domingo, 28 de fevereiro de 2021

Visões da Bíblia - Jacó e sua escada - 1

 "Tendo chegado a certo lugar, ali passou a noite, pois já era sol-posto; tomou uma das pedras do lugar, fê-la seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. E sonhou: Eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela". Gn 28:11,12


     Jacó pousou em "certo lugar" a que, posteriormente, dará nome. Fez uma pedra de travesseiro. E sonhou.

     No caso, o que é raro na Bíblia e não autoriza nenhuma regra, seu sonho tinha um significado.

    A escada que avistou nele unia céu e terra e apresentava um sobe e desce de anjos, movimento febril, segundo se desenha ao leitor.

    A nota principal indicada é que perto de Jacó estava o Senhor. Que lhe vai assinalar as promessas de que é alvo, associadas a Abraão, seu avô.

    Assinalaremos o seu sentido no próximo texto, porque neste desejamos refletir sobre a visão propriamente dita, o cenário do movimento dos anjos.

    A escada estabelece ligação entre céu e terra e a movimentação dos anjos a indicação de expediente contínuo.

    É para Jacó compreender que do céu à terra e da terra ao céu existe uma correspondência de atuação dos anjos, ao mesmo tempo estabelecendo contato, assim como uma agenda pré-definida, diligente e contínua a seu favor.

     Vale destacar que a história de Jacó está sendo escrita, assim como programada, não exclusivamente por ele, com seus erros e acertos, de uma maneira, digamos, propedêutica.

     Isso quer dizer que, de forma propositiva e dentro da providência de Dsus, os fatos relacionados à vida de Jacó e à sua peregrinação, ainda que de uma forma forçada por sua trapaça com o irmão e cumplicidade com a mãe, não escapam aos cuidados de Deus e vão cumprir Seus propósitos.

    O que não quer dizer, absolutamente, que Deus abençoa os trapaceiros ou sempre distorce ou conserta nossos erros.  Mas sim que, de modo único, Ele cumpre os propósitos de bênçãos a nosso favor, evitando que sejamos autodestrutivos.

    Sempre haverá um expediente intenso a nosso favor, um azáfama de anjos num fluxo de mão dupla entre a terra e o céu, mesmo porque estamos todos incluídos na bênção de Jacó, definitivamente.

    Por um lado, porque todos somos, por modo semelhante, trapaceiros, senão exatamente pelo que ele fez, seremos por outra variação qualquer. E, por outro lado, é que, do mesmo modo como Deus inclui Jacó em Seus planos, como que nos chama nele, e também individualmente, do mesmo modo como o chamou.

     "Perto dele estava o Senhor e lhe disse", acrescenta o texto. A pergunta, de resposta implícita, seria: de quem Deus não está perto? E a quem Deus não tem algo a dizer?

    A ligação céu-terra, com o sobe e desce angelical, não foi expediente exclusivo a Jacó. É uma indicação de que todos estão (ou estamos) incluídos nas promessas feitas a ele. Bastando que, para isso, não se autoexcluam (ou não nos excluamos).
     

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Texto e contexto

    Infinitamente mais. Paulo ora. Um texto que revela o efeito prático, singelo e verdadeiro da oração.

     O apóstolo ora por amor, para que possamos perceber algo além de nossa compreensão, e enumera grandezas que não medem seu tamanho.

    Menciona altura, largura, comprimento e profundidade. E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus.

    Palmilhando o texto, deparamos o peculiar da Bíblia, em sua extensão. Não dá para diminuir o efeito, a relevância e a importância da oração.

    E o principal conteúdo apontado para ela é o amor. O apóstolo menciona que o conheçamos, prevenindo que excede todo o entendimento.

    Para logo complementar que isso permite sermos tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, Paulo está afirmando ser o amor "a plenitude de Deus", que podemos ser "tomados" dela e ainda acrescenta "toda", quer dizer, de modo pleno, completo, inteiro.

     Textos como esses, na Bíblia, definitivamente definem sua autenticidade ou fraude. Porque se essa afirmação é fraudulenta ou, no mínimo, inautêntica ou pretensiosa, o livro não pode ser levado a sério.

     Amor de Deus em plenitude, para a imediata afirmação que podemos ser por ele tomados de modo completo, o que excede nosso entendimento, mas é possível sermos inseridos nesse limite sem limite.

     Textos que definem, de uma vez, a Bíblia como verdadeira e exequível para aquele que crê.  Conhecer o amor de Deus, que excede todo o entendimento, ser tomado de toda a plenitude de Deus.

     Paulo encerra a oração afirmando que Deus pode fazer infinitamente mais de que tudo quanto pedimos ou pensamos. Após apontar para o máximo impensável, aponta agora para o "infinitamente mais".

     E o mais pontual é que, ao alcance dessa oração, tudo é real, possível e tangível. O desvelo de Deus pelo ser humano é compartilhado por Ele conosco.

    Amor é o principal sentimento do caráter de Deus. No homem esse sentimento inexiste em estado natural. Deus resgata no homem essa condição, chamando-o à comunhão com Ele.

     O que pode ser infinitamente mais do que essa experiência com Deus? Ao alcance de uma oração. Real, possível e tangível. Esse o contexto e texto da Bíblia.

    Palmilhando, então, texto e contexto, somos convidados a essa plenitude de amor. Em qualquer contexto, vamos atentar ao texto. A Bíblia nos é dada para que, em qualquer contexto, acolhamos o texto em sua clareza e plenitude.

    Então, neste contexto, somos convidados a uma experiência de amor. Deus nos oferece essa experiência de amor, porque Deus é amor e Se oferece inteiro, "tomados de toda a plenitude de Deus".

     Ao alcance de uma oração. A Bíblia diz, também, que não sabemos orar como convém. Como convém orar? Que oração fazer nesse e neste contexto? Aqui Paulo Apóstolo convida ao texto e contexto do amor de Deus.

