terça-feira, 14 de maio de 2024

Uma pequena (grande) homenagem (um pouco) atrasada às mães.

 A tradução da Bíblia da minha mãe

 A vida dos cristãos é a primeira Bíblia que os não cristãos leem

Por Erní Walter Seibert

    Conta-se que um grupo de pastores estava discutindo sobre tradução da Bíblia. Várias traduções foram mencionadas e argumentos eram apresentados a favor de uma ou outra tradução. Um dos pastores ouvia tudo em silêncio. Então, alguém resolveu provocá-lo para que ele entrasse na conversa, perguntando: "Qual é a melhor tradução da Bíblia, na sua opinião?" 

    O pastor pensou um pouco e disse: “Para mim, a melhor tradução é a da minha mãe.” A resposta causou estranheza. E alguém disse: “Não sabia que sua mãe era tradutora da Bíblia.” Ao que o pastor respondeu: “Ela não é tradutora no sentido que vocês estão falando. Mas a maneira como ela traduzia a Bíblia na sua vida, no seu jeito de ser, era única. Por isso que falei que era a melhor tradução que eu conhecia.”

    A pergunta sobre a melhor tradução da Bíblia é bastante comum. É uma pergunta que pode ter um sentido acadêmico. Mas uma tentação muito comum é levar o tema para uma discussão estéril onde, nem sempre, a preocupação da boa tradução é a motivação principal. Como nós traduzimos a Bíblia, em nossa vida é, sem dúvida, algo muito importante.

    Como estamos no mês das mães, vale a pergunta: Como as mães estão traduzindo a Bíblia na vida delas? Como as crianças veem a Bíblia traduzida na vida das mães? Como os esposos veem a Bíblia traduzida na vida das esposas? Como as amigas, as colegas de trabalho, veem a Bíblia traduzida? E a pergunta não vale apenas para as mulheres, ela pode ser feita para todos. Como o pai, o marido, o trabalhador, o patrão, o cidadão estão traduzindo a Bíblia na vida deles?

  A vida dos cristãos é a primeira Bíblia que os não cristãos leem. Como traduzimos os ensinamentos bíblicos em nossa vida é a maneira como as pessoas passam a dar crédito ou a desacreditar do ensino bíblico. Por isso, a tradução da Bíblia na nossa vida é tão importante.

    A tradução do texto bíblico de uma língua para outra é algo muito relevante. A tradução de uma língua para outra antecede a tradução da Bíblia na vida. Existem agências bíblicas que fazem isso há séculos. A história dessas agências e das pessoas que se dedicaram a este ministério é algo tocante e inspirador. 

    Graças a esse trabalho, literalmente, bilhões de pessoas conseguem ter acesso a esses ensinamentos atualmente. A obra continua sendo feita. E, quando essas traduções de uma língua para outra começam a ser feitas, inicia-se a segunda tradução, a tradução do ensinamento da Bíblia para a vida. Essa segunda tradução proporciona credibilidade à primeira tradução. Uma não vive sem a outra.

    Por isso, nossa palavra de incentivo para as mães, para os pais, para todos que amam a Bíblia é: continuem traduzindo a Bíblia na maneira como vocês vivem. As pessoas observam nosso viver e se inspiram por ele. Dessa forma, são guiadas ao texto bíblico.     

    Nele, todos irão encontrar o fundamento de uma vida que crê em Jesus Cristo, que se inspira na mensagem do perdão, e que pratica o exercício do arrependimento diante do pecado e da nova vida diante da graça de Deus. Sejamos todos tradutores da Bíblia, vivendo em conformidade com o seu ensinamento.

·         Erní Walter Seibert, diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil e Vice-Presidente das Sociedades Bíblicas Unidas.


Site da Revista Ultimato:

https://www.ultimato.com.br/conteudo/a-traducao-da-biblia-da-minha-mae

Nada faltará

   Russel Shed comenta ser este o texto das Escrituras que, provavelmente, mais usa o pronome "eu"/"me"/"meu", colocando a 1ª pessoa em destaque.

    E também a 3ª pessoa, por se tratar de referências a ela, pelos benefícios, e somente estes, recebidos. Senão, vejamos:

¹ "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. ² Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; ³ refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. ⁴ Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. ⁵ Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. ⁶ Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre." Salmo 23

Faça o e exercício, teste o seu efeito e, ao final, clique no link e ouça o cântico:

1. Ele: o Senhor é pastor
1. Eu: o meu e
1. Benefício: nada faltará
2. Eu: a mim
2. Benefício: Deitar faz em pastos verdejantes
3. Eu: a mim
3. Ele: Leva
3. Benefício: a águas de descanso
4. Eu: a mim
4. Ele: (Ele)
4. Benefício: Refrigera (converte a Si)
5. Eu: minha alma
5. Ele: (Ele)
5. Benefício: Guia por veredas de justiça
6. Eu: a mim
6. Benefício: por amor
6. Ele: do nome Seu
7. Eu: Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte/
8. Eu: Não temerei mal nenhum
7. Ele: Porque Tu (Ele)
7. Benefício: está
9. Eu: (Ele) comigo
8. Ele: a Tua vara (dEle) e o Teu cajado (dEle)
10. Eu: a mim
8. Benefício: consolam
9. Ele: Prepara
9. Benefício: uma mesa na presença
11. Eu: de inimigos meus
10. Ele: Unge
10. Benefício: com óleo
12. Eu: a minha cabeça
13: Eu: o meu cálice (na presença de inimigos) 
11: Benefício: transborda.
12. Benefício: Bondade e misericórdia 
11. Ele: (dEle)
14: Eu: me seguirão todos os dias
15: Eu: da minha vida
16: Eu: (Eu)
13: Benefício: habitarei para todo o sempre
12: na casa do Senhor (casa dEle).

Salmo 23 - Vencedores por Cristo

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Com que olhos ver

 ⁸ "Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim." Isaías 6.

