"Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu", Gn 3,6
Não era. Frontalmente contra a lógica, na abordagem da mulher. Portanto, deduz-se: agir contra a recomendação divina, é violência à lógica. É irracional.
Se o texto diz, "Vendo a mulher", então o que pensava ver era ilusão e não deveria ter sido levado em conta, assimilado.
Sem que seja necessário pressupor fragilidade nela, mas sagacidade na serpente, talvez, ao contrário, visava-se a mulher para que, pela inteligência dela, o homem também fosse iludido.
A árvore não ser boa, não se trata da depreciação do fruto, o que é indiferente, cada fruto tem seu gosto. A questão residia na ordem dada por Deus. Não era ingerir ou não ingerir, mas obedecer.
A lógica é ouvir a palavra de Deus, atender e cumprir. O ser humano detesta obedecer, ao menos a sugestão de que se pratique isso.
Pois o inverso caminha contra a lógica, afronta-a, subverte-a. Exatamente o contrário do que fez a mulher. Portanto, a lógica está muito mais afeita à fé, ao contrário do pressuposto.
Ora, vivemos no século da lógica. Aliás, desde o chamado Renascimento, incrementado e imbutido nele, o 'século das luzes', a elite pensante da humanidade -- e como aprecia ser assim reconhecida --, pretendem que consigo cativam toda a lógica.
E subscrevendo a fé à lógica, subverteram aquela. Como diz Paulo Apóstolo, reduziram a imagem de Deus à sua própria, do homem, imagem. Até nisso erram.
Não carecia. É subversão. E Deus, surpreendentemente criativo, como comenta, desta vez, Pedro Apóstolo, nem ao menos previam, fossem os profetas, ou até mesmo anjos, Deus surpreendeu todos fazendo-se homem.
O Verbo se fez carne. A palavra, toda obediência, toda fidelidade, toda santidade, encarnou. Nem a lógica e nem a fé subvertidas, porém parelhas. A fé não subverte a lógica.
Subverter a lógica é distorcer a palavra de Deus. Não foi assim que Deus disse? Não. Não foi assim que Deus disse. A árvore não é boa para se comer, nem agradável aos olhos e nem desejável para dar entendimento.
Como, quanto e em que grau foi influenciável o gnosticismo. Porque anulava a necessidade da fé e inchava a pretensão humana de conhecer sem limite. Quando distorcida, muito vulgar essa pretensão.
Pois sempre se quis saber mais do que Deus, aliás, desde o Éden, porque no versículo anterior ao texto acima, o argumento da serpente foi dizer que o casal, a partir de então, "como Deus, seriam conhecedores".
A lógica vai de encontro ao caráter do ser humano. Distingam, por favor, "ir ao encontro" de "ir de encontro". Formule-se, então: fé vai ao encontro da lógica. Pecado vai de encontro à lógica.
Obedecer à palavra de Deus está mais associado à lógica, porque constrói o caráter do ser humano. Crer em Deus sempre esteve mais próximo da formação do caráter e da proximidade com a palavra de Deus.
Vale mais crer, obedecendo, e isto está associado ao amor, mais do que saber que parentesco temos com os neanderthalensis ou em que etapa os dinossauros entram na cronologia da evolução.
O presente século é carente de amor. Carente de crer na palavra de Deus, para aprender a obedecer. Porque a lógica, mais ligada à fé do que se supõe, é aliada na formação do caráter humano. Porque a vontade de Deus, sim, é "boa, agradável e perfeita".
O Verbo, que se fez carne, Deus encarnado em Jesus Cristo, este "aprendeu a obedecer pelas coisas que sofreu", assim como afirmou:
"Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço." Jo 15,10.
Jesus aprendeu o amor, por meio de sua obediência ao Pai. O Verbo de Deus é modelo de obediência. Paulo expressa esse esvaziamento do Pai, na pessoa do Filho, sendo "obediente até a morte" -- e morte de cruz.
E é também Paulo Apóstolo que, na sua carta aos Efésios, confronta amor e conhecimento. O amor de Deus excede todo o conhecimento, mas experimentá-lo é ser "tomado de toda a plenitude de Deus".
A repreensão de Jesus, posteriormente, à igreja de Éfeso, no Apocalipse de João, denuncia o abandono do "primeiro amor", que significa dizer genuíno amor. E Éfeso foi uma cidade primor em inchar-se de orgulho vazio. Parece que a igreja, de novo contra uma recomendação paulina, havia incorporado para si essa vaidade.
Esse o caminho da lógica nas Escrituras. De modo nenhum confronta a fé. Pô-las em confronto é, pelo menos, um erro metodológico.
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