domingo, 30 de junho de 2024

Amarrados com cordas de amor

Erlon, com a bola, e 
Eber, o Binho

    Mais hora, menos hora, vem. Nunca bem-vinda. O profeta Obadias, menor livro do Antigo Testamento, profetiza o tamanho da maldade em desejá-la até para o pior inimigo:

  ¹² "Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu desafeto, o dia da sua calamidade; nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca cheia, no dia da angústia". Obadias.

  Nem para o inimigo devemos agourar a morte. Dói igual. Se não nos igualamos, quando em vida, quando mesmo, disfarçando, sem nenhuma relutância, achamos ser melhor do que o outro, vem a morte e nos iguala.

   Primo Binho, nosso amado, você disse que o caçula lhe passou a perna. Mas se não fosse assim, ele estaria hoje triste desse mesmo jeito. São unha e carne.

   Qualquer expressão que signifique esse apego de amor. Aqui no Acre o domingo está frio e nublado. Um domingo triste, eu diria. A gente não é para ser sepultado em dia nenhum. Mas parece que, sendo domingo, é premeditado.

   Não precisa ser domingo, Caçula, porque você é inesquecível. Veja bem, não estou te idolatrando. Porque o seu lugar sempre foi garantido.

   Em cada coração. E nem estou enaltecendo, além da conta, a nossa família. Porque também não precisa. Basta a gente, nesse silêncio do coração, lembrar cada nome.

   Nem precisa mencionar. Só lembrar. Essa gente foi pura dedicação. Gerou-nos, cuidou, disciplinou, até com palmadas, algum chinelo, talvez cintas e beliscões.

   Levou à escola e trouxe, alimentou, aconselhou, orou com a gente, levou à igreja, contou histórias à beira da cama, sorriu para nós. Até quando percebemos que houve carestia, foram nobres, contidos e até sacrificiais, quando necessário.

   Erlon, Caçula, você era econômico até no sorriso. Fala mansa, tom de baixo volume, com um sorriso insinuante, desenhado de manso no seu rosto maroto.

   Eu acho que posso dizer que sorrisos são a marca dessa família. É o DNA do sorriso. Não me sai da memória o de nossa avó Eunice. O de Tula também que, embora mais caladão, quando rasgava o rosto com o dele, eu pensava comigo, aprendeu com Eunice.

   Lembro o vô Tula, caramba, como, certa vez, conversou longamente comigo, ali, naquele mesmo muro e portão, feitos por ele, daquela casa de esquina da Dr. Rufino.

   Apontava, com o outro dedo, compensando o indicador ausente, as serras do Gericinó onde, à beira delas, agora, descansam também tia Maninha e primo Erlon.

   Lembrei agora, entre os sorrisos, o de meu tio Eber. Também aprendeu, e imitava, o de sua mãe. E, para contrabalançar, o tom grave do olhar de Iracema, em certas horas. Esse viés sério, olhar de lado, que vejo hoje na prima Bela (leia /ê/).

  Iracema lia o pensamento de Eber. Outro profeta, agora Oseias, menciona "cordas de amor":

⁴ "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer." Oseias 11.

   Família, estamos amarrados com cordas de amor. Nem tentem, não adianta, porque cordas de amor nunca arrebentam. Lembrem, de novo, os nomes: pode conferir, nossos pais, sim, como foram, barro batido, pó da terra, feito nós, com virtudes e vícios, nos ensinaram e nos amarraram com cordas de amor.

   Domingos sejam lembrados, sim, com um traço de tristeza, profunda, sincera, inevitável. Mas são dias de amor. O amor nunca acaba.

¹³ "O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará". 1 Co 13.

   Vamos seguir amando. Sorrindo. Lembrando. Agradecidos. Fortalecidos. Consolados. Saudando a vida, pelo tempo que ainda nos resta. Porque estamos amarrados por cordas de amor. 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Nada razoável

 ⁴ "Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte." Jn 4.

   Síndrome: "conjunto de sinais e sintomas que define as manifestações que indicam condições clínicas". Duas vezes Deus perguntou a Jonas se a ira dele era razoável.