      Primeiro existe Deus e o seu (dEle) amor. Para logo depois Deus compartilhar conosco o Seu amor. E está acima do nosso entendimento. As medidas são dadas, as dimensões são exatas, altura, largura, comprimento e profundidade. Mas não são dadas.

     Porque são infinitas. O amor que Deus compartilha é intenso, real e infinito. Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu seu Filho unigênito, Jesus. Na verdade, deu-Se no Filho. Infinitamente mais.

    A experiência de Deus com Seu próprio amor extrapola o próprio Deus, de tão intensa, por isso deu-Se a si mesmo. E convidou, com Ele, ao Filho e ao Espírito Santo a compartilhar essa igual experiência de amor.

    Que se manifesta entre nós, entre homens e mulheres, na igreja. Infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos. Qual a nossa oração neste contexto? Deus nos convida a uma intensa experiência de amor.


Infinitamente mais - Asaph Borba 

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Gritos

"Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras". Provérbios 1:20,21


    Quantos e quais gritos? Qual deles se sobressai? Que ruídos calam os gritos? Afinal, que voz prevalece?

    O ouvido, dos 5 sentidos, é o mais difícil de se bloquear. Não dá para fechá-lo ou abrir por nenhum mecanismo, que não seja pela palma das mãos, as pontas dos dedos ou o sobrepor das dobras dos braços.
   
    Caso não seja assim, ter-se-á de ouvir e, caso se queira fazer de surdo, tergiversar. Fingir que não ouviu. Qual o grito das ruas? Não é fácil discernir. Até para quem pousa de ilustre.

     Prossegue o sábio:
"Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento? Atentai para a minha repreensão; eis que derramarei copiosamente para vós outros o meu espírito e vos farei saber as minhas palavras". Provérbios 1:22,23

     Ele denuncia as razões por que não se ouve o grito da sabedoria. Senão, vejamos: 1. O amor a necedade; 2. O desejo e apego ao escárnio; 3. E o aborrecimento, pelo louco, do conhecimento. O sábio propõe um "derramar do espírito" que, por sua vez, associado ao "saber de palavras".

    Por extensão, um "derramar de palavras", na opinião dele, pode reverter toda a situação, de modo a permitir que seja ouvido o grito da sabedoria. Na opinião do sábio, não seria tão difícil assim dar com a sabedoria nas ruas, não fossem os obstáculos que ele mesmo enumera.
    
      Loucura, necedade e escárnio, para o sábio, representam o acúmulo de obstáculos que se antepõem aos gritos da sabedoria. Não seria nem preciso que gritasse, mas ela busca esse recurso, na tentativa de se fazer ouvir.

    Necedade abre mão de toda a lógica. Escárnio, também, nem quer ouvir, porque já se antepõe com ironia e desprezo. E a loucura é afrontosamente escarchada, prefere o que de antemão já elegeu como prioridade.

     Em todos os casos foi subvertida a sabedoria e nenhum de seus porta-vozes será atendido. Pior que desprezar a sabedoria é desmerecer todas as consequências que dela advêm. Ou seja, sabedoria tem o seu corolário.

     Desprezá-la significa, exatamente, abrir mão dele, sem medir consequências. Por isso que se chama necedade, escárnio e loucura. Ainda assim, para ouvi-la, para os que decidirem, será imprescindível a humildade.

    Para que alguém não se autopresuma sábio, sem atentar para a prioridade no grito, em si, por isso que o sábio vai apontar para uma instrução prévia "adquire a sabedoria". Para ouvir o grito é necessário, antecipadamente, exercitá-la.

     Há muitos gritos. Há os que prevalecem, mas, muitas vezes, estão surdos, por causa da suposta prioridade de outros gritos sobrepostos.

     Nem precisava haver grito, caso os ouvidos estivessem abertos. 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

MINISTÉRIO: SUA IDENTIDADE, PATROCÍNIO E FINALIDADE TÊM RELEVÂNCIA NA SOCIEDADE ATUAL?

CURSO EAD – ITEBAS & SEMINÁRIO R. KALLEY – MINISTÉRIO – BIBLIOGRAFIA

Amorim, Rodolfo; Camargo, Marcel; Ramos, Leonardo (org.). Fé cristã e cultura contemporânea. Ultimato. Viçosa, MG. 2009.

Temática: Relação entre fé cristã e cultura, procurando situar os desafios da igreja brasileira no cenário de crescente complexidade: crise econômico-financeira, devastação do meio ambiente, efeitos negativos da globalização, intensificação da cultura do consumo e fragmentação apresentada pelos meios artísticos e culturais. Tópicos: Missão integral na encruzilhada: recuperando a tensão no pensamento teológico de Lausanne; O senhorio de Cristo e a missão da igreja na cultura: a ideia de soberania e sua aplicação; O senhorio de Cristo e a redenção das artes: um olhar sobre a vida, obra e pensamento de Hans Rokkmaaker; Os ídolos do nosso tempo: a cosmovisão cristã em um mundo de esquerdas e direitas; A religião achatada: paradoxos da fé cristã entre o local e o global; O narcisismo como cosmovisão dominante no Ocidente; O narcisismo no contexto brasileiro.

Bergeron, Richard. Fora da igreja também há salvação. Ed. Loylola, SP, 2004.

