua vitória e em nome do nosso Deus hastearemos pendões; satisfaça o Senhor a todos os teus votos. Agora, sei que o Senhor salva o seu ungido; ele lhe responderá do seu santo céu com a vitoriosa força de sua destra. Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor, nosso Deus. Eles se encurvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé. Ó Senhor, dá vitória ao rei; responde-nos, quando clamarmos.

Salmo 20. Oração em favor rei. Os Salmos Reais, muitas vezes também Messiânicos, associam o rei (o ‘ungido’) a profecias messiânicas. Como orações, podem ser feitas: (1) em favor do rei, 20, 61 e 72; (2) pelo rei, l18, 28, 63, 101; (3) em ações de graça, 21. Neste salmo é pedido que (A) Deus seja favorável ao rei (20:1-5), com (B) certeza de orações atendidas (20:6-9). O rei buscou o Senhor no Seu santuário (20:1-2) e foi atendido num dia de angústia, porque: (1) suas ofertas eram apresentadas com sinceridade (20:3); (2) seu coração era sensível à vontade de Deus (20:4); (3) então haverá festa de louvor pelas vitórias (20:5). Certezas do rei: (1) será sempre salvo (20:6); (2) confiará sempre no Senhor (20:7); (3) não vacilará com os que caem (20:8); (4) sempre será atendido quando clamar (20:9).   

Neste salmo, há uma dedicação de votos dirigida, pelo salmista, a seu interlocutor. No decorrer do texto, percebemos que se trata do ungido que, como se verifica no versículo final, trata-se do rei. Porém, podemos admitir, na economia do Antigo Testamento, serem os ungidos um referencial a todos os demais. Seriam marcados, como derramar de óleo sobre si, por uma vocação de serviço. Fossem os sacerdotes, em cuja consagração era solene o momento da unção, fossem os reis que, da mesma forma, recebiam no derramar de óleo sobre a cabeça, à vista de todo o povo, tornava pública, definitiva e irrefutável sua autoridade. O Salmo 23, quando se refere ao ungir com óleo a cabeça. Generaliza ser essa unção uma bênção geral concedida a todos por Deus. No Novo Testamento João afirma, em sua 1ª carta, que todos os que cremos recebemos a “unção que provém do Santo”, no caso, de e por meio de Jesus. Uma vez generalizado, o salmista conforta-nos com a certeza de resposta, da parte de Deus, ainda que haja tribulação. O nome do Senhor nos elevará em segurança (v. 1). E vai enumerar o que Deus vai realizar: (1) enviar socorro e suster (v. 2); (2) aceitar-nos, tipificado nas ofertas feitas (v. 3); (3) conceder e realizar os sábios desígnios (v. 4). E há nisso tanta garantia, que o salmista já antecipa a celebração de gratidão (v. 5). Para logo conduzir-nos a uma lição aprendida, que permanece, devendo ser aplicada e divulgada (v. 6). E este ungido será qualquer ungido, sendo que, caso se pense aqui nos líderes do povo, é certo que têm o dever de ser modelo de fé para todo o povo, além de lhes servir, como mandado de Deus. Não será uma unção que represente elevação de grau, acima dos demais, como normalmente se ambiciona ou, de modo errado, interpreta-se, mas para ser modelo de serviço, em nome do Senhor. Foi o sentido que Salomão, em sua oração, pediu ao Senhor mas que, com a continuidade de sua prática, não honrou essa autoridade recebida. É para honrar essa unção que o salmista adverte que Deus vai responder ao ungido pelo vigor de Sua própria destra. O versículo seguinte (v. 7-8) ensina que a preocupação do rei nunca deve ser na quantidade de soldados, montarias ou no aparato de seus veículos de guerra, e logo diz por quê, porque caem prostrados. Somente Deus mantém de pé, porque responde ao clamor e concede vitória.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Sofonias e o deleite de Deus

 ¹⁶ "Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se afrouxem os teus braços. ¹⁷ O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo." Sf 3.

  Sofonias profetiza no reinado de Josias, pouco antes do início do ministério de Jeremias. Este rei foi o último, em Judá, temente a Deus. Somente em seus dias foram derrubados os santuários idólatras construídos, pasmem, pelo próprio Salomão, quase 300 anos antes.

⁶ "Assim, fez Salomão o que era mau perante o Senhor e não perseverou em seguir ao Senhor, como Davi, seu pai. ⁷ Nesse tempo, edificou Salomão um santuário a Quemos, abominação de Moabe, sobre o monte fronteiro a Jerusalém, e a Moloque, abominação dos filhos de Amom." 1 Rs 11.

