domingo, 31 de dezembro de 2023

Três razões por que marchar

 ¹⁵ "Disse o Senhor a Moisés: 'Por que clamas a mim? Diga aos filhos de israe­l que marchem'".

   Aplicado a Israel, apicado à igreja. Cremos na continuidade das promessas de Deus. Por isso, podemos, como eles, ser exortados dessa mesma forma:

   "Disse o Senhor a Moisés". A primeira lição é a de que Deus fala conosco. O autor de Hebreus nos deixou isso bem claro:

    ¹ "Havendo Deus outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, por meio dos profetas, ² nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo." Hb 1.

    A maior garantia é saber que, por meio de Jesus, Deus fala conosco. Antigo e Novo Testamento são a palavra de Deus. Uma advertência a mais há neste autor:

    ² "Pois as boas-novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram."

     Somos advertidos a crer na palavra de Deus. A fé não é uma ameaça, mas um dom, por meio do qual somos fiéis à fiel palavra de Deus.
    
    Por que clamas a mim? Esta pergunta devia-se às dificuldades que o povo atravessava. Ali a situação era impossível de ser contornada, a não ser por uma intervenção direta de Deus.

  Pois quantas houve para Isarel? Ele está aí. Oremos por ele, porque conta, de um lado, de todo apoio entre muitas nações.

   Mas de outro, conta com um complô de inimizade contra si. E se o defendemos, vamos ter contra nós esse mesmo ódio. O mundo está dividido em duas partes: uma pró e outra contra Israel.

   E se olhamos para o ano de onde saímos, podemos contar, sim, bênçãos, mas também dificuldades e provações. Pois que elas signifiquem, como diz Tiago, meios de fortalecer na fé:

   ² "Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, ³ pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. ⁴ E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem que falte a vocês coisa alguma. ⁵ Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. ⁶ Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. ⁷ Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, ⁸ pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz." Tiago 1.

   "Diga aos filhos de Israel que marchem". Três razões por que marchar como filhos de Israel, igreja do Senhor Jesus: 

1. Porque Jesus é o nosso alvo, como presença dEle e testemunho neste mundo:

¹ "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, ² tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus." Hb 12.

2. Porque há um ide, um envio, uma missão a toda a igreja:

¹⁸ "Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. ¹⁹ Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ²⁰ ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. Mt 28.

3. Porque Jesus está conosco em todos os momentos de nossa vida: 

²⁰ "E eu estarei sempre convosco, todos os dias, até a consumação dos tempos". Mt 28.

    Portanto, cada parte dessa palavra dirigida a Moisés também nos diz respeito. Deus fala a nós, por meio de Jesus, que está conosco a cada momento, conduzindo-nos até a Sua vinda.

   Devemos prosseguir como igreja de Jesus, essa a nossa identidade. A marca da nossa missão. Não haverá barreira que não possamos superar.

  

sábado, 30 de dezembro de 2023

Feliz 2024 (ou siga a sugestão de d. Betty Presunto)

 Eu tive uma professora de hebraico chamada Betty Bacon. Por causa do Bacon, a gente até fazia piada.

    E ela topava, por ser também britânica e muito irônica. Gozadora, no português do cais do porto. O marido era Henry "Presunto", também. Já falamos sobre ele neste blog.

   Pulou de paraquedas na Normandia, em 5 de junho de 1944, vai fazer 80 anos ano que vem. Leia sobre eles nos links ao final deste texto.

   Mas d. Betty Bacon, como a chamávamos, ela nos ensinava hebraico. E também sugeria que lêssemos a Bíblia do seguinte modo: supondo ser o livro em questão o único que existisse.

   E assim, descobrir o que falava sobre pontos centrais, como a fé, sobre Deus, sobre Jesus, sobre a salvação, enfim. Apliquei isso hoje e o fiz na carta aos Efésios.

   Talvez a que fale de amor do modo mais radical. E interessante, exatamente a uma igreja que terá problema exatamente nessa área. Entre esta carta de Paulo e a de Jesus, no Apocalipse, decorreram uns 40 anos.

   Efésios inicia com um Bendito dirigido ao Deus de bênçãos que abençoa com toda a sorte de bênçãos. Assim mesmo, redundante. Para logo dizer que elas vêm por meio e em Cristo.

