No livro que escrevi, o único, sobre minha família, há transcrito um sermão do meu avô. Ele intitulou, como aconselha a homilética clássica: Não fazer Deus comum.
Muito sugestivo. Acho que ele pensou na capacidade humana de reinventar Deus, colocando-o a nossos critérios. Mas eu pensei, nessa ideia de banalização, tornar comum as Escrituras.
Que seria colocá-la, segundo os nossos critérios, a nosso capricho, a nosso serviço, como mero instrumento de nossa manipulação. Como dizer, já conheço tudo dela.
Espere, jamais assim falaríamos, alguém vai replicar. Mas veja bem, somente para não queimar nosso filme? Porém, inconscientemente, há trechos dela que não mais nos interessa. Pois sim, porque esgotados o seu significado prático e, no interesse, esquecidos? Leitura batida, por assim dizer.
Talvez, de tanto se conhecer e repetir, desde criança decorar, o Salmo 23 seja um desses trechos. Mas, como se dizia em todos os seminários e na escola dominical (lembram, quando existiam?), a Bíblia é viva.
Ora, então retire água dessa pedra. Pode ser chamado de Salmo da intimidade, de tantas vezes em que aparece a primeira pessoa, junto com a segunda, esta, exatamente, referindo-se a Deus.
Ora, cuidado com a 1ª pessoa, por causa do ego. Quanto a essa 2ª Pessoa, não se preocupe, sabe cuidar de Si e, se deixarmos, vai cuidar de nós.
Mas não vá fazer Deus comum, como dizia meu avô materno Baldomero. Sim, chegamos com Ele ao grau da intimidade. Mas com maturidade. Sem banalidade.
E para logo dizer que, se é nosso Pastor, nada faltará. Interessante que somos supridos pelo que não deve faltar, mas quanta coisa ainda falta.
Ora, subentenda que, muitas vezes, supridos, não estamos nem aí para o que falta, seja virtude ou mais um apetrecho inútil, que acabamos por valorizar além da conta. Quer dizer, supridos materialmente, porém deficientes espiritualmemte.
Então, num certo sentido, nada faltará mas, noutro, ainda falta muito. Então, Pai, grato pelo suprimento de tanto, mas me faz anelar o que ainda falta, buscando suprir-me, ou sempre manter, como é o caso da sede de Deus.
Deitar, sim, me faz em pastos verdejantes, converte a Ti, continuamente, a minha alma, guia-me pela vereda da justiça e, ainda que eu beire a morte, tira meu medo.
Blindado? Não, necessariamente. Não existem blindagens específicas para o que crê. Vide Jó, entre outros, na Bíblia, por exemplo, Paulo, descrevendo suas vicissitudes, e José, no seu bruto desce degraus, sendo preparado para subir ao máximo possível.
Vara e cajado, sim, proteção, sem dúvida, condução sob alento divino, o que é incomparável, mas para bordoadas também, o que é também consolo. Como diz o autor de Hebreus, filho que não recebe disciplina, é bastardo e não filho.
E a mesa perante os inimigos? Regra geral, significa que, mesmo diante de quem nos deseja dilapidar, ou seja, Satanás e seus ministros, no mundo, nosso banquete será servido e nossa segurança jamais abalada.
Ungir a cabeça com óleo, significa que, uma vez tendo aderido à fé, não mais nos pertencemos. Recebemos o Espírito Santo como selo, como dom e ainda recebemos os dons dEle.
Então, toda a nossa vida será doação ao Senhor e tudo o que fizermos, todo o tempo, será culto (ou não será? Para isso, temos de vigiar).
Aí, sim, o cálice transborda. Esqueça a TP - teologia de (falsa) prosperidade. Ora, TFP, seria a sigla correta. Cálice que transborda é a vida na plenitude do Espírito e não mercado de bençãos recebidas.
Bondade e misericórdia (que no AT é amor) seguem-nos, coladas a nós, benéficas todo o tempo, modelando nosso caráter, todos os dias de nossa vida.
Bondade e amor são atributos divinos exclusivos dEle. Se não forem, em nossas vidas, os originais, são Fake, aberração inventada por nós. Não acredite nem em você mesmo, se for tentado a imitar.
Salmo 23. Um salmo comum, numa vida comum, vida cristã, para a qual as Escrituras se mantém vivas, lidas no poder original da palavra de Deus, vivenciadas na plenitude do Espírito.
Amém!!!!
ResponderExcluirAmém.
ResponderExcluirAmém.
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