terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Pelo menos um milagre.

    Os caras. Ele se acham. Os caras querem retirar os milagres das Escrituras. A alegação deles é que, sem eles, elas ficam mais isentas e enxutas.

   Isentas de doideiras. Sim, porque essas narrativas de milagres o século atual desmerece. Eles, os milagres, são coisas, como dizer, assim mentalidade de Idade Média.

   Afinal, estamos na era do Renascimento e vivemos os Séculos das Luzes, e que luzes! Portanto, teólogos, ora, o vocábulo (para os desavisados) quer dizer "os que estudam Deus".

   Ainda bem que existem os caras. Porque se não fossem eles, não teríamos uma ideia isenta e enxuta, para repetir os termos, sobre Deus. Esses caras são o clero da modernidade.

   Limparam a barra do clero de Idade Média. Porque esse era mítico e impositivo. Este não é mítico e sua imposição é sutil, implícita, porque são humildes, mas, sem eles, admitamos, estaríamos ainda perdidos em meio a uma mitologia cristã inautêntica.

   Portanto, teologia é como jogar tênis, pescar ou colecionar selos. Com a única diferença de que, nestas três últimas, há um objeto palpável de vocação.

   Pode-se assar ou cozinhar peixes, aprender e treinar o tênis, aliás, dizem, um esporte requintado, assim como apreciar, discorrer sobre a história dos selos, estabelecer suas conexões.

   Sobre Deus, especule-se. Sumo bem. Sumo uma porção de coisas. Mas, como dizia meu pai, sem nenhum sentido prático. Especule-se. A não ser que se suponha a capacidade única desse ser divino encetar um único milagre.

   Qual seria? Gerar, em Cristo, filhos que, com Ele, tenham real comunhão. E das Escrituras, suportar que elas estão certas, pelo menos, quando afirmam que tal geração de filhos decorre do batismo na morte e ressurreição de Jesus.

   Caso o século atual suporte, pelo menos, a descrição deste milagre, qual seja, da capacidade de Deus operar em nós esse batismo no Filho que, aliás, as Escrituras atribuem ao Espírito (aqui, já não estaríamos indo longe demais, supondo Trindade?).

   Pelo menos um milagre atribuível ao Altíssimo, com a possibilidade de ter com Ele comunhão. Será que o clero da modernidade permite essa doutrina? Senão, sem nenhum sentido prático a teologia. Diletante.

   Mas a opção não é só pescar, jogar tênis ou colecionar selos. Aliás, seja teólogo, mas procure um hobby. Para não morrer entediado

sábado, 25 de fevereiro de 2023

E o Verbo se fez carne - και ο λογος σαρξ εγενετο

 Assim, retirado do contexto, esse comentário de João Apóstolo resume a história de toda a Bíblia. 

   É uma síntese histórica, filosófica e doutrinária, pelo menos. Porque se há uma história de Deus, o clímax dela foi a encarnação do Verbo.

    Filosófica, porque João saca da filosofia grega o conceito de Logos, para indicar que o que denominavam "motor imóvel" ou o princípio unificador do Universo tinha designação específica e pessoal no Antigo Testamento: Deus.

 E doutrinária, porque o que desencadeia, para diante e para trás toda a história da revelação, na Bíblia, expressão que meu pai apreciava utilizar, toda a "revelação em marcha" tem culminância na expressão dessa realidade: o Verbo se fez carne.

     Deus se fez corpo. Circunscreveu-se nos limites da existência. Todos os limites. Esvaziou-se de sua deidade. Aqui para esclarecer que, ao se tornar homem, Deus não perde Sua identidade, mas abre mão de seus atributos. 

    Como homem, passa a depender inteiramente do Pai. Costuma-se ironizar essa possibilidade, debochando da confusão entre as duas pessoas, se afinal são duas, uma ou que desdobramento é esse?

   Em sua afirmação, João está a resolver esse dilema. Deus, quem é, faz-se homem sem deixar de ser Deus. Há um só Deus, como o Antigo Testamento postula. Capaz do ato por excelência que o define. Esse é o sentido.

    Aqui a total identidade de Deus e do homem. Lucas, em sua genealogia a partir de Jesus, percorre toda a história, até indicar Adão como filho de Deus. Pois é tal identidade no homem que Deus resgata para Si quando se faz homem.

