9490. Você já multiplicou os seus dias de vida pelos dias que representam? Não. Eu também não. E esse número aí, é o número de dias que estou no Acre, fazendo uma "conta de chegada", aproximada, de janeiro a janeiro, 1995-2021, sem contar fev-jun de agora.
quarta-feira, 16 de junho de 2021
Ensina-nos a contar os nossos dias
quinta-feira, 3 de junho de 2021
Memórias de seu Alonso - 3
Parece que há duas filhas,
Fantina e Lourdes, desse Coronel Cordeiro (ainda bem), que circulava fardado em
Brasília (Brasileia, não confunda), nos tempos áureos de seu Alonso, por
aquelas bandas, que nasceu, em 1935, bem coladinho à casa dessa personagem pitoresca.
E, para completar, era uma rua bem próxima à igreja católica, denominada rua da
Encrenca, sendo assim de boa vizinhança.
O Pe. Paulino Baldassari, famoso
em Sena, chegou a passar por Brasileia, antes de ficar famoso em Sena, falecido
perto dos 90 anos ou mais. Seu Alonso foi sacristão dele, nessa época de sua
passagem por lá, e foi casado por ele em 1957, justo no ano de meu nascimento.
Houve uma discussão, entre Joaquim e Alonso, se foi esse padre que construiu a Sé, em Brasileia, mas seu
Alonso confere que já havia igreja erguida. Bem, pode ter ampliado, quem sabe.
Quando Alonso chegou a Rio
Branco, tempo ainda do bispo Dom Giocondo, falecido em desastre aéreo, em 1971,
ele auxiliou na construção da Catedral da cidade. Mas era uma antiga, situada
onde hoje é a Galeria Meta, ali, a lado da antiga sede do Colégio Meta, na Epaminondas Jácome, na beira do
Rio. Houve uma primeira visita dele, em 1954, agora o ano em que meus pais
casaram.
Agora, sim, a Catedral, essa que
hoje existe, estava sendo erguida, com o Mestre de obras Luiz, projetos do Pe.
Andre Sicarelli, sob o episcopado de Dom Giocondo Maria Grotti. Alonso ganhou uma
máquina de costura Singer, das melhores, da mesma marca da que minha mãe tinha,
da parte do bispo, como ajuda de custos por seu trabalho. Detalhe, era uma máquina
de estimação, porque a profissão anterior do bispo era ser alfaiate.
Seu Alonso trabalhava como carpinteiro,
mas chegou a efetivamente construir, devido ao seu progresso na profissão. Onde
é o Cine Acre, de Waldir Pinheiro, é construção dele. Do mesmo dono, o Rio
Branco Hotel, assim como os dois edifícios da cabeça da ponte nova, construções
dele, Edifício Pedro Luiz, um deles. Incluam a sede do DerAcre, em meio ao
descampado, ponham em sua conta também. Raimundo, João e o mais novo, Manduca,
eram sócios no hotel que Alonso também ergueu e filhos do Luiz Pedro, que deu
nome ao edifício acima citado.
Havia terminado o Hotel, em 1967,
ano que fui morar no Meier (em que nasceu pessoa muito especial, mas cala a boca), estava construindo o edifício, em 1968, ano em que
fiz o Admissão, com a Profa Cleuma, com quem frequentemente converso, veio o
mais velho deles, seu Raimundo, que morava em Belém, e era sócio da Fábrica
Aliança. Ficavam num quarto do Hotel, onde havia uma empregada que os servia,
quando, certo dia, o amigo que veio em sua companhia desceu à obra.
Apresentou-se como Engo. Civil, Manoel
Nogueira Filho, vindo com o Raimundo, dono da empreitada, para construir o Dpto
de Estrada de Rodagem do Estado do Acre. Vendo você trabalhar aqui, falei com o
Raimundo, João e Manduca para que, quando for iniciar as obras, levar você
comigo, mesmo porque você conhece todos os operários aqui. Está combinado, eu
falei com ele e ele libera.
Bem, Alonso respondeu, ele
liberando, vou, porque tenho um contrato com ele para erguer o edifício. Mas se
ele liberar, eu vou. Assim ficaram amigos, visto que o quarto de hospedagem era
bem ali, de onde o engenheiro apreciava o trabalho de seu Alonso, até que certo
dia ele sentenciou: vamos começar as obras. Foram à Construacre comprar o
material e construíram o Deracre lá, no isolado do descampado.
Terminada a obra, foi quando o
Dr. Nogueira lhe ofereceu tomar o livro de assentos dos funcionários, convidando
Alonso a integrar o rol, como o primeiro deles, visto que esse próprio
engenheiro seria o chefe. Mas Alonso só disse “Não, quero isso nada, doutor:
vou voltar e terminar o prédio do homem”, no caso, o Edifício Pedro Luiz, de
seu Raimundo. Ora, eu comecei, não vou deixar em meio de viagem. E não adiantou
o Nogueira argumentar que já havia solicitado seus serviços ao Raimundo.
Rodagem, para seu Alonso, era varar varadouros, de Assis Brasil até Rio Branco.
Rodagem em estradas, definitivamente, não era com ele.
Memórias de seu Alonso - 2
Como dizíamos, o pai de seu
Alonso foi para o seringal em 1945. Era ex-policial da ex-guarda territorial,
época da construção simultânea do Palácio, do Quartel da PM, quando a prefeitura
atual era ainda uma penitenciária. Ele nasceu em Brasília, que depois passou a
Brasileia, em 1935. Quem lutou ao lado de Plácido de Castro, da família de seu
Alonso, foi seu avô, o pai de sua mãe, Aurora Umbelina de Lima.
José Bonifácio de Lima, esse o
herói, com Plácido de Castro, da guerra acreana de revolução, avô de seu Alonso.