   Na profecia de Jeremias, Josias é destaque de juízo e justiça. Sua correção é posta como modelo para todos os reis, principalmente dos seus dois filhos, Jeioaquim e Zedequias, que reinaram antes do cativeiro babilônico, ambos sem temor do Senhor:

¹⁵ "Reinarás tu, só porque rivalizas com outro em cedro? Acaso, teu pai não comeu, e bebeu, e não exercitou o juízo e a justiça? Por isso, tudo lhe sucedeu bem. ¹⁶ Julgou a causa do aflito e do necessitado; por isso, tudo lhe ia bem. Porventura, não é isso conhecer-me? — diz o Senhor." Jr 22.

  Portanto Sofonias, embora profetize no período de um rei fiel, como é o caso de Josias (641-610 a.C.), antecipa situações que, do final desse período até 586 a.C., vão degringolar, ano este da destruição de Jerusalém e do cativeiro  babilônico.

  Seu livro apresenta uma síntese da mesma estrutura dos profetas maiores, assim chamados pelo volume de sua escrita, focando juízo a determinadas nações, Filístia, Amom e Moabe, juízo contra Jerusalém e palavras finais de consolo. Sf 3:

⁴ "Os seus profetas são levianos, homens pérfidos; os seus sacerdotes profanam o santuário e violam a lei. ⁵ O Senhor é justo, no meio dela; ele não comete iniquidade; manhã após manhã, traz ele o seu juízo à luz; não falha; mas o iníquo não conhece a vergonha."

     Quando acusa Jerusalém, afina na mesma nota de Jeremias, argumentando ser antiga, mais de 100 anos, essa visão negativa para os destinos da cidade, por causa da infidelidade do seu povo: Jr 26:

¹⁸ "Miqueias, o morastita, profetizou nos dias de Ezequias, rei de Judá, e falou a todo o povo de Judá, dizendo: Assim disse o Senhor dos Exércitos: Sião será lavrada como um campo, Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato."

   Até parece que tudo o que os profetas tem a dizer sempre é negativo. Profetas fiéis, verdadeiramente vocacionados, não escondem a verdade. Mas não se trata de somente focar o negativo.

   Sempre propõem arrependimento e restauração. Sem nunca deixar de mostrar a verdadeira natureza do pecado, sempre destrutiva. Por isso previnem seu efeito devastador na vida humana.

   Somente as Escrituras definem pecado, sua origem e indicam sua cura, somente possível pela direta ação de Deus no ser humano. Deus procura, para o diálogo, pois somente Ele tem o poder da cura completa: Is 1:

¹⁸ Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã."

  No jardim, Deus procura o casal, infantilmente escondido por detrás das árvores. Deus sempre procura. A principal visão dessa busca de Deus pelo ser humano é de Seu amor. As Escrituras são o Livro do amor de Deus.

   Mas não escondem o prejuízo causado pelo pecado e consequências da recusa à conversão ao Senhor. Paulo esclarece, objetivamente, contra o que a ira de Deus se manifesta:

¹⁸ "A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; ¹⁹ porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou." Rm 1.

   Deus se manifesta (1) contra a impiedade e (2) contra a perversão dos homens. Resumindo,  contra a (1) vida sem Deus e (2) vida sem justiça. E o apóstolo ainda denuncia a tendência humana de criar um deus segundo a própria imagem humana depravada: Rm 1:

²³ "... e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível". 

   Deus nunca desiste de procurar o ser humano. Por isso, Sofonias menciona o desejo de Deus em folgar em meio a uma festa entre nós. Assim como Jesus, o Filho, folgava em buscar relação conosco. Estar em festas, frequentar Jerusalém nas três festas anuais, conversar com os pescadores à beira do lago.

   Lidar com todo o tipo de gente, principalmente os considerados à margem da sociedade. Cuidado para não parecermos mais farisaicos do que marginais. Pecadores, prostitutas, colhedores corruptos de impostos situavam-se entre a turma com quem Jesus era visto.

  Deus não aceita pecado. Acolhe pecadores, dialoga com eles, para lhes mudar natureza e preferências. E somente Ele pode fazer isso. Delegou também ao Filho esse poder:

³⁶ "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." Jo 8.

   Deus está em nosso meio, poderoso para salvar, deleita-se, com alegria, na resposta por fé, renova-nos, permanentemente, no Seu amor e jubila e rejubila-se, regozijando-se no meio dos viventes.