    O ser humano deixa de ser uma criação para fora de Deus, para ser criatura em comunhão com Deus. Verbo é Deus exposto. Deus revelado se mostra todo. Mas não há como o homem exigir para além disso.

    Um incidente no círculo apostólico ilustra essa expressividade do Verbo, do Logos, da Palavra de Deus. Felipe resumiu numa formulação sua perplexidade ao identificar, na antecipação de Jesus, em relação à Sua morte, o paradoxo da morte do Verbo que se fez carne. 

    Felipe pediu "mostra-nos o Pai, e isso nos basta". Ao que Jesus respondeu: "Como?!" Essa interjeição em forma interrogativa indica a estranheza de Jesus, assim como devolve a Felipe a perplexidade. 

    Jesus é a cara de Deus. Geralmente ateus negam que Deus possa ser reconhecido. Pois jamais haverá expediente para além de "o Verbo se fez carne". Deus se revelou totalmente. Para além do que está posto, não há transcendência possível. 

     Paulo Apóstolo indica como, com relação a Deus, seus atributos, poder e a própria divindade estão expressos de modo claro, ele afirma, por meio da criação. Realmente a ciência não dá conta do que aprende em relação ao que já encontrou pronto. 

      Quando o Verbo se faz carne, quando entra na história, é a síntese completa da revelação de Deus. Não só se define, dá-se a conhecer, assim como chama à comunhão. Não há mais nada além. Não há como haver. Visto que e porque, em Jesus, o Verbo se fez carne.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Sutilezas do Espírito

"Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel: Não por força nem por violência mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." Zacarias 4:6.

    Algumas versões usam "poder" no lugar de "violência" para essa tradução. Porém, como poder, nas Escrituras, é vocábulo usado para ações de Deus, de modo geral, o uso de violência aqui estabelece a distinção essencial.

  O Espírito age por poder, mas nunca por violência. Esta é característica distintivamete humana. Daí compreender-se que, se o Espírito age, nunca será por ou com violência.

  Por vezes a violência, em nós, não aparece de forma explícita. Aliás, por mais doloroso que possa parecer, ou até despropositada a comparação, seja implícita ou explícita, é sempre violência.

   Jesus mesmo, quando, de forma didática, aborda o "Não matarás", no sermão do monte, assim chamado, indica como idênticos o assassinato, assim como a detração. O que significa dizer que a violência pode ser vista, filmada, ou apenas subentendida, perceptível.

   Impossível detração sem depreciação. Quem pratica, diminui o outro. Sutil na condição humana. Talvez seja mais próprio dizer inato à condição humana.

   Na história da tentação primordial, ou seja, nas pistas que os textos em Isaías e Ezequiel dão de que um anjo qualquer, ao inverso do Filho, tomou como usurpação o ser igual a Deus, evidente que houve esboço de violência, detração contra o Altíssimo, com frustrada tentativa de Sua depreciação.

   Típico do ser humano. Violento, explícita ou implicitamente. Ao contrário do que recomenda Paulo, como exortação de Cristo, considerar o outro superior a si mesmo. Detração é esse inverso. Depreciar, rebaixar, diminuir, pôr sobre foco ou como foco de depreciação.

   No texto de Zacarias, de propósito, o destaque é o humilde começo. Com Deus, a grandeza está no mínimo. No pequeno. Para que o poder, a graça e o efetivo resultado seja e tenha a honra de participação do Altíssimo.

   Há sutileza na ação do Espírito. Deus se esvazia de Si, para assumir, no Filho, a condição humana. O Espírito se esvazia de Si, porque tem como tarefa precípua glorificar o Filho. E este, por sua vez, sobre ele as Escrituras afirmam:

   "Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." Marcos 10:45.

   Sutilezas do Espírito. Não por força, nem por violência. Esvaziar-se pelo outro, parece ser uma característica individual da Trindade, assim identificada. Assim como uma sugestão permanente e voluntária na ação do Espírito.
   

Impregne-se nessa cultura

 Missões: as cidades estão no coração de Deus. Faça vibrar o seu pelo dEle.

Horizonte: até onde a vista alcança.

Por todos os caminhos.

Que vão dar na Rodoviária.

Veios de todos os rios: subindo o Moa.

Hospeda e espia a terra.

Todas as vistas.

No leito do Juruá.

Namora a curva do rio.

Debruça na antiga varanda.

Caminha pelo mercado.

