sábado, 9 de novembro de 2024

Joel e a providência de Deus

    Mas não no sentido usual, de providências diante de uma urgência imediata, ou seja, uma iniciativa a fim de se resolver uma questão premente.

  Providência divina é o conjunto de iniciativas de Deus por meio das quais age na história. E, por ser onisciente e dadivoso, sempre por graça e amor, opera as circunstâncias a favor de seus desígnios de bondade.

    Paulo Apóstolo a Ele se refere como quem age ¹¹ "...segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade". Ef 1.

   E cuja maior iniciativa, a fim de restaurar a Si toda a Sua própria Criação, foi em amor prover-nos do Filho, ¹⁹ "...pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, ²⁰ conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós". 1 Pe 1.

     O profeta Joel nos ensina como Deus faz uso de circunstâncias, às vezes não positivas, como ocorreu com Jó, mas sempre voltadas ao benefício de quem Ele mesmo chamou para Si. Rm 8:

²⁸ "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."

   Houve uma sequência de calamidades provocadas por pragas repetidas de diferentes raças de gafanhotos. Porém, agora ao inverso do que ocorreu com Jó, para instrução de juízo ao povo de Israel.

     Eu lembro, do meu ginasial, década de 70 do século passado, um filminho preto e branco que a professora de geografia projetava.

    Mostrava habitantes da África impotentes, diante de uma horda de gafanhotos, tudo devastando, uma nuvem gigantesca no horizonte, movendo-se em velocidade assustadora, colidindo no parabrisas de um monomotor, colocado em risco de queda.

   Joel exorta a entender essa sucessão de calamidades como um juízo contundente da parte de Deus: Jl 1:

² "Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? ³ Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração. ⁴ O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor."

     Mas os gafanhotos, ora, se fossem somente eles, também tipificacam exércitos do império da hora. Sucederam-se, na época da história bíblica, a partir do século VIII a.,C., assírios, babilônicos, persas, impérios do Oriente, e posteriormente gregos e romanos, impérios do Ocidente.

   Mas não se conhece, ao certo, qual o império da época de Joel. As pragas de gafanhotos, semelhantes às do Egito, que desta vez atingem Israel, também prenunciavam essas invasões.

    E não somente essas, mas trata-se de profecia de dupla referência, ou seja, a especificamente histórica, na época do profeta, as por se cumprir, ao longo da história, ainda em nossos dias ou para o futuro, numa advertência contínua do texto:

¹² "Levantem-se as nações e sigam para o vale de Josafá; porque ali me assentarei para julgar todas as nações em redor. ¹³ Lançai a foice, porque está madura seara; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande. ¹⁴ Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão." ¹⁵ O sol e a lua se escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor." Jl 3.

   Joel indica, como num termômetro, os sinais do Dia do Senhor. Este consta na agenda de Deus, como o dia em que todas as nações serão convidadas para comparecer diante dEle. Ezequiel e o próprio Apocalipse utilizam-se dessa mesma metáfora. Jl 2:

¹ "Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do Senhor vem, já está próximo; ² dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração." 

   Esse bailado dos exércitos das nações, a multiplicação da iniquidade, como nos dias de Noé, assim como sinais provenientes dos astros, nos céus, vão ser indicadores desse tempo e categoria de juízo, do qual Israel, naqueles dias, tornou-se modelo:

⁵ "Ébrios, despertai-vos e chorai; uivai, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque está ele tirado da vossa boca. ⁶ Porque veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável; os seus dentes são dentes de leão, e ele tem os queixais de uma leoa. ⁷ Fez de minha vide uma assolação, destroçou a minha figueira, tirou-lhe a casca, que lançou por terra; os seus sarmentos se fizeram brancos." Jl 1.

   Porém, o mais preciso dos sinais, trazendo com ele a redenção, por amor, do gênero humano, Joel descreve, em meio à temática de sua escatologia (escato = final + logia = estudo):

²⁸ "E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; ²⁹ até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias." Jl 2.