   Isaías afirma que ouviu a voz de Senhor, que expressava esse apelo. Ainda que suspeitássemos dessa afirmativa do profeta, poderíamos considerar alguns detalhes.

   Foi o único que ouviu? Pelo menos, aos que deseja enviar, Deus faz esse mesmo apelo? Porque a sentença soa como a generalização de um dilema: Deus sempre deseja enviar e há sempre falta de quem queira ir.

   Seria, então, essa expressão "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?" apenas retórica? Ou podemos confirmar, mais ainda que, além de ser dirigida a todos e demais quaisquer profetas, podemos confirmar que esse apelo é dirigido a todos?

   Evidentemente, a todos os que creem. Porque, para começo de conversa, como se diz, começa por ler, nesse texto, autenticidade. Trata-se das Escrituras, do testemunho do chamado pessoal do profeta e do modo como se viu diante de Deus: "Eu vi o Senhor".

   E ouviu também. Com que olhos vemos Deus? Caso diga que seriam esses, os físicos, não são esses os olhos da fé, como instrui a Bíblia. Porque estes, os físicos, enganam.

  E quando não são eles, que enganam, será o coração, como comenta Jeremias, que engana. Por isso a Bíblia afirma, por boca de Jesus, "Felizes os que não viram e creram".

   Ao profeta Deus concedeu, sim, a visão que ele descreve. Mas afirmar, como destrato, que se não houver visão semelhante a essa não haverá chamado, vocação ou envio, é fake.

   Porque Jesus, na conversa com a samaritana, quando interpelado pelos apóstolos, aliás, que avaliavam como imprudente aquela atitude de Jesus, ele mesmo que diz:

³⁵ "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa."

   É Jesus que exorta a não ficar esperando uma visão pseudocarismática, mas erguer olhos e olhar os campos. Deve ter sido mesmo Jesus que lançou a frase "O campo é o mundo".

   Porque essa outra, "Porque Deus amou o mundo", foi Ele, com certeza. E porque Deus amou o mundo, o campo é o mundo, ou seja, todos e cada um. E a visão se tem, ao erguer dos olhos.

  Claro que os olhos físicos contam. Principalmente, depois do que o amor de Cristo opera em cada vida que Ele encontra. A samaritana, por exemplo:

²⁸ "Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: ²⁹ Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! ³⁰ Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele." Jo 4.

   Ela foi correndo procurar os que mais perto dela estavam. Largou o cântaro. Devem ter perguntado a ela, mas e o cântaro? Ela respondeu com o convite acima: "Vinde comigo, vede o homem que diz tudo".

   Jesus é o homem que diz tudo. Ele simplifica nossa perplexidade em relação à vida. Jesus preenche a existência. Por isso disse, sem nenhuma exorbitância, quando Tomé se viu desorientado:

⁵ "Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? ⁶ Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." Jo 14.

   Sim. Esse "Quem há de ir por nós?" não é retórico. Beira o dramático. E é a Trindade que assim se expressa. Deus carece de que atendamos esse chamado. Sim, é pada todos os que creem. Todos somos profetas. E a visão, basta erguer os olhos e, como Paulo (mais um dos que atendeu), ver com os "olhos do coração".

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Cuidado com o lacrimejar fake

 ⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus". Fp 2.

    Esse texto das Escrituras é fantástico. Frequentemente, como aquele outro, dessa própria carta, "Tudo posso, naquele que me fortalece", muitas vezes focado fora de seu contexto.

  Lá pelo início dos anos 90, quando pastoreava Copacabana, eu e meu amigo Eneas, ele católico e eu evangélico, praticávamos capelania no Anexo do Complexo Penitenciário da Frei Caneca, no Rio, prédio que não mais existe, implodido em 2010.

  Para ilustrar esse (des)entendimento do versículo fora de contexto, eu ministrava estudos bíblicos, nesse Anexo, que abrigava policiais apenados. Um deles me contou que, para motivar o irmão, num assalto muito arriscado que planejaram, a um depósito de gás, utilizou o incentivo desse "Tudo posso, naquele que me fortalece".

   E ele arrematou: "Pastor, animei-o com esse verso da Bíblia, fizemos o assalto e, graças a Deus, correu tudo bem, porque, ainda que houvesse tiroteio, ninguém foi ferido".

   Pois esse outro, de Fp 2,5, sobre "ter o sentimento de Cristo", também bastante romanceado, em seu uso, requer reflexão. Já que fica no início de uma perícope, como costumamos denominar uma unidade bíblica de pensamento.

  E ela remete ao sentimento com que Cristo refletiu sobre sua tarefa, de deixar a glória do Pai, assumir sua humanidade, ser rejeitado, humilhado, torturado e morto. Diante dessa opção de Cristo, nutrirmos o mesmo sentimento dele, não é simples e nem romântico.

   A começar, em nós e, por nós, pela identificação do sentimento nosso corriqueiro. Porque há sempre, em nós, o que rivaliza com o sentimento de Cristo. Aliás, este é em nós implantado, a partir do momento que surge, em nós, o novo homem que, segundo Paulo, ¹⁰ "... se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou", Cl 3.

   Tiago chega a descrever o sentimento nosso, de origem, definindo-o como: ¹⁴ "Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. [...] ¹⁶ Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins." Tg 3.

   Pois o nosso sentimento, herança do velho homem, vivo e ativo, na espreita, dentro de nós, pode imperar, rivalizar e ocupar o lugar desde sentimento de Cristo. Portanto, uma atitude inicial, na origem mesma da intenção em nutrir esse sentimento que Paulo identifica e recomenda, está na luta interna contra esse nosso próprio sentimento.

     E nossa especialidade, vejamos bem, é, como define Tiago, o "sentimento faccioso", quer dizer, não há ninguém melhor do que eu e o grupo que, em torno de mim mesmo, se agrega. E não sou (ou não somos) melhores, por causa do(s) outro(s), esse "próximo", a quem Jesus se refere. Para citar Sartre, um ateu convicto, que afirmou "o inferno são os outros". Ele acertou: o outro nos revela. 