   Ora, já dizia Neemias: Ne 8:

 ¹⁰ "... a alegria do Senhor é a vossa força." Sintamo-nos convidados, por Deus, a esta festa.

sábado, 9 de novembro de 2024

Joel e a providência de Deus

    Mas não no sentido usual, de providências diante de uma urgência imediata, ou seja, uma iniciativa a fim de se resolver uma questão premente.

  Providência divina é o conjunto de iniciativas de Deus por meio das quais age na história. E, por ser onisciente e dadivoso, sempre por graça e amor, opera as circunstâncias a favor de seus desígnios de bondade.

    Paulo Apóstolo a Ele se refere como quem age ¹¹ "...segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade". Ef 1.

   E cuja maior iniciativa, a fim de restaurar a Si toda a Sua própria Criação, foi em amor prover-nos do Filho, ¹⁹ "...pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, ²⁰ conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós". 1 Pe 1.

     O profeta Joel nos ensina como Deus faz uso de circunstâncias, às vezes não positivas, como ocorreu com Jó, mas sempre voltadas ao benefício de quem Ele mesmo chamou para Si. Rm 8:

²⁸ "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

   Houve uma sequência de calamidades provocadas por pragas repetidas de diferentes raças de gafanhotos. Porém, agora ao inverso do que ocorreu com Jó, para instrução de juízo ao povo de Israel.

     Eu lembro, do meu ginasial, década de 70 do século passado, um filminho preto e branco que a professora de geografia projetava.

    Mostrava habitantes da África impotentes, diante de uma horda de gafanhotos, tudo devastando, uma nuvem gigantesca no horizonte, movendo-se em velocidade assustadora, colidindo no parabrisas de um monomotor, colocado em risco de queda.

   Joel exorta a entender essa sucessão de calamidades como um juízo contundente da parte de Deus: Jl 1:

² "Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? ³ Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração. ⁴ O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor."

     Mas os gafanhotos, ora, se fossem somente eles, também tipificacam exércitos do império da hora. Sucederam-se, na época da história bíblica, a partir do século VIII a.,C., assírios, babilônicos, persas, impérios do Oriente, e posteriormente gregos e romanos, impérios do Ocidente.

   Mas não se conhece, ao certo, qual o império da época de Joel. As pragas de gafanhotos, semelhantes às do Egito, que desta vez atingem Israel, também prenunciavam essas invasões.

    E não somente essas, mas trata-se de profecia de dupla referência, ou seja, a especificamente histórica, na época do profeta, as por se cumprir, ao longo da história, ainda em nossos dias ou para o futuro, numa advertência contínua do texto:

¹² "Levantem-se as nações e sigam para o vale de Josafá; porque ali me assentarei para julgar todas as nações em redor. ¹³ Lançai a foice, porque está madura seara; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande. ¹⁴ Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão." ¹⁵ O sol e a lua se escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor." Jl 3.

   Joel indica, como num termômetro, os sinais do Dia do Senhor. Este consta na agenda de Deus, como o dia em que todas as nações serão convidadas para comparecer diante dEle. Ezequiel e o próprio Apocalipse utilizam-se dessa mesma metáfora. Jl 2:

¹ "Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do Senhor vem, já está próximo; ² dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração." 

   Esse bailado dos exércitos das nações, a multiplicação da iniquidade, como nos dias de Noé, assim como sinais provenientes dos astros, nos céus, vão ser indicadores desse tempo e categoria de juízo, do qual Israel, naqueles dias, tornou-se modelo:

⁵ "Ébrios, despertai-vos e chorai; uivai, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque está ele tirado da vossa boca. ⁶ Porque veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável; os seus dentes são dentes de leão, e ele tem os queixais de uma leoa. ⁷ Fez de minha vide uma assolação, destroçou a minha figueira, tirou-lhe a casca, que lançou por terra; os seus sarmentos se fizeram brancos." Jl 1.

   Porém, o mais preciso dos sinais, trazendo com ele a redenção, por amor, do gênero humano, Joel descreve, em meio à temática de sua escatologia (escato = final + logia = estudo):

²⁸ "E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; ²⁹ até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias." Jl 2.

   Esta profecia Jesus a confirma, no diálogo com seus discípulos, assim como Pedro menciona, no seu primeiro sermão após a ressurreição de Jesus, no Pentecostes, citando Joel, em sua referência às Escrituras.

   A profecia do derramamento do Espírito, como Joel a proferiu, constitui-se num dos maiores sinais de redenção da humanidade por meio da bênção do evangelho.