   Esta profecia Jesus a confirma, no diálogo com seus discípulos, assim como Pedro menciona, no seu primeiro sermão após a ressurreição de Jesus, no Pentecostes, citando Joel, em sua referência às Escrituras.

   A profecia do derramamento do Espírito, como Joel a proferiu, constitui-se num dos maiores sinais de redenção da humanidade por meio da bênção do evangelho.

   É essa palavra o próprio Espírito confirma, tanto do modo como Pedro pregou, em seu sermão, quanto Paulo atesta aos Efésios:

³⁷ "Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?³⁸ Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2

   E Paulo, com respeito a Cristo, diz:
¹³ "...em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; ¹⁴ o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória." Ef 1.

   Providência divina é antecipação, no amor, da dádiva de Sua graça, por meio de Jesus, em reposta à grande ansiedade de toda a humanidade. Joel indica a conversão como acesso a essa graça, desde e ainda no Antigo Testamento, como a principal ênfase profética, por se manifestar, de forma flagrante e completa, nos tempos do Novo Testamento, pelo Espírito, no batismo em Jesus:

¹² "Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. ¹³ Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. ¹⁴ Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação para o Senhor, vosso Deus?" Jl 2.

   Rasgar o coração é a marca do arrependimento verdadeiro. No Antigo Testamento, a circuncisão foi, desde os tempos de Abraão, sinal profético da conversão, somente possível pelo poder de Deus. Paulo assim indica aos Romanos:

²⁹ "Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus." Rm 2.

   Joel adverte que até bêbados, no entendimento, façam uma leitura precisa do agir de Deus. Porque somente a conversão ao Senhor redime. E na agenda de Deus, há um prazo para que toda a humanidade entenda. Porque haverá um dia da decisão, ao qual todas as nações vão comparecer.

  Desmarquem a urgência de sua agenda. Ponham reparo nos sinais do Senhor. Porque há vigência de uma convocação à qual todas as nações comparecerão. Então, enquanto é tempo, rasguem o coração e se convertam.

  "Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão".

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Cânticos de Louvor no Apocalipse - Introdução

 

 O Apocalipse inicia com uma introdução, comum a todo livro desse gênero, legitimando fonte e portador da profecia:

1 "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, 2 o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu." Ap 1. 

  E uma bem-aventurança, em tom de advertência, a quem encarar com a devida seriedade o que vai escrito: 

"Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo." Ap 1.

   A seguir, procede-se à dedicatória a quem se encaminha o texto dessa profecia. No caso deste Apocalipse bíblico, o único entre uma vasta relação a constar no Cânon, temos o nome literal de seu autor. Em quando se refere a Jesus, seus legítimos títulos e a síntese de sua obra a favor dos que nela creem: 

4 "João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono 5 e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra." Ap 1.

  E logo ao final desta dedicatória um primeira lauda, no livro, de exaltação à Pessoa de Jesus, seguida da expressão de identidade dos que nEle creem: 

"Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" Ap 1.

   Logo após, João dedica-se a descrever a primeira visão do livro, a qual descreve Jesus, que nela aparece, estilizado já na simbologia típica do livro, o diálogo que se dá entre eles e o textos das Sete Cartas dirigidas às 7 igrejas.

  Esse conjunto de textos, que compreende esta introdução, dedicatória e a ordem da primeira visão do livro, antecedem tudo o mais que vai se seguir, no texto da profecia, bem definido que as igrejas, não somente essas sete do circuito da Ásia Menor, mas as demais de todos os tempos, a elas está definitivamente dedicado o quem vem a seguir.

 

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Habacuque e a causa da violência

    Uma das mais frequentes argumentações contra a existência de Deus, segundo afirmam os que não acreditam, reside na existência e na operância da maldade.

