domingo, 7 de agosto de 2022

Uma oração

"Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai", Efésios 3:14.

   Sem provocação gratuita, mas vivemos um tempo em que, frequentemente, costuma-se afirmar que a igreja está posta contra a Academia e que esta, oportunamente, está disposta a instruir aquela.

   Eu, particularmente, não abro mão de nenhuma das duas, creio mesmo, se o valha minha opinião, que cada qual tem o seu mister. Mas também afirmo que a igreja tem específicos totalmente excludentes dos métodos da Academia.

   Um deles é a oração. A afirmativa de Paulo Apóstolo, acima indicada, caso seja explicada pelos métodos acadêmicos, nada terá a dizer a respeito de quem ouve, no caso, Deus. Porque por seus métodos, eles nada têm de assertivo a afirmar sobre a oração.

   E as definições de "Deus", se vão explicá-lo pelas Ciências da Religião, ou por fatores sociológicos, históricos, filosóficos, quem sabe psicológicos, mas sempre na direção do que se reúne, em termos de saber humano, a respeito de Deus, vai se contestar, para nunca se legitimar ou achar possível elencar o que, da parte de Deus, se conhece a respeito do homem.

    Paulo, em sua oração, baseia-se no fato de que ela é uma resposta a Deus. E que, quando se fala com Deus, este ouve e responde. Creio que estabelecer que Deus fala, pode ser ouvido e que atende orações, portanto, representa diálogo, o que, definitivamente, não faz parte de conclusões acadêmicas.

   Pode ser até, como já aqui admitido, que a Academia fale a respeito de Deus. Mas nada em sua epistemologia indica que admita diálogos com Deus. E Paulo, em sua oração, está sendo didático, pois o que pede faz parte de um procedimento padrão, válido para a condição do ser igreja, e do lugar, na relação com Deus, que a igreja assume a representa.

   A primeira coisa em que Paulo acredita seja possível que Deus faça é fortalecer por seu Espírito, o homem interior. Esta terminologia indica uma ação de Deus no ser humano, sendo o adjetivo "interior" indicativo do lugar íntimo e definitivo dessa ação de Deus. Por meio do Espírito Santo, Deus age no homem/mulher e o(a) fortalece. Essa é uma afirmação escriturística, daí sua realidade e exequibilidade.

    Seguindo adiante em sua argumentação, no conteúdo de sua oração, Paulo afirma que é por esse meio, qual seja, pela presença permanente do Espírito Santo no "homem interior" do ser humano, é que Cristo habita em nós. Isto é, a presença do Espírito em nós equivale à de Cristo. O molde de nossa personalidade, à semelhança desse de Cristo, é realidade por meio da presença do Espírito Santo em nós.

   E Paulo passa a discorrer, detalhe por detalhe, o que tais fatos, destacados e ilustrados nesse texto das Escrituras, no conteúdo dessa oração, operam na personalidade humana. Começa dizendo que essa presença do Espírito e equivalência com Cristo nos pororciona estar arraigados e alicerçados em amor.

  As Escrituras reivindicam para si conter, em suas páginas, e indicar qual seja a fonte genuína do amor. Somente possível quando há raízes em Cristo e sustentação de um alicerce calcado em Cristo. Então esse amor pororciona um deslumbramento do conhecimento.

    Paulo já havia dito isso em outro lugar, também no conteúdo de uma oração, na carta aos Filipenses, que o amor permite pleno conhecimento e toda a percepção. Pois nesta oração vai estabelecer limites sem limites, porque largura, cumprimento, altura e profundidade, na argumentação de Paulo, terminologia que indica medição de grandezas, neste contexto elas esbarram no infinito.

   E agora, tendo percorrido a ação do Espírito, o modelo da matriz de personalidade que Cristo representa, Paulo chega a Deus, afirmando que essas medidas ao infinito permitem conhecer o amor de Deus, embora este exceda todo o entendimento, e ainda como corolário, ser tomado de toda a plenitude de Deus.

   Muito interessante, no contexto da Academia, avaliar algo que excede todo o entendimento, assim como ser tomado de toda a plenitude de Deus. Destaquem-se os indefinidos "todo/toda": todo significa dizer que não há qualquer, ou, se preferem outro indefinido, não há nenhum conhecimento que caiba, no qual se contenha, pelo qual se esmiuce amor.

     Definitivamente, estamos lidando com categorias puramente escriturísticas. No mínimo, teológicas. Assim mesmo, haverá limites até para a própria teologia, caso seja tentada, aliás, o que frequentemente faz, retirar a literalidade dessas afirmativas, quem sabe anotando impossibilidades para sua concretude e cumprimento.

   Falar a respeito de Deus, não é falar com Deus. Falar (e ouvir) Deus se chama oração. Paulo aqui investe à sua oração toda a possibilidade e capacidade de ser experimentada no contexto do que a igreja representa. E termina, afirmando haver ainda mais, infinitamente mais do que seja possível pedir ou pensar, como se fosse mesmo ainda possível algo além do que já foi exposto.

   Paulo, ao mesmo tempo, esgota e amplia, com Deus, todas as possibilidades. Quando afirma que, na igreja, a possibilidade é ser tomado de toda a plenitude de Deus e que, se algo mais se exige, há infinitas possibilidades, Paulo esgota e amplia. Que benéfica, realista e abençoadora a linguagem  das Escrituras, bem como a concretude e realidade do que expõem. Grato, Paulo Apóstolo, por essa oração.

   

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