quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Ora, quem somos os que sentamos a essa mesa

 Jesus reuniu seus 12 discípulos. Àquela altura, sentados à mesa, em diferente grau conscientes de tudo o que haviam ouvido, preparavam-se para a última Páscoa juntos.

  Não necessariamente, nessa ordem, o par de irmãos André e Pedro e Tiago e João, pescadores de variado viés econômico. Tiago de Alfeu, os dois Judas, o Tadeu e o Iscariotes.

   O relutante Tomé, Bartolomeu, que associam a Natanael, esse mesmo da solidão sob a figueira. Mateus ou Levi, o coletor de impostos, um ex-corrupto, uma raridade.

   O outro Simão, este ex-membro dos radicais zelotas e, last, but not least, Felipe, o relações públicas. Cada qual com traços de sua presença e personalidade descritas em linhas dos Evangelhos.

  Que bom seria se o título "Atos dos Apóstolos", com certeza, fizesse referência a feitos mais variados de cada um. Há tradições de suas atividades, porém de peso histórico menor.

   Mas é interessante refletir sobre a variedade de personalidades, especificamente selecionadas por Jesus. Exatamente o que o Mestre tinha em mente quando os escolheu, um a um.

   Uma coisa, pelo menos, igual para todos queria: sua conversão ao evangelho que ele mesmo pregava e do qual, passou a lhes ensinar, era, em Pessoa, a total garantia.

   Como nós, que agora sentamos, escatologicamente, à mesa da Ceia do Senhor, somos variada personalidade. Aqueles 12 foram o protótipo da igreja que hoje somos.

  Esperando que não literalmente, para que não haja nenhum como Judas, o que ficou de fora. João, em seu Evangelho, não deixa de mencionar que, tesoureiro do colégio apostólico, foi corrupto.

   Muito interessante Jesus insistir em mantê-lo, sendo que Mateus, fiscal de rendas e, certamente, honesto, poderia substituir, pelo menos como 2⁰ tesoureiro. E João, chamado "discípulo do amor", por sua vez, insistir em registrar a falha magistral de seu colega.

   Poderia ficar sem essa. Cada um deles, como cada um de nós, que nos sentamos a essa mesma mesa, tem falha qualquer, à qual Jesus, pacientemente, mais atento até do que nós mesmos, presta o devido tratamento.

   Por exemplo, até o fim Jesus quis que Judas se arrependesse. Não foi por mera retórica, jogo de cena, jogo para a torcida, que a ele entregou o primeiro pedaço do pão que, a partir desse gesto, simbolizava não a Páscoa da antiga, mas a nova aliança no Seu sangue.

   Como será que somos? Relutantes, como Tomé, atirados, mas no íntimo covardes, como Pedro. Intensos, mas flutuantes no amor, como João, lúcidos com precipitação, como Natanael, diligentes e sociáveis, como André e Felipe.

   Parecendo anônimos ou enrustidos, como Judas Tadeu, Tiago de Alfeu ou Tiago, de Zebedeu, irmão de João, tão corajoso no testemunho que foi o 1⁰ mártir, segundo profecia que Maria, sua mãe, ouviu da própria boca de Jesus.

   Hospitaleiros e influentes, como Mateus, e certamente campeões de continência no temperamento, Simão Zelota, muito semelhante ao outro Simão Pedro.

   Essa foi a reunião protótipo da igreja que somos. Quando lemos o Salmo 139, que ora para que Deus nos sonde, sábio o salmista, que termina refletindo:

²³ "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração,  prova-me e conhece os meus pensamentos; ²⁴ vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno."

   Na verdade, Deus já nos conhece. O exercício é nos sondarmos a nós mesmos. Enxergar o labirinto escuro do nosso mal. E permitir ao Espírito Santo, nosso instrutor nessa sondagem, que Ele mesmo nos conduza pelo caminho eterno.

   Esse tal "caminho eterno" reserva, como escola, todas as virtudes desse amor tão em falta em nosso viver. Seja pleno, Senhor, a nós, que sentamos tão frequentemente em Tua mesa, o desejo de aumentar nesse amor.

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