segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O defunto que ressuscitou no terceiro dia

  Minha filha sugeriu, ontem, na igreja, que a congregação lesse o evangelho de Lucas. Disse que, lendo-se 1 capítulo por dia, chega-se,  em 24 de dezembro, ao último capítulo do livro.

   E assim seria como que uma preparação para o Natal. Essa sugestão de Ana Luísa me fez viajar no tempo, há quase 50 anos atrás.  Exatos 47, porque em março de 1978 iniciei o Seminário, na Alexandre Mackenzie 60, Centro do Rio, RJ.

   Lembrei de Eduard Lohse (1924-2015), autor de um dos livros que, na época, este seminarista adquiriu.  Eu rivalizava compras entre a antiga Livraria Evangélica,  na Rua da Constituição, e a Paulinas, na 7 de setembro.

   Era proposital.  Dois tipos de batismo (por aspersão, é claro) em duas tendências teológicas: uma conservadora (vamos evitar o termo fundamentalista) e a outra liberal (não vamos evitar este termo).

   Lembrei Lohse, porque ele ajuda a denunciar Lucas como eivado (termo pomposo este) de erros históricos (quem sabe, dizer equívocos seja mais ameno). Hoje vou ler Lucas 1. Mas a data de nascimento e talvez (entre outras mais informações) a cidade não sejam exatas.

   O que seria de nós sem Lohse. Iludidos pela introdução lucana tão bem intencionada. Será que essa anotação lohsiana afetaria a credibilidade do texto bíblico? Ou seria apenas um condicionante necessário a ser esclarecido na Escola Dominical?

   E por falar nela, lembrei Sarah e Robert. Que iniciaram, por aqui, há 170 anos (conta exata).  Os congregacionais herdaram esse legado. Mas merecem umas bordoadas, porque vivem dizendo que têm 170 anos. Mas isso é outra história.

   Lembrei Sarinha, permitam-me, com todo respeito, a intimidade, porque ela contou a história de Jonas. Aplicando o método lohsiano a Jonas, nem sabemos se ele existiu mesmo. E caso tenha sido histórico, jamais pregou em Nínive.

   Porque a arqueologia, e olha que ela é uma fonte precisa, rica e inumerável, sem descontinuidades, de informação. Jamais tanta gente, e de uma vez só, se converteria a Yaweh.  Nula essa ideia de um avivamento em Nínive.

  E para ser precisamente impiedoso, para (aqui leia pára) com essa ideia de acreditar no peixe. E na oração em regiões abissais do oceano. Até inventarem o submarino (em 1776, em plena Guerra de Secessão, li na National Geographic, pode acreditar), nunca houve submersíveis.

   Por favor, nunca atribua a Yaweh um disparate desses. Ou se corrige a Bíblia pelo que é lógico e racional ou será melhor nem ler o Livro. D. Sarah equivocou-se. Se vamos ressuscitar a Escola Dominical, terá de ser com leituras retificadas pelo método lohsiano.

   Revisem-se todos os "milagres", cuidado com o que Lucas chama de histórico ou, pobre Lucas, de "acurada investigação". Católicos apreciam detonar a Bíblia, por causa do vício luterano de colocá-la ao alcance de todo mundo. E a Escola Dominical foi uma bela tentativa de fazê-lo.

   Mas está meio down no high society, como dizia Elis. Lembrei de Jesus, quando mencionou Jonas, dizendo que, assim como o profeta esteve no ventre do peixe três dias, ele estaria no ventre da terra também por três dias (opa, se é que Jesus disse isso, sejamos apuradamente cuidadosos com o que vai escrito nos Evangelhos como dito ipsissima verba por Jesus). 

   Será que o método lohsiano põe crédito nesse defunto ressuscitado no terceiro dia? Eu também, pobre seminarista, li Alfons Weiser (1934-   ), da livraria não conservadora, "O que é milagre na Bíblia?". Ainda bem que ele garante que esse defunto, Jesus, realmente ressuscitou ao terceiro dia.

    Mas Weiser garante que, para acreditar nesse (pelo menos nesse único milagre), não precisa acreditar, por exemplo que, literalmente, Jesus tenha ressuscitado alguém, principalmente Lázaro. Eu então penso: o que seria de nós sem esses homens? Sumidades todos eles. Sim, estou sendo irônico.

   Mas a utilidade de seu método é fundamental. Para a gente não sair, por aí, atribuindo a Deus (pobre Deus) milagres que Ele nunca realizou.  Apenas constam nesse texto mitológico, em certo sentido, a que costumamos chamar Bíblia.

   Termino, como se fosse um ativista anacrônico, dizendo: por um renascimento de uma Escola Dominical pós-moderna (se é que este termo não está desatualizado). Por uma Bíblia isenta de mitos (desculpa aí, meu amigo Lucas). Por um avivamento na Europa com a NBD - Nova Bíblia Demitologizada. Pobre Deus. (Mas ainda assim vou ler Lucas. Ainda assim).

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