   Vamos deixar de disfarces, de nossa moldura "espiritual", nossa piedade fake, aceitar o discernimento do Espírito, ainda que dolorida a realidade que esse espelho nos revela, e aceitar a cirurgia, essa circuncisão diária, feita pela mão de Deus, despojando-nos, a cada dia, desse tão nós mesmos velho homem:

²² "... no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, ²³ e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, ²⁴ e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade." Ef 4.

   Essa é a verdadeira circuncisão: ¹¹ "Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo," Cl 2. Cirurgia essa sem anestesia.

  Caso, irmão, estejamos, nesse processo, sentindo certa dormência, sensação indolor e eventual lacrimejar, cuidado, pode ser pura hipocrisia nossa. 

   Mas caso haja arrependimento, vai prevalecer a modalidade sincera do choro translúcido, plenamente possível, expresso naquela bem-aventurança. Desconfie e avalie: se assim for, esteja em paz.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

A primeira oração de Paulo aos Efésios

 ¹⁵ Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, ¹⁶ não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, ¹⁷ para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, ¹⁸ iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos ¹⁹ e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; ²⁰ o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, ²¹ acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. ²² E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, ²³ a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. Efésios 1.

    John Stott (1921-2011), pastor anglicano, igreja oficial inglesa, é um dos mais importantes teólogos de nossa época.

     Em seu comentário sobre a carta de Paulo aos Efésios, de modo magistral, ele subdivide a parte inicial do capítulo 1 em duas partes de sentido geral: benção, em 1,3-14, e intercessão, 1,15-23.

   Nesta segunda parte, Paulo explícita as razões por que, uma vez tendo recebido notícias da fé daqueles irmãos, no Senhor Jesus Cristo, e de seu amor para com os demais crentes, então expõe em que termos intercede por eles.

   Começa por dizer que pede a Deus, a favor deles, "espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Deus". Este é o ponto de partida para as demais implicações mencionadas pelo apóstolo nesta oração.

   Em sua carta 1 aos Coríntios, Paulo explicita que é o Espírito quem nos revela o que Deus tem, para nós, preparado:

  ⁹ "... mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. ¹⁰ Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus." 1 Co 2.

   E nesta mesma carta, adiante, Paulo indica que conhecer Deus é fundamental para se vivenciar o Seu amor, para assim o crente, na expressão de Paulo, ser "tomado de toda a plenitude de Deus", Ef 3,19.

   Portanto, o começo da vida cristã, na perspectiva de Paulo, significa receber de Deus, concedido pelo Espírito, esse espírito de sabedoria, que seria uma disposição para reunir todo o intelecto e sentimento, o ser inteiro posto nesse propósito.

   Por isso Paulo menciona os "olhos do coração". Esta expressão significa não somente e meramente enxergar algo, mas pôr toda a atenção e com todo o ser, significa o compromisso inteiro e o sentido pleno da conversão a Cristo no específico que diz respeito à fé.

   Iluminar é o termo bíblico-teológico por excelência da ação do Espírito no crente, ou seja, naquele que tem fé. Desde a compreensão primeira do evangelho, quando se diz "sim" a Jesus, passando pela compreensão primeira das Escrituras e avançando em direção à plenitude desse mesmo Espírito, em tudo somos por Ele iluminados.

   Então, Paulo está instruindo aqueles crentes a aspirar, de modo permanente, a que conheçam Deus, dEle recebam sabedoria e sejam plena e constantemente iluminados pelo Espírito nesse propósito.

   E então Paulo passa a enumerar o que é essencial que eles saibam. Primeiramente, "qual é a esperança do seu chamamento". O chamado de Deus é a primeira vez que ouvimos sua voz. Mais do que audição, no sentido físico, é um chamado interior, a todo o intelecto e ao coração.

   E a esperança desse chamamento diz respeito às garantias, a plena consciência de verdade, o laço da comunhão, que implica nova raiz para a vida, e a realização plena futura de toda a expectativa da fé.

   Esse primeiro rogo de Paulo em sua oração tem a ver com o primeiro passo da conversão. O segundo é "qual a riqueza da glória da sua herança nos santos". Este segundo rogo de Paulo diz respeito à continuidade da ação de Deus na vida da igreja.

   Quando Jesus, em sua oração, em João 17, menciona a glória que, com o Pai, pela eternidade afora sempre teve, agora, diante da cruz, pede restituição dela tendo, no mundo, com plena realização, compartilhado dela aos homens e mulheres, em seu ministério.

    É sobre a riqueza, o valor dessa glória que Paulo está falando. Seja no Antigo, quanto no Novo Testamento, a glória de Deus fala de sua identidade. E Ele a compartilha conosco, sendo a igreja, em sua plenitude em Cristo, a face dessa glória no mundo.

   Essa é nossa herança. É o "Deus conosco", Mt 1,23, como foi dito a Maria. E o andar com Deus, Gn 6,9, em Enoque, é Cristo em nós, a esperança da glória, como menciona Paulo em Cl 1,27-29.

  E Paulo encerra descrevendo o que, como crentes, supre-nos dia a dia: o poder de Deus. A concessão desse poder tem relação direta com a identidade da igreja: ela é testemunha de Jesus. Em At 1,8 está escrito que recebemos poder do e pelo Espírito para ser testemunhas de Jesus.

   E em At 5,32, está escrito: "...somos testemunhas, bem assim o Espírito Santo". A natureza desse poder, exclusivo e concedido à igreja, não representa a ânsia e loucura inebriantes, pela simples menção da palavra "poder", no mundo de hoje.

