terça-feira, 15 de julho de 2025

Evangelho sem recortes

 ²⁰ "E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam." Mc 5.

   As cidades são responsabilidade da igreja. Jesus mesmo afirmou aos apóstolos que fariam mais do que ele próprio realizou.

¹² "Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai." Jo 14.

  Acreditem, evangelizar cidades está incluído. E o Metrre deu exemplo, delegando um novo convertido, o gadareno, para fazê-lo em Decápole.

  Isso mesmo. Os radicais "deca + polis" já indicam: eram dez cidades. Como todas, quaisquer, em todos os tempos ou épocas, carentes de pregação do evangelho.

  Interessante Jesus enviar um novato na fé. Sim, de uma experiência brutal. A fama invertida, de endemoninhado incontido, agora bem vestido, sadio e falante.

¹⁵ "Indo ter com Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram." Mc 5.

   E ele foi e fez:
²⁰ "Então, ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe fizera; e todos se admiravam." Mc 5

   Donde se deduz que Jesus envia a quem quer, capacita, autoriza, mentora continuamente.  Poderia se argumentar, ora, por que Jesus mesmo não pregou na Decápole?

  Porque era tarefa para o novo convertido gadareno. Mas não haveria um problema com a imagem? Um ex-endemoninhado gadareno? A fé vem pelo ouvir.

   Por aparência, diga-se, segundo Isaías o profeta, que nos transmite a descrição mais nítida de Jesus, ele não tinha nem aparência, nem formosura, nem beleza, sendo "um de quem se esconde o rosto".

   Talvez quem esconda o rosto de ver Jesus, cara a cara, é para fugir da autoimagem. Na face de Cristo se vê refletida a santidade que não temos e a deformidade pelo sofrimento do pecado que, esse sim, é tão nosso. E isso é evangelho. 

   Não se rejeita o evangelho pela aparência do pregador. Envergonha-se do evangelho por omissão consciente de não se reconhecer sua importância. Não se faz um recorte do evangelho, sem torná-lo outro, como Paulo denuncia:

⁶ "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, ⁷ o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo." Gl 1.

  Aos Gálatas Paulo denuncia a razão deles de "passar a outro evangelho". Não existe outro. E qual a nossa razão de passar a outro evangelho? Qual o nosso evangelho?

   O evangelho é o poder de Deus. E Marcos afirmou que o primeiro a pregá-lo foi Jesus e chamou-o de "evangelho de Deus":

¹⁴ "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, ¹⁵ dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deusestá próximo; arrependei-vose crede no evangelho." Mc1.

  Não se recorta das Escrituras o evangelho, arbitrando o que nela se deseja legítimo, falseando-se o contexto de sua principal mensagem.

  Porque é certo dizer ter sido prenunciado  até a Satanás, ainda no Gênesis: ¹⁵ "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gn 3.

   E atestado em todas as Escrituras, segundo testemunha o próprio apóstolos Paulo: ¹ "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, ² o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras". Rm 1.

   Então,  deixando de lado a mesma covardia de Jonas, vamos anunciar nas cidades. Ainda que consideremos plenos inimigos todos os que vão ouvir. Sem esquecer que, antes do evangelho, inimigos de Deus todos fomos:

¹⁰ "Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Rm 5. E isso é evangelho.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

A conquista de ser bem-aventurado

   ⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" Fp 2.

  Há um perfil padrão de conduta no contexto biblico. E sem dúvida está delineado na pessoa de Jesus. 

    Porém, ao longo da história bíblica, fosse no Antigo quanto no Novo Testamento, encontramos personagens que tipificam esse modelo.

   Por exemplo, Paulo na carta aos Filipenses expõe Timóteo como modelo de conduta:

¹⁹ "Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível [...] ²⁰ Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses [...] ²² E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai." Fp 2.

   Essa é uma descrição precisa dessa personagem. Qualquer obreiro, fosse o próprio Paulo ou quem ele indicasse como apto a substituí-lo seria modelar para todos os cristãos.

