Entre outras abordagens possíveis, destacamos três aspectos que, na carta aos Colossenses, bem fundamentam a identidade da igreja.
Relacionados às perícopes do texto, em Cl 1,13-23 e 2,8-15, o primeiro deles: 1. Fundamentos cristológicos; o segundo deles, em Cl 3,1-11: 2. Fundamentos de santidade; e o terceiro, em Cl 3,16-25: 3. Fundamentos de vida cristã.
1. Fundamentos cristológicos:
Ao analisar, pelas palavras de Jesus, em At 1.8, que igreja, no mundo, como sinal do Reino de Deus, recebe "poder do Espírito" para ser "testemunho de Jesus", ela precisa conhecer Jesus.
E Paulo já define que o ministério pastoral é "apresentar os homens (e mulheres) perfeitos em Cristo", Cl 1,26-28. Portanto, compreender, pelos traços da carta, as afirmações sobre Jesus, é fundamental.
1.1. Foi Deus, pessoalmente, quem nos libertou do "império das trevas" e nos "transportou para o reino do Filho do seu amor". Esse "transporte" é salvação. E como expresso por Jesus, no Evangelho de João, a missão dada ao Filho, pelo Pai, agora é a mesma dada a igreja.
1.2. Cristo é "imagem de Deus". Nele, a Pessoa do Pai e do Filho não se confundem, mas plenamente se identificam. Se Paulo exorta, na outra carta da prisão, em Ef 5,1-2, "ser imitadores de Deus como filhos amados" e "andar em amor como Jesus andou", somente pela comunhão em Cristo isso é pleno, e se constrói na igreja.
1.3. Em Jesus Cristo fomos batizados e ressuscitados, completa-se a plenitude de salvação, com a derrota taxativa das protestades do mal, aqui e na carta aos Efésios descritas, sobre as quais Jesus é soberano. E somos apresentadas, diante de Deus, "santos, inculpáveis e irrepreensíveis".
2. Fundamentos de santidade:
A igreja tem para si um modelo bíblico de ética. Não é por imposição a si mesma, porque, como até Colossenses aborda, impor-se regras não funciona. A ética cristã é fruto do Espírito.
Não é para ser imposta à sociedade. Porque somente será compreendida, aceita e praticada no contexto da comunhão dos, assim chamados, santos, segundo Colossenses, assim legitimados.
Mas santidade é obra pesada, de despojamento do "velho homem" (para homem e mulher) e revestimento do "novo homem", que incessantemente se refaz, "para o pleno conhecimento, segundo a imagem" de Jesus Cristo.
Isso ocorre por esforço individual, na relação íntima e na luta interna contra a natureza carnal em cada um(a). Éramos escravos do pecado, como afirma Paulo aos Romanos, sob o império das trevas, mas somos agora libertos.
Mas o pecado ainda é orgânico em nós. A faxina é diária. A luta de guerrilha acirrada. Fazer morrer a natureza carnal é sem anestesia. Cortar em nós é cortar de nós. Mas a vitória, mais do que vencedores, é garantida.
3. Fundamentos de vida cristã:
Nesta parte final Paulo vai mencionar aspectos práticos, que não significa dizer de automática valência, mas resultado consciente de tudo o que ele disse até aqui.
A palavra de Cristo deve habitar organicamente em nós e na igreja. Jesus afirma que ela é que nos santifica. E prometeu e concedeu o Espírito Santo, para nos conduzir a ela, na compressão, no suporte para a cumprir e no testemunho autêntico dela, missão da igreja.
Se ela habita ricamente em nós, podemos construir a igreja como comunidade de instrução recíproca e mutualidade de aconselhamento.
Paulo propõe, e já mencionou, que pecados de ocasião, como a maledicência, não mais existam, e que o perdão seja do mesmo modo como Deus o pratica.
Interessante ele dizer que ainda há algo mais elevado, acima dessa prática, que é o amor, essencial à identidade da igreja, que ele denomina "vínculo da perfeição", definição de igreja. Do amor Jesus disse que é o mesmo com que foi amado pelo Pai e concedido à igreja.
E alcança a vida prática, do culto, à vida familiar e a vida pública, afirmando que, desde o culto dosado, na congregação, com variedade de arte musical, lugar de destaque à palavra, até à própria índole diária, culto é racional, é dialógico, com a vida prática, e reflexo de vida autêntica.
Identidade da igreja é a identidade de Cristo. A relação de Jesus Cristo com o Pai é o padrão. E a promessa real é concretização, no dia a dia, de nossa própria participação nessa relação, define igreja.
A Trindade, Deus Pai, Filho e Espírito Santo, opera em nós. Esse é o principal absurdo da Bíblia, para quem não enxerga pelos olhos da fé.