“Então, lhes falou Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente
aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também
semelhantemente o faz". João 5,19.
Esta afirmação de Jesus expressa o padrão da relação entre pai e filho.
No caso, trata-se da relação entre Pai, Deus, e seu Filho, Jesus Cristo. Mas
esta não é um fim em si mesma. Deus deseja compartilhar com toda a humanidade. E,
para isso, três aspectos se tornam fundamentais para que esse compartilhamento
ocorra.
O primeiro é que somente filhos de Deus podem pôr em pratica a realidade
dessa afirmação, qual seja, “o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente
aquilo que vir fazer o Pai”. João em seu evangelho afirma, com relação a Jesus:
“Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam. Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
creem no seu nome; os quais
não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas
de Deus. João 1,11-13.
Portanto, o que o
autor de Hebreus destaca que Deus afirmou, com relação a Jesus, “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe
serei Pai, e ele me será Filho?” Hebreus 1:5, aplica-se a cada um
que receber Jesus como salvador. Vai ouvir de Deus: “tu és meu filho, eu hoje
te gerei”. Esse tipo de pessoa, na sua nova relação de filho, com o Pai, vai
poder, como Jesus, reproduzir em sua vida, o “Filho nada pode fazer de si mesmo,
senão somente aquilo que vir fazer o Pai”.
O segundo aspecto consiste no aprendizado
do Filho em relação ao Pai. O mesmo autor de Hebreus destaca que Jesus aprendeu
a obedecer. Pois então Jesus, na sua relação com o Pai, também é exemplo de
aprendizado para nós: “...embora sendo Filho,
aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o
Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. Hebreus 5,8-9.
E Jesus também se constitui em exemplo e modelo de aprendizado do amor, porque amor e obediência são indissociáveis. A afirmação de que Jesus aprendeu, com o Pai, a amar, foi feita por ele mesmo: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço". João 15,10.
Como filhos de Deus, precisamos aprender com o Pai o seu amor, desse modo experimentando todas as bênçãos da obediência. Na sociedade em que vivemos, além de não se compreender o que significa amor, ou não vincular a Deus sua origem, outro fator francamente rejeitado, infelizmente até entre muitos que se professam “crentes”, é a obediência. O amor é descaracterizado pela falta do compromisso que lhe é essencial e a obediência encarada como contrariedade, imposição e perda da liberdade.
O terceiro aspecto consiste no fato de que essa relação é o fundamento da família, conforme Deus a concebeu. A cultura de nosso tempo tem afirmado haver vários outros modelos de família. Pois o modelo bíblico é do casamento heterossexual, monogâmico e indissolúvel. Porque com respeito à criação, a Bíblia afirma: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Gênesis 1,27. Assim como afirma: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Gênesis 2,24.
Tudo o que a Bíblia afirma é voluntário. Ninguém será obrigado, nem por Deus, a fazer o que nela consta como padrão. Pois o modelo bíblico de casamento é voluntário. Ninguém é obrigado a reproduzir. Se o fizer, será precipuamente por amor e obediência, que são duas coisas, diante de Deus, voluntárias. Quando Jesus afirma que “... o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz”, não o diz apenas para a relação entre o pai e filho, ou seja, entre os homens da família. Mas também em relação à mulher, como mãe, em relação aos filhos de ambos os sexos.
No modelo bíblico, homem e mulher são criados ambos à imagem e semelhança de Deus, do mesmo modo, em igualdade diante de Deus. Por isso, no modelo bíblico de família, pai e mãe servem como modelo de amor e obediência, prontos a ser exemplos para os filhos e filhas. Portanto, a firmação de Jesus constitui-se em modelo de relação também no contexto da família.
“O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente
aquilo que vir fazer o Pai” é modelo que se aplica aos filhos que, em Cristo,
Deus gerar por meio da fé. Constitui-se no permanente modelo de aprendizado do
amor do Pai, em obediência, do modo como Jesus Cristo foi padrão. E se estende
à relação dentro da família, não somente tendo o homem como modelo, mas do
mesmo modo a mulher, na comunhão do “ser uma só carne”, incluindo a mulher, na
mesma relação abençoada com Deus, com seu esposo e com seus filhos.