  Habacuque, o profeta, de modo franco num diálogo com Deus, denuncia a violência, como se reclamasse contra a indiferença divina: Hc 1:

² "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?"

  Muito cedo na narrativa bíblica temos encontro marcado com a violência gratuita. Por incrível que pareça, ainda na família do primeiro casal, ela mostra sua força sem argumento.

  Caim, por iniciativa própria, decide ofertar a Deus das primícias da terra. Abel, seu irmão, decide pelo sacrifício de um cordeiro, ambas ofertas legítimas como, posteriormente, instruirá o Levítico.

     Mas Deus, que olha o coração, acolheu a oferta de Abel, mas rejeita a de Caim. Ora, parece estarmos diante do primeiro conflito por motivo religioso, os piores da história. Ah, sim, recheados de violência.

    Deus procura Caim, denuncia um semblante que não esconde intenções e adverte que o mal que ele acolhe, em si mesmo, compete a ele dominar. Gn 4.

⁶ Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? ⁷ Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo."  

  E o trato dado por Deus a essa iniciativa da condição humana nos surprende. Porque, configurada a ameaça da violência, reconhecida  e identificada pelo próprio Deus, vai intervir de modo direto, denunciando suas raízes e chamando à conversão.

   E, de certo modo, antecipa a perplexidade do profeta, porque interpela, como num apelo, o protagonista dessa violência primordial. Deus reconhece a intenção perversa e convida Caim à conversão, a única maneira de anular o sentimento que gera toda a violência: o pecado.

   Mas não procura Abel, para prevenir ou mesmo proteger. Abel revela sua fé, é aceito por Deus, mas não há, por isso, garantia de que a violência não o alcançará. E quanto ao irmão, deve ter saído do diálogo com Deus dizendo, consigo mesmo, inútil, porque vou matar o meu irmão.

  Parece que o caso Caim X Abel reforça a perplexidade de Habacuque, basta reler acima o seu libelo queixoso dirigido a Deus. Como se questionasse, ora, Deus vai encarar o sentimento de violência convocando o potencial violento à conversão?

  E a resposta de Deus à violência será sempre a opção pela fé. Provavelmente, Deus esteja querendo dizer que somente viver por fé será o antídoto contra toda e todo o tipo de violência. Porque o justo vive por e de sua fé, não pratica  violência. Como já diz Jesus, os mansos é que herdarão a terra. Habacuque obteve sua resposta: Hc 2:

² "O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. ³ Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. ⁴ Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé."

   É definitivo. A soberba afasta da fé. Habacuque precisou reconhecer que a opção de seu povo foi por bastar a si mesmo, escolher o caminho diverso e ao inverso da opção de fé. 

  E a opção pela fé vale, individualmente, como foi proposta a Caim, assim como coletivamente, para toda a nação de Israel, uma vez com ela confrontada, seja para praticá-la ou não.

   Habacuque profetiza num tempo em que a invasão babilônica é latente. O império da hora vai exigir para si a ocupação da Palestina, mais exatamente o reino que restou, no sul, cuja capital era Jerusalém.

  E vai chegar, a principio, exigindo somente tributos, em 605 a.C., provável ano do início do ministério de Jeremias. Retornarão em 597, para coibir o esboço de revolta de Jeioaquim, que quase consegue matar Jeremias, após rasgar e queimar o rolo que esse profeta havia escrito.

   E finalmente, em 586 a.C., virão efetuar o cerco, que vai durar 2 anos, até que toda a cidade seja incendiada, derrubadas as muralhas e o Templo deixado em ruínas. 

   Foi também a escolha de Caim. Quando Deus dá o diagnóstico, é melhor render-se à fé. O diagnóstico é a soberba. E o único antídoto é a fé. Por isso Deus convida à conversão, como fez o próprio Jeremias a todo o povo, pouco tempo após a profecia de seu colega Habacuque:

⁴ "Circuncidai-vos para o Senhor, circuncidai o vosso coração, ó homens de Judá e moradores de Jerusalém, para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras." Jr 4.

