segunda-feira, 26 de agosto de 2024

"Tu me amas?"

¹⁵ "Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?" Jo 21.

   Triplamente interessante esses texto. Primeiro, pelo fato de João, a quem muito interessa destacar, em Cristo, o amor, tê-lo colocado no final do seu Evangelho.

  Segundo, pela pergunta feita pelo próprio Jesus. Ora, então ele não sabia em que escala ou se, na verdade, havia em Pedro algum amor?

  Terceiro, pela resposta de Pedro. Porque de muito explorada essa passagem, sabemos que Jesus se refere ao amor agape e Pedro responde referindo-se a phileo.

   Agape é o amor autêntico, divino, único que existe. Phileo é o amor humano, seletivo, que escolhe quem "amar", típico da condição humana de repugnância disfarçada. 

   Jesus perguntar, propositadamente, é porque deseja frisar o verdadeiro amor. Aliás, só existe um tipo de amor: qualquer outro é simulacro.

  E o fato de Jesus, como que cobrar, ainda que referindo-se a Pedro, é como se ele (Jesus) perguntasse a todos, a qualquer um de nós: "Cid Mauro (no caso, eu) amas-me mais do que estes outros?".

   Coloque seu nome. A pergunta é para todos e qualquer um. Para ser sinceros (ou sendo hipócritas?), vamos responder como Pedro. Talvez por não haver outra saída.

   Igual aluno matreiro, vamos colar, de Pedro, a resposta. Mas será que no fundo, não achamos, lá no mais recôndito, ou seja, no mais escondido que, na verdade, somos melhores e sim, amamos mais do que os outros?

   Quando Jeeus pergunta "Amas-me?", ele quer ouvir, avaliar e referendar o amor que dEle temos aprendido, reconhecendo que Ele o nutre por nós, que a Ele vamos retornar e com o qual vamos amar a todos, a qualquer um, como Ele ama.

   Por isso João, nessas suas "aulas" sobre amor, nas cartas e no Evangelho, escreve o que segue aqui, abaixo:

²⁰ "Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê." 1 Jo 4.

   Qualquer sentimento diferente de autêntico amor é simulacro. E tal simulacro será ódio, repugnância, nojo disfarçado. Se não conseguirmos amar do mesmo modo que somos amados por Jesus, não há identidade nossa com ele.

   Jesus é uma personagem histórica. A simples menção de seu nome, pode inspirar vários sentimentos nobres. Aliás, há nas Escrituras um exemplo dessa possibilidade:

¹⁹ "Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo". Lc 24.

  Essa fala é de Cleopas, um dos discípulos do caminho de Emaús. Ele relaciona pelo menos três qualidades atribuídas a Jesus: (1) era varão profeta; (2) poderoso em obras e palavras; (3) poderoso diante e Deus e dos homens.

   Ter opiniões elevadas sobre a pessoa de Jesus não torna ninguém de posse do sentimento de Jesus. O que distingue é amar do mesmo modo que Jesus ama.

  Tornar o evangelho uma experiência de milhagem percorrida, como se fossem créditos de uma empresa aérea, ou um conjunto de ortodoxia bem treinada nunca torna alguém autêntico cristão.

   Somente a resposta à pergunta feita a Pedro. Com uma reposta idêntica à de Pedro:

¹⁷ "Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas." Jo 21.

  Jesus sabe que o nosso amor depende do alcance em nós da obra completa que ele realiza. Ele nos batizou em Seu amor. Mas tal sentimento não vai aparecer de modo místico em nossa vida.

   Vamos deixar o simulacro. Muito feia essa hipocrisia. Pode até parecer evangelho, para quem simula ou para quem vê de fora.

  Porém, para o próprio Jesus, sem nenhum efeito. "Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo", diz Paulo aos Filipenses em 2,5. "Andai em amor, como também Cristo nos amou", agora aos Efésios, em 5,2.

   "Tu me amas, mas do que estes outros?" Se for simulacro, a reposta será sim. Se for autêntico, teremos de dizer não.

   Preciso, Jesus, do teu amor em mim operante. Para somente então dizer que amo, tanto a Ti, quanto a todos mais, qualquer um. Para quem pensa que é fácil o evangelho autêntico. Ou vive de aparência.

domingo, 25 de agosto de 2024

Coisas de Pedro - Conhecimento 1 - Parte 5

5 "...por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento;"  2 Pe 1.

A terceira coisa que Pedro menciona, agregada à lista do que nos a ser coparticipantes da natureza divina, é o conhecimento.