   O Altíssimo deve ter, com todo o respeito que lHe é devido, problemas com RH - Recursos Humanos. Não podemos dizer que lHe falta assessoria, porque consta nas Ecrituras:

⁹ "...segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade". Ef 1.

   Portanto, ao escolher Jonas, a quem, dizem as mesmas Escrituras, "veio a palavra do Senhor", em nossa mentalidade, por nossa capacidade avaliativa, ninguém menos indicado.

  A gente costuma compará-lo, por motivos óbvios, a Naum que, como ele, foi enviado a Nínive. Porém este muito mais equilibrado, tendo exercido, plenamente, sua responsabilidade.

   Não menos contrariado, porque jamais desejaria anunciar a mensagem de que foi incumbido, ao contrário, anunciar o declínio do império assírio muito mais agradaria ao seu colega, muito atrás no tempo, Jonas.

  Não entristecia Jonas, como Deus argumenta, decidir pela morte de mais de 120 mil pessoas e contados muitos animais, porém deprimiu-se por sofrer o incômodo do sol na soleira de sua fronte.

   Jonas reunia em si esse somatório de sintomas. Mas não se exija dele, como diz o próprio Jesus, segurar toneladas, se nem uma pluma desejamos amparar. Não sejamos farisaicos.

   O que Deus desejava ver em Jonas era escrúpulos em amar assírios, o que seria, hoje, pedir a um profeta judaico moderno exigir perdão da parte de familiares das vítimas do Hamas.

   Sim. Meras exigências de Deus sempre vão deparar em nós síndromes. Reunimos esse conjunto de sintomas que nos fazem, naturalmente, refratáveis aos argumentos do Altíssimo.

   "É razoável essa tua ira?". Pelo mínimo a nosso favor, basta que incomode que, como meninos pirracentos, deprimimos. Mas, pelo muito, a favor dos outros, cegamos.

   Refletir o que Deus tem, quem Deus é e o que, na verdade, espera de nós, algum sábio já deve ter dito, é penoso. 

domingo, 23 de junho de 2024

Chinelas à porta

 ¹ "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor. ² Pararam os nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém!" Salmo 122.

   Alguns sintomas são decisivos. Esse da alegria pelo convite à casa do Senhor é um deles. Minha mãe, que viveu 86 anos entre nós, teve, durante toda a sua vida.

  Por que a menciono aqui? Porque ela transmitiu a mim e eu, aos meus dois filhos, essa mesma alegria. Graças a Deus, minha esposa também aprendeu.

  E transmitiu. Isso é decisivo. Conheço casais em que o marido não tem esse desejo. Mas a esposa manteve. E hoje os filhos também mantém.

   Essa "casa do Senhor" é a igreja. Lugar onde decidimos que será nossa referência para o culto, para a oração, para aprender a Bíblia, na escola dominical (diga-se, de passagem, uma excelente ideia: como dizia um meu professor do Seminário, a "escola da igreja").

   Essa tradição das chinelas fora da porta é acreana, de raiz, por causa do pó fino, como talco, a poeira dos ramais daqui, como o pó fino da Palestina dos tempos de Jesus.

   Pois os chinelos são de quem vem, por alegria, à casa do Senhor. Por que você vem ou não vem? Essa vinda é voluntária. Certo, então venha.

   Mas não vou. Não tenho vontade. Como dizia meu pai, não vejo "sentido prático" nisso. Não me faz falta. Bem, é uma escolha. É a sua escolha. Então, assuma a sua escolha.

   Mas sua vontade está doente. Porque essa alegria você não tem. Ah, Deus está em toda a parte. Ele está onde eu estou ou não estou. Por isso, não preciso, nunca mais, de ir à casa do Senhor.

   Mas em sua oração, tendo pedido a Deus, e ficado curado de sua doença, o rei Ezequias disse: ⁸ "Qual é o sinal de que o SENHOR me sarará e de que, ao terceiro dia, subirei à Casa do SENHOR?" 2 Reis 20.

  E os filhos de Coré, em seu salmo: ⁴ "Lembro-me destas coisas — e dentro de mim se me derrama a alma —, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor,  multidão em festa." Salmo 42.