      Cada labirinto.    De tudo um pouco.

Muito e massa.

Breve refeição.

Conhece toda a história.

Guia um turno por ela.

Vai, mas volta pela mesma ponte.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Então é.

 "Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor", Nm 12:7,8a.

   Interessante Deus reivindicar, para Moisés, uma posição privilegiada na relação com Ele. Típico de Deus. Aliás, há tanta coisa típica de Deus. Uma delas é reivindicar, para Si, ter relação conosco.

   Não sei se a frase de Tiago, um cara contumaz no modo de falar, aquela, de que Deus não faz acepção de pessoas, se aplica a essa reivindicação de intimidade maior ou menor com Ele.

  Está parecendo, pelo texto, que sim. Como se fora implícito, "Moisés é meu chegado. Com qualquer outro, pode até enxovalhar, mas ele é meu chegado". E Josué, por exemplo, discípulo de Moisés, foi do mesmo jeito?

   E quando Jesus ora para que a comunhão desses, por quem Jesus ora, especificamente, seja a mesma que ele, Jesus, tem com o Pai e, consequentemente, o mundo todo saiba que sim, é possível ter comunhão com o Pai? Pergunto.

   Nesse texto, Deus reivindicar para Si, é uma opção dEle. Se há uma coisa em que Deus é soberano (quer dizer, há alguma coisa em que não seja?), é Sua opção em ter comunhão e tê-la com quem bem decidir.

   Queiram ou não queiram, acreditem outros ser possível ou não, escalonem ou não ser coerente, Deus não está nem aí, ou melhor, dizendo de outra forma, é para isso que Deus está aí.

  Paulo diz, permitam-me citá-lo, sim, é outro que reclama para si comunhão com Deus, ele afirma que a palavra está perto e ao alcance da boca, a palavra da fé que pregamos.

  Isso quer dizer que está ao alcance do entendimento. Alguém vai argumentar que esse negócio de comunhão com Deus é algo místico. Queiras. Chamem do que quiser. Não importa. Porque quem reivindica essa comunhão é Deus.

  Com respeito a toda a doutrina, afinal, gasta-se muito papel e conta-se, sobre ela, uma história secular. Então, merece respeito, pelo menos. O mesmo para a filosofia, assim como para a teologia, e até mesmo a ciência.

   Quanto a mim, recorro a uma cartinha de um cara chamado João que, apenas e ainda na introdução afirma: "...a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo." 1 João 1:3.

   Então, é. Resolva-se com Ele.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Eita, povo lindo!

   E nos mandamos para o Retiro. Opção muito especial. Desde uma reunião de final de culto, no domingo que antecipava o Carnaval, a turma se mobilizou.

   Aí, começou a mobilização pelo zap. O esforço para os acabamentos finais nas instalações. O esboço de programação. Os preços e as compras no supermercado.


                                                                             


  A gente tentou essa primeira experiência. Fazíamos, o que já ocorreu três vezes, com as crianças do bairro. Mas desta vez, a irmã Regina sugeriu sermos nós.

  Sim, faríamos uma escola dominical com elas, no domingo, e logo veio a ideia de subdividir, por etapas, os estudos. Nesse mesmo domingo, Isaac continuaria com Filipenses, na EBD, com os adultos.


   Ana Luísa e Cleidiane com as crianças. Tia Amanda gripou e não pôde estar. Deixa estar que, no sábado, quando iniciamos, chegados logo após o café da manhã, o pastor dirigiu o primeiro encontro com o tema do Retiro.

           
   "Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças." Cl 2:6,7.



      E nesse mesmo sábado, à tarde, adolescentes, mulheres e homens subdividiram-se para estudos em grupo, respectivamente: Deus como um ser relacional, A mulher no espelho da alma e, para os homens, Jardineiro e guerreiro na perspectiva bíblica.




   Para uma sensacional gincana, à noite, nesse mesmo dia, quando o pessoal poderia demonstrar, sim, o quanto havia retido desse primeiro estudo. Cristina e Ana Luísa como mediadoras.





   Nem precisa dizer que a equipe de apoio foi 1.000. A turma da cozinha, muito linda, preparou as refeições com destreza, carinho e muita competência. Também, havia as dicas da nutricionista.




   A irmã Lúcia era o motor dínamo da cozinha: somente saía de lá para os estudos ou para dormir. Acordava com os passarinhos, para preparar o café.

