terça-feira, 19 de novembro de 2024

Zacarias e o testemunho de Jesus

 Zacarias foi contemporâneo de Ageu, os dois profetizando em 520 a. C., com ênfase na reconstrução do Templo, em Jerusalém. Zc 4.

¹⁰ "Pois quem despreza o dia dos humildes começos, esse alegrar-se-á vendo o prumo na mão de Zorobabel. Aqueles sete olhos são os olhos do Senhor, que percorrem toda a terra."

   Este clássico texto do profeta indica, a um só tempo, a promessa da obra concluída, assim como a liderança marcante de Zorobabel. Ele acompanhou a primeira leva de povo que retornou do exílio em Babilônia, em 535 a. C.

   Mais duas levas, respectivamente com Neemias, lider da reconstrução dos muros, e Esdras, reconstrutor do Templo, marcaram essa época. Ambos, Neemais e Esdras, como Zorobabel, homens cheios do temor de Deus.

   Zacarias também se destaca por suas profecias messiânicas, assim como, detalhe acima mencionado, dos simbólicos 7 olhos do Senhor, pela porção de literatura apocalíptica de seu livro.

    Messiânica é a profecia do despojamento, aos olhos humanos, do rei que entra em Jerusalém montado num jumentinho, Jesus, o personagem principal de todas as Escrituras, sendo sua primeira vinda o principal sinal de sua segunda vinda:

⁹ "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta." Zc 9.

     NEle e por meio dEle a certeza de que o pecado está expiado, ou seja, totalmente esgotado, pago todo o preço num só dia, num só gesto, num só sacrifício, como também afirma o autor anônimo da carta aos Hebreus:

¹ "Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza." Zc 13.

²⁶ "Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, ²⁷ que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu." Hb 7.

    Zacarias reporta-se à promessa futura quando Israel, que agora rejeita, enfim, porá olhos de fé no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, como anunciou João Batista, o maior entre os profetas.

   O Messias tão aguardado, que já veio, como também apontou Pedro Apóstolo, o que dEle fizeram, traspassando o Autor da vida: Zc 12.

¹⁰ "E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito."

¹³ "O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo. ¹⁴ Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida. ¹⁵ Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas." At 3.

   A menção ao futuro da nação de Israel vem associada à simbologia típica da literatura apocalíptica. Surge esse gênero coincidindo com a derrocada final de Israel, no colapso do reino do sul, em 586 a. C.,  pela invasão babilônica, quando perdem terra, trono e templo.

    O retorno à Palestina se deu em 535 a. C., mas a restauração final completa, além de Israel, incluiu todas as demais nações, agora reconhecidas como igreja, que em si reúne todos que crerem no Messias. O Apocalipse, único livro profético do Novo Testamento, menciona "toda tribo, língua, povo e nação": Ap 5:

⁹ "... e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação". 

   Daniel, Ezequiel e Zacarias exploram esse gênero de típicas visões, posteriormente reunidas também no Apocalipse. Por exemplo, a visão dos cavaleiros na abertura do 1⁰ selo.

   Assim como a visão do anjo vestido de branco, com um cordel de medir à mão, retomada de Ezequiel, além daquela do par de ramos de oliveira, a ser retomada, no Apocalipse, desta vez citação de Zacarias, aplicada às duas testemunhas que profetizam:

⁸ "Tive de noite uma visão, e eis um homem montado num cavalo vermelho; estava parado entre as murteiras que havia num vale profundo; atrás dele se achavam cavalos vermelhos, baios e brancos." Zc 1.

¹ Tornei a levantar os olhos e vi, e eis um homem que tinha na mão um cordel de medir. ² Então, perguntei: para onde vais tu? Ele me respondeu: Medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual o seu comprimento." Zc 2.

¹ "Tornou o anjo que falava comigo e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono, ² e me perguntou: Que vês? Respondi: olho, e eis um candelabro todo de ouro e um vaso de azeite em cima com as suas sete lâmpadas e sete tubos, um para cada uma das lâmpadas que estão em cima do candelabro. ³ Junto a este, duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e a outra à sua esquerda. ⁴ Então, perguntei ao anjo que falava comigo: meu senhor, que é isto?" Zc 4.

   O percurso e a instrução da literatura apocalíptica, como ensina Daniel, é despertar o estado de alerta, sem pestanejar, para o cumprimento de toda a profecia, da qual Jesus é o principal indicador. Desperte-se a curiosidade e aumente-se a sabedoria:

⁴ "Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará." Dn 12.

¹⁰ "... mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia." Ap 19.

    Essa perda total de Israel, como havia sido apontada por Isaías, o "restante fiel", foi o cursor da profecia até a vida de Jesus. No exílio, Israel aprende a valorizar as Escrituras, lidas no espaço mais similar ao que hoje se constitui igreja, que foi a sinagoga.

  Por ela Paulo iniciava sua pregação, como ele mesmo demarcou sua estratégia, "primeiro aos judeus e também aos gregos", pois nela estavam as Escrituras, pelas quais ele sempre iniciou a exortação em atender ao evangelho, como foi em Listra, após a cura de um coxo:

¹⁵ "...e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; [...] ¹⁷ contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo". At 14.

   E não se distraia, como Mateus, atribuindo a Jeremias, outro sinal profético indicado por Zacarias:

¹² "Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata. ¹³ Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor." Zc 11.

   Além de estimular, com Ageu, o retorno à constatação do Templo de Jerusalém, finalmente consagrado com festa, por Esdras, Zacarias projeta o dia final, o Dia do Senhor, o mais esperado pelos que creem na redenção final, demarcada na agenda de Deus, anunciada no decorrer de toda a história:

¹ "Ora, os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel, cujo Espírito estava com eles." Ed 5.

¹⁶ "Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e o restante dos exilados celebraram com regozijo a dedicação desta Casa de Deus." Ed 6.

⁹ "O Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia, um só será o Senhor, e um só será o seu nome." Zc 14.

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