Uma tia dele, irmã mais nova de sua mãe, apelidada tia Preta levou, para
Manaus, documentos que comprovavam essa milícia do avô. Estão sepultados, pai e
filha, em Brasileia, ele falecido em 1952.
Seu Bonifácio era dono de três
dos famosos rifles de papo amarelo, tendo morado por muito tempo com o genro, pai do seu Alonso, no seringal, por este ter pedido dispensa da polícia. A maioria dos ex-guardas
territoriais foram reaproveitados na PM, quando da emancipação do Estado em
1962. Em 1944, com 9 anos de idade, seu Alonso já começava a cortar seringa
com o próprio pai.
Fazendo as contas, começando aos
9 anos e, como ele diz nesta gravação, trabalhando até agora, são cerca de 75
anos ininterruptos de trabalho. Comentou como exorta jovens que ele percebe que
não apreciam essa mesma jornada. Seu Alonso passa a narar a jornada que fez,
com uma boiada, de Brasileia a Rio Branco, hoje, por estrada, cerca de 280
km, nos tempos áureos, parando para
dormir, perguntei onde: ele respondeu, “onde escurecia”.
O caminho era aqueles dos
seringais, pelos varadouros, pelos caminhos do escoamento da borracha. Fossem
seringais brasileiros, fossem bolivianos, ora, daqui a Cruzeiro do Sul,
extremo oeste do Acre (e do Brasil), atuais 670 km de estrada, havia
varadouros, comenta Joaquim. Calculava-se o rumo, por esses varadouros, trazendo o gado, de colocação a colocação para que, uma vez declinando
a tarde, nela haveriam de pousar.
Vinham serpenteando, ora dentro
da Bolívia, ora dentro do Brasil, até que chegassem ao Quinari, apelido do
município de Senador Guiomard Santos. No total, 9 dias e nove noites, ainda não
existindo, do Quinari a Rio Branco, estrada, mas ainda varadouros. Um dos pontos,
dentro da fazenda Palmares, do Engo. Agrônomo Carlos Neves, é a nascente do
Iquiri, igarapé este por dentro do qual o gado atravessou, local que hoje
abriga a Alcobras, tentativa de uma usina acreana de álcool.
Vinham com burros de carga,
aqueles utilizados para puxar a borracha pelos varadouros, e alguns cavalos,
tocando o gado, municiados principalmente do rancho, cuja dieta alimentar incluía, é claro,
a farinha e a carne seca, fosse de gado, de porco ou ainda galinha frita que,
na farofa, durava dias. Vinham Alonso, com dois primos de sua primeira esposa,
Pedro Alves, Igor, o irmão, e um cunhado deles, o João Benvindo.
As 11 cabeças eram gado de seu
Alonso, e outras restantes dos companheiros, chegando o total a cerca de 25
cabeças. Dessa época, recentemente, seu Alonso encontrou o Sebastião Flores,
dos tempo áureos, que conheceu seu Alonso desse tempo em que começou a criar
todo esse gado. Seu Alonso lembra e menciona os primeiros patrões, os coronéis
dos seringais. Esse, andava fardado, com patente comprada, e contava histórias
de uma possível participação na guerra de Plácido.
Memórias de seu Alonso
“Eu quando morrer, não vou embora daqui não: vou ser
enterrado neste seringal”. Assim, como uma gostosa gargalhada, iniciou-se esse
tour de recordações de seu, quer dizer, nosso Alonso sobre sua vida nos
seringais.
Contou sobre sua quarta irmã, Alzenir, que, sim, foi
sepultada num seringal, possivelmente vitimada por febre amarela. Porque não
havia médico no município, somente o farmacêutico, e ninguém soube do que se
tratava. Ele trabalhou no seringal Nazaré, colocação Esperança, município de
Brasileia.
Era com o Sr. Raimundo Siriaco Braga, que dizia a ele que,
já que todos já haviam ido embora, se ele não iria também. Seu Alonso brincava,
então, que não, que seria o último a ficar ali, que seria enterrado nesse cemitério
aí, lá mesmo, onde Alzenir jazia.
Esse era seu pensamento, comenta, mas logo reafirma que não
foi o de Deus. De lá saiu para uma cirurgia do coração, operou e se sentiu bem,
retornou para trabalhar no mesmo ritmo mas, como afirmou, uma coisa mínima o
afetou: as vistas. Sem visão em uma delas, perdeu a nitidez de poder enxergar
com os dois olhos.
As terras que adquiriu, pertenciam ao seringal Barro Alto,
de Severino de Souza Oliveira, o gerente (ou comboieiro), e de um seringalista
por sobrenome Lopes, de Manaus. Esse Lopes, o velho, foi levado pela esposa,
doente, para essa cidade, lá pelos idos de 1926. A esposa escreveu uma carta ao
comboieiro, que ficasse gerenciando o seringal até que ela voltasse.
Gerente honesto, em 1928 pagou precatórias ao Banco do
Brasil, de umas dívidas do Barro Alto. Com a derrocada dos negócios da borracha,
com a Malásia superando o Brasil na produção, assim como pela idade avançada do
Severino, este comprou um maquinário e mudou sua atividade.
Acabamos por comentar sobre o primeiro e o segundo ciclos da
borracha. O primeiro, de cerca de 1877 a cerca de 1920, com o boom da borracha
no mundo. O segundo, devido ao esforço de guerra, encerrado com ela em 1945,
quando vieram para o Acre os denominados “soldados da borracha”.
Aqui entra a história do pai de seu Alonso, um soldado da
borracha, um ex-militar da ex-polícia territorial do Acre, época da construção
do Palácio do Governo, do quartel da PM, da construção da penitenciária, onde é
a atual prefeitura, quando foi transferido para Brasília, antigo nome de
Brasileia, em 1935.