   Os bate-papos em grupo foram também ponto alto, com Raimundo descrevendo, talvez, os 20 Estados, do total de 27, por onde ele já esteve. Tivemos aula de garimpo de ouro e cassiterita. E ainda sobrou tempo para, nos intervalos, o divertidíssimo jogo-sem-nome ou taco, gato, cabra, queijo, pizza e ainda o New York King, traduzido O rei de Nova Iorque ocupassem as brechas.



   E a conversa variando de como percorrer a trasmazônica ou pescar poraquê sem levar choque. Dr João Augusto, de como, nos sertões de Manoel Urbano, arbitrou, delegado que é, casos de trocas mirabolantes de patrimônio.

   Aqui calamos, porque uma das partes tem parente conhecido. E Lucia e Cravina ensinando, aquela, o que é casa de pau a pique com paredes de barro socado e esta, casa de paxiúba, numa colocação no meio do seringal.

   Eu fiz estágio de 3h no PS do Quinari, tratamento VIP, menos de 10 min de espera, com almoço servido, e soro das 11 às 14h. Piriri. Desculpem a menção. E nunca mais duvidem da capacidade de bom atendimento do PS de nosso Município. E do chá de broto de goiaba de Bebé.


                         
   Mas sensacional foi a gincana de domingo, com todos demonstrando perícia com suas espadas e rapidez em localizar textos bíblicos. Chuva boa e demorada não atrapalhou. Noites amenas e de bom sono, ainda que em colchões improvisados. Veja pelos links:

Espada ao ar 1:

Espada ao ar 2:

Espada ao ar 3:

Espada ao ar 4:

Espada ao ar 5:

   Saldo muito positivo para essa primeira experiência. O único ponto não positivo foi a falta que você, que está lendo estas linhas, mas não pôde ir, a falta enorme que você faz.



  Mas não se preocupe. Esta experiência foi muito positiva. Vamos aperfeiçoar para a próxima. E, certamente, queremos você conosco. Eita, povo lindo!

Cânticos:


Chuva abençoada que Papai do céu mandou:

Opção de Deus

"Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?" Salmos 8:3,4.

   O salmista estabelece uma comparação. Por atribuir céus, estrelas e astros obra dos dedos de Deus, não consegue avaliar que Deus e como haver interesse dEle pelo ser humano.

   "Lembrar" e "visitar" são tradução do original, mas não no seu sentido lato. E estão num paralelismo de dois membros, como é típico da poesia hebraica.

  Portanto, seu significado é próximo um do outro, complementando-se, para o sentido final. Que é o homem/mulher para que Deus os tenha em conta, estabelecendo com eles relação?

   Pois lembrar, apenas ter na memória, para Deus, não seria o caso. Mesmo porque, memórias do ser humano não seriam agradáveis ou todas elas positivas.

   E quanto a visitar, Deus não visita, Ele habita. Portanto, longe de diminuir, o Salmo, evidentemente, além de enaltecer Deus, traz o homem para o grau de importância que somente Deus lhe concedeu e para o qual somente Ele pode trazê-lo como retorno.

   Que é o homem/mulher, no sentido geral refere-se aos dois, do modo como Deus os valoriza. Ao mesmo  tempo em que o salmista admite que não valha a pena, mais ainda enaltece Deus por Sua escolha.

   Sim, Deus lembra e visita o ser humano. Sim, Deus leva em conta o ser humano e habita nele. Quando João se refere a Jesus como o Verbo de Deus e, por extensão, o próprio Deus, afirma que ele tabernaculou entre nós.

   Deus montou Sua tenda entre nós. Mais do que isto, o Novo Testamento, sumo atrevimento, o que é típico das afirmações bíblicas, indica Deus habitando em nós. E o nome disso é igreja.

   Está respondido. O salmista já tem sua resposta. Que é o homem/mulher que deles te lembres? E o filho do homem que o visites? Resposta. Deus amou, deu o Seu Filho e, por meio dEle, habita em nós.

   Por essa o salmista não esperava. Por essa, quem descrê das afirmativas da Bíblia não esperava. Opção de Deus. 

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Andai em Cristo

 Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. "Cl 2:6,7.