  E que esse Deus nos ama desde antes da criação do mundo. E que nos direcionou para esse amor que, segundo Paulo aos Romanos, é derramado pelo Espírito em nossos corações.

   Não se trata de uma conta de dividir. A matemática de Deus é diferente. Ele não tem um amor infinito que, infinitamente, derrama numa conta matemática de dividir, cabendo então uma parcela infinitamente subdividida a cada um.

   Não. Ele, que é amor, derrama-se a Si mesmo no coração de cada um que nEle crê (porque sem fé, é impossível agradar a Deus), Ele derramado pelo Espírito no coração de cada um. Deus deu-se a Si mesmo em Cristo inteiro, todo, derramado no coração de cada um que crê.

   Na carta aos Efésios, Paulo ora para que a gente compreenda isso. Muito embora ele diga que (1) está acima de nossa compreensão, (2) que não tem limite essa doação de Deus, (3) que se confirma pela presença do Espírito em nós, (4) que isso significa ser tomado de toda a plenitude de Deus e (5) Deus ainda pode fazer infinitamente mais do que isso pedido ou pensado por nós.

   Está bom para você? Espera de 2024 algo mais, algo diferente disto ou isso exposto numa intensidade ainda maior? Será possível ou a Bíblia é o livro do blefe. Como está na moda dizer, é Fake?

    Lendo Efésios. Sejamos cuidadosos. 40 anos, mais ou menos, depois dessa carta de Paulo, Jesus repreendeu essa mesma igreja advertindo que haviam perdido o amor.

    Era uma cidade grande, era uma igreja grande, grande era a Diana (e o orgulho, veja em Atos 19) dos efésios. A vaidade da cidade invadiu aquela igreja. De tão autocompetente, virou a ONG de Éfeso.

   Caso não compreendesse a advertência de Jesus, este lhe moveria o candeeiro. No caso, teríamos 7 - 1 = 6 igrejas do Apocalipse. Sejamos sábios e humildes, como crianças, reconhecendo nossa fragilidade e dependência de Deus.

   Vamos nos permitir ser exortados a acolher o evangelho, depurado de nossa visão estreita. Tentar vivê-lo em plenitude, segundo essa proposta feita aos Efésios.

   E um Feliz 2024 para nós.

Links da história do casal Bacon:
1. Dona Betty:
2. Professor Henry Bacon:

domingo, 24 de dezembro de 2023

Se liga, mano: é Natal de Jesus

 "E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: ¹⁴ Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem." Lucas 2:13,14.

    Anjos misturado com pastores do campo. Dois níveis muito diversos. Um deles, celestial, místico, espiritual. Outro, terreno, geográfico, histórico e cultural.

  Alguns, quem sabe até, muitos dirão que se trata de uma cena muito linda e figurativa, embora inexequível. Carregada de um simbolismo essencial, magnífico, humano e enigmático.

   Entregue às ciências humanas, pode ganhar amplo espectro de interpretações, entregue à ciência das religiões, psicologia, sociologia, enfim, à filosofia. Sem ciência não entendemos o mundo à nossa volta.

   Mas literal, jamais. Anjos são personagens figurativas. Precisamos de exegetas que nos esclareçam o sentido do texto, para não sermos conduzidos aos equívocos históricos das interpretações literais.

   Ainda bem que a cena bíblica principal não é essa. Ufa! Mas esperem, então, qual é mesmo? Ora, para uma síntese da Bíblia, podemos antecipar o seguinte texto:

    "Por isso o Senhor mesmo dará a vocês um sinal: a virgem ficará grávida, dará à luz um filho e o chamará Emanuel." Isaías 7,14.

   Trata-se do anúncio, da profecia, se desejam o termo técnico, de que uma virgem seria engravidada pelo poder de Deus. Na verdade, não que seja o poder de Deus que a engravidaria, mas sim que Deus encarnou, nascendo dela.

    Opa! Chegamos ao ponto central das Escrituras. O Filho profetizado no Antigo Testamento é o menino testemunhado no Novo Testamento. Assim, desse jeito: "O Verbo se fez carne e habitou no meio de nós", Jo 1,14, essa a síntese.