   Mas o específico da missão da igreja, sua autoridade e identidade no mundo, dar testemunho de Jesus. Por isso, em sua despedida dos apóstolos, na última Páscoa, em Jo 14,12, Jesus indica que a igreja, no mundo, dá continuidade à Sua obra, assim como opera mais obras do que Ele próprio.

   Portanto, nesta oração Paulo se ocupa em afirmar que Deus concede toda a convicção da amplitude de nosso chamado para a fé, a glória que Jesus sempre dela privou e o poder que confere à igreja sua identidade e autoridade.

domingo, 28 de abril de 2024

Bendito o Deus de bençãos que abençoa - Paulo e seu Salmo aos Efésios

   Bendito o Deus de bênçãos que nos tem abençoado. Soa, parece e se confirma como redundante, por três vezes, afirmar-se benção, bendito e abençoa.

  Mas com Deus é assim mesmo. E nesse Salmo do Apóstolo Paulo, ele inicia como muitos salmos do saltério iniciam. E logo passa a enumerar com que bençãos o Deus de bênçãos abençoa.

   A primeira, e olha que só bastaria essa, é o amor com que nos ama desde antes da fundação do mundo. Ora, se o Gênesis inicia com "No princípio, Deus criou os céus e a terra", o amor de Deus por nós se antecipa.

   A segunda benção mencionada é que Deus nos escolheu nele, ou seja, na comunhão de propósitos, Deus nos quer santos e irrepreensíveis perante Ele. Portanto, amor e a santidade são as duas primeiras bênçãos.

   Também nEle mesmo, ou seja, algo somente possível por meio de Deus e obtido em comunhão com Deus, nos predestina para sermos filhos dEle, numa adoção em Jesus Cristo. Esta a terceira benção aqui mencionada.

   Em meio a essa descrição das bênçãos de Deus, sempre aparece no texto que Deus tudo faz por meio de seu próprio beneplácito e em louvor de sua glória. Deus é dadivoso em essência, e conosco compatilha Sua imagem e semelhança.

   Pois neste trecho aparece a graça de Deus como a nós concedida, palavra esta que não tem uma tradução exata em nossa língua. É como se disséssemos que Deus, plenamente dadivoso, ainda tem mais a oferecer, além do que graciosamente já nos concede.

   E agora aparecem a quinta e sexta benção, redenção e remissão de pecados, em e por meio do sangue de Jesus Cristo, aliás por meio de quem todas essas bênçãos aqui mencionadas nos alcançam. E ao mencionar, mais uma vez, a graça de Deus, expressa mais duas bençãos, a sétima e oitava mencionadas.

   Que são o desvendar da vontade de Deus, a nosso respeito, por meio de Jesus, assim como o fato de termos sido, para Deus, feitos herança, do mesmo modo, por meio de Jesus.

   Paulo encerra seu Salmo de Louvor enunciando a nona e décima benção, de sermos, como igreja, destinados para louvor da glória de Deus e ter, como garantia de tudo isso, o selo do Espírito Santo, que nos batiza em Cristo, em quem estamos, depois que ouvimos a mensagem do evangelho, tendo nela crido, desta forma estarmos em Cristo, em plena comunhão.

   Estas são as 10 bênçãos que Paulo menciona, nesse seu Salmo introdutório da carta aos Efésios, a qual expressa detalhe a detalhe o que significa ser igreja de Jesus Cristo.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Fala a Timóteo

   Aprendemos muito do que vai escrito nas cartas paulinas. Sejam as dirigidas ao grupo inteiro, às igrejas, ou aquelas pessoais, como a Timóteo, duas delas, a Tito e a Filemom.

   Aqui iniciamos com a introdução à 1 Timóteo. Duas afirmações que destacamos: (1) o que Paulo diz de si mesmo, "apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus", e (2) quando se refere a Timóteo, como "verdadeiro filho na fé".

   Paulo considerava-se um apóstolo "nascido fora de tempo", 1 Co 15,8, porque foi um chamado temporão. Aquele líder fariseu eficientecíssimo, que "assolava a igreja", At 8,3, foi transformado por ação direta de Deus em sua vida:

   Nessa própria carta a Timóteo, Paulo atesta seu testemunho pessoal: 

  ¹² "Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, ¹³ a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. ¹⁴ Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus." 1 Tm 1.

   Dessa mesma experiência de chamado são alvo os que Deus convoca para ser apóstolos. A igreja de Cristo é composta por apóstolos e profetas. Jesus afirma isso: ¹⁸ "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.", João 17.

    As duas palavras para "enviar", nessa fala de Jesus, são o verbo grego "apostellw", de onde provém a palavra "apóstolo". E o "assim como" que Jesus menciona, acima, indica que, após Pentecostes, todos somos apóstolos de Jesus.

    E Paulo Apóstolo, em 1 Co 14,1, afirma, sem nenhum engano, que também somos profetas: ¹ "Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis.".

    Essas duas investiduras dependem dessa mesma vocação e chamados divinos, por meio de Jesus, autoridade do Espírito e imersão nas Escrituras. Como era dito aos profetas do Antigo Testamento: ¹ "... come este rolo, vai e fala à casa de Israel." Ez 3.

   Quanto a Timóteo, uma breve nota de Lucas, em sua narrativa nos Atos dos Apóstolos, indica quando os dois se encontram:

¹ "Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; ² dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio. ³ Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares; pois todos sabiam que seu pai era grego." Atos 16.

   E daí para diante, entre os dois, estreitou-se a comunhão filial, fraternal autêntica, de irmãos em Cristo e de marca de fidelidade de um filho para com o seu pai na fé.

     A fé que faltou a Ló, alvo dessa mesma afabilidade, da parte de Abraão, era autêntica e presente em Timóteo. Paulo a destaca como "sem fingimento", a mesma de sua avó e mãe:

⁵ "... pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti." 2 Tm 1.

   Não se herda fé. Essa, constatada por Paulo, em Timóteo, era autêntica na fonte, e houve na vida de Loide e Eunice. Evidente que ali, a avó evangelizou sua filha, pela vida e pela palavra, e a filha a imitou em relação a Timóteo, respectivamente filho e neto.