   Jeremias, certa vez, ainda com o Templo de pé, foi enviado por Deus a confrontar um profeta soberbo. Ele, com a maioria dos demais falsos profetas, contrariava o que Jeremias afirmava sobre o cativeiro babilônico, às portas.

   Era isso que assustava Habacuque. Ele era obrigado, pelas circunstâncias, a concordar com Jeremias. O falso profeta Hananias dizia que o exílio duraria 2 anos. Mas dois anos foi o cerco à cidade, descrito nas Lamentações. O exílio durou 70 anos.

  Mesmo antes, durante e depois do exílio, o justo vive por fé. Ainda que a soberba iluda e derrube por terra, deixe prostrado e humilhado, a fé prevalece. Ela sempre será opção. E quem por ela optar, por ela será justificado. É assim desde o justo Abraão:

¹ "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; ² por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus." Rm 5.
  
  A fé que não justificou Caim. Israel, como nação, seguiu esse mesmo caminho de soberba: todo o crédito a si mesmo, nenhum a Deus, vivendo como se nunca O conhecesse. Jeremias viu mais fidelidade das nações aos ídolos do que de Israel a seu Deus:

¹¹ "Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito." Jr 2.

   A prisão está dentro. O pecado cativa para si. É Deus que define qual seja a raiz: o pecado está dentro, o desejo dele é homicida e ao homem/mulher cumpre dominar. E somente a conversão ao Senhor concede vitória.

   O justo viverá por fé. Estamos diante da opção, seja a de de Caim ou a de Abel. Este, mesmo depois de morto, ainda fala. Escreve a visão.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Naum: uma aula sobre o juízo de Deus

 Lendo Naum, não há como não lembrar de Jonas, associado ao fato de que este gostaria muito de dar a notícia do outro, agora intitulada "sentença contra Nínive".

  E o livro começa como que, de antemão, indicando o agir de Deus quando se trata de julgar a conduta humana: Na 1:

² "O Senhor é Deus zeloso e vingador, o Senhor é vingador e cheio de ira; o Senhor toma vingança contra os seus adversários e reserva indignação para os seus inimigos." 

   Costuma-se, com frequência, inverter uma ordem básica nas Escrituras. Nelas, Deus se revela. Ao contrário de se avaliar que Ele carece de nossas opiniões a Seu respeito, ou de que, o que nelas está escrito é puramente diletante, ou seja, aleatório sobre Deus ou de autoria duvidosa.

   E um dos itens que mais causa estranheza é uma atribuição específica dEle, que é exercer juízo, talvez a capacidade em Deus a mais negada por direito, que Ele a exerça.

   E Naum avança em seu raciocínio. Aliás, neste início de sua profecia, Naum dá uma aula de exercício do juízo divino à qual, muito infelizmente, Jonas não pôde comparecer: havia falecido mais de 100 anos antes:

³ "O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado; o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés." Na 1.

   Sim. Deus demora a se irar. Mas jamais inocenta o culpado. Não há ninguém mais apto a exercer juízo do que o próprio Deus. E nenhuma culpa deixará isenta.

  Fazendo um parêntese, nenhum/nenhuma são pronomes indefinidos, no caso aqui sinônimo de todos ou de qualquer, signficando que toda e qualquer falta jamais será inocentada.

    As Escrituras registram o versículo que afirma "Deus é amor". Porém Paulo Apóstolo recomenda considerar "a bondade e a severidade de Deus". E o autor de Hebreus afirma que "Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo".

   Um dos principais, talvez o primeiro sentimento que deve nutrir quem, legítima e verdadeiramente, aproxima-se de Deus é o temor. Paulo chega a mencionar "temor e tremor".

   Alguém já disse que medo é segurança. Não o medo doentio, a fobia, mas a consciência do perigo, o alarme pela preservação da vida, reação à buzina que impede a colisão, que pode ser fatal. Fp 2:

   Paulo afirma: ¹² "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor". 