  Após fé, como porta de acesso, virtude, como resultado natural de ser nova criatura em Cristo, agora o conhecimento.

  Paulo, aos Efésios,  aponta que "conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento", habilita "ser tomado de toda a plenitude de Deus". Ef 3,19.

  É notável que, tanto em Pedro quanto em Paulo, conhecimento seja essencial. E a concepção bíblica para conhecimento não é um conjunto de aportes teóricos, cuja ênfase reside na razão, como era compreendido na cultura grega.

   Porém uma vivência prática, uma experiência de fé, alicerçada na comunhão com Deus, modelo esse bíblico, expresso desde o Antigo Testamento. 

   Por isso que tanto Paulo, quando se refere a "imitar Deus, como filhos amados", quanto Pedro, quando menciona ser "coparticipantes da natureza de Deus", refletem-se a essa modalidade bíblica exclusiva de vivência com Deus. 

    Moisés já expressava o desejo pleno dessa experiência: ¹³ "Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é teu povo." Ex 33.
 
   O mais notável líder do povo de Deus, que acompanhou a gênese da nação de Isarel, foi mediador na revelação da lei e na aliança do Sinai, num momento de crise, no deserto, roga a Deus que possa conhecê-lo plenamente.

  E o seu discípulo, Josué, no momento de sua vocação, é instruído por Deus a ter como referência, a Sua palavra, expressa, naquela época, pela assim denominada lei de Moisés:

   ⁷ "Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. ⁸ Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido." Js 1.

   Em outro momento crucial, quando Deus, por meio do profeta Oseias, tenta impedir que o povo do norte, as 10 tribos que haviam rompido com o reino de sul, após a morte de Salomão, sejam levadas para p cativeiro assírio, conhecer o Sennhor se torna essencial:

  ³ "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra." Os 6.

  Jó, um modelo de vida fiel com Deus, que mesmo após provações de toda a sorte, desafiado pelo próprio Satanás, mantém-se firme na fé, ao final de toda essa experiência, afirma que:

   ⁴ "Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. ⁵ Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. ⁶ Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza." Jó 42. 

  Interessante é observar a sequência de deduções que Jó menciona: (1) Escutar Deus, que fala, podemos perguntar que Ele ensina; (2) Conhecemos só de ouvir, mas os olhos podem ver; (3) por isso autorrejeitamo-nos e nos arrependemos.

  Há outras referências por todo o Antigo Testamento com relação à necessidade de conhecer o Senhor. Vamos citar mais uma, em Isaías, contemporâneo de Oseias, que menciona a necessidade ter a palavra de Deus como referência:

  ¹⁶ "Resguarda o testemunho, sela a lei no coração dos meus discípulos. [...] ²⁰ À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva." Isaías 8.  (continua)...

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

169 anos de congregacionias no Brasil

 Em 19 de agosto de 1855, o missionário escocês Robert Reid Kalley e sua esposa, a inglesa Sarah Poulton Kalley, que haviam chegado ao Brasil em maio do mesmo ano, deram inicio às atividades evangelísticas no Brasil. Dona Sarah reuniu cinco crianças de origem estrangeira, que falavam inglês e alemão e contou, nas suas línguas, a história do profeta Jonas. Cerca de 15 dias depois, foi a vez do Dr Kalley, médico, farmacêutico e missionário, dar uma lição aos adultos, em língua portuguesa, em Petrópolis, residência do casal. Três anos depois, era iniciado o trabalho na cidade do Rio de Janeiro, com 13 estrangeiros (escocêses, ingleses e portugueses) e um brasileiro, que foi batizado. A data, julho de 1858, é a oficial de instalação da Igreja Evangélica Fluminense.

 O casal Kalley veio ao Brasil às suas expensas. Por ter muitas posses, era possível dedicar-se à evangelização sem ter sido enviado por uma junta missionária do Reino Unido. O trabalho cresceu, pessoas se juntaram e várias atividades foram desenvolvidas ao longo dos 21 anos em que o casal morou no Brasil. 

Foi criada uma escola diária, para alfabetizar as crianças, filhas dos membros da igreja. A igreja decidiu, em 1865, que um crente no Senhor Jesus possuir escravos era pecado. Os dois membros que eram senhores de escravos receberam um tempo para alforriá-los. O que se recusou a fazê-lo foi excluído do rol de membros e até tentou matar o pastor Kalley. 