   Como Eva havia feito em relação a Sete e Enos, respectivamente filho e neto. Embora a Escritura, neste caso, não afirme que o filho Sete tenha "invocado o nome do Senhor", como sua mãe e filho o fizeram.

   Pois "a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Cristo", como indica o próprio Paulo aos Romanos, em 10,17. Nesse ato de ouvir, o Espírito Santo atesta verdade, também confirmado:

 ¹³ "Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais." 1 Co 2.

   Verdadeiro filho na fé. Autenticidade que provém do testemunho do Espírito a respeito da palavra de Deus, o evangelho, transmitido pelos que antes ouviram. E há urgência nessa advertência:

  ⁷ "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas." Apocalipse 2.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Encontro online entre pastores na Amazônia

      

  Mais um encontro entre os pastores da Associação Norte do Brasil, deta vez os pastores Jeremias, o nosso presidente, e mais os irmãos pastores Roberto, de Manaus, Reinan, de Boa Vista, e Cid Mauro, da congregação do bairro Manoel Julião, em Rio Branco.

   Nosso objetivo foi que o pastor Jeremias nos incentivasse a que, por meio do Zoom ou outros recursos da Internet, pudéssemos transmitir reuniões conjuntas, por meio das quais nossas igrejas pudessem conhecer, entre si, sua membresia, dessa forma aproximando-nos ainda mais, por meio desse contato virtual.

   Comentamos sobre alguns desses recursos, um deles bem conhecido e utilizado pelo Pastor Reinan. Aqui na Congregação do Manoel Julião, também pretendemos disponibilizar alguns desses recursos, para facilitar transmissões, gravações e filmagens em nosso espaço de reuniões.

   Pensamos na sugestão de datas, nos dias de semana, em que ficasse mais acessível a cada igreja. Vamos agora transmitir aos irmãos essas sugestões, para que possamos estudar por que recurso da Internet e em que dia e horário.

   Os pastores Nelson Rosa, do Ilson Ribeiro e da congregação do Eldorado, e o pastor Márcio, de Porto Velho, não puderam participar. Ao final de nossa reunião, cada pastor orou pelos pedidos de intercessão apresentados pelo outro colega. Abaixo seguem essas necessidades apresentadas, para que todos possamos orar em conjunto.

Orando por:

Em Manaus, com pr Roberto:
Nelson Adeolino, pai do pastor: sua saúde
Anderson e família de Leda
Desafios da igreja

Em Boa Vista, com o pastor Reinan:
Viagem do pr Reinan
Desafios da igreja

Em Vila Betel 2, Rio Branco, com pr Jeremias:
Mateus e suas melhoras: gratidão
Obras na igreja
Viagem a Porto Velho (540 km) para o aniversário desta igreja

Congregação do Manoel Julião, com pr Cid Mauro:
Ghael operado com sucesso: gratidão.
Sandra, ainda hospitalizada
Aniversário do Isaac, gratidão, e chegada de Asafe, seu filho.

Pastores Thiago, à esquerda, Reinan e Mimica (Ademir), prontos para o voo por Asas de Socorro para as tribos indígenas em Roraima.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Está posto: faça a sua escolha

 15 Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal [...] 20 amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade". Dt 30.

   Para os desavisados, Dt é Deuteronômio, o 5⁰ livro do Pentateuco. Penta = cinco e teucos = rolos. São os 5 rolos escritos por Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e esse, supracitado.

  Deuteronômio são os discursos de despedida de Moisés, após os 40 anos de peregrinação no deserto. Israel está prestes a conquistar a nesga de terra, essa mesma até hoje encrencada.

  Deixam de ser nômades e passam a sedentários. Como menciona Oseias, deixam o namoro com Deus, pelo deserto, quando Este lhes falava ao coração, para flertar com os ídolos, como vai advertir Josué, em seu "discurso de aposentadoria", em Josué 24.

    Não existe aposentadoria para a fé. O texto do início de Juízes, o sétimo livro do Antigo Testamento, afirma que a geração de Josué e, pelo menos, as duas seguintes seguiram firmes na fé. Mas se levantou uma, posterior, que apostatou.

   Apostatar é se colocar à parte, longe, renunciar. Provém do grego apo = longe de e stasis = paralisado. Afastar-se é ficar longe da fé. Trata-se de uma escolha.

   Que não é geográfica. Distância da fé não se mede em metros. Nem que sejam quânticas as medidas. Fé não tem tamanho. Jesus ilustrou isso dizendo que, se for do tamanho do grão de mostarda, você acorda com o Pão de Açúcar em sua janela.

   Desnecessário. A fé não atende a caprichos e nem está aí para exibição. Existe para a salvação. Nossa condição humana é carente de fé, para dar sentido à vida. Vida é bem. É dom de Deus. Jesus disse "eu sou a vida".

  Escolha a vida por fé. Ora, por que isso é tão fundamental? É possível viver que não por fé? Sim, mas sem fé é impossível agradar a Deus. Não viver por fé inclui-se no grupo dos que não vivem por e nem para agradar a Deus.

   O ser humano se tornou carente de Deus, por causa exatamente da distância dEle, ou seja, apostasia é nossa condição original. Não existe mais uma natural afinidade entre nós e Deus.

   A aproximação dEle provém de um exercício, que, por sua vez, provém da fé. Vida com Deus é exercício de fé. E essa distância é existencial, não geográfica. Comunhão com Deus não é por Wi-Fi, não é por fibra ótica.

   Nem são algoritmos, o expediente da moda, que definem uma forma seleta de opção pelo download ou místico astral divino. Nada mais abstrato, vago e absurdo. Mas, por meio do Espírito, o batismo na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Há uma  cruz no meio do caminho.

   Paulo afirma aos Efésios: ¹³ "Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo." Ef 2.