    E Naum denucia de Nínive: ¹¹ "De ti, Nínive, saiu um que maquina o mal contra o Senhor, um conselheiro vil." Na 1.

    Sim, há quem blasfeme de Deus, supondo ou não que ele exista. Ridicularizando Sua pessoa, existência ou ainda os que nEle creem. Ou quem deseja forjar um deus segundo si mesmo.

   E há quem pensa poder continuar, pela vida em fora, expressão de Cid, meu pai, sem o temor de Deus, sem a Ele obedecer, sem aspirar a Sua glória e santidade, desejar Lhe ser imitador ou alvo específico do Seu amor.

   Melhor que seja assim. Houve um dia arrependimento e oportunidade de Deus para Nínive. Ela não está sozinha. Há nas Escrituras, assim como fora delas, na história, cidades que seguiram ou seguem seu mau exemplo: Na 3:

¹ "Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo e que não solta a sua presa!"

   Quando se fala de cidades, trata-se do povo dentro delas. Desde o ajuntamento em Babel, quando a intenção muitas vezes não é boa e nem é inocente. 

⁴ "Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra." Gn 11.

   Esse desvio prolonga-se pela história afora, em requintes de iniquidade. A elas e a esse povo, por pura misericórdia, Deus envia seus profetas. Que se arrependam, como ocorreu a Nínive nos tempos de Jonas, embora não fosse essa a mensagem que gostaria de ter pregado. Caso não haja arrependimento: Na 3:

¹⁹ Não há remédio para a tua ferida; a tua chaga é incurável; todos os que ouvirem a tua fama baterão palmas sobre ti; porque sobre quem não passou continuamente a tua maldade?"

    São os habitantes. Somos os habitantes. Mas se há uma cidade, é aquela que desce do céu, prometida nas Escrituras, a Nova Jerusalém, onde, como aponta Ezequiel, outro profeta, o Senhor está ali. Onde sempre quis e quer estar, habitando no meio dos louvores de Seu povo, repartindo com eles a Sua glória.

   Ora, como já afirma o salmista:
² "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo'. E esta é insaciável, porque sempre renovável.

domingo, 3 de novembro de 2024

A luz da candeia e a Estrela da Alva

 ¹⁶ "Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade." 2 Pe 1.

   O poder de Deus dado a conhecer, segundo Pedro atesta ter feito, diz respeito à segurança que vem por meio da fé. As Escrituras não são livros escritos para comprovar que Deus existe.

   Mas foram escritas para conduzir à fé em Deus. Por isso Pedro lembra aos irmãos que não segue "fábulas engenhosamente inventadas".

  As Escrituras, em Gênesis, iniciam com "No princípio, Deus". Portanto, já se trata de um dado assumido. E prossegue afirmando que "criou os céus e a terra".

   Tudo à volta visto é criação de Deus. E o autor de Hebreus já antecipa as descobertas que um dia, com os avanços da ciência, todos iríamos conhecer: ³ "Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem." Hb 11.

¹⁷ "... pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. ¹⁸ Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo." 2 Pe 1.

   Por duas maneiras Pedro confirma a si próprio como testemunha: (1) testemunha ocular; (2) ter ouvido a voz vinda do céu. Trata-se de uma evidência específica para os apóstolos.

   Quem, por acaso, achá-la fraca ou incompatível com evidências mais sofisticadas, terá de desacreditar não que tenha ocorrido, mas se o Deus que existe seria capaz de o fazer.

  Ontem se comemorou um dia de tantas crendices e da facilidade com que o ser humano se deixa levar, exatamente, por fábulas engenhosamente (ou nem tanto) inventadas.

  Então, quando Deus concede prova audível e visível, não é encarado como suficiente. Paulo aponta para quão facilmente, nestes últimos dias, as pessoas se deixarão enganar: 2 Tm 4:

² "... prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. ³ Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; ⁴ e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas."