   No texto das bem-aventuranças temos um perfil, definido por qualidades em série, cada uma delas tendo Jesus como modelo, que definem o perfil do verdadeiro cristão 

   Elas não são como que promessas de felicidade ou bênçãos para quem tenta nutrir tais virtudes, mas sim o resultado de quem já traz consigo tais características de personalidade.

   A primeira delas, já define o caráter de Jesus  como, de novo aos Filipenses, Paulo indica:

⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus [...] ⁸ a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." Fp 2.

   A seguinte refere-se ao choro, definido como resposta emocional humana. Nesse caso,  estaria também relacionado ao sentimento de Cristo.

   Estão anotadas três vezes em que chorou: Jo 11,35, sensibilizado pelo sofrimento humano da morte; Lc 19,41-42,  diante da incredulidade de Jerusalém; Hb 5,7-9, pressionado pela necessidade em obedecer a Sua própria vocação. 

  O choro pode ocorrer como resposta a qualquer emoção forte meramente humana. Mas o choro das bem-aventuranças pressupõe o caráter de Jesus.

   Elas seguem definindo os mansos, a fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, e os perseguidos e injuriados.  Todas essa qualidades de caráter encontramos em Jesus.

   Na profecia de Isaías 53 lemos sobre a resposta de Jesus a toda a afronta que sofreu:
⁷ "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca." Is 53.

  Em Mc 6,6 Jesus se admira em constatar incredulidade, assim como em Jo 13,1 demonstra a intensidade de seu amor. E sua principal característica como limpo de coração está atestada em Rm 1:

⁴ "...e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor".

   As qualidades de Jesus nos parecem óbvias.  Mas para vê-las em nossa própria vida teremos um luta pessoal interna contra nós memos. E seremos assim se uma vez convertidos a Jesus, batizados em Sua morte e ressuscitados nEle. 

   Deparamos quem somos. E quem Deus deseja que sejamos. O clamor de Jesus na cruz, rogando ao Pai que perdoasse a todos que o crucificavam, é a maior prova de seu caráter pacificador.

³⁴ "Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lc 23.

   Quanto à perseguição e a injúria, mais ainda caracterizam a vida de Jesus. Conduzem-no à cruz e serão a marca de todos os que creem nEle.  Em Jo 15 Jesus menciona o ódio de que seremos alvo todos os que nEle cremos.

   A maior felicidade reside em quem põe em Jesus a sua fé. E por Ele é transformado à sua imagem e semelhança. 

    Terão com Jesus comunhão em todas as situações, partilham de Seu sentimento, agregam Suas virtudes e, certamente, vencerão o mundo por Sua fé,  ainda que sejam perseguidos e injuriados. 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Elias, o velho, e a visão de Deus

 ¹¹ Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; ¹² depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave." 1 Rs 19.

   Elias se viu no fundo de uma caverna, equivocado três vezes, confundindo fenômenos rotineiros, ainda que bruscos, da natureza, com manifestações divinas.

  Aprendeu que, quando tudo estava em plena normalidade, Deus, como sempre, esteve presente.  Parece óbvio, mas é costumeiro tentar definir, para Deus, seus modos de ser e agir.

  Elias, já idoso nesse tempo, teve um intenso ministério. Aliás, o exercício de sua fé, até para ele mesmo, foi supreendente.

   Muito interessante o comentário que Tiago faz desse profeta:
¹⁷ "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu." Tg 5.

   Portanto, um homem comum, com seus conflitos comuns e, como é corriqueiro, mas somente para quem crê, em conflito com sua própria fé.

   Talvez tenha sido tão intensa e urgente sua atuação, quanto às emergências que enfrentou em seu ministério, que nem tenha parado para refletir, teorizar, sobre fé.

  Então, num momento de crise máxima, mas como também acontece num período de crise mínima, ou seja, aparente apatia, surge uma crise de fé.

  Então Elias queria um Deus segundo o perfil imaginado por ele, quem sabe até definido pela história de seu desempenho pessoal, pois se uma vez até caiu fogo do céu, tempestade, terremoto e furacão tem de ser manifestações do Deus.