   A presente exortação de Paulo insere-se num contexto bem claro e específico. Para podermos compreendê-la, é necessário recapitulá-lo. As recomendações que o apóstolo faz são:

1. A luta intensa que ele vem enfrentando para confirmar colossenses é laodicenses na fé, por não ter estado, pessoalmente, com eles;
2. Seu objetivo é manter um vínculo fraternal, em amor, entre eles, apesar da distância, tanto para com ele, quanto entre as cidades (18 km);
3. Que aqueles crentes obtivessem uma forte convicção em seu entendimento, para compreender, plenamente, Cristo, reconhecendo nEle estar ocultos todos os tesouros de ssbedoria e conhecimento;
4. Que de modo nenhum, portanto, permitissem a si mesmos serem enganados, pois seriam tentativas e raciocínios falazes;
5. Embora, fisicamente, ausente, o apóstolo acompanhava o progresso e firmeza deles, verificando sua boa ordem a firmeza na fé em Cristo.

    Portanto, nesse contexto, Paulo lhes propõe a exortação acima indicada. Na primeira afirmação, é como se Paulo dissesse, grosso modo, "você aderiu à Cristo, siga colado nele".

   Ter "recebido" a Cristo significa: a) tomar consigo, tomar para si, unir-se a si mesmo com; b) tomar alguém como mentor intelectual e professar segui-lo, não rejeitar ou negar obediência a essa pessoa; c) acatar com a mente ou como um ofício legal.

   E o termo "andar" estará relacionado, como decorrência direta e interligada a esse compromisso, coerente com ele. Definir para si o caminho, conduzir-se ou regular sua vida por esse caminho.

   Resumindo, "viver a vida conforme a união assumida em Cristo" (entered into Christ). Resta agora, com maior precisão, saber o que Paulo deseja expressar, quando propõe a solidez dessa comunhão em Cristo.

   A primeira característica é estar enraizado em Cristo. Significa "raiz", evocada a firmeza da árvore: a) formar raiz, fortalecer-se com raiz; b) estar firme, fixar-se, estabilizar-se; c) o que torna alguém, por meio do que alguém se firma (enraíza-se ao chão).

  A segunda característica é estar construído, edificado, evocada a firmeza de uma construção, um edifício: a) finalizar uma estrutura sobre a qual descansa uma construção; b) o que produz internamente crescimento; c) modo pelo qual, em comunhão fraternal com Crsito, cresce a vida espiritual.

   A terceira característica é conceitual, referente ao que concede: a) firmeza, estabilidade, confirmação e certeza; b) garantia ou validade de uma compra; c) recibo, título ou mandado. Resta-nos, agora refletir sobre tais atribuições ou definições dos tipos de fundamentos que nos estruturam em Cristo, caracterizando e mantendo nossa comunhão fraternal com ele.

  Paulo encerra essa exortação afirmando que é possível, em Cristo, crescer ainda mais: a) exceder-se ainda mais; b) incrementar-se em excelência. Essa medida de crescimento, menção da qual o apóstolo faz, transborda, super excede. 

    E a ela Paulo acrescenta o terno "graça", veículo dessa superação ainda maior de crescimento em Cristo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Um conto chamado domingo

  

  Eu estava numa cidade de interior. Aliás, a característica dela era o tamanho, mas a sua gente estava dispersa, quero dizer, espalhada.

  Era domingo. Minha viagem foi a serviço. Não escolheria essa cidade para lazer ou por curiosidade em conhecer.

  Então, como segunda, haveria de retornar, resolvi sair sem rumo. Me atraiu uma torre. Dessas de estilo norte-americano, uma pirâmide sólida, esguia, que sobe para o céu.

  O sol estava ameno. Ela ficava no cimo de uma pequena elevação. Veio logo à memória minha avó, que insistia em me levar à igreja.

   Há muito tempo que eu não entrava numa delas. Como dizia meu pai, expressão dele, não via sentido prático nisso.

   Então, mas então, naquela manhã, subi a ladeira suave em direção à igreja. Ah, sim, era protestante, esquecia-me de dizer.

   Havia por detrás da mesa à frente, logo abaixo da elevação que chamam púlpito, uma moça, bem, uma mulher, mas de aparência jovem.

   Cantava um hino. Avaliei, pela quantidade de pessoas, que talvez estivessem ali já a metade suposta de assistência. Palpite meu.

   Terminou o hino. Conheço alguns, ainda. Mas aquele me era desconhecido. Depois tomou da Bíblia, leu um trecho. De um salmo. Esse eu lembrava: "Alegrei-me quando me disseram, vamos å casa do Senhor".

