quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

A voz do silêncio

 ³ Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; ⁴ no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo." Sl 19.

Há orações que merecem ou precisam ser silêncio. As Escrituras abordam essas tipologias. Ali se encontram modelos diversos de oração.

Fantástica a oração de Ana. Eli, o sacerdote de plantão na Tenda da Congregação, confundiu com bebedeira inoportuna tanta intimidade com Deus. Ela mesma define seu clamor: ¹⁵ "...venho derramando a minha alma perante o Senhor." 1 Sm 1.

Há as que sobem, por assim dizer, espontâneas, naturais como o fluxo da respiração ou batidas do coração, ⁸ "   uma oração ao Deus da minha vida." Sl 42, expressão dos que tem sede de Deus.

Há as que são enormes, como a de Esdras, porém estritamente sinceras, em sua confissão, fruto de uma maturidade a toda prova: ⁶ "Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a face, meu Deus, porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa cresceu até aos céus." Ed 9.

E as retóricas, como a de Salomão, na dedicação do Templo, impactantes em seu início, para quem ouve, mas seu portador tem prazo de validade em sua consagração:

¹⁰ "Agora, pois, ó Senhor, Deus de Israel, faze a teu servo Davi, meu pai, o que lhe declaraste, dizendo: Não te faltará sucessor diante de mim, que se assente no trono de Israel, contanto que teus filhos guardem o seu caminho, para andarem na lei diante de mim, como tu andaste." 2 Cr 6.

Esdras, líder da reconstrução do Templo em Jerusalém, usufrui da consagração de Daniel que, anos antes, já no fim do exílio em Babilônia, orava pelo retorno do povo: ⁵ "... temos pecado e cometido iniquidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos". Dn 9.

Há orações, como a de Moisés, interrompidas por Deus, pela fraqueza de argumento, visto a interdição divina pelo mal testemunho prévio do legislador diante de toda a Congregação: ²⁶ "Não me fales mais nisto." Dt 3.

Ou aquela franca, desavergonhada e pública, embutida no diálogo do Centurião, que a todos surpreendeu, até mesmo a Jesus: ⁸ "Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado." Mt 8.

Paulo Apóstolo menciona que não sabemos orar como convém, por isso somos assistidos pelo Espírito Santo: ²⁶ "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém". Rm 8.

E o Eclesiastes recomenda, diante de Deus, não se precipitar em palavras.: ² "Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras." Ec 5.

Para encerrar, lembrar as orientações de Jesus, em meio as argumentações do chamado Sermão da Montanha, quanto à oração: "Não pensem que, por muito falar, serão atendidos; por falar nisso, cancelem vãs repetições; evitem exposição (e exibição) pública. Orem em secreto, no quarto da casa, que Deus ouve. E, se decidir pelo jejum, por favor, sem publicidade".

E no Salmo 19 menciona-se a oração do silêncio, alcançando a mais vasta comunicação. Não há alarde maior, que alcance tanto quanto todo o planeta. Mais que Internet, por causa da dependência de sinal.

Há eloquência no silêncio. Principalmente, no silêncio de Deus. Assim como no silêncio diante de Deus. O que falar? Por ter Deus falado primeiro, quando revelou a Si mesmo, podemos nos dirigir a Ele. Nossa fala será, então, por antes tê-Lo ouvido, lógica e coerente.

Se acolhemos em nós Sua palavra, seremos instruídos a dar retorno. Teremos segurança e até, como afirma o autor de Hebreus, ousadia no falar. O diálogo é fundamental para a oração. Aliás, ela é puro diálogo. 

No evangelho, há uma recomendação para, uma vez colocando-se diante de Deus, havendo lembrança de um descaso qualquer, retorne ao problema, (re)estabeleça diálogo, então volte e faça oferta.

Na oração do silêncio há comunicação eloquente sem linguagem e sem palavra, por toda a terra reconhecida e autenticada. Impossível, violento e muito danoso negar ser possível ouvir (e falar) com Deus.

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