   Quando as Escrituras destacam, na vida de Enoque ou de Noé, que andavam com Deus, era diálogo espontâneo e voluntário. Convivência vital, sem descontinuidade, como Paulo afirma, quando diz "... ²⁰ esse viver, que agora tenho na carne, vivo pela fé", Gl 2.

   Sem Deus no mundo. Essa a faixa final da definição de Paulo, aos Efésios 2,12, para quem vive, mas vazio de fé. O caos mora dentro. Ainda no Gênesis, Deus pôs ordem ao caos.

   A cruz nos restaura à ordem de ser vivo, em comunhão com Deus. Íntimo, como quando Deus procurou Abraão, dizendo: ¹⁷ "Ocultarei a Abraão o que estou para fazer?" Gn 18.

   Porque Deus tem vocação por nós. Nas mãos dEle deve estar a nossa vida. Nosso destino ganha curso e direção pela vontade dEle, "boa, agradável e perfeita", Rm 12,1-2.

   Escolha o bem. Omissão, indiferença ou presunção também são escolhas. Mas não pelo bem. Diante de nós está posto. Façamos, com coragem, a escolha certa.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Quando virdes estas coisas - Final

 "Quando virdes todas estas coisas", segundo Jesus no orienta, inclui acompanhar esses acontecimentos, como um bailado das nações que têm, por detrás de si mesmas, interesses humanos, muitas vezes mesquinhos e, na verdade, desumanos.

   Mas, para Deus, como diz o profeta Isaías, ¹⁵ "Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta. [...] ¹⁷ "Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo." Isaías 40.

   Nações, na época do profeta Isaías, não tinham armas atômicas, drones, caças ou armas automáticas, com tiros de precisão a laser. Mas seus exércitos, para a época, eram gigantescos, e as razões para as guerras bem parecidas. Mas, para Deus, as nações continuam a ter o mesmo tamanho.

   Na polarização do mundo atual muito se comenta uma subdivisão simplista, em que se critica o que chamam de "externa direita", como culpada, no mundo, de todos os males. Netanyahu, o primeiro-ministro israelense é considerado desse viés de direita, por isso, dizem os radicais seus oponentes, merece o trato que lhe deu o Hamas.

   Como se do outro lado só existissem virtudes. Governos como China, Rússia e Irã são dirigidos por ditaduras que tiveram sua origem em massacres de seus oponentes, com todas as práticas de qualquer ditadura de direita, assim denominadas.

   Então, o bloco da esquerda, por assim dizer, é tão patrocinador de ditaduras de esquerda quanto foi o bloco da direita também patrocinador de ditaduras de direita. Todas elas impiedosas com seus oponentes.

    Não há como, numa postura simplista, adotar as práticas de um dos blocos, esquecendo-se que agiu do mesmo modo que o outro, patrocinando guerras muitas vezes injustas e responsáveis pela morte de milhares, senão milhões de inocentes, esses dois grupos, de lado a lado.

   Por isso o posicionamento cristão deve ser aquele de analisar o que as Escrituras rejeitam como contrário à justiça de Deus, não importa por qual dos dois grupos praticado. Está na moda mencionar a questão palestina, em Gaza, como genocídio, e acusar os EUA por armar Israel.

   E o genocídio na Síria, há mais de 10 anos praticado, para manter no governo o ditador Hafez al-Assad, armado pela Rússia e seus parceiros? Tem tido a mesma ênfase nos debates, ou os que condenam Israel se mantêm calados, porque são parceiros do grupo contrário, cegando, propositadamente, para as atrocidades deles?

   Como cristãos, ou lamentamos toda a sorte de injustiças, condenamos toda a sorte de ditaduras e rejeitamos toda a forma de guerra de uso desproporcional de forças, ou é melhor se manter alienado dessas questões.
  
   Mas como define Paulo Apóstolo que somos os que creem, ao contrário do que vai escrito aos Efésios, sobre os que não creem: ¹² "...naquela época, vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo". Efésios 2.

   Por crermos, então não estamos (1) sem Cristo, não estamos (2) separados da comunidade (igreja), como estrangeiros no mundo, não somos (3) estranhos (alienados) quanto às alianças da promessa (que estão na Bíblia), não estamos (4) sem esperança e não estamos (5) sem Deus no mundo.

   Estas são as 5 características que definem o cristão. Paulo as publicou na carta aos Efésios, dirigida a uma das principais cidades de sua época, uma "vitrine do Mediterrâneo" daqueles dias, cujas ruínas hoje estão situadas na Turquia.

   1. Não estamos sem Cristo: ele se constitui no principal sinal, para toda a humanidade, do amor de Deus e da direção dos destinos da humanidade;

   2. Não estamos vagando sem rumo, desorientados, sem referenciais: formamos a comunidade da igreja de Cristo, por Ele edificada, somos como "pedras que vivem", interligados enter nós e edificados em Cristo;

   3. Não somos alienados, mas conhecemos as alianças da promessa, que estão gravadas em nós, pelo Espírito Santo, e grafadas nas Escrituras, nosso referencial permanente, pelo qual fazemos nossa leitura da história;

   4. Não estamos desesperados, ainda que, como diz o salmista, a terra se transtorne, as águas do mar se tumultuem, porque a nossa firmeza está em Jesus, Autor e Consumador de nossa fé;

   5. E não estamos sem Deus no mundo, como reafirma Paulo, aos Romanos, conhecemos o eterno poder de Deus, a Sua própria divindade e Seus atributos, os quais enxergamos, como menciona o apóstolo, por meio das coisas que foram criadas, definitivamente confirmado nas Escrituras.

   O cristão autêntico não é presumido de tudo conhecer, mas humilde a ponto de compreender a necessidade de adestrar seu discernimento. Mas não precisa de pseudogurus, que manipulem seu raciocínio e sua leitura de mundo ou das próprias Escrituras.