   Achei, ao mesmo tempo, muito comum, ela ter lido. Mas como tudo ali me valia tão, como vou dizer, insólito, achei que fazia sentido. Havia ali quem tinha prazer em estar ali.

   Fez os anúncios, mais ou menos como eu já sabia, desde meu tempo de criança. Mas ela fazia com naturalidade. Parecia ter o coração no que fazia.

   Então cantaram de novo, e ela disse que as pessoas poderiam ir para as suas classes. Vi todos se levantarem e se dispersaram, sabendo para onde ir. Até que um senhor de idade me viu, saiu deslocado do rumo para onde ia, e veio falar comigo.

   Perguntou nome, eu, ficando de pé, respondi, me disse o nome dele, que eu fosse bem-vindo à casa do Senhor (com maiúsculas) e disse que ia me levar para a minha classe.

   No caminho, perguntou se eu era da cidade, disse que não, ele sorriu, dizendo que já desconfiara. Chegamos, ele se dirigiu a um rapaz, que era o professor daquela classe e me apresentou.

   Ele sorriu, falou meu nome, perguntou aos alunos, uns 7 ou 8, o que vamos dizer para ele e todos disseram "seja bem-vindo, em nome de Jesus". Isso mesmo, a igreja tem muita coisa repetitiva. Essa eu também conhecia.

   Ele começou a lição. Dirigiu-se a mim, explicando a série de lições, quais eram. Estavam estudando o Evangelho de Marcos. Eu prestava atenção, com esforço porque, ao mesmo tempo, eu queria abarcar a cena, analisando tudo.

   Mas eu forcei, porque achei que tinha de me concentrar, para ser honesto e educado com ele. Lucas, seu nome, um pouco óbvio. Achei que deveria ser de família antiga na igreja, para colocarem nele esse nome.

   Falou então das coisas da Bíblia. Sempre muito rasteiro, desculoem o termo. Simples. Aquelas coisas que estão escritas que diz Jesus ter feito. Ele ter falado. As promessas que ele fez. O que falava de si e dos outros.

   As pessoas participavam. De novo, abstraí: como podiam ter interesse naquilo tudo? Ele se dirigiu a mim. Levei um susto. Acho até que ele notou minha distração.

   Olá, querendo perguntar ou falar alguma coisa, esteja à vontade. Agradeci com um sorriso, estou bem à vontade, menti. Na verdade, estava e não estava. Ao mesmo tempo, era e não era para estar ali.

   Terminou. Fomos de volta para o templo. Ah, sim: ele havia me perguntado, na classe, de onde eu era. Eu disse. Todos se admiraram, porque eu estava a mais de 3000 km de minha cidade.

   Havia, agora, uma senhora ao órgão, tocando um hino. Esse eu lembrei: "Achei um bom amigo". Assustei de ver que fui cantando direto. Olha, que então fazia mais de 30, quer dizer, 35 anos dessa fase de ir a uma igreja com minha avó.

    Novamente uma senhora se dirigiu a mim. Sorriu, cumprimentou e disse bem-vindo e se sinta em casa. Agradeci. A moça da frente, a mesma do início, lia a estatística dos presentes nas classes. Depois, a quantia das ofertas. Ah, sim: eu havia depositado, na revista aberta, improvisada como arrecadador.

   O rapaz disse que eu não me sentisse constrangido em contribuir. Eu disse que não, que estava acostumado. Levei um susto ao dizer isso: acostumado há 35 anos atrás.

   A moça terminou. Cantaram mais um hino. Sim, o "Achei o bom amigo" que a senhorinha tocava no prelúdio, ao retorno das classes. Era um órgão a fole, desses bem antigões mesmo, esqueci de dizer.

   Viajei na letra do hino. Confesso. Depois, ela anunciou o pregador. Um senhor subiu, cumprimentou todos, fez algumas menções, que só entenderam, e riram, quem conhecia as pessoas e os fatos.

   Dei uma olhadela na assistência. Nem muito cheia, nem muito vazia. Ele leu em Marcos. Acho que buscava coerência com as lições das classes. Leu o texto. Começou a pregar. Uma fala mansa. Um terno preto desbotado.

   Parei de fazer digressões. Queria prestar atenção. O texto era aquele que dizia que, logo que o Batista foi preso, Jesus se largou para a Galileia. E pregava: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Marcos 1:15.