    Ah, sim: por falar em anjos, foi um deles que deu  à vigem esse recado. Anjos não existem. Certo. Deus também não existe. E essa história de que encarnou, ou seja, Deus se fez homem na Pessoa do Filho dEle, Jesus Cristo, é o maior blefe da história.

   Se pensas assim, num extremo reducionismo, paciência. Não estamos aqui para lhe contradizer. Porque temos fé na existência de Deus. Embora haja os que têm fé na não existência de Deus.

   Trata-se de uma fé ao inverso. Pois saiba que tudo isso não depende de nossa fé para que seja verdadeiro. Não fomos nós que inventamos. Aliás, não foi inventado. Ocorreu o inverso: é verdeiro, primeiro, para somente então crermos.

    Deus se revela a cada um, para que então creia. Mas isso é voluntario. Deus é o único ser que nunca constrange, a não ser pelo amor. A fé não traça a direção de nós para uma história inventada. A fé provém da verdadeira história, para então se crer.

    Por isso que os anjos apareceram, naquela noite, numa explosão de alegria e glória a Deus. E justamente aos anônimos pastores, gente miúda e desprezada, como corriqueiramente ocorre (do que muita gente se aproveita na manipulação do "discurso do oprimido), a esses pequenos, anunciaram o maior e mais fantástico acontecimento.

    Nasceu o menino. Deus encarnou. O Salvador chegou. Pronto para se revelar a você. Sensacional esses anjos. Se liga, mano, literalmente, nessa história.

domingo, 17 de dezembro de 2023

Um menino vos nasceu

 Isaías 9,1-7

   O texto do profeta Isaías delineia, passo a passo, os efeitos de uma determinada situação histórica que, como é usual na profecia, aplicar-se, numa projeção mais ampla, ao longo da história é como prenúncio de tempos futuros.

   Neste caso específico, a terra angustiada é a de Israel que, no texto bíblico, sempre é referenciada como alvo desse tipo de projeção, num modo específico das Escrituras.

Terra angustiada - v. 1

29Deu-lhe o nome de Noé e disse: "Ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nos­sas mãos, causados pela terra que o Senhor amaldiçoou". [...] O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. 6Então o ­Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a ter­ra, e isso cortou-lhe o coração. Gn 5 e Gn 6.

    Neste trecho, espelha-se o estado da humanidade nos dias de Noé, fosse o seu nascimento, na avaliação de seu pai, fossem os dias antecedentes do dilúvio.

   Nas Escrituras, Jesus compara essa fase aos dias de Sua vinda, denunciando que o estado de iniquidade desses dois momentos correspondem-se.

Anúncio da luz - v. 2

3Disse Deus: "Haja luz", e houve luz. 4Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. [...] 15Porei inimizade entre você e a mulher,
entre a sua descendência e o descendente dela;
este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar". Gn 1 e Gn 3.

   Aqui, há distinção da luz, em relação às trevas, no sentido meramente físico, da natureza da luz, mas também no sentido metafísico.

   Luz, como distinção entre o bem de Deus, frente ao mal, entre os quais decisiva e definitivamente se distinguem. Deus é luz. E ela resplandece sobre as trevas, denunciando-a, superando e a vencendo.

O retorno da alegria - v. 3

10Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12Isto servirá de sinal para vocês: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura". 13De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: 14"Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor". Lc 2.

        A alegria vem da parte de Deus. Não que seja obrigação, não que seja artificial, não que seja provisória. O fundamento da alegria no Senhor são seus atributos.

   Deus reparte com o ser humano o seu amor. Não que não existam aflições no mundo, como o próprio Jesus assim o afirmou. Mas porque Deus redime e resgata no ser humano sua condição de total restauração.

Porque o jugo foi quebrado - v. 4

13Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, 14em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Cl 1.

Nunca mais haverá guerra - v. 5

10E providenciarei um lugar para Israel, o meu povo, e os plan­tarei lá, para que tenham o seu próprio lar e não mais sejam incomodados. Povos ímpios não mais os oprimirão, como fizeram no início 11e têm feito desde a época em que nomeei juízes sobre Israel, o meu povo. Também subjugarei todos os seus inimigos. Saiba tam­bém que eu, o Senhor, estabelecerei para ele uma dinastia. 2 Sm 7.