Foi iniciado um trabalho em Niterói, outro no Recife e a mídia da época era utilizada por Kalley para divulgar o evangelho. Panfletos com títulos curiosos eram produzidos e distribuídos. Um, O Ladrão da Cruz, foi motivo de polémica. A capa apresentava o homem na cruz com pregos nas mãos. Segundo a crença da época, somente Jesus havia tido as mãos perfuradas. O material ficou retido na alfândega e foi motivo de discussão nos jornais da época e finalmente liberado. 

A Igreja Evangélica Fluminense, mesmo após a partida definitiva do casal, esteve na vanguarda. Por proposta de um membro da igreja foi criado, com outras igrejas, o Hospital Evangélico, na Tijuca. O hospital foi pioneiro em transplante no Brasil. Na 1a metade do século 20, foi organizado um congresso mundial de escola dominical no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a participação de mais de 1500 pessoas de várias partes do mundo. A igreja criou a Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal, que recebia recursos da família Fernandes Braga, proprietária da Fábrica de Chapéus Mangueira. Os vendedores atuavam também como colportores, em diversas cidades brasileiras. 

São muitas as atuações e ações do casal, da IEF, etc. 

As 13 igrejas oriundas do trabalho do casal Kalley (filhas e netas) reuniram-se em 1913 e resolveram organizar-se como denominação. Já existiam também igrejas de governo congregacional em Portugal. Nessa 1a convenção, elas não puderam vir. Mais tarde, participaram. 

Ao longo de 169 anos Deus nos tem abençoado. Temos problemas, divergências, etc. Mas somos testemunhas da atuação de Deus entre nós ao longo de 169 anos. 

Que Ele continue nos abençoando.

Sergio Prates Lima, 2a IEC de Campo Grande.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Visão e identidade da igreja

 6 "E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade. À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. 10 Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho." At 16.

      1. Impedidos pelo Espírito

   A visão define a direção a tomar. Ela é para todos os lugares. Há urgência. Deus define quem, quando e onde. Neste caso de Trôade, inédito, porque o Espirito, que é quem escolhe e envia, impediu uma escolha equivocada: "tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra".

2 "E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado." At 13.

     2. Intentavam, mas o Espírito não lhes permitiu

  Destaque-se a inisitência dos apóstolos: "defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia". Movia-lhes a alma uma intenção definitiva para missões. Traziam consigo essa paixão, sem dúvida alguma compartilhada pelo Espírito, permanente parceiro no testemunho de Jesus:

32 "Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem." At 5.

    3. Somente uma visão define a direção

   É necessário se compreender a natureza dessa visão. Porque é pessoal, ao mesmo tempo que legitimadora da vocação. Mas não deve ser alvo de descrédito ou polêmica, mesmo porque nem sempre é mística ou se apresenta de forma idêntica ou previamente esperada.

   4. A visão de Trôade

  Ocorreu a Paulo, à noite, por meio de um varão macedônio, que aparece paramentado como um nativo da região para onde ele e seus companheiros deveriam seguir. Ela foi definidora da rota a seguir. Lucas, o narrador, inclui-se nessa convicção: 

10 "Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho."

 5. A visão de Isaías 6

 Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Is 6.

   Mais elaborada do que a de Paulo, confronta o profeta com a sua responsabilidade e define o seu chamado. A cena se mostra elaborada, com Isaías afirmando ter visto o Senhor, no ambiente do templo, com toda a Sua dignidade atestada por Querubins que, no momento necessário, surpreendem o profeta, lançando mão do braseiro sobre o altar para sanar o impecilho que ele mesmo havia imposto como obstáculo.

  6. A visão a que Jesus se refere

31 Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come! 3,2 Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. 33 Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer? 34 Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. 35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa. Jo 4.

   Essa é a visão que se tem, para tanto, bastando erguer os olhos. Neste caso, Jesus cobrou dos apóstolos previamente ser capaz de avaliar a oportunidade que os campos oferecem. E há outra palavra de Jesus que define (1) o teor de Sua mensagem (o evangelho de Deus), (2) a urgência de seu contexto no tempo (o tempo está cumprido) e (3) a imediata atitude a tomar (arrependei-vos e crede no evangelho) definem essa permanente capacidade de avaliação: 

14 "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, 15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Mc 1.