Temática: Nenhum sistema religioso, nenhum código pode controlar a espiritualidade, impondo-lhe restrições e limites. É evidente que o pluralismo religioso que caracteriza as sociedades contemporâneas a encoraja ainda mais e recusa submissão a uma autoridade religiosa suspeita. Cada vez mais situações oferecem ao cristão a vivência de uma espiritualidade no cruzamento de diversas tradições religiosas, onde o intercâmbio não pode ser reduzido a uma simples discussão, mas implica dimensões mais profundas do ser. Tópicos: O caminho do amor: 1ª parte: Nascida de dois banquetes: a espiritualidade cristã - 1. O Mestre Jesus: As comunidades Palestinas; As comunidades judeu-helenísticas. 2. Uma escola de sabedoria: O encontro com a filosofia; Em busca de uma teologia sob medida. 3. A religião cristã: cristã romana, cristã imperial e a intolerância religiosa. 2ª parte: A espiritualidade cristã num contexto pluralista: 4. Do pluralismo ao diálogo: o pluralismo religioso de fato, de direito e o sentido do pluralismo; A categoria do diálogo; Uma identidade dinâmica. 5. A espiritualidade cristã pluralista: O amor de alteridade; Dois traços do amor de alteridade; O diálogo interior. 3ª parte: Uma espiritualidade carente... de teologia: 6. As metas teológicas: O problema; O dever de atenção; Um lugar para a teologia das religiões. 7. Da exclusão à complementaridade: a exclusão mitigada, a inclusão e complementaridade. 8. A reciprocidade assimétrica das religiões: Das religiões à revelação: empreendimentos de humanização; buscas de transcendência; revelação diferenciada. Absolutidade: a absolutidade das religiões; a absolutidade de Cristo; uma perspectiva ascendente. Conclusão: À guisa de conclusão.

Bittencourt Filho, José. Matriz religiosa brasileira. Vozes/Koinonia, Rio, RJ, 2003.

Temática: Uma interpretação global das íntimas relações entre os fenômenos religiosos e a dinâmica histórica da formação da sociedade brasileira, sem concessões a simplismos mecanicistas e conclusões apressadas, procurando destacar a marca das contradições e das pluralidades que conformam o imaginário cultural brasileiro. Tópicos: Matriz religiosa brasileira: gênese (Configuração original; Sincretismo e religiosidade); A aventura protestante (Uma breve pré-história – do período Nassau até os pentecostalismos; Uma tipologia; A crise programática; As alternativas); Mudança social e campo religioso (A ‘idade das trevas’; Ideologia e missões de fé; Protestantismo ecumênico; Catolicismo libertário); Capitalismo tardio e religião (Dos novos movimentos religiosos; Do pentecostalismo autônomo; Da umbanda).

Boff, Leonardo. Graça e experiência humana. 5ª Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1998.

Temática: O tratado da graça é um dos mais prejudicados pelas discussões teológicas do passado. Ou se acentuava o polo de Deus em detrimento do homem ou se enfatizava o polo do homem em detrimento de Deus. O efeito final das intermináveis discussões era a perda da memória bem-aventurada da graça como encontro entre Deus e o homem. Pois graça significa exatamente isto: o encontro com Deus abre espaço para a experiência da graça. O livro ocupa-se em resgatar a experiência da graça nos distintos níveis em que ela pode se articular. Em seguida, vem a sua tradução na espiritualidade, na reflexão, na ética e na celebração. Tópicos: Parte I: Como se coloca o tema da graça hoje (Tarefa da teologia: falar sobre graça e deixar a graça falar; Retrospectiva e prospectiva das doutrinas sobre a graça; Horizonte de nosso tempo e graça); Parte II: A experiência da graça (Pode-se experimentar a graça?; A graça na experiência de nosso mundo científico e técnico; A experiência da graça na realidade latino-americana: respostas; A experiência da graça na vida de cada pessoa); Parte III: Explicitação teológica da experiência da graça (A universalidade da graça libertadora e suas concretizações históricas; A graça habitual: a graça de Deus no projeto fundamental do homem; a graça atual: processo de efetivação do projeto fundamental; A estrutura social da graça habitual e atual; A graça como crise, processo de libertação e liberdade dos filhos de Deus); Parte IV: O que se revela de Deus e do homem na experiência da graça (As multiformes manifestações da graça de Deus no homem; Participantes da natureza divina: a plenitude da personalização; Filhos do filho: o homem, parente de Deus; O Espírito Santo mora em nós: uma Pessoa em muitas pessoas; A inabitação da SS. Trindade na vida dos justos).

Boff, Leonardo. O destino do homem e do mundo. 8ª Ed. Vozes, Petrópolis, 1998.

Temática: A existência humana está assentada sobre três relações básicas: com o mundo, com o outro e com Deus. Somente integrando esses três eixos, o ser humano se sente realizado e cumpre sua missão neste mundo. A partir dessas três relações, o autor discute o feminino e o masculino, a família, as profissões, a vida espiritual e p derradeiro destino do homem no mundo. Tópicos: Vocação transcendental e escatologização da criação toda; Vocação transcendental e escatológica do homem; A vocação transcendental e escatológica do homem e as vocações terrenas; O caráter absoluto da vocação transcendental e escatológica do homem e o relativo das vocações terrenas; A função desdramatizadora da fé na vocação transcendental e escatológica; A vocação terrestre fundamental do homem; Maneiras de realizar a dimensão para o mundo: as profissões; Maneiras de realizar a dimensão para o outro: os serviços; Maneiras de realizar a dimensão para Deus: as vocações; Conclusão: no caminho se encontra a chegada.

Cavalcanti, Robinson. Cristianismo & Política. Ultimato. Viçosa, MG, 2002.

Temática: Muito se fala sobre política e sobre se o cristão e a igreja devem se envolver politicamente ou não. O livro oferece sólida base bíblica e histórica para que o diálogo entre cristianismo e política não seja um mero espalhar de opiniões. Demonstra com as esferas do, poder político, as situações históricas e a vida espiritual e econômica são campo de intervenções de Deus. O autor percorre os registros bíblico-históricos e doutrinários buscando compreender as relações entre diferentes formas de organização sociopolítica e os dilemas vividos pela igreja. Tópicos: I. A política no Antigo Testamento (Do Patriarcado à Monarquia; Os caminhos da Decadência); II. A política no Novo Testamento (O político em Jesus; A política da igreja; A doutrina social dos apóstolos: Paulo; A doutrina social dos apóstolos: em Hebreus, Tiago e Pedro); III. A política na história da igreja (A igreja e a política na Idade Antiga; Política e igreja na Idade Média; A Reforma e os tempos modernos; Política e igreja na idade contemporânea); IV. Política e igreja no Brasil (Religião e política no Brasil; Presentes e diferentes).