   Era idoso. Mas não demorou pregando. Disse que essa mensagem de Jesus era a da igreja. Que seria repetida até ele, Jesus, voltar. Que por si já era um apelo. Que por si já dizia o que cabia a quem ouvisse, que era se arrepender e crer.

   E que havia um tempo decorrido. Diferente da contagem normal do tempo. Por isso era urgente crer. E que o reino de Deus era diferente do reino dos homens. Era de paz, primeiro interior, para depois se espalhar por todo o mundo. Um dia.

   Falava tudo isso com simplicidade e bem ao alcance de suas possibilidades. Ao invés de depreciar, ao contrário, o que ele dizia e como dizia dava total credibilidade a ele, conferindo a mesma aos ouvintes. Não sei como aquela gente e aquele homem acreditavam naquilo tudo.

   Terminou. Eu estava tão mergulhado num turbilhão de memórias, que nem percebi. Havia pessoas à minha volta cumprimentando. Não sei quanto tempo estive absorto.

   Sim, o homem orou. Cantaram outro hino. Mas era como se eu estivesse ausente, dentro de mim, eu acho. Muitos falaram comigo. Despedi-me. Agradeci. Desci a ladeira.

   Tudo muito igual. Pouca coisa mudou. Achei interessante o idoso pregador dizer que era mesmo repetitivo. Achei tudo muito simples e, como já disse, rasteiro. Sem depreciação, gente. Quero dizer "rasteiro" no sentido ao alcance de qualquer um. Quer dizer, qualquer um de boa vontade. Acho.

   Eu pensei no personagem Jesus. Em função dele fazem tudo aquilo. É mesmo alguém simples, rasteiro e repetitivo. Mas impressionou-me o grau de importância que davam a isso tudo.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Pronome(s) indefinido(s)

"Falou João e disse: Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco. Mas Jesus lhe disse: Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós." Lucas 9,49-50.


     Mas quem eram esses "outros" referidos por João? Palavra esta utilizada de modo positivo, quando a generalização inclui, por exemplo, o respeito a todos, a qualquer um, indiscriminadamente. Amar o outro, respeitar o outro, enfim, amar o próximo como a si mesmo, está valendo.

   Mas esse outro, exatamente um pronome indefinido, pode ganhar um uso depreciativo. No caso da exortação de Jesus a João, há dois tipos de avaliação em jogo. Uma delas, feita por João, e a outra, corrigida por Jesus. 

  Para João, tratava-se de um "certo homem", cuja principal característica, na visão dele, era "não seguir conosco". Cabe tentar entender, com a cabeça de João, o que quis dizer com "certo homem", cuja falta era "não seguir conosco".

   E Jesus, anulando, de modo lacônico, o raciocínio de João, afirmou: "o que não é contra vós outros, é por vós". Ao mesmo tempo genéricas e específicas ambas as qualificações, tanto a de João, quanto a de Jesus.

   Para João, quaisquer ou todos que não "seguissem com eles", estariam proibidos de se expressar "em nome de Jesus". Para Jesus, todos e quaisquer que não fossem "contra eles", estariam "com eles", os discípulos, ou como eles, iguais a eles, habilitados da se expressar "em nome de Jesus".

    Em qual das duas avaliações nos enquadramos? Pensando como João, "os que seguem conosco", somente nós podemos falar, agir e, quem sabe, até pensar "em nome de Jesus". Pensando como Jesus, há uma avaliação e qualificação para além de nossas restrições.

   Ora, pela cabeça do Mestre, então, como identificar os que, embora não sigam conosco ou entre nós, estão, tanto quanto nós, autorizados a se expressar "em nome de Jesus"? Para nós, certamente, faltam, de modo objetivo, critérios para definir essa fronteira de restrições.

   Talvez nos incomode muito essa informalidade de Jesus. Pela mentalidade de João, havia, da parte de Jesus, uma excessiva flexibilidade. Afinal, deve haver fronteiras. Por critérios claros e, certamente, rigorosos. Não será para qualquer outro. Mas deverá ser, sim, para outros, porém qualificados.

   Não sei se devemos "correr atrás" desses ortodoxos critérios, talvez. A igreja que se tornou Católica já o fez e, historicamente, exagerou. Distorceu e perdeu sua vocação. Correu atrás de a recuperar.

