sábado, 16 de novembro de 2024

Ageu e a avareza

 ⁵ Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. ⁶ Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém não vos saciais; vestis-vos, porém ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o num saco furado." Ag 1.

  Ageu é o profeta do saco furado. Ele fala sobre dinheiro. Algo muito sensível. Alguém já disse "bom servo e péssimo senhor."

   Falar sobre dinheiro é falar sobre posse. Ilusão, porque não somos donos nem de nossa vida, o maior dom. Aliás, as maiores riquezas o dinheiro não compra.

  O autor anônimo de Hebreus menciona isso, quando fala do que vai passar à eternidade e como se dá esse acesso:

²³ "Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores."

  As "coisas celestiais" somos os que cremos no acesso, pelo sangue de Jesus, sem dinheiro e sem preço:

¹ "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite." Is 55.

   Seja incrédulo, seja crente, não é dono de nada, principalmente da vida, todos vamos dar no cemitério, destino democrático. Será muito bom se, antes, entregar a vida a Jesus.

   Hipotecar a vida inteira. Somente assim, dando-se, é que tudo o mais se consagra. Uma das mais estúpidas discussões é sobre o 1/10, popularmente chamado dízimo.

   Nunca foi obrigatório. Nada na Bíblia é obrigatório. O exemplo mais bíblico de oferta voluntária está no AT, em Êxodo 35:

²⁹ Todo homem e mulher, cujo coração voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o Senhor ordenara se fizesse pela mão de Moisés; assim os filhos de Israel trouxeram por oferta voluntária ao Senhor."

   Se teu coração não te mover, não faça. Mas reconheça que a avareza te persegue. É melhor mudar o coração. No AT, 1/10 dados por todos, sustentava a tribo do cerimonial, do culto, da instrução pela palavra, os Levitas.

   Eles não tinham campos, posse, trabalho: porque sua vocação era o culto, o louvor pelos cânticos, a instrução pela Palavra. Eram sustentados especificamente para isso.

   Evidente que, ora falhava o sustento, ora falhava o ministério deles, ou os dois. Muitos reis piedosos restauraram esse expediente vital, como Davi, que o instituiu, Josafá, que enviou levitas para ensinar a Palavra, e Josias, que reformou o Templo, resgatou o culto e a Páscoa, e encontrou esquecido o livro da Lei.

   O dízimo, no Novo Testamento, também deveria sustentar a igreja, em todos os seus compromissos. Sejam os serviços do templo, sua manutenção e quem nele trabalha, seja o pastor e os missionários da igreja.

   Com sustento digno. Para cobrir todas as despesas justas. Trata-se de um privilégio. E é tão sério que um dos mais assombrosos exemplos de disciplina de Deus, na Bíblia, ocorreu por causa de avareza, justo com o casal Ananias e Safira, ironicamente aqui o nome de uma pedra preciosa:

⁹ "Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. At 5.

  O levita Barnabé, na comunidade primitiva, havia vendido toda a sua herança, para ofertar à igreja. O casal ricão do pedaço achou que não poderia ficar mal na fita, só por isso.

   O coração deles não estava nisso. Mas não se preocupe: mesmo sendo avarento, nem você, nem sua esposa vão infartar "no altar". Apenas não serão voluntários com o Senhor.

⁵ "Sendo assim, fazei morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixão, vontades más e a ganância, que também é idolatria." Cl 3.

   A família de Castor de Andrade, no Rio, famoso bicheiro desde os anos 60, matou-se entre si por causa do dinheiro. Primos se mataram, cunhado assassinado, sobrinho também e filhas gêmeas deste que se odeiam.

¹ De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? ² Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. ³ Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites." Tg 4.

   Esse é o diagnóstico de Tiago para esse mal. E pasmem, acima ele está escrevendo a crentes, pelo menos, no nome. Muito sensível essa coisa de dinheiro. Trata-se de um indicador de nossa consagração.

  Essa época de Ageu, em 520 a.C., era de reconstruírem o Templo, em Jerusalém, após o retorno do exílio, que já havia ocorrido 15 anos antes. As obras estavam paradas. Ageu e seu colega profeta Zacarias empenharam-se em motivar o povo a retornar às obras.

   Como Ageu sugere, vamos considerar, ou seja, deter nossa atenção e refletir sobre essa questão da posse. O pertencermos, de verdade, ao Senhor, com tudo o que temos, ou então estamos sendo avarentos e idólatras.

⁶ "Então mandou Moisés que proclamassem por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais, ⁷ porque tinham material bastante para toda a obra que havia de fazer-se, e ainda sobejava."

   Isso mesmo que você leu. O modelo bíblico de dízimo é este o do Antigo Testamento. Trazer muito e trazer tudo, voluntariamente, até sobrar, e alguém pedir para parar.

  O sentimento de dar-se ao Senhor, por inteiro, percorre toda a Bíblia, desde Abel, que deve ter aprendido com Eva, sua mãe, aquela que sempre invocou o nome do Senhor.

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