  Nada. Tédio. O mesmo. Fica em silêncio, Elias, apático, não pense em nada, somente ouça ao redor, quem sabe o som do grilo, na noite de sua caverna.

   Deus sempre esteve. Igual a Agar:
¹³ "Então, ela invocou o nome do Senhor, que lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?" Gn16.

  Deus não de define pela flutuação ondulante de um gráfico senoidal, não dá para aparecer na tela silk-screen um ícone qualquer que indique algum sinal.

  Os sinais são outros. Talvez a planura mansa das águas após Jesus ordenar que tudo se aquietasse.  Ou a experiência de treino do fuzileiro naval, na pior das tempestades em alto mar, quando o instrutor manda então mergulhar, para somente então sentir tudo manso.

   Ainda que idoso Elias, amedrontado e em fuga, como um Jonas na vida, talvez também deprimido, Deus está e Deus vê. Para Ele, não existe flutuação de sinal. 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Afinal, que Deus queremos?

 O grau de credibilidade conferida ao texto biblico define a personalidade do Deus que adotamos. Se for distorcida, não  será novidade, porém uma forma a mais de idolatria.

  É irremediável. Tenha Deus participação no que vai escrito ou apenas piedosos autores tenham imaginado assim, o Deus que se desenha se prende a toda a tecitura do texto, fatos, diálogos e milagres.

   Se não pôde, enfim, abrir o Mar Vermelho ou guiar os nômades no deserto, tudo se reduz a uma espécie de mitologia, por meio da qual se deseja conduzir à fé, ou se validar uma opção preferencial pelo povo judeu.

   O pai que conta histórias bíblicas ao filho, exercitando sua imaginação, ilude a criança. Não  se deseja,  por esse argumento, prova comprobatória. Apenas supor que os textos devem servir somente para isso, fáceis de se entender, ao alcance de crianças.

  Porém o Deus revelado não será objetivamente o personagem por detrás delas. Há uma necessária depuração de especialistas, sem a qual nunca se conhecerá, verdadeiramente, a excelsa e divina personalidade. 

   Que feitos ou fatos narrados se sugere ter esse Deus, efetivamente, realizado? Serão esses que os textos descrevem? E os declarados milagres, desacreditados ou não, seriam meramente admitidos como ficcionais?

   Por exemplo, como seria Abraão confirmado "pai da fé", sem essa saga geográfica e historicamente reconhecida? Os diálogos de Deus com seu amigo, apenas contêm beleza e maestria, porém as personagens são ficcionais (bem, pelo menos Deus, espera-se, não seja)?

  Seriam as Escrituras apenas uma obra ficcional de grande envergadura, à espera de mentes lúcidas em alto grau que decifrem o enigma por detrás desses ensaios literários?

   Trata-se de genial tecitura literária humana, sem nada de inspirado, revelando a identidade de que Deus, mesmo porque até os diálogos são fictícios?

   Nada é direto. Quando lido "No princípio criou Deus", trata-se de um narrador expressando sua fé, detalhando como a personagem divina de sua ilustre ficção cumpre sua agenda criadora.

   E quando a personagem diz a Abrão "Sai da tua terra e da tua parentela", trata-se de uma nova personagem, agora movida por uma intenção divina de fazê-lo migrar e se tornar peregrino.

   Se é personagem histórica, quase nada dele sabemos, porque terá sido envolvido como que num glacê cultural judaico de uma saga que confere personalidade a esse povo. 

   Não sendo uma personagem histórica, trabalhe-se toda a ficção, apenas como peça literária. Define-se, evidente, um perfil de Deus, a quem crer e adorar. Um Deus ficcional, ora, para uma fé idem.

   Que Deus queremos? Pode ser uma pergunta. Há uma presença autoral, subjacente, porém desconhecida. Aumentou-se, aqui e ali, com tradição oral, noutras vezes escrita, com registros em material da época. Mas que época?