Por quê? v. 6
1. Um menino nos nasceu
2. Vai reinar
3. Seu nome o distingue:

  3.1. Conselheiro

13Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e anunciará a vocês o que está por vir. 14Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. 15Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.

  3.2. Deus forte

1No princípio era o Vervo., o Verbo estava com Deus e o Vervo era Deus. [...] 14 O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.

  3.3. Pai da eternidade

2Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. 3Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste

  3.4. Príncipe da Paz

27Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo.
Reino de paz sem fim sobre a casa de Davi
Firmado em juízo e justiça para sempre
O zelo do Senhor fará isso.

E Deus plantou um jardim

 "E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado." Gênesis 2:8.

   Pensamos na expectativa de Deus, quando planta um jardim, para nele pôr o homem que havia formado.

   Quando as Escrituras dizem que tudo quanto Deus fez, Ele mesmo viu que é bom, ficamos a refletir sobre o jardim, sobre o homem e mulher que criou e sobre a expectativa de os pôr nesse jardim.

   Um jardim necessita de cuidado, para ser mantido. Adiante no texto, uma das intenções de Deus aparece, quando se diz:

   ¹⁵ "Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar." Gênesis 2:15.

   O que, propriamente, Deus queria que fosse cultivado e cuidado estava ao encargo de homem e mulher descobrir. Mas adiante no texto, com a sucessão dos fatos, vem escrito:

   "...¹⁷ maldita é a terra por tua causa...¹⁸ Ela produzirá também cardos e abrolhos" Gn 3.

   Homem e mulher usurparam para si o jardim. Há uma autora, Clarice Lispector, que, em seus contos e romances, quando aborda a temática do jardim, sempre o mostra como distorção, e não como criação.

   Homem e mulher não cultivaram e nem guardaram o jardim que Deus plantou. Perderam, de si, a imagem e semelhança de Deus. Seu jardim, plantando do que lhes sai de dentro, é distorção e não criação.

   Jesus, numa de suas palavras, no circuito dos diálogos de Santa Ceia, nos capítulos 13 a 17 de João, resgata a função do Pai como agricultor.

   O Cântico de Isaías cap 5 fala de um amigo que plantou uma vinha, esperando o melhor das uvas. Todo um trabalho, feito com afinco, perdido. Mas não desistiu. Plantou outra vinha.

   Jesus diz que Ele é a vinha, nós somos a rama e o Pai é o operário da vinha, o agricultor. Deus recupera Suas expectativas. Ele espera que dê frutos, limpa, para que produza ainda mais.

   Não usurpem para si o jardim de Deus. Caso usurpado, será distorção, nunca criação. Paulo, aos Filipenses, quando ensina sobre o sentimento de Jesus, em Fp 2,6, afirma que Jesus nunca usurpa:

   "...⁶ que, embora sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus".

   Não é Jesus quem usurpa. Ele mesmo ensina quem usurpa. Não seja como Satanás, que usurpa para si. Não usurpe para si o jardim. Deus põe nele Suas expectativas.

   Mesquinha será a vida, como até mesmo ensina Clarice Lispector, de quem para si usurpa o jardim. 

domingo, 10 de dezembro de 2023

Tomando Josué por modelo

 ⁶ Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um à sua herança, para possuírem a terra. ⁷ Serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram por muito tempo depois de Josué e que viram todas as grandes obras feitas pelo Senhor a Israel. ⁸ Faleceu Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos; ⁹ sepultaram-no no limite da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás. ¹⁰ Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel.  Juízes 2:6-10.


   Qual é essa geração? Como saber a que geração pertencemos? As geração de Josué e as que sobreviveram a ele "viram todas as grandes obras feitas pelo Senhor a Israel".

   Porém levantou-se uma geração, após uma que permanecera fiel, e dela se diz "que não conhecia o Senhor". Vamos acompanhar os relatos sobre a liderança de Josué, para identificar o que significou, para aquelas gerações, ter permanecido fiel.