   É essa palavra o próprio Espírito confirma, tanto do modo como Pedro pregou, em seu sermão, quanto Paulo atesta aos Efésios:

³⁷ "Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?³⁸ Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2

   E Paulo, com respeito a Cristo, diz:
¹³ "...em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; ¹⁴ o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória." Ef 1.

   Providência divina é antecipação, no amor, da dádiva de Sua graça, por meio de Jesus, em reposta à grande ansiedade de toda a humanidade. Joel indica a conversão como acesso a essa graça, desde e ainda no Antigo Testamento, como a principal ênfase profética, por se manifestar, de forma flagrante e completa, nos tempos do Novo Testamento, pelo Espírito, no batismo em Jesus:

¹² "Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. ¹³ Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. ¹⁴ Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação para o Senhor, vosso Deus?" Jl 2.

   Rasgar o coração é a marca do arrependimento verdadeiro. No Antigo Testamento, a circuncisão foi, desde os tempos de Abraão, sinal profético da conversão, somente possível pelo poder de Deus. Paulo assim indica aos Romanos:

²⁹ "Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus." Rm 2.

   Joel adverte que até bêbados, no entendimento, façam uma leitura precisa do agir de Deus. Porque somente a conversão ao Senhor redime. E na agenda de Deus, há um prazo para que toda a humanidade entenda. Porque haverá um dia da decisão, ao qual todas as nações vão comparecer.

  Desmarquem a urgência de sua agenda. Ponham reparo nos sinais do Senhor. Porque há vigência de uma convocação à qual todas as nações comparecerão. Então, enquanto é tempo, rasguem o coração e se convertam.

  "Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão".

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Cânticos de Louvor no Apocalipse - Introdução

 

 O Apocalipse inicia com uma introdução, comum a todo livro desse gênero, legitimando fonte e portador da profecia:

1 "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, 2 o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu." Ap 1. 

  E uma bem-aventurança, em tom de advertência, a quem encarar com a devida seriedade o que vai escrito: 

3 "Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo." Ap 1.

   A seguir, procede-se à dedicatória a quem se encaminha o texto dessa profecia. No caso deste Apocalipse bíblico, o único entre uma vasta relação a constar no Cânon, temos o nome literal de seu autor, e quando se refere a Jesus, por seus legítimos títulos, assim como à síntese de sua obra a favor dos que nEle creem: 

4 "João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono 5 e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra." Ap 1.

  E logo ao final desta dedicatória um primeira lauda, no livro, de exaltação à Pessoa de Jesus, seguida da expressão de identidade dos que nEle creem: 

"Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" Ap 1.

   Logo após, João dedica-se a descrever a primeira visão do livro, a qual descreve Jesus, que nela aparece, estilizado já na simbologia típica do livro, o diálogo que se dá entre eles e o textos das Sete Cartas dirigidas às 7 igrejas.

  Esse conjunto de textos, que compreende esta introdução (1,1-3), dedicatória (1,4-8) e a ordem da primeira visão do livro (1,9-20), antecedem tudo o mais que vai se seguir, no texto da profecia, bem definido que as igrejas, não somente essas sete do circuito da Ásia Menor (2,1-3,22), mas as demais de todos os tempos, a elas está definitivamente dedicado o que vem a seguir.

  Então, nos capítulos seguintes, 4-5, desenha nos céus um quadro do contexto no qual toda a ação seguinte, ao longo de todo o livro, ocorrerá. NO cap. 4 a descrição, propriamente, da cena celestial e, no cap. 5, a cena da abertura do selos, que lacravam um Livro impressionante, nas mãos dAquele sentado no trono celestial, para o qual ninguém podia olhar, da mão de Quem somente o Cordeiro, visto "como tinha sido morto", pôde tomar o Livro para lhe abrir os selos.

 A partir desses capítulos têm lugar, a cada suspense, a cada ato desse grande drama teatral, que encena e representa a consumação de toda a história, tanto da humanidade, como da salvação, hinos são cantados, ajustados a cada situação específica e, por isso mesmo, de conteúdo afeito a cada desdobramento condizente com a ação de Deus, desencadeada a partir do cenário celestial, para efeito direto na terra.

  O entendimento desses hinos, o desdobramento do conteúdo desse poemas joga luz sobre a dimensão dessas ações. Inegável que Deus esteja no controle dos fatos da história. O desenrolar dela, sua culminância, bem como seu enredo final são descortinados no Apocalipse. Eles ilustram a mensagem de todas as Escrituras. O exercício para compreendê-lo, como adverte a própria literatura apocalíptica, como um todo, torna-se fundamental para compreender a ação de Deus na história.