Richardson, Don. O fator Melquisedeque. Vida Nova, SP, 1995.

Temática: Nesta obra o autor trata da revelação em dois níveis: “o fator Abraão” e o “fator Melquisedeque”. O primeiro desenvolve o conceito e as implicações missionárias da revelação espacial das Escrituras. O segundo fala da revelação original que deixou seu rastro na memória dos povos aqui chamados primitivos. O autor argumenta que há um testemunho de Deus arraigado que pode servir de ponto de referência para missionários. Baseia nos pontos de uma memória de um Deis bom e soberano e, por outro lado, a indicação persistente de um livro e emissários desse Deus que é com insistência esperado. Tópicos: Parte 1: Um mundo preparado para o evangelho: o fator Melquisedeque (Povos do Deus remoto; Povos do livro perdido; Povos com costumes estranhos; Eruditos com teorias estranhas; Parte 2: O evangelho preparado para o mundo: fator Abraão (A conexão de quatro mil anos; Um Messias para todos os povos; A “mensagem oculta” de Atos. Perguntas para estudo.

Rocha, Alessandro (org.). Ecumenismo para o século XXI. Fonte editorial, SP, 2011.

Temática: Resultados de pesquisas apresentam resultados de que os cristãos evangélicos estão assumindo estilos de vida hedonistas, materialistas, egoístas e imorais quanto os do mundo em geral. A promiscuidade sexual da juventude evangélica é apenas um pouco menos ultrajante do que a dos jovens não evangélicos. Há uma diferença cada vez menor entre uma atividade essencialmente secular e os esforços do tipo “traga para dentro de qualquer jeito” das megaigrejas evangélicas. Se quisermos que a fé cristã sobreviva, temos de entender a profundidade da crise. Tópicos: A profundidade do escândalo; A visão bíblica; Graça barata versus o evangelho todo; Conformando-se à cultura ou tornando-se igreja; Raios de esperança.

Santos, Lyndon de Araújo. As outras faces do sagrado. Edifma, São Luís, 2006.

Temática: O modo de ser evangélico transformou-se nas últimas décadas no Brasil. No passado, os evangélicos estabeleceram formas de vida religiosa e social diferenciadas nos gestos, nas posturas, na linguagem e na ética. O crescimento numérico e institucional recente fez com que eles incorporassem traços e elementos culturais que historicamente eram negados. Nossa pesquisa procurou responder como historicamente foram construídas as maneiras de ser protestante ou evangélico no Brasil, e sua relação com a cultura e com a religiosidade. Tópicos: Capítulo III – Os Novos Centros do Sagrado: os sentidos da protestantização (1. A superioridade; 2. A latinidade; 3. As ilhas; 4. Os impressos; 5. A modernidade; 6. A civilização/salvação; 7. Os católicos). Capítulo IV – As faces do sagrado: crença, paradigma e cultura (1. Protestantismo e cultura; 2. Os Dois Caminhos; 3. Miguel Vieira Ferreira; 4. O capitel evangélico).

Sider, Ronaldo J. Escândalo do comportamento evangélico. Ultimato, Viçosa, MG, 2005.

Temática: O comportamento escandaloso tem destruído rapidamente o cristianismo. Em suas atividades diárias muitos “cristãos” traem com frequência. Com os lábios afirmam que “Jesus é o Senhor”, mas com os atos demonstram lealdade ao dinheiro, ao sexo e a seus interesses pessoais. O resultados de pesquisas apresentam resultados mostrando que cristãos evangélicos estão a ponto de assumir estilos de vida tão hedonistas, materialistas, egoístas e imorais quanto os do mundo em geral. Parece que a cada dia a igreja tem se tornado mais e mais como o mundo que ela supostamente quer mudar. Tópicos: Cap. 1: A profundidade do escândalo (discorre sobre a extensão do escândalo); Cap. 2: A visão bíblica (contrasta a nossa desobediência com o ensino bíblico); Cap. 3: Graça barata X evangelho todo e Cap 4: Conformando-se à cultura X tornando-se igreja (causas no cerne do escândalo); Cap. 5: Raios de esperança (aponta possíveis soluções)

Stevens, R. P. Os outros seis dias. Ultimato. Viçosa, MG, 1999.

Temática: O ministério tem sido definido como “o que o pastor faz”. E não em termos de os cristãos serem servos de Deus nos negócios, na igreja, no lar, na escola ou no trabalho. Entrar no “trabalho de Deus” significa tornar-se pastor ou missionário, e não ser colaborador de Deus em sua obra criadora, sustentadora, redentora e aperfeiçoadora, tanto na igreja quanto no mundo. A preocupação neste livro é recuperar a base bíblica para a abordagem teológica, especialmente no que se refere à pessoas comum, não só na igreja, como também no mundo. Apresento uma teologia do povo, para o povo e pelo povo, apropriando-me de cada proposição como esclarecedora da abordagem teológica na sua relação com todo o povo de Deus. Tópicos: 1ª Parte: Um povo sem laicato e clero (Teologia do povo: De” todo o povo de Deus: além da teologia clerical; “Para” todo o povo de Deus: além da teologia não-aplicada; “Por” todo o povo de Deus: além da teologia acadêmica; Reinventando o laicato e o clero: Um povo sem “laicato”; Um povo sem “clero”; A emergência do clero; Um Deus – um povo: Dois povos ou um?; Um Deus – três Pessoas; Comunhão ou união); 2ª Parte: Chamado e equipado por Deus (Chamado numa era pós-vocacional: Vocação pessoal; Vocação cristã; Vocação humana; Fazendo o trabalho do Senhor: Mudanças no trabalho; O trabalho ontem e hoje; O trabalho nas Escrituras; O trabalho de Deus; O trabalho é bom; Ministério: transcendendo o clericalismo: Ministério hoje, Ministério nas escrituras; Serviço trinitariano; Líderes ministradores); 3ª Parte: Para a vida no mundo (Profetas, sacerdotes e reis: Três papéis de liderança; O povo profético; O povo sacerdotal;. O povo real; Profetas, sacerdotes e príncipes no mundo; Missão - um povo enviado por Deus: O Deus que envia; A missão de Deus; O envio; O povo enviado; Preparando para a missão; Resistência – enfrentando os poderes: Descrevendo os poderes: confusão contemporânea; Experimentando os poderes: resistência em vários níveis; Compreendendo os poderes: teologia bíblica; Enfrentando os poderes: missão e ministério; A pacificação final dos poderes: escatologia); Epílogo: Vivendo teologicamente: Ortodoxia; Ortopraxia; Ortopatia.  