   Na vocação de Josué encontramos três aspectos decisivos, seja para ele, ou para a vocação de qualquer um:

⁷ "Tão somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. ⁸ Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido." Js 1:7,8.

   (1) Fazer segundo o que está na lei de Moisés, (2) Não cessar de falar do livro da lei e (3) meditar nele dia a noite. Precisamos ainda acompanhar a vida de Josué, para saber se foi assim.

   Primeiro, vemos Moisés o chamando para acompanhá-lo, seja nos momentos solenes, de proximidade com Deus, seja nos momentos de crise.

    13 "Moisés partiu com Josué, seu auxiliar, e subiu ao monte de Deus". Ex 24. 17 "Quando Josué ouviu o barulho do povo gritando, disse a Moisés: "Há barulho de guerra no acampamento". Ex 32.

   No maior momento de crise, em que houve guerra civil, tribos contra tribo, Josué estava do lado correto. 28 "Fizeram os levitas conforme Moi­sés ordenou, e naquele dia morreram cerca de três mil dentre o povo." Êxodo 32.

   A maior expressão do sentido da peregrinação do povo, que se reflete na identidade da igreja, configurou-se nessa crise, Ex 33,15-16. Uma vez superada, outra se configurou, quando Moisés reúne o povo, desta vez para que se revele o relatório dos espias, francamente desfavorável.

    Somente Josué e Calebe apresentaram um relatório compatível com a fé. Lembrar Paulo, em Rm 14,23, cuja definição é a mais ampla sobre pecado: ²³ "...e tudo o que não é de fé é pecado." Romanos 14:23.

   6 "Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, dentre os que haviam observado a terra, rasgaram as suas vestes 7 e disseram a toda a comunidade dos israelitas: "A terra que percorremos em missão de reconhecimento é excelente." Nm 13.

   Essa atitude corresponde à da minoria, expressa apenas por dois dos espias. E ainda mais, num contexto hostil, entre iguais, rejeitando-se entre si. Era para que ali todos concordassem em seguir adiante por fé. Destaca-se fidelidade na personalidade de Josué e Calebe.

   Posteriormente, quando Moisés pede a Deus um substituto para si, encontramos em Josué outras características que compõem sua personalidade.

   15 "Moisés disse ao Senhor: 16 "Que o Senhor, o Deus que a todos dá vida, designe um homem como líder desta comunidade 17para conduzi-los em suas batalhas, para que a comunidade do Senhor não seja como ovelhas sem pastor".

   18 "Então o Senhor disse a Moisés: "Chame Josué, filho de Num, homem em quem está o Espírito, e imponha as mãos sobre ele. 19Faça-o apresentar-se ao sacerdote Eleazar e a toda a comunidade e o comissione na presença deles. 20 Dê-lhe parte da sua autoridade para que toda a comunidade de Israel lhe obedeça." Nm 27

   Josué reúne, pelo menos, três características: (1) nele opera o Espírito do Senhor; (2) conserva características da liderança de Moisés; (3) é reconhecido perante a comunidade por suas qualidades.

   No momento decisivo da despedida de Moisés e da transmissão de seu cargo à frente do povo, Josué é plenamente indicado, pelo Senhor, como seu substituto:

    7 "Então Moisés convocou Josué e lhe disse na presença de todo o Israel: "Seja forte e corajoso, pois você irá com este povo para a terra que o Senhor jurou aos seus antepassados que lhes daria, e você a repartirá entre eles como herança. 8O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!". Dt 31.

   Em Josué 23,6 e 24,14-15, ele desafia o povo a continuar numa marca de fidelidade ao Senhor:

6 "Façam todo o esforço para obedecer e cumprir tudo o que está escrito no Livro da Lei de Moisés, sem se desviar, nem para a direita nem para a esquerda." Js 23.

   14 "Agora temam o Senhor e sirvam-no com integridade e fidelidade. Joguem fora os deuses que os seus antepassados adoraram além do Eufrates e no Egito e sirvam ao Senhor. 15Se, porém, não agrada a vocês servir ao Senhor, esco­lham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas eu e a minha família servi­remos ao Senhor". Js 24.