   Para a casa do Senhor, deve subir uma multidão em festa, com gritos de alegria e louvor. E a alma se derrama, só de sentir saudade dessa procisssão.

   Tome como exemplo os filhos de Coré, em seu salmo, o rei Ezequias, pela cura de sua doença, em sua ansiedade por estar nessa casa. E junte-se a Davi, o rei músico, compositor e profeta.

 ¹ "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor. ² Pararam os nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém!" Salmo 122. E as chinelas pusemos à porta.

   Vamos, vamos à casa do Senhor!

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Possibilidades de Deus

²⁰ "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, ²¹ a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!". Ef 3.

   A leitura bíblica precisa ser cautelosa. Porque a nossa tendência é, sempre, colocar-nos em primeiro lugar. Então, por exemplo, ao ler um versículo como esse, acima, revertemos tudo, exageradamente, a nosso favor.

   Está na Bíblia, argumentaremos: "Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que TUDO quanto PEDIMOS ou pensamos". E vamos à nossa eisegese.

   Os acadêmicos brincam com o sentido de exgese (ex, para fora) e eisegese (eis, para dentro), ambas preposições gregas.

   Pomos para dentro desse texto que Deus, poderosamente, fará, infinitamente, TUDO quanto pedimos ou pensamos. A palavra "tudo" cresce, fica enorme, para Deus virar nosso "faz tudo".

    E "pedimos", também aumenta, porque pedir, em relação a Deus, desperta nosso misticismo e, nesse caso, Deus vira um "gênio da lâmpada" ou, no mínimo, um mago que, se não nos fizer o esperado, ficaremos "decepcionados com Deus".

   O melhor, talvez, seja começar por "pensamos". Vamos pensar, vamos refletir sobre o que, mesmo, pedir. E a que esse "tudo", na verdade, se refere.

   Pensando, a gente já desenvolve uma autocrítica, para reconhecer nosso grau de maturidade e informação sobre Deus. Maturidade, para entender o que pedir e em que categoria se inscreve esse "tudo" expresso no texto.

  E informação, no mínimo, para saber o que a própria Bíblia fala sobre Deus. Porque baseado num perfil, o quanto mais, exato a respeito de Deus, é que vamos ensaiar uma exegese, para entender o "pedir" e o "tudo".

   Ou seja, fazer ao texto umas primeiras perguntas, para saber por onde começar a compreendê-lo. A primeira delas: em que contexto o texto está inscrito?

    Ora, trata-se de uma oração. Nela, Paulo diz o que pede a Deus, a nosso favor, pondo-se de joelhos diante do Pai. Podemos reler, então, o trecho Ef 3,14-21, para rever essa relação de pedidos, agora os que Paulo enuncia.

   Mas vamos direto ao ponto: no final da oração, tendo especificado por que meios, Paulo vai afirmar que a igreja é o lugar, por excelência, para "conhecer o amor de Cristo" que, diga-se de passagem, "excede todo o entendimento".

  E com uma finalidade específica: "para ser tomado de toda a plenitude de Deus". Aqui nem precisa escrever TODA, porque o que provém de Deus nunca é superfaturado: é sempre autêntico e em dose perfeita.

   Bem, se a oração trata do específico de ser igreja, afirmando estar associado a conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, o que habilita a ser tomado de toda a plenitude de Deus, ora, o que significaria pedir, além disso, para esperar infinitamente mais?

   Poderíamos parar aqui e deixar pendente essa resposta. Mas avançamos, para afirmar, numa livre interpretação do texto  que, ou Paulo exagera, querendo ainda dar ao destinatário espaço para pensar acima do que ele mesmo expôs, ou, simplesmente, coloca-nos, explicitamente, no contexto de todas as possibilidades de Deus.

   E se existem, todas elas estão relacionadas ao Seu amor. Se é assim, então peça e espere tudo dEle, infinitamente mais do que pedir ou pensar.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Alegria (autêntica e) completa - Final

 ² "...completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. ³ Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. ⁴ Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." Fp 2.