Stott, John R. W. A missão cristã no mundo moderno. Ultimato, Viçosa, MG, 2010.

Temática: Alguns enfatizam que a missão cristã é “proclamação verbal” ou “salvação de almas”. Outros se concentram em questões de justiça social ou projetos de desenvolvimento. Não podemos fazer ambos? Nessa obra clássica, John Stott apresenta definições cuidadosas de cinco termos-chave – missão, evangelismo, diálogo, salvação e conversão – e, biblicamente, oferece um modelo de ministério para as necessidades espirituais e físicas das pessoas. Para o autor, a missão cristã é tanto evangelização como ação social. Tópicos: Introdução: palavras e seus significados; 1. Missão; 2. Evangelismo; 3. Diálogo; 4. Salvação; 5. Conversão.

________ ____. Contracultura cristã. ABU, SP, 1981.

Temática: John Stott, neste livro, deixa o Sermão do Monte falar por si mesmo, para encarar com integridade os dilemas indicados para os cristãos de hoje, não se esquivando deles, já que Jesus não profere, neste caso, um tratado acadêmico, calculado simplesmente para estimular a mente, mas prático, para que seja realisticamente aplicado pela igreja, dentro de seus padrões e valores, claramente demonstrados. Essa é a proposta cristã de sociedade alternativa, oferecida ao mundo com autêntica. Tópicos: Introdução: que sermão é este?; 1. O caráter do cristão, influência do cristão; A justiça do cristão; 2. A religião do cristão; A oração do cristão; A ambição do cristão; 3. O relacionamento do cristão; Os relacionamentos do cristão; O compromisso do cristão; Conclusão.

____________ . Eu creio na pregação. Vida, SP, 2003.

Temática: Nesta obra John Stott destaca a herança gloriosa da pregação e seu poderoso efeito. É elemento indispensável no cristianismo. Ele contesta os ataques de que a pregação sofre perda de identidade nos dias atuais, examinando os fundamentos teológicos que a sustentam e destaca a importância da aplicação da verdade bíblica no cotidiano dos cristãos. Tópicos: 1. A glória da pregação: um esboço histórico; 2. Objeções contemporânea contra a pregação; 3. Fundamentos teológicos para a pregação; 4. A pregação como edificação de pontes; 5. A chamada ao estudo; 6. Preparando sermões; 7. Sinceridade e zelo; 8. Coragem e humildade. Conclusão.

____________ . Os cristãos e os desafios contemporâneos. Ultimato, Viçosa, MG, 2014.

Temática: Obra abrangente de John Stott, uma leitura essencial para a compreensão das razões e das possibilidades do envolvimento dos cristãos com as questões que tomam conta da sociedade moderna, que também invadem a igreja: violência, direitos humanos, aborto, diversidade étnica, desemprego, meio ambiente, divórcio, homossexualidade, globalização, entre outras. Tópicos: Parte 1: Questões contextuais (Nosso mundo mutável: o envolvimento cristão é necessário?; Nosso mundo complexo: a mente cristã é diferente?; Nosso mundo pluralista: o testemunho cristão é influente?); Parte 2: Questões globais (Guerra e paz; Cuidando da criação; Convivendo com a pobreza mundial; Direitos humanos); Parte 3: Questões sócias (O mundo do trabalho; Relacionamentos no mundo dos negócios; Celebrando a diversidade étnica; Simplicidade, generosidade e contentamento); Parte 4: Questões pessoais (Mulheres, homens e Deus; Casamento, coabitação e divórcio; Aborto e eutanásia; A nova biotecnologia (Professor John Wyatt); Relacionamento entre pessoas do mesmo sexo). Conclusão: Um chamado à liderança cristã.

____________ . Tu, porém. A mensagem de 2 Timóteo. ABU, SP, 1982.

Temática: John Stott aborda a 2 Timóteo como se a vivesse na prática. Esforçando-se para ouvir as exortações do apóstolo ao seu companheiro de ministério. A mensagem dessa carta renova o sentimento de contemporaneidade em que Paulo a escreveu, especialmente para jovens líderes cristãos e, transposta para os tempos de hoje, confronta a confusão teológica e moral, até mesmo de apostasia dos tempos atuais. Tópicos: (O livro segue os tópicos da própria 2 Carta a Timóteo)

Weber, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. CIA das Letras, SP, 2004.

Temática: Este livro é para a sociologia, o que a obra de Darwin foi para a biologia. Publicado em 1904/5, foi ampliado um pouco antes da morte do autor, em 1920, inaugurando uma nova maneira de se compreender o capitalismo. Weber identifica a gênese da cultura capitalista moderna nos fundamentos da moral puritana. O autor é considerado, ao lado de Durkhein e Marx, é considerado um dos três pilares da sociologia moderna. Traduzido do alemão por J. Marcos Mariani e coordenado por A. Flávio Pierucci. Tópicos: Parte I - O problema (Confissão religiosa e estratificação social; O “espírito” do capitalismo; O conceito de vocação em Lutero; O objeto da pesquisa); Parte II – A ideia de profissão do protestantismo ascético (Os fundamentos religiosos da ascese intramundana; Ascese e capitalismo); Notas do Autor.

Yancey, Philip. Maravilhosa graça. Vida, SP, 2001.