   Épocas o quanto próximas dos fatos narrados? Ou distantes em que contexto mais recente? Há intenção divina a lhes inspirar? Afinal, seria possível Deus assim proceder? Afinal, o que seria possível para Deus?

   Há, no ser humano,  uma luta íntima em reconhecer a fronteira do que está para além dele. Uma vez diante de sua própria razão, avaliar o agir de Deus. Seria o homem diante da sua razão e Deus diante da dEle.

   Que milagres? O perigo sempre será a vocação idolátrica do ser humano, qual seja, ao final das contas, o que ele mesmo avalia como permitido ao Deus que supõe existir fazer, ser, realizar.

  É tão óbvia a potência de Deus em falar ao homem, amá-lo intensamente, dirigir-lhe a vida, porpor-lhe escolhas, enfim, entregar-se, como homem, numa cruz, depois de encarnar-se num corpo de mulher que, até para quem se aventura a crer, a fé se revela hesitante.

   Que limites impor a Deus? Se Ele entra na história, digam então o que pode e não pode, o que, enfim, ser-lHe-á permitido ou não realizar? Poderá falar com ou ao homem ou mulher que criou? Poderá agir, a Seu modo, de modo que classifiquemos isso como milagre?

   Que Deus queremos? Afinal, a iniciativa é dEle? Sabemos, porque Se revelou? Ou constru(ímos)(íram) esse Deus? Vai se saber. Por isso prefiro o Deus das Escrituras, tais quais se me apresentam.

 Esse menino que ouviu do pai as histórias sou eu. Certa vez, um professor, ironizando sobre tradições orais que conferissem, às Escrituras, essa sua sequência de narrativas, perguntou se eu achava mesmo ter Isaque sentado ao colo de Abraão para ouvi-lo falar de Deus.

  Está aí minha resposta. Deus pode. Somos nós esses meninos. 

domingo, 22 de junho de 2025

Para ver, saber e conhecer o amor

 ⁴ "Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa." Os 6.

   A pergunta de Deus é como se estivesse num dilema. Porque Efraim rejeita o amor de Deus.  Aceitar o amor é se converter.

  O profeta faz esse apelo:
⁵ "O Senhor, o Deus dos Exércitos, o Senhor é o seu nome; ⁶ converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo e no teu Deus espera sempre."  Os 12.

  Definitivamente, Deus ama. E revela emoção. A primeira lição sobre amor é que Deus nele sensibiliza-se. O profeta volta a nos revelar:

⁹ "Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira." Os 11.

   O dilema de Deus é o dilema de amar. Deus é amor. Esse dilema se aplica a todos,  indiscriminadamente. A fala a Efraim é a fala a cada um:

⁴ "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer ." Os 11.

   Mas Efraim tem de se converter. Senão, o pecado a destrói. E pecado é distância de Deus. Nem física, porém espiritual.

  Quem dizer que não se mede por unidade de medida. O único antídoto para isso é comunhão. Com Deus, ou existe comunhão ou não existe.

  E o lugar dessa comunhão chama-se igreja. De novo, não fisicamente igreja. Mas espiritualmente igreja. Se não, não é igreja.

   Igreja é um lugar de comunhão. Um lugar de amor. Não dá para saber do que significa amor, fora da igreja.

   Deus põe na igreja para se viver intensamente. Se, por acaso, virar simulação, não será nunca igreja. Não será Deus, mas perda de amor e perda de comunhão.

  O risco da igreja em Éfeso.

² Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; ³ e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer" Ap 2.

  Muito provavelmente, uma igreja soberba. Paulo afirmou, em sua carta, quase 40 anos antes dessa, de Jesus, que o amor excede todo o entendimento.

  Como se fosse intuitivo. Mas exatamente, espiritual. Porque o Espírito o derrama em nossos corações, ao mesmo tempo que é amor fruto do Espírito.

  Tentar transformar em saber, ensoberbece também:

¹ "O saber ensoberbece, mas o amor edifica. ² Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. ³ Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele." 1 Coríntios 8.

  Não é voluntário amar. É mandamento, por isso inseparável de obedecer. E isso não é natural em nós.  Não é espontâneo.

