quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A eternidade entra na história: é novo e é bom.

      Textos bíblicos têm personalidade própria. Evidente que para quem os valoriza, atribuindo-lhes a credibilidade intrínseca. A carta aos Gálatas tem uma dessas histórias extraordinárias. Ler esses textos suscita deduzir as circunstâncias que lhes deram origem.

  Neste caso, foi uma polêmica sinagoga versus igreja nascente. Afinal, quem era novo convertido, para incorporar, em si mesmo, a nova condição, deveria ou não submeter-se ao ritual da circuncisão? Pesava a tradição e reconhecimento da sinagoga, religiosa e politicamente, frente uma uma "seita" que se insinuava importante.

  Como na própria morte de Jesus, os assim chamados judaizantes lançavam mão de sua relação flutuante com a autoridade romana para pressionar os agentes desse novo apêndice religioso, na opinião oficial, passível e possível de ser assimilado de volta ao judaísmo. Bastava haver paciência e militância.

 Paulo, experiente em todas essas manhas, conhecedor a fundo das manobras farisaicas dessa turma das sinagogas, escreve aos Gálatas num só fôlego, produzindo nessa curta carta os argumentos fundamentais da nova fé e da identidade do evangelho.

 No decorrer da história, a circuncisão perdeu sua função original. Paulo não esvazia o ritual, apenas indica que cumpriu um papel profético, quando representou purificação e santidade somente realizadas em Jesus Cristo. Por isso que reage numa rapidez e numa lucidez típicas de sua percepção e espiritualidade.

 Os judeus tentavam impor sua tradição milenar, assim como o status que avaliavam usufruir entre as autoridades romanas. Nada divisavam da tremenda transição que se operava diante de seus olhos, qual seja, a vigência de um novo tempo, de uma nova mensagem, na verdade, a síntese de toda a sua história.

  Paulo, aos Gálatas, não vai discorrer a respeito do que era macro, das amplas implicações dessa nova ordem que se instaura pela revelação de Jesus, sua vinda, ministério, sacrifício e ressurreição. Quem ilustra detalhadamente essas implicações é o anônimo autor das carta aos Hebreus.

 Nesta carta, Paulo será estritamente cirúrgico, porque vai se ater ao efeito pontual de cada tópico do evangelho, que vai definir, na carta aos Romanos, da qual esta carta é o esboço, como "poder de Deus". Este o poder com que Deus atua em cada um que crê.

  Não há outro evangelho. Não há aprisionamento em nenhuma tradição ou religião antiga ou anterior. Deus sempre traz o novo. A eternidade entra na história e, pela fé, somos dela participantes. Evangelho significa "boas novas": ao mesmo tempo boas e novas.

 Sim: "Viu Deus tudo quanto fez, e eis que é muito bom". Paulo traz, por sua argumentação, o novo, o bom e o efeito do poder de Deus. Atual sua carta. Explosivamente maravilhosa a sua argumentação. Típica de toda a literatura bíblica. Torne-se leitor e faça bom proveito.

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