Temática: O livro propõe um exame detalhado da graça. Sendo o “amor de Deus para os que não merecem”,o autor pergunta qual a sua aparência na ação prática. E como os cristãos estão se mostrando como seus únicos despenseiros, num mundo onde o ódio e a violência são constantes. O autor enfoca no complexo contexto cotidiano, compara-a à “falta de graça” e discute se ela pode sobreviver a holocaustos da era moderna, como o nazista e outros que se configuram. A graça não justifica o pecado, mas resguarda o pecador, revelando-se, no mundo atual, chocante, escandalosa e revolucionária.

Tópicos: Parte I: Como é doce ouvir (A festa de Babette: uma história; Um mundo sem graça; O Pai cego de amor; A nova matemática da graça); Parte II: Rompendo o ciclo da não-graça (Ciclo ininterrupto: uma história; Um ato nada natural; Por que perdoar; Acerto de contas; O arsenal da graça); Parte III: Cheiro de escândalo (Um Lar para bastardos: uma história; Esquisitices, não; Olhos curados pela graça; Brechas; Anulação da graça); Parte IV: Sons da graça para um mundo surdo (Big Harold: uma história; Aroma misto; Sabedoria de serpente; Retalhos verdes; Gravidade e graça). 

 

        



 

Sem enganos pré-fabricados

 Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir". Salmos 139:6


     Certo pastor de minha época de juventude, aliás meu professor quando, com 21 anos incompletos, ingressei no Seminário, em 1978, escreveu um sermão iniciando: "Certa vez, enganou-se o salmista de Israel".

     Decerto não foi um única vez que eles se enganaram. Principalmente, falando sobre Deus. É muito fácil nos enganarmos ao falar com Deus, ao falar de Deus ou falar sobre Deus.

     O outro salmista a que me refiro é esse do versículo acima, que diz: "Tal conhecimento é maravilho demais para mim". Ora, enganado porque o demonstrativo "tal" está se referindo a um conhecimento específico.

     E a minha pergunta é qual conhecimento sobre Deus não seria "maravilhoso demais" para qualquer um de nós? O salmista expõe sua fragilidade nessa afirmação. Fala em nome de todos nós. Não dá para discordar dele.

    Em relação ao assunto deste salmo, "tal conhecimento", assim como em relação a qualquer outro. Neste tempo em que vivemos, pouco sabemos dele. Apenas perplexidade e reflexão.

     Vamos enumerando narrativas atrás de narrativas, um colar de histórias, de gente de nosso circuito, outras que chegam pela mídia, as tentativas de pormenorizar os avanços das pesquisas, a indicação dos resultados práticos, a expectativa da vacinação e nossa torcida para que não se torne vacilação.

     E logo vem a frase do outro salmista: "E o teu Deus, onde está?". Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim. O que significa dizer "sobremodo elevado": não o posso atingir, apenas parafraseio o salmista, nosso amigo de horas certas e incertas.

    Deus não se importa que o procuremos, seja em hora certa, ou em horas incertas. Não vai nos "jogar na cara" essa vocação que temos para torná-lo, como fez Raquel, um "deus portátil", carregado em nossa bagagem.

    Seria o "deus talismã", para o qual viveríamos sem dar, para ele, a mínima satisfação. Mas numa hora de aperto -- e que aperto é nessa hora! -- a gente recorreria a ele. Um deus sem personalidade. Talismãs, "deuses de sorte", escondidos em algum canto da bagagem que levamos, ao longo da vida, em nossas mudanças.

     Jacó foi rigoroso por demais ao proferir: "Não viva aquele com quem achares os teus deuses". Isso porque quem de nós nunca foi tentado a carregar "ídolos do lar", essas "miniaturinhas de sorte", encaixadas nos nichos da vida, para na hora do medo, sermos "salvos" por nossas superstições.

    Trata-se do deus domesticado que todos desejamos, para pôr nele a culpa de todo o infortúnio de ocasião, esquecendo-nos dele quando a sorte, ou o que chamamos sorte vier. Ou até se, do ídolo lembrarmos, contentarmo-nos em pôr no "cantinho do deus" algumas continhas, para enfeitar o altar.

    Assim, como Labão e Raquel, cada um tem a religião que merece, tal pai, tal filha. Definitivamente, Jacó foi, por demais, rigoroso. Deus implode com nossa religião. A realidade vem mais dura do que parece. É melhor encarar Deus.

    Para, então, como o salmista, concordar que, diante de Deus, sempre será maravilhoso demais, sobremodo elevado e inatingível. E vai requerer que estejamos à Sua disposição, vivendo debaixo de Sua providência e cuidado, e que abandonemos essa ideia de "deuses à tiracolo", sujeitos aos nossos caprichos.

     Ídolos do lar, deuses domésticos, levados à tiracolo, sujeitos aos nossos caprichos, objeto de nossa religião. Deus nos quer sem religião nenhuma. Nus diante dele, como cobrou do primeiro casal quando os procurou no jardim. Ali, na invenção do primeiro ritual, Deus mandou aparecer nu diante dele.

     E no último livro, no Apocalipse, aconselha à sétima igreja a que abram os olhos, comprem ouro somente com Deus e peçam outrras roupas para si. A realidade é essa que está nas ruas. Diante de Deus, primeiro, saindo sem medo ao encontro dela.

     Mas com máscara, no sentido literal, porém sem nenhuma máscara, no sentido figurado. Sem a síndrome de Labão e Raquel, que levavam (e furtavam) deuses a tiracolo, com eles alimentando medo e superstição. Porém munidos da franqueza, sinceridade e intrepidez (ainda que ocasional) de Jacó, que buscava o Deus maravilho demais para ele.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Carta de 1995

 Prezado Rev. Cid Mauro Araújo de Oliveira:

