sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Com constrangimento, por favor

14 "Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 15 E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." 2 Co 5.

   Ninguém gosta. No mundo de hoje, a não ser quando o interesse é auferir vantagens, ninguém aceita passar por constrangimentos.

   Poderá ser que, por exemplo, pelo dinheiro, sempre haja um preço a sofrer essa desdita. Afinal, gente, trata-se de dinheiro. Sim, a Bíblia fala de amor ao dinheiro: raiz de todos, veja bem, todos os males. 

   Ou valha constrangimento pelo afago ao ego. Oh, o ego! De novo o ego, sempre o ego com sua prioridade, como Satanás lembrou a Jesus, na tentação.

  Literalmente, significa no latim com + stringere, ou seja, com aperto, embaraço, vexame. Ora, talvez seja caso de processo. Para os técnicos no assunto, vai a seguir:

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite.

   Aqui entra a palavra de Paulo, no grego, que significa comprimir. Algo como "chegar junto", segurando por todos os lados. A ideia é essa mesma, de ficar pouco (ou sem nenhuma) à vontade.

   Mas é assim mesmo. Amor somente é natural e espontâneo em Deus. Porque significa doar, dar-se por inteiro. E nós sempre começamos pelo "quero o meu", "primeiro eu", "eu na frente".

  Claro que aceitamos o evangelho, ora, Jesus morreu por mim, quer dizer, por nós, por cada (mesmo com cacofonia) um. A salvação é individual, repetimos. Eu na frente. E pode deixar que disso (de evangelho) eu entendo. 

   Uma coisa é aceitar o evangelho, outra muito diversa é viver o evangelho, refiro-me ao original. Então o amor vem na frente e só com muito constrangimento, e não pouco, da parte de Deus, com muito aperto, com todo o aperto vamos experimentar.

   Outra fala de Paulo é essa, da dívida. E no original é como se dissesse "nada a ninguém devei". E esse dever, no original, reveste-se de um sentido legal, quer dizer, jurídico, judicial. Trata-se de um superendividamento.

   Deve-se amor a todos. A cada um, na mesma intensidade. Sim. Do mesmo modo que Deus. E sem hipocrisias, por favor. Aparece a palavra hetero, nesse versículo, ou seja, amar a qualquer um. 

   E Paulo acrescenta, como Jesus falou ao "mestre da lei", que isso completa, plenifica tudo o que a lei requer. Lembremos que a lei existe para nos lembrar que, moralmente aleijados que somos, nunca a cumprimos toda.

   E, last, but not least, o amor jamais acaba. Nesse contexto, em 1 Coríntios 13,8, o Apóstolo menciona tudo o que costumamos usar como marca de nossa fútil grandeza.

   Profecias, dom de línguas e ciência já foi muito (continua a ser) marca de vaidade. Status espiritual (caramba, isso existe). Mas têm prazo de validade.

   O amor não. Nesse trecho, o grego amplia, dizendo:  "O amor, objetiva e absolutamente, nunca falha, decai, cai prostrado ou derrotado".

  Viver o evangelho é experimentar o constrangimento divino do amor, superendividado com todos, sem jamais cair frustrado ou prostrado.

   E isso jamais acaba. Ah, sim: refiro-me ao original.

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