 E no caso da samaritana, exatamenete naquele instante, ocorria Jesus conferir aos apóstlos, consequentemente à igreja, como efeito direto, o modelo de operosidade em relação ao anúncio do evangelho e da salvação. Portanto, enquanto transcorria a conversão da mulher, como resultado, infere-se que: 

1. A comida do Filho, que deve ser a mesma fome da igreja, que é fazer a vontade do Pai; 2. Os campos, permanentemente, estão prontos para essa colheita, que é o anúncio do evangelho, visando a conversão do pecador; 3. As testemunhas de Jesus já trazem consigo, antecipadamente, condições de avaliar essa necessidade urgente e permanente.

  7. A visão é um desafio à identidade da igreja

13 "Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus." Mt 5.

  Essas duas comparações feitas por Jesus, com respeito à eficácia do sal, assim como ao efeito da luz, definem a importância essencial do ministério da igreja. Caso ela não o desempenhe, fica claro, pela palavra de Jesus, que "para nada mais presta". E no cumprimento de sua missão, a qual cabe a cada um de nós, o nome de Deus será glorificado nela.

  Conclusão

  Ser alertado para o cumprimento da vocação, como testemunha de Jesus, pode até depender de visões específicas, em situações distintas e interpessoais, que alertem para a urgência desse chamado. Porém, identificar a necessidade dos campos, mantendo a permanente postura de alerta, da igreja, no cumprimento de missões, é uma característica agregada à sua condição e identidade, com a intensidade com que os homens de Trôade surpreenderam o Espírito Santo.    

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Identidade com o Pai

 ¹⁹ "Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz. ²⁰ Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis." Jo 5.

   Está palavra de Jesus destaca traços da relação entre pai e filho. Ele aplica, de modo pessoal, a sua relação com o Pai, em tudo perfeita.

   Porém, essa perfeição existe como aplicação à nossa própria relação com o Pai, por meio de Jesus, o Filho, visto que também somos, por Deus, feitos seus filhos.

  A palavra "Tu és meu Filho, eu hoje te gerei", específica a Cristo, também se aplica a nós, por termos sido, cada um dos que cremos, feitos Filhos de Deus, por Ele mesmo, batizados pelo Espírito em Cristo Jesus.

  Pois a primeira observação de Jesus a seu próprio respeito é de que era totalmente obediente ao Pai, imitador em perfeição do Pai e amando intensamente, do mesmo modo que o Pai.

   Amor e obediência andam juntos. O próprio Jesus assim ensina:

¹⁰ "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço." Jo 15.

   Neste texto, o Filho afirma que amor e obediência andam juntos, tendo ele aprendido os dois com o Pai. O autor de Hebreus complementa dizendo:

⁸ "...embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu". Hb 5.

  Com Deus, portanto, inicia-se a nossa filiação, o aprendizado do amor, sempre ligado à obediência, somente agora iniciada em nosso viver, como elemento obrigatório para a santidade e perfeição.

¹²  "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus." Fp 3.

   Em  Cristo, como filhos de Deus, somos exortados a imitar Jesus, tendo-o como alvo. E o ministério da Igreja é nos formar à imagem e semelhança do Filho.

¹ "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo." 1 Co 11.

²⁸ "... ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo". Cl 1.

   Herdamos as perfeições do Pai. Deus reparte conosco, por amor, os seus atributos. Pedro, em sua 2ª carta, demonstra um percurso a percorrer, que nos faz coparticipantes da natureza divina. E coloca esse alvo não como opção, mas como identidade.

  E ele mesmo afirma que esse conjunto de elementos da vida cristã concorrem para que, em nós ocorra: (1) libertação das paixões do mundo; (2) não ser infrutuoso ou inativo em Cristo; (3) não sejamos cegos ou relaxados com o pecado; (4) não haver tropeço; e (5) ampla suficiência na entrada no reino.

   Pedro indica como o produto final dessa sequência de fatores é o amor. Começa, como tudo com Deus, pela fé. Segue-se a virtude, a marca dos padrões na nova vida em Jesus.

  Então prossegue-se, como Paulo indica aos Efésios, pelo conhecimento. Aliás, ele diz que conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, torna possível sermos tomados de toda a plenitude de Deus.

   Essa maturidade nos confere o fruto do Espírito, o domínio próprio. Todo o conjunto requer perseverança, a cada passo, para que se reconheça que esses elementos pertencem à vida que provém de Deus.

  Por isso, somente por piedade cristã eles se mantém. E ela somente existe no contexto fraternal da comunhão em igreja. Daí que todos esses fatores, em conjunto, implicam, ou seja, resultam no amor.

  E com o Pai, e como o Pai, do modo como Jesus define sua identidade com ele, realizar as obras de Deus. E Jesus já as definiu num texto desse mesmo evangelho de João:

²⁸ "Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? ²⁹ Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado." Jo 6.