   Por isso busca o temor e a sabedoria de Deus, reconhecido que a sua principal tarefa é o testemunho de Cristo no mundo, entendendo que, desde a primeira palavra de Jesus, no início de seu ministério, na Galileia, ele advertia o mundo da prioridade de ouvir e atender à pregação de sua palavra:

¹⁵ "O tempo está cumprido, o Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e creiam no evangelho". Marcos 1.

  Jesus é garantidor da verdade, nas promessas de Deus, e o principal indicador dos tempos e épocas, Autor e Consumador de nossa fé. Com ele, não há nada a temer. 

Quando virdes estas coisas - 4

³³ "Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24.

    Esses países mencionados, junto com a China, apoiam os inimigos declarados de Israel que, suas fronteiras, tem relações diplomáticas com Egito, ao sul, Jordânia, ao leste, mas mantém tensões com o Hamas, na faixa de Gaza, a sudoeste; com Síria, ao nordeste; e Líbano, ao norte. Estes dois últimos apoiam o Hezbollah, armado do mesmo modo que o Hamas, pelo Irã e, mais recentemente, os Houthis, no Iêmen, outro grupo terrorista aliado deles.

Hamas ocupa a Faixa de Gaza, encravada no sudoeste da Palestina; o Hezbollah, na Síria e norte de Israel, no Líbano; e os Houthis, no Iêmen, abaixo da Arábia Saudita, na entrada do Golfo Pérsico, a sudeste.

   Desse modo, já se menciona uma Guerra Fria 2.0, ou seja, uma reedição da mesma polarização mundial, aquela mesma do final da 2ª Guerra Mundial, entre esses dois polos, China, Rússia e aliados, de um lado, EUA e Europa e seus aliados, do outro lado.

   Essa polarização se reflete nos aspectos políticos dessa divisão, porque as democracias ocidentais se alinham entre si, representadas pelos EUA e os países Europeus, enquanto que regimes não democráticos, como o Irã, considerado uma república teocrática islâmica, alinham-se em torno de Rússia e China.

  Ambos os lados dessa polarização já cometeram erros históricos. Estiveram unidos contra a Alemanha nazista, no período da 2ª Guerra Mundial, 1939-1945, mas após o término da guerra dividiram sua influência mundial nesses dois blocos, ocidente versus a antiga "cortina de ferro".

Divisão do mundo em dois blocos logo após o final da 2ª Guerra Mundial

    As armas atômicas, como as duas bombas que os EUA despejaram, desnecessariamente, sobre o Japão em, respectivamente, Hiroshima e Nagasaki, 6 e 9 de agosto de 1945, demonstraram o seu potencial nuclear ao outro bloco.

Hiroshima, nela morreram, de uma vez, 140.000 de 350.000 habitantes e, em Nagasaki, morreram 74.000 pessoas. Abaixo, três sobreviventes: a mãe, a filha na época ainda bebê e a neta.

   
Teruko, a avó, à esquerda, enfermeira na época, a filha Tomoko, apenas um bebê, sendo atendida em Hiroshima, em 1945, e a neta Kuniko, de nosso tempo, num encontro em 2015

   Mas a resposta veio em 29 de agosto de 1949, quando a antiga União Soviética testou sua arma atômica em Semipalatinsk, no Cazaquistão. Daí em diante, diversos países, aliados entre si, em cada um dos blocos, desenvolveu armas nucleares.

   O TNP - Tratado de Não Proliferação Nuclear, foi aberto para assinatura em 1968, vigente desde 1970 e prorrogado indefinidamente a partir de 1995, conta com a assinatura do Brasil, a partir de 1996. O que não impediu que alguns países que não assinaram desenvolvessem seus armamentos, como Índia e Paquistão, que surpreenderam o mundo, em torno do ano 2000, tornando-se capazes de produzir essas armas.

    Os países menores, em capacidade de constituir condições de desenvolver armas nucleares, podem ser ajudados pelas potências maiores, como EUA, de um lado, China e Rússia, de outro, conforme seus interesses geopolíticos entram em jogo. É o caso do apoio do bloco ocidental a Índia e Paquistão, como do bloco oriental ao Irã e Coreia do Norte, por exemplo.

domingo, 14 de abril de 2024

Quando virdes estas coisas - 3

³³ "Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24.

   E em seu sermão, Jesus se coloca como referencial dos tempos e das épocas e a nossa fé, nele firmada, não nos expõe ao medo. Muitos desdobramentos estão relacionados à fragilidade das nações, governadas por homens que oscilam em seu humor e em sua própria ganância.

   Não existe "guerra santa". Podem se tornar justificáveis, como quando, por exemplo, em 1990, até mesmo árabes e israelenses concordaram juntos em lutar contra Saddam Hussein, na chamada Guerra do Golfo, numa coalizão internacional para defender o Kwait contra a invasão desse ditador iraquiano, morto enforcado em 2006, por seu próprio povo, a eles entregue pelos EUA.


   Nesta guerra atual de Israel, seu inimigo declarado, o Hamas, covardemente matou, indiscriminadamente, civis de todas as idades. Sequestraram centenas de pessoas e fugiram, refugiando-se, também covardemente, em meio a civis palestinos, sobre quem governam.

A parte acinzentada, à esquerda, é a Faixa de Gaza. Dela partiram os ataques, com atiradores e foguetes, em 7 de outubro de 2023, e os pontos vermelhos foram os locais afetados: 1200 pessoas morreram e ainda há 130 reféns em poder dos terroristas.

   A reposta de Israel tem sido considerada desproporcional. Mas não há ninguém que responda pela segurança de Israel, sem que sejam eles mesmos. E existe uma aliança de países inimigos contra Israel, seja nessa esfera local, como no restante do Oriente Médio e ainda ao nível internacional.

