sábado, 16 de janeiro de 2021

Traços das mãos do Pai

    Uma das minhas lutas do tempo de criança, de que eu me lembro por etapas que precisei enfrentar foi a minha timidez. Como a venci! Porque eu ainda lembro de como a vida de comunhão na igreja me ajudou.

     E a notável contribuição de um anjo de pessoa que Deus havia trabalhado e colocou oportunamente em mimha vida. Olha, esse fato tem mais de 50 anos. Como o contexto de igreja, essa comunhão inventada por Jesus, autor e consumador de nossa fé, é compensadora e rica em bênçãos. 

     E com todos os obstáculos que colocamos no meio, nossa invenção e não de Jesus, que são os títulos eclesiásticos, as legendas denominacionais e os adjetivos que adicionamos ao simples nome "crente" em nada apagam e não escondem, para um bom observador, os traços de dons que são a verdadeira e inconfundível ação do Espírito Santo. 

     Naquela manhã toda a minha timidez foi assaltada por um dos sorrisos mais lindos que se conhece. Sorrisos de crentes são estampas desenhadas pelo Espírito Santo no rosto dos crentes. É necessário dizer aqui dos autênticos crentes. 

    É difícil dizer, eu, já com 64 anos incompletos, quantos desses sorrisos desenhados pelo Espírito Santo eu já encontrei em minha vida, mas nessa manhã de 1967 invadiu a minha timidez o sorriso e a simpatia de Nanci.

     Permita-me aqui, com respeito, mencionar apenas o nome que lhe deram seus pais, a quem conheci e com quem convivi nas visitas a Inhoaíba, nos tempos dos Jovens Arautos. Pude entender que toda a família tinha o desenho desse sorriso. Mas quem representou a todos naquela manhã, no parapeito defronte ao refeitório do Acampamento Ebenézer, com toda a empatia que somente Jesus ensina, foi Nanci e seu sorriso. 

     Desse e de outros acampamentos a gente guarda na memória algumas cenas. A minha memória falha, pois eu queria ter anotado os termos exatos, sentenças e palavras dessa minha irmã e amiga, distante só na geografia, de mais de 50 anos. Mas os efeitos, os gestos, o dom eu sei que existem e produzem o mesmo efeito por tantas vidas e quantas e variadas oportunidades até hoje. 

    Olha, como a vida é interessante! Porque foi num colchonete de acampamento, em Pedra de Guaratiba, que também Marco Antonio, mais uma vez peço licença para registrar na singeleza do nome, sem títulos eclesiásticos ou adjetivos, foi me abordar para conversar sobre um recente acontecimento que o levantava do chão e o fazia flutuar, como num sonho sideral, ele mesmo dizia com justiça, estavam, parecia, caminhavam para ter certeza, apaixonados, ele, o relações públicas dos jovens congregacionais daqueles anos e a mais intangível, invicta e bonita jovem congregacional daqueles mesmos anos. 

      Simbólicos aqueles anos. Anos de uma certa inocência que se foi. Às vezes, uma inocência que deixamos escapar. Mas ainda que em meio à nossa visão, meio que embaçada, da realidade, vamos enxergando os traços nítidos do Espírito Santo, abrindo veredas novas e, como a Bíblia diz que João Batista fez, cimentando caminhos, segundo a vontade de Deus. 

     Já disse aqui que minha memória me trai. Mas a conversa com Marco Antonio demorou bastante naquela noite, avançou para depois de meia-noite e o assunto foi Nanci. Ele, muito recentemente, havia experimentado em sua vida um momento singular, desses com assinatura do Pai, que ele mesmo atribuía à sua verdadeira conversão.

       De Marco Antonio também conheci os pais, convivendo com toda a família na casa da Tijuca, tendo amizade e comunhão com os irmãos, principalmente como era chamado Luizinho, companheiro de equipe no Acampamento Ebenézer, com Fernando, nas temporadas de que participei ainda como acampante, e vendo o temporão Wayninho nascer.

     Várias mensagens do pr Wayne Costa eu assisti na congregacional de Cascadura, onde cheguei em 1966. Ele atendia com frequência esses convites, com sorriso, atenção e típica diplomacia característicos, pregando mensagens diretas, simples e comoventes. Especial seu testemunho, o impacto com que foi movido por Deus, ele contava, dizia que foi a "oração do banheiro" que o arrancou de uma "vida cristã" de faz de conta. 

      Marco Antonio, seu primogênito, naquela noite de sua conversa comigo, estava sob o mesmo impacto e experimentava ação semelhante, com assinatura do Espírito Santo em sua vida. Marco Antonio e Nanci estavam se aproximando naqueles dias, obra do Pai, para a carreira que Deus desejava para eles como servos em Seu ministério, como casal consagrado e pais dos filhos que Deus lhes deu. 

     A vida dos dois sempre foi marcada pelo convívio e contexto entre irmãos no ambiente da igreja. Muitas vezes ele deve ter assinalado como a maturidade de Nanci o tomou de assalto, como fez a palavra de aconselhamento em minha vida lá em Pedra de Guaratiba. Muito nítida a linearidade de Nanci, marcante em sua vida em família, conselheira e modelo para a sua irmã e irmão, sua vida na igreja, no contexto dos Jovens Arautos, no tempo de seminário, eu testemunho e louvo ao Senhor pela obra que sempre realizou em sua vida, incluída nos Seus planos a aproximação com Marco Antonio e tudo o que realizaram juntos e agora ela e seus filhos ainda realizam.

     Você têm uma trajetória de marca da providência, do cuidado, do amor de Deus na vida de vocês, dos filhos, da igreja em que estão e de tantos quantos com vocês conviveram. Através dos anos os traços do amor de Deus na vida de vocês são nítidos. Com alegria e gratidão transmito este meu testemunho.