¹² "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai." Jo 14.

   Para logo abaixo dizer:

³⁸ "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. ³⁹ E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. ⁴⁰ De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." Jo 6.

   Nossa identidade é ter sido gerado pelo Pai, experimentar e vivenciar o amor do Pai e, para a glória do Pai, realizar, em nome de Jesus, as mesmas obras do Pai.

   

terça-feira, 6 de agosto de 2024

A Olimpíada não acabou: pelo menos, para alguns

 Não. A nossa Olimpíada não acabou. Vínhamos bem? E nesse caso nunca é treino. É sempre à vera, ou seja, real.

²⁴ "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis." 1 Co 9.

   Deu pra entender? Os que correm no estádio, simulam. Nós, que corremos por fora, pertencemos ao mundo real. E nossa corrida tem alvo bem definido:

¹² "Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus." Fp 3.

  E se trata de uma corrida de obstáculos. Que se faz "desembaraçando-se de todo o peso":

¹  "... desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, ² olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus". Hb 12.

   Pecado não é recreio, simulação ou brincadeira. A não ser que a serpente nos engane. E não nos deixemos enganar: ela não é um ser mitológico.

   É pai da mentira, o que é diferente. E podemos ser, nessa corrida, "mais do que vencedores":

³⁷ "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou." Rm 8.

   Em que "coisas"? Nas coisas que dizem respeito a Cristo. Precisamos, com urgência, resgatar a "sublimidade do conhecimento de Cristo" em nossa vida:

⁸  "Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo". Fp 3.

   Isso não é uma opção. Trata-se do que significa ser crente. Deus deu Cristo à igreja, ou seja, o Filho como dádiva a cada um de nós, para torná-Lo herdeiro de todas as coisas:

²² "E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, ²³ a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas." Ef 1.

   Cristo é a glória de Deus. E a igreja é a glória de Cristo:

¹² ".. a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo". 2 Ts 1.

  Não há outra glória. E não se trata de placa, selo ou lacre. Não foi esse o outdoor que Deus mandou Habacuque escrever na Internet da época. Foi que o "justo vive por fé". E fé é considerar Cristo "Autor e Consumador" dela. Veja Hc 2,4 e Hb 12,2.

   Placa é besteira. Aliás, como diz Habacuque, placa de igreja é soberba, que é o inverso da fé. Por isso que são hiperbólicas, quer dizer, puro exagero: Mundial, Universal, Internacional, para as Nações.

   Delírio. Jesus quer uma conversa íntima, à beira da praia. Vai ensinar a pescar homens (e mulheres), como o bate-papo cabeça com duas delas: a anônima samaritana e Maria, a irmã do amigo Lázaro.

   Elas escolheram a melhor parte. Larga de mão o cântaro, e entra na cidade, para pescar homens. Jesus é sublime. Corre essa carreira na direção certa. Não cessa.

sábado, 3 de agosto de 2024

Combo pago

¹¹ "Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?" Gn 3.

   Conhecemos este trecho das Escrituras. E a resposta evasiva que o homem vai dar. Nela, tenta eximir-se de responsabilidade, ao mesmo tempo que tenta culpar a esposa e ainda, mas remotamente, Deus, que o interpela.

   "A mulher que tu me deste", como resposta a Deus, foca a esposa, como se fosse a responsável pelo erro do homem, e Deus, mais remotamente, como se fosse uma falha divina tê-la criado.

  Essa reposta já se mostra sintomática. Pois o que faltou ao homem, sobrando na mulher, foi sinceridade. Ela dizer "a serpente me enganou, e eu comi" foi a síntese de sua confissão.

   A queda traz um combo ao inverso. Muito diferente das ofertas das praças de alimentação dos shoppings. Junto com a desobediência assumida pelo casal, aobreveio à humanidade, como um todo, um conjunto imprevisível e diverso de malignidade.

   O blefe da serpente:

⁵ "Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." Gn 3.

   Três Fakes: (1) o "Deus sabe" foi blefe, uma mentira posta na boca de Deus; (2) não era abrir olhos, mas fechá-los; (3) jamais seriam "como Deus", como Satanás um dia quis ser, mas se tornaram vítimas do mal.

   Um combo ao inverso. O mal nunca vem sozinho. Existe a entropia natural, como consequência direta da queda: ao mesmo tempo em que o corpo se desenvolve, também envelhece, adoece e, um dia, morre.

