Há diferentes abordagens do Natal nos quatro Evangelhos. Mateus, Marcos, Lucas e João, por ser os autores, são chamados de evangelistas.
Os livros que escreveram seguem o modelo de Marcos, certamente o primeiro a ter essa ideia. Acredita-se ter existido um conjunto de logia, palavras, em grego, sobre os feitos de Jesus.
E que Marcos, companheiro próximo de Pedro, assim como Lucas, companheiro próximo de Paulo, puderam usar essa proximidade para recolher mais informações.
Era lógico que assim fosse. Pois se tornou natural a tradição oral sobre os feitos de Jesus, mas logo se sentiu a necessidade de escrever. E Marcos organizou seu Evangelho.
Mateus e Lucas seguiram o plano de obra, sendo que houve material comum a esses dois que não consta em Marcos, assim como material exclusivo de cada um deles, que não consta em nenhum outro.
Sobre o Natal, a gente desenha presépios, visita dos magos e anjos falando aos pastores com as informações de Mateus e Lucas. Fica parecendo que nem Marcos e nem João focaram nesse início.
Mas não é assim. Mas sim cada qual apresenta sua ênfase particular. Marcos deseja ir direto ao evangelho pregado por Jesus. Por isso, fixa seu referencial na profecia de Isaías, dizendo que, já nela, a semente do evangelho estava presente:
² "Conforme está escrito na profecia de Isaías: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho; ³ voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas; ⁴ apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados." Mc 1.
O interesse de Marcos é ir direto ao anúncio que João Batista faz sobre Jesus. E essa ênfase é seguida por Mateus, Lucas e João, dando destaque tanto ao anúncio de João Batista, quanto à ênfase no sentido do arrependimento.
E a autenticidade do que seja a conversão, como Lucas e Mateus indicam, em como a realidade para qual o batismo aponta. Marcos também revela a ênfase de Jesus em anunciar o "evangelho de Deus":
¹⁴ "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, ¹⁵ dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Mc 1.
Ele destaca o poder da palavra de Jesus, que conduz à fé, como Paulo afirma na sua carta aos Romanos, "a fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo". Daí o destaque dado por Marcos à palavra pregada: Mc 1:
³⁸ Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim."
Lucas, quem, provavelmente, logo escreveu o seu Evangelho, detém-se nos pequenos detalhes associados ao Natal. Como ele mesmo diz, "após acurada investigação de tudo desde sua origem", registra detalhes da expectativa da chegada do Messias, por parte de pessoas específicas, assim como narra a entrevista do anjo Gabriel com Maria: Lc 1:
²⁶ No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, ²⁷ a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria."
Sobre João Batista, ele nos apresenta seus pais, Zacarias e Isabel, e como o mesmo Gabriel anuncia o milagroso nascimento desse menino. E assim nos apresenta essa gente que ele classifica, como no caso de Simeão, "justo e piedoso e que esperava a consolação de Israel".
Incluem-se nessa lista os próprios José e Maria e ainda a idosa profetiza Ana que, na apresentação de Jesus no templo, "falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém." Lc 1,38.
Lucas inclui o desenho, em sua narrativa perfeitamente sintética, o quadro do lugar exato do nascimento de Jesus. Sua descrição confere com o despojamento já profetizado por Miqueias sobre Belém-Efrata:
⁶ Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, ⁷ e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria." Lc 2.
E não se pode deixar de mencionar os primorosos cânticos, seja o de Zacarias, assim como o de Maria, e a saudação honrosa de Isabel, acolhendo sua prima em seu 6⁰ mês de gravidez.
Mateus não repete os detalhes e pormenores de Lucas, certamente por achar desnecessário. Mas foca num detalhe, que é a rejeição de Jesus, imagine-se, que absurdo, pelos próprios conterrâneos dele.
José já pretende deixar Maria, visto ser difícil aceitar uma gravidez que, segundo o depoimento de sua noiva, foi obra do poder do Espírito Santo. Mas um anjo aparece, em sonhos, a José, advertindo-o que creia na profecia de Isaías:
²⁰ Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo." Mt 1.
E se não fosse ainda mais absurdo, sábios do Oriente, que haviam enxergado, no espaço sideral, uma presença astral inédita, vêm a Jerusalém e consultam, exatamente, quem mais deveria saber, mas nada sabem, desconhecem totalmente o comprimento da maior profecia de suas próprias Escrituras:
² E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. ³ Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém". Mt 2.
Por causa dessa perseguição, pasmem, que ironia, será o Egito, sim, ele mesmo, de onde Moisés retira, a forceps, Israel, no parto de sua existência, ele que acolhe José, Maria e o bebê em fuga:
¹⁴ Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito; ¹⁵ e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho." Mt 2.
Mateus é o evangelista que escreve para registrar o absurdo da rejeição deste menino, desde nascido e, principalmente, pelo seu povo a quem, especificamente, foi por Deus enviado.
E finamente João, para quem o Natal começa antes do Gênesis. Porque "no princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" Jo 1. Ele se refere a Jesus.
¹ "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. ² Ele estava no princípio com Deus. ³ Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez." Jo 1.
E João será o evangelista de voo mais elevado, demonstrando o gesto mais ousado e inimaginável de Deus, nascer homem, do mesmo modo que todos nós, para cumprir os desígnios de Deus com relação à nossa salvação.
¹⁴ "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai." Jo 1.
Cada evangelista tem uma ênfase definida, num modo específico de apresentar a mesma mensagem do evangelho. Abordagens diferentes visando uma só pessoa, que é Jesus.
E o objetivo é deixar claro o propósito de Deus em conduzir à salvação todos os que creem. Marcos direto em apresentar o evangelho de Deus, cujo conteúdo é o arrependimento, para crer em Jesus.
Lucas se detém nos detalhes, de como havia gente que acolheu as profecias do Antigo Testamento e sim, mantinha a expectativa da chegada do Salvador.
Mateus adverte para o espírito de rejeição contra o qual resistir, tão dramático que, o povo que tinha prioridade em receber Jesus, esse próprio o rejeita.
E João dá seu voo alto, quando nos revela que Deus nunca esteve longe, mas surpreendeu, quando Ele mesmo se fez bebê, gerando a Si mesmo no ventre de uma mulher, dela nascendo, para ser o Homem por excelência a conceder salvação de graça e por graça a todo o que crer.
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Belíssimo texto, bem explicado e fazendo esse paralelo entre os evangelhos foi muito esclarecedor. Parabéns 👏 👏 👏
ResponderExcluirGrato. Deus abençoe.
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