¹⁹ "Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração." 2 Pe 1.

    Pedro menciona as fábulas, das quais está vacinado, mas há gente desavisada que não dá atenção à palavra de Deus, apta a conceder a "fé que vem pelo ouvir", entregando-se ao engano.

   E essa candeia atravessa a história, por meio das Escrituras. Lutero foi um homem que Deus usou para apontar seus efeitos. Ele desburocratizou a fé.

  Sola Escriptura, deixou somente com a Bíblia a fonte única e legítima da palavra de Deus. A Igreja Católica prescreve Escrituras, Tradição e Magistério. E ainda acrescenta ao AT mais 7 livros não inspirados.

  Sola fide, ou seja, somente pela fé, e Sola Gratia, somente pela graça, reafirmando o que as próprias Escritiras já dizem: ⁸ "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; ⁹não de obras, para que ninguém se glorie." Ef 2.

  Somente Jesus, porque não há outro mediador entre Deus e os homens e não há salvação em nenhum outro nome:

⁵  "Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, ⁶ o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos." 1 Tm 2.

¹² "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos." At 4.

  Somente a Deus glória, porque ele não a reparte com nenhum outro, somente Jesus dela participa, mas concedeu-a à igreja:

²² "Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; ²³ eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim."

  Por isso podemos ter confirmada a palavra profética: das Escrituras:

²⁰ "... sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; ²¹ porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo." 2 Pe 1.

   Não é por diletante escolha que foi escrita. Não foi por iniciativa ou ideia puramente humana que foi escrita. Mas Deus moveu, por seu Espírito, cada autor: 2 Tm 3.

¹⁶ Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, ¹⁷ a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra."

   E Lutero resgatou o entendimento do que Pedro afirma sobre o sacerdócio universal do crentes em Jesus: cada um que crê adminsitra sua própria vida cristã. Nada mais livre, diante de Deus, ao mesmo tempo que total e unicamente responsável. 1 Pe 2:

⁹ "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". 

   A candeia inflama nosso coração e a estrela da alva, que é Jesus, nele resplandece:

² "Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos da estrebaria." Ml 4.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Falando sobre a Reforma - 31 de outubro e 509 anos

¹⁹ “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração”. 2 Pe 1.

"Pois quando esta luta estava no auge que um protesto contra um abuso eclesiástico, feito em 31 de outubro de 1517, e de modo nada usual ou maneira espetacular, por um monge professor de recentemente fundada e relativamente obscura universidade alemã, alcançou imediata resposta e provocou a maior revolução na história da Igreja Cristã. Martinho Lutero, autor do protesto, é um dos poucos homens de quem se pode dizer que sua obra alterou profundamente a história do mundo. Não era organizador nem político. Movia os homens pelo poder de profunda fé religiosa resultante de inalterável confiança em Deus e relação direta, imediata e pessoal corri Ele. Isto trazia segura salvação, que não dava lugar à elaborada estrutura hierárquica e sacramentai da Idade Média." (WALKER, 2006)

A Reforma Protestante

Lutero

Lendo sobre Lutero, a gente imagina até onde qualquer pessoa pode ir com Deus. E essa reflexão, em grande escala, somente se tornou possível pela iniciativa desse monge alemão. 

  O ponto de partida, muito embora, hoje, olhando para trás, sua figura seja alvo de polêmicas, muitas vezes indignas, não foi uma falas pretensão de sua pessoalidade.3

  Lutero discutiu e lançou bases para uma das mais assustadoras temeridades de qualquer intenção de controle, que é a prioridade para toda a ambição de poder. 

     Liberdade

 Liberdade. Ele pretendeu conceder autonomia de pensamento às pessoas. E sua sugestão afetou de cheio a seriação que estava na ordem do dia de seu tempo, que era a opção entre o controle de poder antigo e uma sugestão de independência configurada. 

