O zero - 0 - como número tem uma longa história. Chegou ao português, a partir do francês zéro que, por sua vez, herdou do italiano zéfiro.
Este um deus grego do "Vento Oeste", filho de Eros e Astreu quem, por esporte, fecundava as éguas da Lusitânia, tornando seus filhos cavalos super velozes.
Esse nome provém do latim medieval zephirum, por sua vez proveniente de safira, árabe, traduzindo o sânscrito śūnya. Este o longo percurso.
Safira, em árabe, signfica nada ou vazio. Quem aplicou esse conceito à noção atual, como valor numérico, foram os indianos, em 600 a. C., prontamente aceito pelos próprios árabes.
Foi um matemático, Leonardo Fibonacci (1170-1250), introdutor do sistema decimal na Europa, herança árabe, que escolheu o nome de batismo zephyrum, daí zefiro, como vimos e, por fim, pelo italiano, zero. Chegou à língua inglesa, com sutil sotaque de pronúncia, somente em 1598.
Puxa! Com esse histórico acima, já não "tiro zero", expressão esta uma das mais utilizadas pela estudantada em geral. O sistema decimal, de 0 a 10, "pegou", definindo a escala das notas escolares.
Na matemática, caso fique à direita de qualquer outro número, multiplica por 10 e, à esquerda, divide pela mesma quantidade. Nesta condição, de 1/10, é o terror dos avarentos, que avaliam o dízimo como a maior quantia absurda do mundo.
Mas isso já é outra história. Na física, como medida, indica nulo em qualquer unidade. E na digitação, tornou-se essencial à linguagem cibernética. Mas aqui desejo destacar a distância. Quando é zero, chegou-se ao ponto visado ou se está colado.
E ainda a física afirma que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Ou que, numa colisão, fundem-se (choque inelástico) ou repelem-se na mesma intensidade (elástico), como no bilhar.
Se colados um no outro, serà distância zero. Pois esta é a distância para Deus. Pensar que é um ser distante, infinitamente longe, não será, nem matemática, física ou teologicamente exato.
Não é infinita a distância para Deus. Ela é distância zero. Porque Deus mesmo estabelece comunhão. E comunhão é distância zero. Quem crê no Filho, por receber o Espírito Santo, tem com Deus comunhão instantânea.
Mas se pode questionar, ora, então que natureza de distância há entre Deus e o homem? As Escrituras respondem que, na verdade, há separação agônica, devida ao pecado. Isaías, o profeta, ilustra essa afirmativa, assim como Paulo Apóstolo, estar "sem Deus no mundo":
¹ "Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. ² Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça." Is 59.
¹² "...naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo." Ef 2.
Mas tal situação é zerada pela ação de Deus. A autenticação da fé permite acesso ao que o Filho fez na cruz. Hebreus afirma que, pelo Espírito eterno, Jesus se ofereceu a Deus como sacrifício completo, definitivo e irrepetível, Hb 9:
¹⁴ "... muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!"
Portanto, torna-se zero a distância. Definitivamente, dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço. E ainda as Escrituras esclarecem que tal comunhão é ainda mais íntima devido à presença do Espírito em nós.
¹² "Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente." 1 Co 2.
Nada impede o acesso a Deus por parte de quem, em Jesus Cristo, pelo que Ele realizou na cruz, põe a sua fé. Quanto a dois corpos no mesmo espaço, ora, conhecemos Deus por meio do que as Escrituras informam e do modo como o fazem.
Distância zero não signfica presença física. Porque o que é físico é criação de Deus e Ele não é feito da matéria que ele mesmo criou. Não significa sensação, porque o que sentimos está condicionado às nossas flutuações de humor.
E não vamos conseguir, por eles, pelos sentidos, nossos mediadores de comunicação com o mundo à nossa volta, manter contato com Deus. Além de raras essas oportunidades, mesmo nas Escrituras, até costumaram ser, impropriamente, argumento para graus de espiritualidade.
Não vamos ouvir vozes, ver coisas, sentir calafrios, enfim. Aliás, pelas Escrituras, e elas mesmas afirmam, nossa comunicação com Deus, ouvindo-O falar, é direta. Compreendê-las é o essencial. E essa ideia é antiga.
³ "E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da Lei." Ne 8.
⁶ "Ele era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor, Deus de Israel; e, segundo a boa mão do Senhor, seu Deus, que estava sobre ele, o rei lhe concedeu tudo quanto lhe pedira." Ed 7.
Acima, nesse texto, trata-se de Esdras, definido como "escriba versado na Lei de Moisés dada pelo Senhor". Estamos na metade do século 5⁰ antes de Cristo. Nesse tempo, leram toda uma manhã, perante todos "os que podiam entender".
Deus ali falou "diante da praça". Deus fala. E Jesus, nosso mediador entre Deus e os homens, as próprias Escrituras chamam de "o Verbo que se fez carne". Sim, é com o entendimento. É por meio da mente. É com os ouvidos.
⁵ "Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, ⁶ o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos." 1Tm 2.
¹⁴ "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. Jo 1.
Como diz o Salmo 19, pode até não haver linguagem e nem palavra, mas por toda a terra se faz ouvir essa voz. São os ídolos que tem boca, mas não falam, olhos, mas não veem, ouvidos, mas não ouvem, diz o Salmo 115.
³ "Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; ⁴ no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo".
⁴ "Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. ⁵ Têm boca e não falam; têm olhos e não veem; ⁶ têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. ⁷ Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. ⁸ Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem."
Deus fala, ouve, age, vê, enfim, comunica-se. Está perto. Em comunhão. Distância zero. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E ainda que não "sinta", que seja "o vale da sombra da morte", Deus está e Sua vara e cajado consolam.
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