Erlon, com a bola, e
Eber, o Binho
Mais hora, menos hora, vem. Nunca bem-vinda. O profeta Obadias, menor livro do Antigo Testamento, profetiza o tamanho da maldade em desejá-la até para o pior inimigo:
¹² "Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu desafeto, o dia da sua calamidade; nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca cheia, no dia da angústia". Obadias.
Nem para o inimigo devemos agourar a morte. Dói igual. Se não nos igualamos, quando em vida, quando mesmo, disfarçando, sem nenhuma relutância, achamos ser melhor do que o outro, vem a morte e nos iguala.
Primo Binho, nosso amado, você disse que o caçula lhe passou a perna. Mas se não fosse assim, ele estaria hoje triste desse mesmo jeito. São unha e carne.
Qualquer expressão que signifique esse apego de amor. Aqui no Acre o domingo está frio e nublado. Um domingo triste, eu diria. A gente não é para ser sepultado em dia nenhum. Mas parece que, sendo domingo, é premeditado.
Não precisa ser domingo, Caçula, porque você é inesquecível. Veja bem, não estou te idolatrando. Porque o seu lugar sempre foi garantido.
Em cada coração. E nem estou enaltecendo, além da conta, a nossa família. Porque também não precisa. Basta a gente, nesse silêncio do coração, lembrar cada nome.
Nem precisa mencionar. Só lembrar. Essa gente foi pura dedicação. Gerou-nos, cuidou, disciplinou, até com palmadas, algum chinelo, talvez cintas e beliscões.
Levou à escola e trouxe, alimentou, aconselhou, orou com a gente, levou à igreja, contou histórias à beira da cama, sorriu para nós. Até quando percebemos que houve carestia, foram nobres, contidos e até sacrificiais, quando necessário.
Erlon, Caçula, você era econômico até no sorriso. Fala mansa, tom de baixo volume, com um sorriso insinuante, desenhado de manso no seu rosto maroto.
Eu acho que posso dizer que sorrisos são a marca dessa família. É o DNA do sorriso. Não me sai da memória o de nossa avó Eunice. O de Tula também que, embora mais caladão, quando rasgava o rosto com o dele, eu pensava comigo, aprendeu com Eunice.
Lembro o vô Tula, caramba, como, certa vez, conversou longamente comigo, ali, naquele mesmo muro e portão, feitos por ele, daquela casa de esquina da Dr. Rufino.
Apontava, com o outro dedo, compensando o indicador ausente, as serras do Gericinó onde, à beira delas, agora, descansam também tia Maninha e primo Erlon.
Lembrei agora, entre os sorrisos, o de meu tio Eber. Também aprendeu, e imitava, o de sua mãe. E, para contrabalançar, o tom grave do olhar de Iracema, em certas horas. Esse viés sério, olhar de lado, que vejo hoje na prima Bela (leia /ê/).
Iracema lia o pensamento de Eber. Outro profeta, agora Oseias, menciona "cordas de amor":
⁴ "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer." Oseias 11.
Família, estamos amarrados com cordas de amor. Nem tentem, não adianta, porque cordas de amor nunca arrebentam. Lembrem, de novo, os nomes: pode conferir, nossos pais, sim, como foram, barro batido, pó da terra, feito nós, com virtudes e vícios, nos ensinaram e nos amarraram com cordas de amor.
Domingos sejam lembrados, sim, com um traço de tristeza, profunda, sincera, inevitável. Mas são dias de amor. O amor nunca acaba.
¹³ "O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará". 1 Co 13.
Vamos seguir amando. Sorrindo. Lembrando. Agradecidos. Fortalecidos. Consolados. Saudando a vida, pelo tempo que ainda nos resta. Porque estamos amarrados por cordas de amor.
Consolo do Senhor!!!!
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