Foi nesse dia aí. Há 29 anos, que a mãe se debruçou sobre o menino, ainda sem ao menos absorver tudo. De dentro de mim. De dentro de nós.
Na véspera, puro milagre, ela esperava um improvável exame de nome extenso: cardiotocografia. O plano, interestadual, prometia contato até 17h.
Eram já 15 para as 18h, umas três vezes o técnico já prometera que ia embora, mas sempre, em cima da hora, ali, pertinho do Maracanã, chegava mais uma cliente na clínica.
E eu no Centro do Rio, às voltas com uma conta bancária da igreja, envolta numa confusão que uma gerente inapta havia feito. Não existiam os celulares. Era um pré-feriado, dia 20 de abril de 1994.
Eu ligava para a clínica. A pré-mãe havia saído do colégio, último dia antes da licença, direto para o exame, somente com um cafezinho, por volta das 15h. E nada de atenderem em São Paulo.
A atendente, só por desencargo de consciência, dizia, vou tentando, mas eles fecham lá às 17h. Milagres. Vivemos por eles. Pois o técnico entrou para dizer que agora ia mesmo embora.
Mas a atendente falava com São Paulo, perto de 18h. O exame estava autorizado. O técnico advertiu, com o laudo na tela, liga para teu médico, Isaac está agitadíssimo para nascer.
Regina rumou para casa. Eu fui atrás no Scort marrom velho metálico. Dr Marinaldo indicou a São José, no Humaitá. Rumamos com a gestante para esse endereço.
Como está? A poder de água e um cafezinho às 15h. Assisti a tudo. Antigamente, havia um trem chamado "máquina fotográfica". Mas a minha falhou. Mas não perdi detalhe.
Desde os beliscões, no abdômen já lambusado de iodo, até o obstetra estender a mão e pedir o bisturi. Sempre perguntado à mãe, meio acordada, está sentindo, está sentindo, e agora?
Já havia era cortado. Muito semelhante à mecânica de automóveis, tudo muito rápido, arrancaram o menino de dentro, deram à pediatra ao lado, ele me chamou para mostrar o painel de onde saíra a cria, e já começou a costurar, camada a camada.
Chorão que só. Passei a noite perambulando, ida ao berçário, ida ao quarto para ver a agora mãe. Ainda dei uma ligada para o médico, falando das tosses que não a deixavam dormir. Passa aí um xarope, ele disse. Simples.
Custou aparecer companhia para o menino. Silenciosa. Eu vinha pelas curvas dos corredores ouvindo longe. Ora, deve ser aquele outro, ou outra. Não era. Todos dormiam. Ele chorava.
Amanheceu devagarinho. Veio para a primeira mamada. Essa foi uma das primeiras fotos, depois que o flash 📸 do que chamavam "máquina fotográfica" resolveu funcionar.
Debruçados sobre esse menino. Providência e milagre de Deus. Isaac, sorriso. Porque aprendeu e ensina que a alegria no Senhor é a nossa força. Grato, Senhor, por essa dádiva, mais este milagre Teu.
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