   Paulo elenca, logo a principio, elementos que ocorrem em conjunto na vida da igreja. Precisam estar presentes na vida de seus membros, do contrário, o grupo será tudo ou qualquer, menos igreja.

  A palavra "mesmo" não é do grego, mas da tradução, significando que, nessa união, tudo é comum a todos. Todos focados no mesmo. Por isso, precisam, pelas Escrituras, conhecer o que é igreja e trabalhar, juntos, nessa construção.

  Por isso é pensar a mesma coisa, ter o mesmo amor, ser unido de alma e ter o mesmo sentimento. E a respeito deste sentimento, que aparece escrito, nesta carta, pelo menos umas quatro vezes, trata-se do mesmo (de novo essa palavra) que há em Cristo Jesus

   Bem, de posse dessa experiência de unidade, vem a recomendação prática. Porque facilmente o ser humano se torna vítima, por si mesmo, inato a ele, do partidarismo, da vanglória e do senso de superioridade.

   Sutil, muito bem disfarçado, porque ninguém gosta que queimar o (seu) filme (mas muitas vezes, agrada-se de ver queimado o dos outros), esses sentimentos são demoníacos a francamente anticristâos.

   Paulo exportou Pedro, publicamente, em Antioquia, quando este demonstrou esses três sintomas: afastar-se dos gentios, julgar-se superior a eles e levantar uma barreira entre eles.

¹⁴ "Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos [...] ¹⁸ Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor." Gl 2.

  Basicamente, Pedro, pela avaliação de Paulo e, vejam bem, arrastando com ele Barnabé, rachou no meio a comunhão dos irmãos, (1) não procedendo segundo a verdade do evangelho e (2) tornando a edificar (barreira) aquilo que, em Cristo, devemos destruir.

   Agora, considerar, sem hipocrisia, o outro, qualquer outro, todos os outros, superiores a nós e não ter em vista, primeiro, o que é meu, o famoso queromeu, dane-se o dos outros, meu amigo, como dizem, só Jesus nesta causa.

   Quando Paulo exorta a que tenhamos em nós, veja bem, não é "Tende em vós o sentimento de Cristo", mas sim "Tende em vós o MESMO sentimento de Cristo", ou seja, não é um arremedo, uma simulação espiritual que inventamos, mas o original.

   E destaca como Jesus foi todo humildade, desde quando deixou a glória do Pai e se fez homem, na sua condição única e totalmente desfavorável. Até a morte, e morte de cruz.

   Jesus não usurpou. Satanás quis usurpar, por isso é Satanás. E só nos resta a opção de instruir e construirmos, em nós, o MESMO sentimento de Cristo Jesus. No grego, está algo como "entranhe em você o que Cristo tem em Si".

   Mas, como diz Paulo, se há entranhados afetos e misericórdias, ou seja, se há, da parte do Espírito, sensibilidade em nós para acolher essa exortação, completemos a alegria, com certeza, de Cristo, que o apóstolo, com tanta clareza, expõe.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Alegria (autêntica e) completa

 ² "...completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.³ Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.⁴ Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." Fp 2.

   Paulo aqui enfileira uma série de recomendações. Elas definem o modo como qualquer igreja, segundo ele avalia, pode lhe completar a alegria.

   Dois riscos corremos aqui: que Paulo não seja alguém competente para avaliar, porque a alegria que se completa é a dele, ou as recomendações não bastam ou são, por si, insuficientes.

   Corramos esse risco. Porque, no início desse capítulo, ele classifica o que vai dizer como uma exortação de Cristo. Aliás, até ironiza, perguntando: há exortação em Cristo? Há alguma consolação de amor? Há alguma comunhão do Espírito? Há entranhados afetos e misericórdias?

   Muito inteligente. Porque se faltam esses pré-requisitos indicados, nem tente. Não siga adiante. Exortações são detestáveis. O termo grego paráklesis tem a mesma raiz de parákletos, este último aplicado à pessoa do Espírito Santo.

   Exortação seria algo como "chegar junto e chamar às falas". Isso proveniente de qualquer um, com autoridade para tanto. Geralmente se reconhece uma exortação por seu conteúdo. E ela não tem nenhum compromisso por agradar a quem ouve.