  Amar implica morrer e nascer de novo. Por isso, Deus chama Efraim à conversão. Por isso Jesus disse a Nicodemos:

⁷ "Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo." João 3.

   Começa no novo nascimento. Amor não existe antes de nascer de novo. Demole-se, para reconstruir. Paulo a Tito denomina:

⁴ Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, ⁵ não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, ⁶ que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador". Tito 3.

   Paulo passou por esse processo, de inimigo a amigo de Deus, de amor nulo a amor pleno.  A Caim, foi proposto. Deus o procurou, para trazê-lo para si.

  A samaritana,  de volta aos amigos, que perguntaram pelo cântaro,  ela disse que havia saciado a sua sede. Eles estranharam.

   Então ela disse: "Encontrei Jesus: será ele o Messias?" Até Judas, sim, o traidor, não estava predestinado a ser. Não existe predestinação para o não amor. Existe predestinação de toda a humanidade para a cruz.

   Nela e por ela se faz opção. Na cruz e pela cruz se manifesta todo o amor.

⁸ "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
⁹ Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. ¹⁰ Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Rm 5.

Nela Jesus crava e anula todo o escrito de dívida do pecado, tornando-nos aceitáveis diante de Deus.

¹³ "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; ¹⁴ tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; ¹⁵ e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz." Cl 2.

    Vitória total e completa que nos torna participantes da glória de Deus:

⁹ "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ¹⁰ ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. Jo 17.

¹¹ "Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé, ¹² a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Na oração sacedortal Jesus sinetisa o seu ministério e, ao final, indica como o ministério da igreja é expor, anunciar e ser modelo do amor de Deus que nela está:

²⁶ "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja." Jo 17.

  Jesus indica nela como 1. a igreja recebe da palavra de Deus; 2. como nela é santificada; 3. como nela a comunhão é vocação e identidade; 4. como a igreja glorifica Jesus; 5. como nela está presente e tipificado o amor.

domingo, 15 de junho de 2025

Antes de Missões

 ²⁰ "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; ²¹ a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." Jo 17.

   Na chamada oração sacedortal Jesus como que apresenta uma síntese de seu ministério, do mesmo modo que desenha, para a igreja, uma síntese do ministério que ela vai herdar.

   A igreja fica como substituta de Jesus. Algo somente concebível ao nível divino de concepção e somente exequível ao nível Trindade de desempenho.

   Paulo, aos Efésios, afirma que Jesus é uma dádiva à igreja:

²² "E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, ²³ a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas." Efésios 1.

E aos Tessalonicenses 2, afirma o mesmo que Jesus nessa oração, que a igreja é a glória de Jesus:

¹² "...a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Em Atos está descrita a ascensão de Jesus, quando os discípulos, numa inversão de prioridades, desejam saber quando, em termos humanos, as preferências políticas se alinhariam.

   A diferença entre reino de Deus e reino dos homens. A prioridade de Jesus é a outra e, pelo Espírito Santo, profeticamente prometido e derramado, os discípulos, que ali representam toda a igreja, entendem o que é ser testemunha de Jesus.

   A igreja não tem como missão angariar seguidores, demarcar marketing, sanear a sociedade, governar o mundo. Jesus torna explícito, numa sentença:

⁸ "...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra." Atos 1.

  Conhece Jesus? É meu irmão mais velho. Tenho dEle o DNA de sangue. Mas a virtude é toda dele. O que fez a mim, quer fazer ao mundo todo. Seu amor é sem igual.  Mas sempre compartilhado.

   Qual o efeito da comunhão com Deus? A perfeita, somente Jesus a tem. Aliás,  a Trindade dela priva. Podemos compreender as pefeições e a identidade deles três como efeito dessa comunhão, a mesma que desejam tenhamos com Eles.

   A comunhão com Deus não é retórica. Nem fantasiosa ou simulada. Deus realiza a comunhão. Ele se mistura a nós. A mediação do sangue de Jesus Cristo é perfeita e santifica suficientemente.

