Mas não no sentido usual, de providências diante de uma urgência imediata, ou seja, uma iniciativa a fim de se resolver uma questão premente.
Providência divina é o conjunto de iniciativas de Deus por meio das quais age na história. E, por ser onisciente e dadivoso, sempre por graça e amor, opera as circunstâncias a favor de seus desígnios de bondade.
Paulo Apóstolo a Ele se refere como quem age ¹¹ "...segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade". Ef 1.
E cuja maior iniciativa, a fim de restaurar a Si toda a Sua própria Criação, foi em amor prover-nos do Filho, ¹⁹ "...pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, ²⁰ conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós". 1 Pe 1.
O profeta Joel nos ensina como Deus faz uso de circunstâncias, às vezes não positivas, como ocorreu com Jó, mas sempre voltadas ao benefício de quem Ele mesmo chamou para Si. Rm 8:
²⁸ "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."
Houve uma sequência de calamidades provocadas por pragas repetidas de diferentes raças de gafanhotos. Porém, agora ao inverso do que ocorreu com Jó, para instrução de juízo ao povo de Israel.
Eu lembro, do meu ginasial, década de 70 do século passado, um filminho preto e branco que a professora de geografia projetava.
Mostrava habitantes da África impotentes, diante de uma horda de gafanhotos, tudo devastando, uma nuvem gigantesca no horizonte, movendo-se em velocidade assustadora, colidindo no parabrisas de um monomotor, colocado em risco de queda.
Joel exorta a entender essa sucessão de calamidades como um juízo contundente da parte de Deus: Jl 1:
² "Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? ³ Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração. ⁴ O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor."
Mas os gafanhotos, ora, se fossem somente eles, também tipificacam exércitos do império da hora. Sucederam-se, na época da história bíblica, a partir do século VIII a.,C., assírios, babilônicos, persas, impérios do Oriente, e posteriormente gregos e romanos, impérios do Ocidente.
Mas não se conhece, ao certo, qual o império da época de Joel. As pragas de gafanhotos, semelhantes às do Egito, que desta vez atingem Israel, também prenunciavam essas invasões.
E não somente essas, mas trata-se de profecia de dupla referência, ou seja, a especificamente histórica, na época do profeta, as por se cumprir, ao longo da história, ainda em nossos dias ou para o futuro, numa advertência contínua do texto:
¹² "Levantem-se as nações e sigam para o vale de Josafá; porque ali me assentarei para julgar todas as nações em redor. ¹³ Lançai a foice, porque está madura seara; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande. ¹⁴ Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão." ¹⁵ O sol e a lua se escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor." Jl 3.
Joel indica, como num termômetro, os sinais do Dia do Senhor. Este consta na agenda de Deus, como o dia em que todas as nações serão convidadas para comparecer diante dEle. Ezequiel e o próprio Apocalipse utilizam-se dessa mesma metáfora. Jl 2:
¹ "Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do Senhor vem, já está próximo; ² dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração."
Esse bailado dos exércitos das nações, a multiplicação da iniquidade, como nos dias de Noé, assim como sinais provenientes dos astros, nos céus, vão ser indicadores desse tempo e categoria de juízo, do qual Israel, naqueles dias, tornou-se modelo:
⁵ "Ébrios, despertai-vos e chorai; uivai, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque está ele tirado da vossa boca. ⁶ Porque veio um povo contra a minha terra, poderoso e inumerável; os seus dentes são dentes de leão, e ele tem os queixais de uma leoa. ⁷ Fez de minha vide uma assolação, destroçou a minha figueira, tirou-lhe a casca, que lançou por terra; os seus sarmentos se fizeram brancos." Jl 1.
Porém, o mais preciso dos sinais, trazendo com ele a redenção, por amor, do gênero humano, Joel descreve, em meio à temática de sua escatologia (escato = final + logia = estudo):
²⁸ "E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; ²⁹ até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias." Jl 2.
Esta profecia Jesus a confirma, no diálogo com seus discípulos, assim como Pedro menciona, no seu primeiro sermão após a ressurreição de Jesus, no Pentecostes, citando Joel, em sua referência às Escrituras.
A profecia do derramamento do Espírito, como Joel a proferiu, constitui-se num dos maiores sinais de redenção da humanidade por meio da bênção do evangelho.
É essa palavra o próprio Espírito confirma, tanto do modo como Pedro pregou, em seu sermão, quanto Paulo atesta aos Efésios:
³⁷ "Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?³⁸ Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo." At 2
E Paulo, com respeito a Cristo, diz:
¹³ "...em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; ¹⁴ o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória." Ef 1.
Providência divina é antecipação, no amor, da dádiva de Sua graça, por meio de Jesus, em reposta à grande ansiedade de toda a humanidade. Joel indica a conversão como acesso a essa graça, desde e ainda no Antigo Testamento, como a principal ênfase profética, por se manifestar, de forma flagrante e completa, nos tempos do Novo Testamento, pelo Espírito, no batismo em Jesus:
¹² "Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. ¹³ Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. ¹⁴ Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação para o Senhor, vosso Deus?" Jl 2.
Rasgar o coração é a marca do arrependimento verdadeiro. No Antigo Testamento, a circuncisão foi, desde os tempos de Abraão, sinal profético da conversão, somente possível pelo poder de Deus. Paulo assim indica aos Romanos:
²⁹ "Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus." Rm 2.
Joel adverte que até bêbados, no entendimento, façam uma leitura precisa do agir de Deus. Porque somente a conversão ao Senhor redime. E na agenda de Deus, há um prazo para que toda a humanidade entenda. Porque haverá um dia da decisão, ao qual todas as nações vão comparecer.
Desmarquem a urgência de sua agenda. Ponham reparo nos sinais do Senhor. Porque há vigência de uma convocação à qual todas as nações comparecerão. Então, enquanto é tempo, rasguem o coração e se convertam.
"Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão".
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