Arsylene Sezures Jardim, 91 anos
Não sei (ou sei) o que nos prende à igreja. Tera sido o zelo dos pais? Fundamental. Não me canso de dizer e reafirmar isso:
Meu pai me ensinou o apego à Bíblia. Minha mãe me ensinou o apego à igreja. Desde pequeno estou lá. Deus nela me mantenha até o fim.
Quer dizer, até o começo da eterna permanência. Em Nilópolis lembro o dia em que me sentei debaixo da mesa das bandejas de Santa Ceia. Que realização, para mim, que vexame, para Dorcas.
Havia o púlpito enorme, com acesso por duas escadas laterais. À frente e abaixo um tablado retangular, por cima do qual se avistava essa mesa enorme.
Ali ficavam de pé ou o Avelino Tavares, Pr jubilado, por anos Superintendente da Escola Dominical, ou mesmo o meu tio por afinidade, Dante Santos, casado com Eunice, irmã de minha mãe Dorcas.
Por anos, Avelino e Dante, Superintendes. Mas nesse domingo à noite sentamos, uns três, pelo menos, de um deles lembro Márcia, a quem chamávamos Marcinha, hoje já avó e esposa de pastor.
Havia a toalha branca, é claro (é clara) imensa, o rendado dela sobrando pelas quatro arestas da mesa e nós três ali, escondidos e realizados, até as mães estragarem a festa, com os beliscões de praxe.
Até diversão era igreja. Tinha EBF - Escola Bíblica de Férias, era a gente da igreja com aquele montão de crianças do bairro. E os hinos de Salmos & Hinos, aquele antigo, ainda com os 608 hinos.
O Diploma de
novo convertido dessa época
Ainda hoje, quando os canto, vem à memória esses dias de primeira infância na Congregacional de Nilópolis. E ainda havia as figuras inomináveis por sua fama.
Marisa França Costa, debochadíssima, imitando (os memes da época) os pregadores. Os duetos de Nilza e Jaíra. A cabeleira alvíssima do negro Avelino Neves. E a careca lustríssima, bem, acho que de "Seu" Torraca, na casa de quem, num dos morros, surgiu o Ponto de Pregação que deu origem à Igreja.
Mas não menos notável foi a segunda infância. Por razões puramente logísticas viemos para a Congregacional de Cascadura. Porque ficava, a pé, a 15 min de distância de casa.
Saindo da Mendes de Aguiar, 90, 102 fundos, atravessávamos a Ernani Cardoso, ali mesmo, defronte ao Clube de Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica, entrávamos por uma vila de acesso, colada ao muro da horta, hoje inexistente, mas na época estendendo-se dali, das cercanias do Morro do Fubá, inciando ali mesmo, na João Romeiro, onde no 212 ficava a nossa Igrejinha Antiga, do hino de Porto Filho, entendendo-se até Turiaçu, passando pela já extinta Vila das Torres, onde ficava a Congregação de Magno.
Muita história. Ali a gente deparava duas mulheres extraordinárias, concunhadas entre si, Rute Biato Jardim e Arsylene Sezures Jardim, ambas casadas com descendentes de Francisco Jardim, um dos primeiros colaboradores de Kalley, em meados do século XIX, na Corte do Rio de Janeiro.
Ali fomos alunos das duas. Arsylene também Conselheira dos Juniores e Regente do mesmo Coral por ela organizado, ensaiado e inaugurado. Ativas, as duas, em todas as organizações da igreja.
O Coral da União Juvenil,
regência da irmã Arsylene
Fomos crianças juntos, eu e os filhos e filhas de Rute e Arsylene, hoje todos já somos avôs e avós. Rute já em casa, pela eternidade afora, e Arsylene em festa, representando toda essa geração.
Ela está presente, como mostram as fotos, na inauguração da Congregação de Madureira, em 1953, com sua mãe Odessa e Naura, nossa eterna organista. Valorizaram estar na igreja, envolverem-se em tudo o que a igreja oferece, abrigaram-se nessa tenda de peregrinos nesta caminhada terrena, com brilhante ministério e serviço em profusão.
Naura, Odessa, a mãe,
e a filha Arsylene, em 1953,
defronte à Congregação de Madureira
Até Deus acampa entre nós, desde os tempos da Congregação do Deserto. Ainda que seja em tendas, ou nas varandas do Templo de Jerusalém, onde o próprio Jesus pregava e ensinou, em sua última semana de vida, nessa Escola Dominical ao ar livre, madrugando de seus pernoites no Monte das Oliveiras.
Cânticos, Gincana de leitura de 1 Samuel, Ester, Rute, Neemias, Daniel, nas reuniões da União Juvenil, às 18h, todo domingo, histórias bíblicas na Classe de Crianças, tudo isso tem muito valor.
Não está na tela do silk-screen. Não existiam, naquela época. O máximo de novidade era a TV, em cores, já na Copa de 1970. Mas está na tela da memória. Nossa imaginação desenhava, desde o banquete de Assuero, que durou 180 dias, até às refregas de Sansão, incluída aquela com a queixada de um jumento.
Seguimos em peregrinação, enquanto nosso tempo não se cumpre. Gratos a Deus pelas memórias desse empenho das Jardim, dedicadas a marcar nossas vidas pelo ministério que desenvolveram com todo amor e dedicação.
A igreja é essa tenda que Deus mandou erguer. Ele é o arquiteto. Como afirma João, Ele mesmo tabernaculou entre nós, em carne no Filho. E disso ouvimos, desde bem crianças, pelas histórias contadas por nossos pais, reforçadas na igreja da infância, por Rute e Arsylene.
Gratidão a Deus pela dedicação dessas extraordinárias mulheres.
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