   ___ É para mim um prazer escrever-lhe e o faço com grande alegria. Sempre o admirei profundamente. Peço-lhe permissão para citar alguns pensamentos... "uma viva inteligência de nada serve se não estiver a serviço de um caráter justo, um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, e, sim, quando trabalha certo" --- Uma fábula oriental dava conta de um espelho que permanecia claro quando os bons se miravam nele e se embaciava quando os impuros o fitavam. Assim, podia o dono dele conhecer o caráter dos que dos que o utilizavam ---- Sem dignidade de caráter é impossível fazer-se caminho no mundo. ___ Quando de perde a riqueza, nada se perde; quando se perde a saúde, perde-se alguma coisa; mas quando se perde o caráter, perde-se tudo!" ___Quando o homem escuta, Deus fala. Quando Deus fala, os homens são transformados, o caráter das Nações é modificado. ____ Rev. Cid Mauro, citei estes pensamentos como uma homenagem ao seu caráter. Você herdou de seus pais um caráter adamantino. Sempre o admirei profundamente, pela tenacidade nos estudos, fez um grabde 2o grau na Escola Técnica Federal, um grande Curso de Bacharel em Teologia, Licenciado em Português-Hebraico, pela UERJ --- Mestre em Teolgia pela Pontifícia Universidade Católica. Foi professor de Hebraico em vários Seminários ---- além de outras atividades. E por grande capricho deixou para constituir a sua família, ainda jovem, mas com a idade bem madura, tudo para poder fazer cursos especiais na vida. --- Fez um excelente casamento. Já é pai de um lindo menino que vai alegrá-lo de uma maneira profunda (Isac). É casado com Regina Célia moça de valor, a gente nota, só em entrar em contato com ela, moça segundo o Coração de Deus. Você é um homem segundo o Coração de Deus casado com uma moça com as mesmas qualidades. Deus há de abençoá-los profundamente. Quero parabenizá-lo pela estada de seus pais em sua casa, respectivamente: Dorcas Lima Araujo de Oliveira e Pastor Cid Gonçalves de Oliveira, sendo que ele comemorou no dia 21 de agosto 77 anos de preciosa existência. Tive o oportunidade de orar por ele. Tenho uma dívida impagável para com ele, só  a eternidade poderá pagá-la. Ele sempre foi um homem especial. Toda a família Gonçalves e Barcelos o admiram pelo seu carinho e gentileza. Quero augurar-lhe muitos anos de vida.
     Rev. Cid Mauro que Deus o abençoe abundantemente. São os votos de Nair de Jesus Barcelos e de Isaías Barcelos de Oliveira e toda a família. Que Deus faça de você um instrumento poderoso de Sua paz.
     
     São os votos de:
Isaías Barcelos de Oliveira e
Nair de Jesus Barcelos. 











segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Certamente, foi ganho

   
     Peço permissão à família Silva para falar de José e Rita. Hoje amanhecemos sem ela. Mais para vocês, que a tinham perto, mais do que perto, dentro, em íntima comunhão.

    Eu sou forasteiro, por isso o contato que tive foi, como dizer, fortuito, melhor dizendo, foi providencial. Nós pastores costumamos, no início de nossa jornada, avaliar, quando ocorre uma visão nítida da responsabilidade, que ministério não é para nós. 

    Isso porque a missão é por demais sublime. E a suficiência dela vem toda de Deus. Então a gente vislumbra um grau de responsabilidade para o qual se acovarda. Qualquer vocacionado com o mínimo de bom senso vai ter um mínimo de medo. 

    Mas por que é assim? Porque Deus vai nos surpreender, quando coloca diante de nós e, por assim dizer, aos nossos cuidados, gente que mais vai nos ensinar do que conosco aprender. José e Rita são esse tipo de pessoa. Eu digo que são, porque são e nunca deixarão de ser.

     Porque, de Rita, estamos temporariamente afastados. Ela cumpriu sua missão. Como Paulo diz na carta a Timóteo, Rita "combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé". José e nós ainda temos uma missão a cumprir.

     Eu cheguei aqui no Acre 11 anos depois do anjo negro Nelson Rosa. E uma vez, da boca de d. Rita mesmo, ouvi um resumo do que significou a chegada do casal Rosa rua Formosa abaixo, até a margem do igarapé. Naquele tempo, contou ela, José estava internado no Pará, para se recuperar de um grave acidente de trabalho.

    Por isso foi significativa a chegada do pastor Nelson, com sua personalidade e missão. As meninas devem se lembrar bem. Eu ainda alcancei traços dessa época, pelo menos no estilo de rua, sulcada pelos veios da água de chuva, quase impossível de alcançar por carro, e da pinguela por cima do igarapé, ainda sem ponte.

     Continuamos a tradição sadia de Nelson, com os cultos semanais, ainda na casa que era mais baixa do que o nível da rua, toda de madeira. Quantas vezes ali reunidos, assistíamos ao casal, devidamente fardado, subir a rua Formosa em direção ao lugar de sua antiga religião.

    A gente já aprendia com esse gesto, que nos revelava seriedade, coerência e união desse casal. Seriedade, porque tratavam com respeito tanto a nossa religião, quanto a deles. Que eu me lembre, acho que batizei Andreia, mas soube que as demais irmãs somente eram autorizadas por d. Rita a ser batizadas, após seus 18 anos: ela queria seriedade por parte das meninas nesse passo que estavam assumindo.

     Coerência, porque nunca ouvi que d. Rita coibiu ou proibiu que suas meninas, uma a uma, optassem por uma religião diferente da sua, desde infância, pois ainda me lembro, conheci sua mãe, avó das meninas (e dos meninos), e compareci ao sepultamento dela no Alto Santo.

     E união do casal, desde que ouvi esse pequeno traço da época da convalescença de seu José no Pará, de como era aguardado com amor e ansiedade, passando pelo companheirismo dos dois no daime e o modo como "seu" José me contou que se deu a mudança de religião, digamos assim.

     Ele contou como era difícil para Rita, sempre muito ativa em casa onde, além das tarefas da família de 8 meninas e dois meninos, trabalhava para fora e, quando seus pés a afligiam com rachaduras, tinha que parar com o trabalho ou intoxicar-se com tantos remédios. Pois um dia, contou seu José, ela assistiu na tv uma oração específica para esse mal que a afligia.

