Muito linda a amizade e Jesus com os irmãos Maria, Marta e Lázaro. Aliás, com Jesus, toda amizade é linda, possível e verdadeira.
Possível por tê-la como autor e o Pai como fim último, mas sendo a obediência uma condição bem expressa:
¹⁴ "Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. ¹⁵ Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer."
Numa das visitas, destacou-se a personalidade das irmãs num pequeno incidente. Mas a síntese de Jesus a respeito, tornou-se uma lição permanente.
Marta, como qualquer dona de casa, já naquela época ativa e super preocupada, desejava dar a Jesus a melhor das hospitalidades. Daí seu ativismo.
⁴⁰ "Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me." Lc 8.
A irmã Maria entendeu que deveria parar tudo e querdar-se ao pé de Jesus para ouvir. Ora essa, diria Marta. Por isso, defendendo sua argumentação, convocava a irmã para a sua azáfama. Jesus exortou-a, expondo sua prioridade:
⁴¹ "Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. ⁴² Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada." Lc 8.
Pois essa filosofia do pouco, da boa parte que nunca será tirada, a síntese inteligente de Jesus também encontramos na percepção de Miqueias, a respeito de sua profecia e ministério. Mq 6:
⁷ "Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?⁸ Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus."
O pouco de Miqueias é a indicação da troca de milhares de sacrifícios, dez mil ribeiros de azeite e a absurda oferta do primogênito pelo que é bom: a prática da justiça, a prioridade pela misericórdia e o assumir a humildade.
Ele e Isaías, pode-se dizer, foram colegas de seminário. É dedutível, de seus escritos, a condição negativa da avaliação do povo: Is 1:
⁴ "Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o Senhor, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás. [...] ⁶ Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo."
E ambos anunciam a vinda do Messias, sendo Isaías o profeta mais citado no Novo Testamento e, por isso, chamado "profeta evangelista".
A mais famosa menção do Messias, em Miqueias, soa como provocação a Jerusalém, porque indica a pequena demais Belém, mais uma vez pelo método divino do menor, desbancando o (que se julga) maior:
² "E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." Mq 5.
Miqueias mesmo usa de uma síntese, o seu "um pouco", como Jesus indicou ser o melhor, ou seja, sentar e ouvi-lo. Pois a profecia de Miqueias revela em quem reside justiça, misericórdia e humildade. E da possibilidade, ainda em sua espoca, de se antecipar no viver essas bênçãos exclusivas, pela mediação de Jesus.
O autor de Hebreus indica isso no modo como ocorreu com Moisés, quando este enxerga, por antecipação, o "opróbrio de Cristo": Hb 11.
²⁴ "Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, ²⁵ preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; ²⁶ porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão."
E Neemias indica como a ação do Espírito era operante nos que criam, antecipando essas bênçãos somente possíveis pela mediação de Jesus:
²⁰ "E lhes concedeste o teu bom Espírito, para os ensinar; não lhes negaste para a boca o teu maná; e água lhes deste na sua sede." Ne 9.
A justiça a ela se tem acesso pela fé em Jesus:
¹ "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Rm 5.
Permanecer no amor de Cristo é o seu principal mandamento. Amor e misericórdia, sinônimos no Antigo Testamento, aqui aparecem juntas num reforço de ênfase:
¹⁰ "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço." Jo 15.
E a humildade é o traço característico da personalidade de Jesus. Sem ela, jamais teria se submetido à cruz:
⁶ "...pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; ⁷ antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, ⁸ a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." Fp 2.
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A síntese de Miqueias antecipa realizações já operantes na fé do Antigo Testamento, indicadoras do sentido de todo o sacerdócio e estrutura da religião, porém não expressos na mera exterioridade do culto vazio.
Porque justiça, amor e humildade somente são concedidas ao ser humano, que se torna delas participantes, por meio de Jesus. No Antigo Testamento eram possíveis de se constatar, segundo indica o profeta, pela ação do Espírito, antecipando, nos que cressem, as dádivas de Jesus.
Miqueias assinala a desburocratização da fé, recomendando que não se preste muita atenção ao marketing e à exibição de letreiros de neon, no que diz respeito a exterioridades, porque o que é bom na fé e aceitável, diante do Senhor, será tudo que nos é dado por meio de Jesus: a justiça, o amor e a humildade.
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