   Por vivermos um tempo em que as pessoas confundem a máxima da Reforma, de sermos sacerdotes de nossa fé, com autonomia em relação à própria autocondução em Cristo, algo como dizia a música de Gil, de 1969, "Aquele abraço":

"Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço/A Bahia já me deu régua e compasso/Quem sabe de mim sou eu/Aquele abraço!"

    Mas se, ao contrário, você considera que, de Cristo, sim, provém exortação, cujo sintoma é consolação de amor e comunhão do Espírito e, se há, em nós, entranhados afetos e misericórdias para recebê-las, olha, provavelmente somos crentes.

   Então, vamos enfileirar essas recomendações, acatar, pôr em prática, para que haja alegria completa. Ah, sim: qualquer um crente, com autoridade, pode exortar. Geralmente, pastores, com vocação autêntica, têm, por obrigação, fazê-lo. 

   Como vivemos o tempo, indicado por Cristo, próximo de Sua vinda, da 1. quase total falta de fé e 2. do amor frio de quase todos, exortações estão meio fora de moda. Tomara, então, venham e sejamos autênticos crentes, prontos a receber.

  Veja no texto seguinte a explicação das recomendações.

domingo, 9 de junho de 2024

Mas Deus

 ⁴ "Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, ⁵ e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, ⁶ e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; ⁷ para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus." Ef 2.

    Delitos e pecados nos mantém mortos, sem nem se saber. O estado de (auto)consciência não revela tal condição. A não ser a ação do Espírito, que pode dar discernimento a quem, por fé, deseja se arrepender de seus pecados.

   A fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo, Rm 10,17; Ef 1,13-14; 2 Co 7,10; Jo 16,8-11. Todo esse processo precisa ser revisitado, constantemente. Para que são sejamos presumidos.

   Presumidos de uma falsa espiritualidade, dissimulados, como foi Pedro, Gl 2,13. E foi tão poderosa essa dissimulação, que até Barnabé, ora vejam só, Barnabé "deixou-se levar". Quem mais junto de Paulo esteve, correndo com ele todos os riscos, inacreditável, agora tornava-se falso, fake, com Pedro.

   Sim, Pedro, o pedra. E o diagnóstico de Paulo, para os dois, foi que ¹⁴ "não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho", Gl 2.  Quantas vezes e como "não proceder segundo a verdade do evangelho"?

   Aos Efésios, Paulo insiste em repetir "lembrai-vos". Neste trecho, assim como, adiante, em 2,11 e em 4,17, enfatiza que podemos recair no que fomos antes.

   O que fomos é que, estando vivos, biologicamente, estávamos mortos, espiritualmente. Cheirávamos a defunto, sem propagar o perfume de Cristo, 2 Co 2,14-16.

   Neste trecho, antes do gesto de Deus, coerente com o seu amor de antes da fundação do mundo, Ef 1,4-5, e de nos haver predestinado para Si, na cruz, estávamos "mortos em nossos delitos e pecados", 2,5.

   Como numa radiografia de nosso diagnóstico, Paulo descreve o que sigjfica  ² "andar segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência", Ef 2.

    A experiência do "Mas Deus" é a experiência do amor de Deus. Não a nossa simulação de evangelho. Interessante é que, cerca de 40 anos depois dessa carta de Paulo, Jesus escreve aos efésios em Apocalipse 2,1-7.

   Vai encontrar uma igreja 1. laboriosa e 2. perseverante, 3. que não suportava homens maus, 4. punha à prova e expunha a mentira dos falsos apóstolos, 5. foi perseverante, 6. suportava provas pelo nome de Jesus e 7. não se deixava esmorecer.

   Podemos enumerar essa igreja, ou cada membro, individualmente, porque igreja somos cada um de nós, como a igreja das "sete virtudes". Segundo a análise de Jesus, somente faltava uma coisa: amor.

   E ele mesmo menciona que iria "mover do lugar o candeeiro". Seria uma forte e didática provação ou definitivamente a perda do caráter de igreja?

   A condição inicial da análise de nossa situação de pré-conversão não pode ser esquecida. Porque a tendência, o vício do velho homem, em nós atuante, é retornar à condição de cadáver vivo.