²² "...agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Cl1.

   A igreja é o lugar real, geográfico, prático e vivencial dessa comunhão. Não fomos nós que nos escolhemos ou que escolhemos uns aos outros. Deus escolheu.

¹⁶ "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda." Jo15.

  E a nós foram entregues os recursos para vivenciar essa comunhão. A igreja de Atos, em seu começo,  exercia variadas atividades de comunhão:

⁴⁴ "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. ⁴⁵ Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. ⁴⁶ Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, ⁴⁷ louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." Atos 2.

   E Paulo exorta aos Efésios ser uma parceira com o Espírito,  preservada com diligência, visto que, por nós mesmos, com a munição do velho homem, ou ainda por ação dos demônios, será quebrada.

¹ "Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, ² com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, ³ esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz". Ef 4.

   Missões foi entregue à igreja. A capacidade de vivenciar a comunhão autêntica foi entregue à igreja. O amor foi revelado e derramado na igreja. Enfim,  Jesus Cristo foi entregue à igreja.

domingo, 8 de junho de 2025

A pergunta retórica de Joel

 ¹³ "Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. ¹⁴ Quem sabe se não se voltará, e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e libação para o Senhor, vosso Deus?" Joel 2.

  Quem sabe? A pergunta retórica de Joel.  Este é o mais misterioso dos Profetas Menores.  Não pelo tamanho e nem pela importância.

   Decisivo este livrinho.  Ele narra uma calamidade,  entre muitas por quais passou o povo de Israel, algumas delas, como esta, descritas nas Escrituras.

  A qualificação dela está indicada no início do livrinho:

² "Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais? ³ Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração."  Joel 1.

   Das pragas sucessivas, em si, não se identifica  a data. Mas o que elas tipificam, pode ter sido ou na época da invasão assíria, em 722 a.C., em Israel do Norte, ou em 587 a. C., na invasão de Judá do Sul.

     A descrição dos exércitos, que avançam sem desalinhar as tropas, como gafanhotos em sucessão, é assombrosa. Há,  no Apocalipse, um eco escatológico desta descrição.

³ "Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, ⁴ e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte. Ap 9.  
  
   E como nas outras profecias, após a prescrição profética do que é horrendo e destrutivo, assim como a indicação de sua causa, a franca infidelidade ao Senhor, vêm as promessas de restauração.

   E também como qualquer outro profeta, aponta a conversão ao Senhor como única saída, como início de toda a restauração. Perante o Senhor, perante Jesus, o seu Ungido, não vale o teatro ou a mistificação:

⁶⁵ "Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia". Mt 26.

  Blasfêmia ou pecado sem perdão é não reconhecer a necessidade de converter-se ao Senhor. O livro de Joel foi usado por Pedro, no dia de Pentecoste, para indicar o modo como, cumprida a profecia, é possível converter-se pelo Espírito.

   Joel, a partir de uma calamidade,  anuncia o tempo de vislumbre da salvação,  sem jogo de cena,  sem máscara ou hipocrisia. Caem as máscaras. A nossa já caiu, na conversão. Seja esmigalhada, sob os pés, sempre que se insinuar como disfarce.

   Porque vem o Espírito que Jesus prometeu derramar. E, por ele, é derramado o amor no coração de quem crer. E sua primeira iniciativa,  em nós, é mostrar nosso avesso:

⁵ "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado." Romanos 5.

   Prevenir é o melhor. Porque, por quatro vezes, Joel adverte sobre o Dia do Senhor. É melhor começá-lo pela conversão.  E quanto à inevitabilidade desse dia,  é melhor estar preparado. Porque a própria garantia vem do Senhor, como único refúgio:

¹⁶ "O Senhor brama de Sião e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do seu povo e a fortaleza dos filhos de Israel."
Joel 3.

   Quem sabe após si deixa esta bênção. Tanta chance dada por Deus, que até mencionar o arrependimento dEle, insistente em abençoar, atreve-se Joel. Atrevido esse profeta,  irônico em sua retórica. Quem sabe.