   Bem provável que, em Jesus, haja um critério fluido, flutuante, por mais escandaloso que isso nos possa parecer. Um critério exclusivo seu. É melhor não querermos definir quem sim e quem não. Essa ciranda de pronomes indefinidos não nos deve absorver.

   Por corrermos o risco de mais parecer com João, do que com Jesus. É melhor não repreender ninguém, socorra-nos, mais este indefinido. 

    A não ser que atinemos com os critérios do Mestre. Para tanto, a primeira atitude será não, de modo intempestivo, classificar o outro. Certamente, acolhimento e diálogo vão resultar em consenso.

   Método Priscila e Áquila, quando aplicado a Apolo. Bom senso na abordagem, humildade e competência no discipulado serão acréscimos cotingenciais indispensáveis. Assim como o acolhimento de diferenças e peculiaridades.

   Portanto, procurar em Jesus o padrão, colocar amor em primeiro lugar e não deixar de lado o discipulado, lembrando que seu lugar é a igreja, com a Bíblia aberta. E que discípulos, não somos somente nós, assim como apóstolos desse mesmo Mestre, mas quantos tantos outros conosco.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Ter ou não ter, eis a questão

"...completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento." Filipenses 2:2.

      Paulo elenca essa gradação, em série, de atitudes que recomenda aos filipenses, indicando que, além de cumulativas e seriadas, sejam conjunturais. Isso quer dizer que precisam ocorrer todas juntas, uma após outra e todas ao mesmo tempo.

   Repare que são definidoras do que é ser igreja. Lembram Atos 2,44: "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum". Assim como lembram também 1 Coríntios 16,14: "Todos os vossos atos sejam feitos com amor". E, quanto ao sentimento, esta carta é especialidade dele.

 Aqui, esta palavra aparece pela primeira vez: "Tenham o mesmo sentimento". No segundo emprego, em 2,5, Paulo indica que se trata do "mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus". E, na terceira vez, indica Timóteo, em 2,20, como alguém em quem é visível constatá-lo: "Porque a ninguém tenho de igual sentimento". Vamos deixar para a nossa escola Dominical conhecer as características que, por ter esse sentimento, Timóteo reunia em si mesmo. 

  Paulo nos dá uma aula, tendo em vista Jesus, como nosso modelo e, segundo está escrito em 1 Pedro 2,25, devemos considerar Jesus (e não Paulo) "Pastor e Bispo" de nossa alma. O texto completo diz: "Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma."

   A leitura dessa pequena introdução à argumentação de Paulo, nesse início de suas recomendações aos filipenses, nos ensina algumas lições práticas, conduzindo-nos a refletir que:

1. Não é Paulo que nos exorta, mas o próprio Jesus, assim o apóstolo afirma e assim devemos entender;

2. Algumas características que praticamos, ou não, constituem as atitudes que, efetivamente, constituem-nos igreja de Jesus, pastoreados ou não pastoreados por ele;

3. Dirigindo-se diretamente aos crentes, nesta carta, Paulo deixa claro que podemos ser os primeiros a nos deslocarmos do eixo ou do foco que nos constitui igreja de Jesus;

4. Para isso basta não fazermos o que está expresso nessa exortação que Paulo Apóstolo, em nome de Jesus, nos indica praticar.

    Se não estamos juntos, pensando uma só coisa, tendo o mesmo e autêntico amor, sendo unidos de alma e tendo o sentimento de Cristo Jesus, não estamos caminhando como igreja. O ajuntamento ou grupo que formamos não nos define assim.

  Logo, efetivamente, não estamos dando a devida atenção às exortações de Jesus. Vivemos, então, uma crise de identidade. Não vamos cumprir, no mundo, o papel que nos cabe. Apenas seremos, numa escala qualquer, uma das igrejas, como aquelas 7 do Apocalipse que, de Jesus, têm uma avaliação, porém nem sempre positiva.

  Precisamos refletir, cada um de nós, individualmente, em que grau essas exortações de Jesus nos alcançam, a elas atendemos e como se cumprem em nós. Precisamos, também verificar em que grau elas se cumprem em nosso grupo, com os que conosco congregam.

  Somente assim poderemos fazer tudo em comum e de modo completo, com a mente pensar, com o coração amar, com alma ser unidos e ter em nós o mesmo sentimento que há em Jesus.