   A palavra "examinar", que Paulo usa em 1 Co 11,28, no contexto do texto da ceia, que ele repete, em 2 Co 13,5,  num contexto mais geral, trata-de de dokimazo, no grego, ao lado de peirazo, neste segundo texto.

   Signfica submeter-se a um teste da originalidade da fé. Interessante notar que, tanto em Gálatas, Paulo vai afirmar que a atitude de Pedro foi uma violência à vida de fé, quando Paulo diz que o antídoto é "estar crucificado com Cristo" e somente viver essa vida se for por fé, Gl 2,19-20.

   Do mesmo modo que, em Rm 14,23, o apóstolo define pecado como "tudo o que não provém de fé". Paulo segue o que Habacuque, séculos antes dele, indica como o contrário da fé, que é a soberba:

⁴ "Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé." Hb 2.

   Para nos mantermos fora do círculo vicioso de uma vida de escolhas que nunca sejam pela fé. De cuja síntese Paulo apóstolo elabora o texto final de sua exortação:

¹² "... com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, ¹³ até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, ¹⁴ para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.¹⁵ Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, ¹⁶ de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor." Ef 4.

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Sede que não se sacia

 ² "A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo;  quando irei e me verei perante a face de Deus?". Sl 42.

   De vez em quando, importante retornar a esse ponto. Caso alguém diga, não há mais sede, no meu caso, já tenho Deus. Caramba, então miniaturizou o Altíssimo.

  Pode ser que corrija, então, dizendo: Não, é Deus que me tem. Bem, ainda assim será preciso saber em que escala Deus tem. Tudo teu, realmente, pertence a Ele?

  Ora, pela destreza com que abordamos a temática e do modo como nos armamos para, de uma vez, definir o que entendemos de toda essa ortodoxia, fica resolvido, pro gasto.

   Mas sempre será Deus quem avalia. E pretensão, com Ele, cancela a humildade, que é o primeiro passo para o arrependimento. Aqui tudo começa. Jesus, pregando a primeira vez, o que Marcos chamou "evangelho de Deus", disse:

  ¹⁵ "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Marcos 1.

  Então, tudo começa no arrependimento. E o que Jó falou, ao fim de toda a sua extensa e exaustiva experiência, foi que, antes, apenas "ouvira falar" de Deus, mas agora, seus olhos viam Deus.

   Tem a ver com essa sede: nunca se sacia e esses olhos, os da fé, nunca cansam ou cessam de ver. E são as Escrituras que trazem isso escrito. Pode-se até dizer, gente pequena e gente grande comenta assim, que o papel tudo aceita.

   Trata-se do descrédito pelas Escrituras. Bem, Deus sem as Escrituras, fica a gosto do freguês. Então, acaba por se tornar deus. O das Escrituras começa com "D" e se revela.

   Fez isso, de uma vez, por meio do Fiho unigênito dEle, Jesus Cristo. Esse é o pirmeiro passo, aliás, o único, para saciar a sede. Porque o Filho revela o Pai. E todos os que o Pai a ele concede, são suas, do Filho, ovelhas. Terminologia das Escrituras:

³⁷ "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora." 

E ainda:

³⁹ "E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. ⁴⁰ De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." João 6.

   Trata-se da sede por esse Deus. Trata-se de palavras dessas Escrituras. Elas são uma parceria divino-humana, nessa ordem. Deus motivou homens (e mulheres), como você e eu, a escrever, mediando por meio do Espírito Santo.

   Há uma parte divina e há uma parte humana. O Espírito agiu na composição do texto, na sua transmissão e age na interpretação e na compreensão. Ilumina o entendimento, para que a luz do texto resplandeça. Paulo adverte:

¹³ "Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais." 1 Coríntios.

  Deus está nessa parceria. Ele não faz nada sem buscá-la, isso já dizia Amós:

⁷ "Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas." Amós 3.

  Pois sim. Sede de um Deus assim. Não cabe de amor, como diz Paulo, que excede todo entendimento. Não sacia. E os olhos da fé não se cansam de ver.