  Houve implicações na escala maior de governança, mas também alcançou o cidadão comum. Nesse sentido, a intenção pessoal de Lutero combinava com a individualidade,  Aliás, a síntese que ficou conhecida como "Cinco Solas" bem expressa a amplitude dessa reação luterana. 

    Os 5 Sola (Somente)

  Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Soli Deo Gloria. Por se tratar do latim, nossa língua mãe, a gente percebe estar envolvidas Fé, Escritura, Cristo, Graça e Deus. 

  Pois são esses elementos, em síntese, que conferem a tão perigosa autonomia e liberdade, no caso específico, religiosa, mas que também, no contexto social da época repercutiu por todas as demais categorias da vida.

Breve histórico

A Reforma Protestante teve causas relacionadas a aspectos políticos, econômicos e teológicos, sendo também  resultado da corrupção existente na Igreja Católica. No aspecto teológico, o ponto imediato a ser destacado é a insatisfação com as práticas da Igreja que era, naquele período, a maior autoridade da Europa Ocidental e detinha um imenso poder.

As críticas à Igreja Católica tiveram seu ápice em Martinho Lutero, monge agostiniano e professor de Teologia. Lutero estava insatisfeito com certas condutas da Igreja, sobretudo com as indulgências, prática que acontecia por meio dos dízimos, peregrinações e donativos feitos pelos fiéis em troca do perdão de seus pecados. Além de discordar de aspectos teológico a respeito da salvação.

O monge

Com isso, o monge elaborou um documento conhecido como 95 teses. No qual manifestava sua oposição teológica às práticas da Igreja de Roma. Esse documento foi afixado na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, e enviado ao arcebispo de Mainz, Alberto de Brandemburgo, em 31 de outubro de 1517. Sua intenção era levantar um debate e propor reformas dentro da Igreja.

Martinho Lutero defendia, basicamente, que a Bíblia é a única referência de fé e prática e que a salvação não depende da mediação de pessoas, da prática de indulgências ou dos sacramentos. A base teológica de Lutero era o versículo bíblico do livro de Romanos, capítulo 1, verso 17, que afirma: “o justo viverá pela fé”. Aqui, Lutero passou a defender que não são as boas ações que salvam uma pessoa, mas sim a sua fé em Cristo.

Os 5 Solas

A construção teológica iniciada por ele deu origem a um princípio conhecido como Cinco Solas:

1. Sola fide (somente a fé)

2. Sola scriptura (somente a Escritura)

3. Solus Christus (somente Cristo)

4. Sola gratia (somente a graça)

5. Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

Outros líderes

Antes de Lutero, já havia casos de cristãos que contestaram princípios e práticas da Igreja Católica. Os historiadores destacam Jan Hus e John Wycliff como nomes de uma pré-reforma. Eles questionavam a riqueza da Igreja, a acumulação de poder temporal e a corrupção existente no clero.

As ideias de Martinho Lutero espelharam-se pela Europa e a Reforma também aconteceu em outros países. A partir de então, surgiu o protestantismo, vertente do cristianismo que rompeu com a Igreja Católica, resultando na conversão de milhares de pessoas e no surgimento de outros reformadores, como João Calvino e Philipp Melanchthon.

Resultados

O protestantismo é caracterizado por:

  • A Bíblia como a única fonte de autoridade divina
  • A salvação pela fé, e não por boas obras
  • Jesus Cristo como o único intermediário entre Deus e os homens
  • A manutenção de duas ordenanças: o batismo e a Santa Ceia.
     Ecclesia semper reformanda est. Esta frase latina signfica "A igreja deve estar sempre em reforma". Este é o sentido e a dinâmica do evangelho. Deus usou Lutero para retonarmos a esse sentido do poder do evangelho e da dinâmica da igreja. Dentro da história, porém na dinâmica da eternidade. Vida plena em Cristo.

Historinha de Lutero:

História do hino Castelo Forte: