Há uma imagem recorrente que todos os que cruzam as ruas de meu bairro, Manoel Julião, ou do bairro vizinho, Conquista, conhecem.
De uma moradora de rua, meia altura, esquálida, às vezes nua, pelo menos da cintura para cima, uma vez dei com ela sentada no asfalto, bem onde o ônibus faria a curva, temi por ela.
Mas segui meu curso no meu carro. Todos fazemos assim. E já a deparamos várias vezes. Não sei o nome dela. Deve ter um apelido. Todos nós nomeamos ou apelidamos.
Como o tema de minha insônia de hoje foi amor, pensei nela como mendiga e resolvi escrever sobre mendicância de amor. Por quantos será amada essa moradora de rua?
Aqui em casa, quando a congregação estava aqui, havia o Anjo. Esse eu que apelidei. Porque eventualmente aparecia, como ocorre com os anjos. Ele tinha um modo todo dele, meio rouco, meio gutural de dizer: "Pastô". Terá sido um anjo, disfarçado, eu pensei?
² "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos." Hb 13.
Pedia comida, um trocado, certa vez pediu agasalho e até um lençol, noutra vez. Também circulava nessas redondezas. Certa vez, eu soube que havia morrido. Ah, sim: eles também morrem.
Mendigos de amor. Dívida de amor. Bem, de dívida de amor se vive, basta ver o versículo que segue, mas de mendigar amor, será que também se vive?
⁸ "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei." Rm 13.
Dívida de amor todos temos. Mas não somos mendigos. Esses andarilhos são. Esse povo de rua, muitos outros, zanzando por minha cidade, são mendigos de amor.
A gente acha que não é mendigo de amor. Porque mencionamos "Deus" toda hora. Deus é nosso status. Caramba, como sabemos de Deus uma porção de coisas!
Olha, quem esbarrar conosco vai conhecer de Deus um montão de coisas, sim, porque de Deus sabemos muito. Bem, imitar Deus é outra coisa. Também, não vamos exagerar. Mas esse outro versículo que segue, atrapalha nossa acomodação:
¹ "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; ² e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave." Ef 5.
Há outro, mais um versículo da Bíblia que diz que Jesus "andou por toda a parte" em amor, evidentemente. É no sermão de Pedro, na casa de Cornélio:
³⁸ "... como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele". Atos 10.
Andar em amor, definitivamente, não é fácil. Mas em relação a Deus, não se mendiga amor. Veja bem, aprendamos isso: em nós não existe, em mínima ou autêntica medida, nenhum amor.
Nosso amor é "amor de Efraim" (ou de Judá, dá no mesmo: nulo). Mais este versículo:
⁴ "Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa." Os 6.
Somente Deus é fonte de amor. E somente amamos, porque Ele nos amou primeiro (desculpe te cansar com tantos versículos):
¹⁰ "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." 1 Jo 4.
Não somos mendigos de amor. Porque Deus, pelo Espírito, derrama amor em nossa vida. Vejamos em Romanos 5. Mas esse amor se manifesta, aparece, no que e quando?
⁵ "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado."
Mas se esse amor derramado por Deus em nós não transborda de volta, como dádiva, em tudo e por tudo o que fazemos, fazendo por amor, estamos em falta.
Devemos amor. Retorne às Escrituras, no versículo de Paulo, acima neste texto. A ninguém devamos coisa alguma. Mas dívida de amor é permanente.
Caso não vejamos amor em nossas vidas, somos como esses moradores de rua, vagando sem amor nesse mundo carente. Lembrei do perfume de Cristo. No caso, perfume de amor.
¹⁵ "Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem." 2 Co 2.
Para, da próxima vez, parar meu carro, aproximar-me dessa anônima moradora de rua, perguntar seu nome, caso haja em sua mente espaço e lucidez para dizer, e sentir dela o perfume.
Mendigos de amor. Será que o somos?
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