Nicarágua, Venezuela (na A. Latina), Mauritânia, Argélia, Líbia (na África), Síria, Iraque, Irã, Iêmen e Afeganistão (no Oriente Médio) apoiam o Hamas.

   Essa polarização tem origem numa divisão do mundo, em duas metades, ocorrida ao final da 2ª Grande Guerra Mundial, em 1945, quando se iniciou a chamada Guerra Fria, entre os blocos de países socialistas, reunidos em torno da antiga União Soviética - URSS, e o bloco ocidental, reunido em torno dos EUA.

Em vermelho, o bloco denominado socialista e, em arroxeado, o bloco denominado capitalista.

   Houve uma distensão em 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim, simbolicamente o divisor entre essas duas metades, resultado das mudanças políticas ocorridas da velha URSS, com Mikhail Gorbatchov.

   Porém, quando Vladimir Putin, antigo agente da KGB como oficial estrangeiro de inteligência, assumiu o governo da Rússia, em 2012, o regime político naquele país voltou a endurecer e ele tenta manter reagrupadas, em torno de seu país, todas as repúblicas que antes formavam a URSS, mesmo que seja à força, como em sua invasão da Ucrânia.

Gorbatchov e Putin, em 2004

Quando virdes estas coisas - 2

³³ "Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24.

    Para se ter uma ideia, a distância entre o extremo sul de Israel e o extremo norte é a mesma entre Rio Branco e Feijó, cerca de 350 km. Na Galileia, ao norte, a distância entre o Mar da Galileia, a oeste, e a fronteira com a Síria, a leste, no Rio Jordão, é de 2,5 entre Rio Branco e o Quinari, cerca de 73 km.


   E no Sul, essa mesma distância, entre o mar  e a fronteira com a Jordânia, também definida pelo Rio Jordão, dá 2 vezes de minha casa, no Manoel Julião, até o Quinari, ou seja, 60 km. Israel inteiro é menor do que o menor estado brasileiro, que é Sergipe.

 
Sergipe: 21.915,116 km² e Israel: 20.770 km²
(Mapas acima em escala não proporcional)

Divisão desse pequeno espaço entre seus ocupantes

   Neste exato momento (18h de ontem), notifica-se que o Irã enviou centenas de drones, mas não esses que vemos voar sobre nossas cabeças, de vez em quando, mas outros enormes, de uns 150 kg, 50 desses kg são bombas, para explodir sobre alvos militares, sendo teleguiados e sem pilotos.


Posição dos países no mapa do Oriente Médio e, abaixo, tipo de drone militar usado e fabricado pelo Irã: Shahed-136.


    E outro alerta de Jesus, sobre o que vai ocorrer próximo a sua vinda, são rumores guerras. Sempre foi assim, tem-se intensificado e desde que a Rússia, já faz dois anos, resolveu invadir a Ucrânia, voltou-se a se falar em "rumores de guerra", talvez a 3ª e última Grande Guerra, desta vez nuclear.

    E no 7 de outubro de 2023, o grupo terrorista Hamas provocou o que, mais ou menos, Jesus descreve em seu sermão, que são pessoas em fuga sob ataque iminente.

    Israel sempre será um indicador de profecias. Nunca deixou de ser o povo escolhido de Deus. Era, no Antigo Testamento, a "congregação do deserto", convidada por Deus para ser um modelo de comunhão com Ele em meio a todas as nações.

   Moisés entendeu isso, quando assim se expressou: ¹⁶ "Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?" Êxodo 33.

   Agora essa missão passou à igreja: ⁹ "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". 1 Pedro 2.

Quando virdes essas coisas - 1

 ³³ "Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas." Mateus 24.

   Essa é uma fala de Jesus. Está situada bem no meio do chamado Sermão Profético no Evangelho de Mateus.

  A que Jesus se refere quando menciona "virdes (de ver) estas coisas"? E o que deseja prevenir quando arremata "está próximo, às portas"?

  Destacado de seu contexto, esse trecho permite, às vezes, falar disparates. Aplicado ao sermão, podemos definir os tópicos que o antecedem.

  E, pelo menos, marcar no sermão (1) que coisas que, uma vez constatadas, são gerais, que devem, ao longo da história, desde os tempos de Jesus, ser anotadas e conferidas como permanente aviso.

   E que (2) elementos específicos para a história imediata de Israel, que até já aconteceram, mas que também soam como aviso e prevenção, caso se repitam. Vamos dar exemplo.

   Especificamente, houve rebeliões judaítas contra Roma em 70 d.C e 132 d.C. Nessa primeira, Jerusalém foi destruída e, na segunda, toda a parte norte, a Galileia, e os judeus foram espalhados pelo mundo da época.

Procissão romana da vitória, em 70 d.C., como profetizado por Jesus. Vê-se o candelabro (a Menorah) do templo, carregada como troféu. O historiador Flávio Josefo (37-100 d.C.) menciona essa guerra em sua História dos Judeus.

Fortaleza de Massada, última resistência dos judeus na guerra de 132 d.C., rebelião liderada por Simão Bar Kochba, lugar onde não houve rendição e, atualmente, onde os soldados de Israel prestam juramento de defender sua terra.

   Somente voltaram a ser um nação, com seu país e território, em 1948, quando um brasileiro, chamado Oswaldo Aranha dirigiu uma assembleia da ONU - Organização das Nações Unidas, criando o Estado de Israel, na Palestina.

   Em 1949, 1956, 1967, 1973, 1982, 1987, entre outras ocasiões, houve escalada de conflitos entre israelenses e palestinos, na disputa dos espaço pequeno que ocupam, subdividido entre esses dois povos.
Guerra dos Seis Dias, em 1967: numa semana, Israel neutralizou todos os seus vizinhos, Egito, Jordânia, Síria e Líbano. A infantaria tomou o lado oriental de Jerusalém, a aviação atacou, ainda no solo, os caças egípcios e os tanques, no Sinai e Colinas de Golã anexaram para Israel esses territórios.