   A resposta do povo à exortação de Josué transparece o relatório posterior do autor de Juízes:

19 "Josué disse ao povo: "Vocês não têm condições de servir ao Senhor. Ele é Deus san­to! É Deus zeloso! Ele não perdoará a rebelião e o pecado de vocês. 20Se abandonarem o Senhor e servirem a deuses estrangeiros, ele se voltará contra vocês e os castigará. Mesmo de­pois de ter sido bondoso com vocês, ele os ex­terminará". 21 O povo, porém, respondeu a Josué: "De maneira nenhuma! Nós serviremos ao Senhor". 22 Disse então Josué: "Vocês são teste­munhas contra vocês mesmos de que escolhe­ram servir ao Senhor".

   Escolher servir ao Senhor. Para tanto, sim, confirmado, é possível tomar Josué como modelo. Seja esta a escolha desta geração. E que nunca esmoreça, servindo de mediação a uma geração que, displicentemente, afirme  não conhecer o Senhor.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Reflexões sobre olhares

⁶¹ "Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. ⁶² Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente." Lc 22:61,62.

   Olhares revelam ou escondem. São severamente irônicos ou misericordiosos. Hipócritas ou condescendentes. 

  Discriminatórios, aviltantes, preconceituosos, detratores, enfim, vai depender muito do caráter de seu dono.

   Deles somos alvo, quem sabe vítimas, mas também algozes, porque são armas. Uma leitura de olhares pode ser lúcida ou mero equívoco. Despiste.

   Lucas descreve o olhar de Jesus a Pedro. Pleno de conexões com a advertência anterior, de que o discípulo não seria capaz de conter sua covardia.

   Provocou em Pedro um choro amargo e reconhecido de arrependimento verdadeiro. Marcos não menciona o olhar de Jesus ao jovem rico, mas é o único que registra que Jesus o amou. Ora, Marcos e suas redundâncias.

  João registra o olhar de Jesus a Judas, deste vez, sim, o Iscariotes. Não o menciona, especificamente, como faz Lucas, mas um, ali, mirou o outro nos olhos, com certeza.

   A boca fala do que está está cheio o coração. Certo, mas Salomão aqui menciona um tal filtro de percepções para se saber como deve ser lido o que a boca falou.

   Olhares também são assim. Transparecem do que o coração está cheio. Mas é inevitável o filtro de leitura. Ainda que paralisado o restante do rosto. Tudo fala.

   É preciso ter cuidado com os olhares(?). A interrogação, entre parênteses, é porque pode (deve) ser lido como afirmação ou como pergunta (ou valem os dois).

   Obadias, sujeito observador, esse profeta, adverte se ter cuidado com os olhares. Como também advertiu Jesus, porque não é a imagem que entra pelos olhos que define, mas a leitura que faz o coração, dono desse olhar.

   É tudo muito rápido. Fala, Obadias, tua opinião sobre o olhar alheio: ¹² "Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade". Obadias 1:12a.

   E a consequente parte b deste mesmo versículo: ¹² "nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína". Obadias 1:12b.

   Ali, foi o olhar. Aqui, o coração indevidamente alegre. O que vemos, talvez nem seja, foi inopinado, súbito, não fomos cúmplices da cena. Não estamos nem aí, tenho nada com isso. Apenas fotografo com o meu olhar. Mas a leitura que fazemos revela que coração nós temos.

    O coração, então, como disse Salomão, regula a boca, mas também regula o olhar, como diz Obadias. Veja no livro desse profeta os sete "não devias" desse texto. Bela exortação, belo sermão.

   Todos somos ou fomos ou ainda é assim, alvo do olhar de Jesus para nós. Não podemos ver o seu rosto nem seus olhos. Talvez, imaginar.

   Mas ter um coração capaz de fazer leituras que sejam expressivas pelo olhar, isso nos compete, para que as pessoas identifiquem em nosso olhar o olhar de Jesus.

   Que leitura possível transmitem nossos olhos? Que leitura fazem de nossos olhares? Que imagens captamos, que tratamento damos a elas? É a realidade virtual ou a real da qual mais nos ocupamos?

   Jesus fixou os olhos em Pedro.