²⁰ "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, ²¹ a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!". Ef 3.
A leitura bíblica precisa ser cautelosa. Porque a nossa tendência é, sempre, colocar-nos em primeiro lugar. Então, por exemplo, ao ler um versículo como esse, acima, revertemos tudo, exageradamente, a nosso favor.
Está na Bíblia, argumentaremos: "Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que TUDO quanto PEDIMOS ou pensamos". E vamos à nossa eisegese.
Os acadêmicos brincam com o sentido de exgese (ex, para fora) e eisegese (eis, para dentro), ambas preposições gregas.
Pomos para dentro desse texto que Deus, poderosamente, fará, infinitamente, TUDO quanto pedimos ou pensamos. A palavra "tudo" cresce, fica enorme, para Deus virar nosso "faz tudo".
E "pedimos", também aumenta, porque pedir, em relação a Deus, desperta nosso misticismo e, nesse caso, Deus vira um "gênio da lâmpada" ou, no mínimo, um mago que, se não nos fizer o esperado, ficaremos "decepcionados com Deus".
O melhor, talvez, seja começar por "pensamos". Vamos pensar, vamos refletir sobre o que, mesmo, pedir. E a que esse "tudo", na verdade, se refere.
Pensando, a gente já desenvolve uma autocrítica, para reconhecer nosso grau de maturidade e informação sobre Deus. Maturidade, para entender o que pedir e em que categoria se inscreve esse "tudo" expresso no texto.
E informação, no mínimo, para saber o que a própria Bíblia fala sobre Deus. Porque baseado num perfil, o quanto mais, exato a respeito de Deus, é que vamos ensaiar uma exegese, para entender o "pedir" e o "tudo".
Ou seja, fazer ao texto umas primeiras perguntas, para saber por onde começar a compreendê-lo. A primeira delas: em que contexto o texto está inscrito?
Ora, trata-se de uma oração. Nela, Paulo diz o que pede a Deus, a nosso favor, pondo-se de joelhos diante do Pai. Podemos reler, então, o trecho Ef 3,14-21, para rever essa relação de pedidos, agora os que Paulo enuncia.
Mas vamos direto ao ponto: no final da oração, tendo especificado por que meios, Paulo vai afirmar que a igreja é o lugar, por excelência, para "conhecer o amor de Cristo" que, diga-se de passagem, "excede todo o entendimento".
E com uma finalidade específica: "para ser tomado de toda a plenitude de Deus". Aqui nem precisa escrever TODA, porque o que provém de Deus nunca é superfaturado: é sempre autêntico e em dose perfeita.
Bem, se a oração trata do específico de ser igreja, afirmando estar associado a conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, o que habilita a ser tomado de toda a plenitude de Deus, ora, o que significaria pedir, além disso, para esperar infinitamente mais?
Poderíamos parar aqui e deixar pendente essa resposta. Mas avançamos, para afirmar, numa livre interpretação do texto que, ou Paulo exagera, querendo ainda dar ao destinatário espaço para pensar acima do que ele mesmo expôs, ou, simplesmente, coloca-nos, explicitamente, no contexto de todas as possibilidades de Deus.
E se existem, todas elas estão relacionadas ao Seu amor. Se é assim, então peça e espere tudo dEle, infinitamente mais do que pedir ou pensar.
Muito bom. Não sabemos o que pedir e nem nos damos conta de que devemos ter o Reino em primeiro lugar.
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