sexta-feira, 10 de maio de 2024

Com que olhos ver

 ⁸ "Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6.

   Isaías afirma que ouviu a voz de Senhor, que expressava esse apelo. Ainda que suspeitássemos dessa afirmativa do profeta, poderíamos considerar alguns detalhes.

   Foi o único que ouviu? Pelo menos, aos que deseja enviar, Deus faz esse mesmo apelo? Porque a sentença soa como a generalização de um dilema: Deus sempre deseja enviar e há sempre falta de quem queira ir.

   Seria, então, essa expressão "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?" apenas retórica? Ou podemos confirmar, mais ainda que, além de ser dirigida a todos e demais quaisquer profetas, podemos confirmar que esse apelo é dirigido a todos?

   Evidentemente, a todos os que creem. Porque, para começo de conversa, como se diz, começa por ler, nesse texto, autenticidade. Trata-se das Escrituras, do testemunho do chamado pessoal do profeta e do modo como se viu diante de Deus: "Eu vi o Senhor".

   E ouviu também. Com que olhos vemos Deus? Caso diga que seriam esses, os físicos, não são esses os olhos da fé, como instrui a Bíblia. Porque estes, os físicos, enganam.

  E quando não são eles, que enganam, será o coração, como comenta Jeremias, que engana. Por isso a Bíblia afirma, por boca de Jesus, "Felizes os que não viram e creram".

   Ao profeta Deus concedeu, sim, a visão que ele descreve. Mas afirmar, como destrato, que se não houver visão semelhante a essa não haverá chamado, vocação ou envio, é fake.

   Porque Jesus, na conversa com a samaritana, quando interpelado pelos apóstolos, aliás, que avaliavam como imprudente aquela atitude de Jesus, ele mesmo que diz:

³⁵ "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa."

   É Jesus que exorta a não ficar esperando uma visão pseudocarismática, mas erguer olhos e olhar os campos. Deve ter sido mesmo Jesus que lançou a frase "O campo é o mundo".

   Porque essa outra, "Porque Deus amou o mundo", foi Ele, com certeza. E porque Deus amou o mundo, o campo é o mundo, ou seja, todos e cada um. E a visão se tem, ao erguer dos olhos.

  Claro que os olhos físicos contam. Principalmente, depois do que o amor de Cristo opera em cada vida que Ele encontra. A samaritana, por exemplo:

²⁸ "Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: ²⁹ Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! ³⁰ Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele." Jo 4.

   Ela foi correndo procurar os que mais perto dela estavam. Largou o cântaro. Devem ter perguntado a ela, mas e o cântaro? Ela respondeu com o convite acima: "Vinde comigo, vede o homem que diz tudo".

   Jesus é o homem que diz tudo. Ele simplifica nossa perplexidade em relação à vida. Jesus preenche a existência. Por isso disse, sem nenhuma exorbitância, quando Tomé se viu desorientado:

⁵ "Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? ⁶ Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." Jo 14.

   Sim. Esse "Quem há de ir por nós?" não é retórico. Beira o dramático. E é a Trindade que assim se expressa. Deus carece de que atendamos esse chamado. Sim, é pada todos os que creem. Todos somos profetas. E a visão, basta erguer os olhos e, como Paulo (mais um dos que atendeu), ver com os "olhos do coração".

Um comentário:

  1. Que possamos ser um missionário onde quer que estejamos. O Senhor é conosco. AMÉM!!!

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