   Mas no combo da maldade existe aquela intencional, que afeta a todos, em maior ou menor escala. E não adianta tentar colocar em Deus a culpa, como já tentou o primeiro esposo, para culpar, diretamente, a mulher, e depois, o próprio Deus.

   Tiago já adverte:

¹³ "Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta." Tg 1.

   Junto com a primeira escolha errada vieram todas as demais. Esse é o combo da maldade. Ninguém pôde pagar o preço dele. A não ser Jesus, na sua morte de cruz.

¹⁴ ..."tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz". Cl 2.

   A serpente mentiu. Não há regulação (e nem regulamento) que bloqueie a entrada do pecado na vida. Entra o combo completo. Mas há antídoto para esse mal.

   E trata-se do amor:

⁸ "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores". Rm 5.

   O antídoto para o mal é o amor. E cuidado para não pensar que os efeitos do combo de maldade não nos afetam. Estão dentro de nós, afetam cada um de nós, formam o mundanismo e têm, na serpente, estímulo constante.

   Paulo diz da serpente:

¹¹ "...para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios." 2 Co 2.

   Não se engane a você mesmo. Nem engane a ninguém. Não se deixe enganar. O combo de maldade afetou a todos nós. Mas há vitória em Jesus. Opte por esse preço.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Infinitamente mais

 ²⁰ "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós,21 a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!" Ef 3.

   Ora, aqui, neste início de texto, é conjunção. Paulo Apóstolo está falando de oração aqui. Então ora (aqui, substantivo comum. Aliás, quanto mais comum orar (aqui é verbo) melhor.

  Mas deixando de lado os trocadilhos, vamos ao comentário. Esse começo com "ora", conjunção, é porque antes Paulo havia falado um dos maiores exageros constantes no texto bíblico.

   E são por esses exageros bíblicos que eu costumo dizer que essa gente que contesta a Bíblia não está com nada. Porque os absurdos dela, segundo eles mesmos atacam, não está exarado nos milagres.

   Mas em afirmações como esta abaixo:
¹⁹ "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." Ef 3.

   Factível, o que acima está escrito? Se for, a Bíblia é válida. Esse é o nível de propostas desse Livro. Aceite-se ou não, creia-se ou não. Esse é o milagre.

  Explicitamente: 1. Conhecer o amor de Cristo; 2. Que excede todo o entendimento; 3. Para que (finalidade) sejais tomados; 4. De toda (completo) a plenitude de Deus (do que ser tomado).

    Por isso a conjunção "ora", usada por Paulo, após esse sublime padrão indicado, como se afirmasse "ainda se espera mais o quê"? E ele diz o quê:

   Deus pode fazer infinitamente mais do que (1) pedimos ou (2) pensamos. Pedir e pensar, aqui, demanda maturidade e ser reflexivo em sabedoria.

   Particularmente eu acredito que Deus ouve e responde todas as nossas orações. Lembrando que "silêncio de Deus" e "não" também são respostas. Portanto, o que pedir? E o que pensar?

   Paulo pede que Deus lhe afaste o misterioso "espinho da carne". Tão grave, que o apóstolo esclarece ser um "mensageiro de Satanás" a esbofeteá-lo.

   Por mais que as metáforas não definam do que se trata, o pedido era grave e plenamente justificável. Mas a resposta de Deus foi não. E essa resposta manteve o espinho, por um lado, sofrimento e, por outro, exaltação na vida do apóstolo.

  Moisés pediu para entrar na terra prometida. De antemão, já havia palavra de Deus de que não entraria. Era só refletir sobre o que pedia. E ouviu de Deus, na forma de uma exortação:

²⁶ "Basta! Não me fales mais nisto." Dt 3.

   Jefté promete a Deus sacrificar quem primeiro lhe saísse ao encontro, caso vencesse  os amonitas. Faltou pensar. O Espírito do Senhor dava-lhe assistência.

   Parece ser o voto de Jefté reflexo de sua insegurança. Silêncio de Deus. Gideão havia demonstrado insegurança, tendo Deus enviado a ele um anjo, que o confrontou com a sua vocação.

   Sobre pedir a Deus, pode haver silêncio, assistência de Deus até mesmo por meio de anjos. Mas nunca saberemos por que o silêncio, assim como por que houve assistência de anjos a um e a outro não.

   Deus fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, signfica Ele ouvir todas as orações. Signfica também refletir para somente orar de modo inteligente. E também signfica que, ainda que não peçamos e nem pensemos, Deus pode fazer infinitamente mais.