     Pois ela tomou como para ela e notificou ao esposo que não mais comprasse os remédios, porque, definitivamente, estava curada. O esposo reclamou ser temerário, Rita, você já sabe como é se não tomar os remédios, vai ficar aí atrapalhada com tudo.

    Ela insistiu que não. Que não mais tomaria remédio nenhum. Os detalhes seguintes da história eu não conheço. Mas um sinal a mais da seriedade e coerência desse casal foi notificar, pessoalmente, a antiga líder de sua religião anterior a razão por que estavam ingressando na igreja da qual passaram a ser parte integrante.

     José e Rita, a gente reconhece, são esse tipo de pessoas que não passam despercebidos pela vida. Dentro das igrejas, são aqueles que percebem, assimilam e põem em prática a fé, em toda a sua simplicidade, profundidade e alcance. Felizes de quem percebe isso, apreende, agradece a Deus e põe em prática em sua própria vida.

     Muito mais felizes vocês, da família Silva, que têm perto e dentro seu pai e sua mãe. Porque não perdemos Rita. Fomos ganhos por ela, que é ganho para Jesus. 

sábado, 6 de fevereiro de 2021

A casa da Floresta

    Deixa-me ver. Deixa-me ver se explico. Começar definindo (ou descrevendo) que casa. Ampla. Com hall de entrada, sala de estar, sala de jantar, cozinha grande, despensa, área de serviço: com três tanques cobertos, duas caixas de água de 2.000 l, sobre a laje do banheiro de empregada, e uma cisterna externa, ao lado, de uns 6 mil litros.

     O corredor dava para a sala de jantar, abrigando 3 quartos, um banheiro social e, agregado ao quarto do casal, um banheiro que formava uma suíte. Todo o quintal externo cimentado, com garagem coberta, larga a folgar, com extensão de teto para dois carros.

     Ficava sobre uma colina. Porque Floresta é um bairro, cujo Conjunto Residencial se chama Bela Vista, ora, talvez mesmo por causa da colina, onde ficava essa casa. Concepção norte-americana, construída nos anos 70, época da liderança do missionário Camenish entre os presbiterianos de Rio Branco, AC.

     Era uma casa pastoral, como se costumam chamar aquelas agregadas às igrejas do protestantismo de missão. O pastor servirá à igreja em tempo integral, residindo sem ônus numa casa que pertence à igreja ou denominação hospedeira. A casa da Floresta estava desativada porque, no caso específico da Igreja Presbiteriana da Floresta, o pastor residia numa residência própria dele.

    A casa da Floresta hospedou o missionário congregacional. Da casa da Floresta, entre algumas outras coisas, eu me lembro da primeira noite. Uma única sensação ao apagar todas as luzes, imediatamente antes de me deitar para dormir. Muito provavelmente, naquela noite, a esposa e o garoto de 8 meses já dormiam. Eu apaguei a última luz, atravessei o portal do corredor, para cobrir uns 6 ou 7 m até o último quarto.

     Mas antes avistei a janela desse mesmo quarto de casal. A janela da casa da colina. Eu acho que a extensão do corredor, a penumbra, a janela gradeada aberta, que dava para a noite lá fora, projetando o olhar para a noite de cima da colina, permitiu contemplar uma extensão maior.

     Hoje, 26 anos depois, olhando para trás nessa cena, posso dizer que extensão esse olhar percorreu. O que, naquela época, representou um vislumbre, agora tem traços nítidos, uma história percorrida e retalhos pontuais de memória.

     Ali naquela primeira noite a indagação seria como será? Agora, nesta noite, pode-se fazer uma afirmação, como foi, ou uma indagação, como foi? Ou ainda uma outra, como seria? Esta a mais vaga das três, mas não menos propositiva, porque muito do que ocorreu poderia ser de outra forma. Não creio em determinismos.

     Mas pela ação de Deus, porque, afinal, tratava-se (e ainda se trata) de um pastor, Ele faz que erros e acertos cooperem para o bem. Aquela visão noturna, a janela vista do início da primeira jornada por aquele corredor e a janela que se projetava para fora, como que para que futuro, aumentado de tamanho até se chegar ao quarto, tudo era uma grande pergunta.

     Muito daquela resposta já foi escrita. Passei pelo quarto do bebê, hoje com 26 anos e 10 meses, cheguei ao quarto da mãe, tanto quanto eu com 26 anos a mais, e ainda não havia a menina de quase 22 anos. A visão ainda está em minha retina. Como se a pergunta feita, ao cruzar o caixilho, como se diz aqui, portal, como se diz lá, de onde eu vim, para atravessar o corredor, como que caminhando em direção à janela, que aumentava de tamanho, como que para dizer que lá fora era imenso, era até o infinito, como se eu ainda estivesse no corredor e ainda não chegasse ao termo da proposta sugerida na abertura da janela do último quarto da casa da colina.

    Nomes, cenas, erros, acertos, dúvidas, certezas, enfim, tudo que compõe um percurso de uma vida. A janela ainda está aberta. O corredor parece não acabar. O menino virou homem. Há uma passageira a mais em nossa nau. Um oceano a percorrer.
     

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Só de ouvir falar

     No final de toda a sua trajetória -- e que trajetória! -- , Jó vai dizer que conhecia Deus só de ouvir falar. Ora, um homem, como definido no início de livro, "íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal" não pode conhecer Deus só de ouvir falar.

     Algumas questões podem ser enumeradas mediante essa afirmação de Jó: 1. Para ver Deus, como Jó afirma que viu, será necessário passar pelo que ele passou? 2. Somente alguns privilegiados, quer dizer, "espirituais top de linha" poderão afirmar o que Jó afirmou?

     O que significa ver Deus? Em primeiro lugar a fé: é por meio dela que todos temos acesso a Deus. "Sem fé, é impossível agradar a Deus", assim como receber galardão como retorno. E as Escrituras continuam afirmando: "Ninguém jamais viu a Deus".

     Elas dizem de Moisés que ele "via o rosto de Deus" e, de Jesus, ter sido o único que viu (quer dizer, continuamente vê) a face de Deus como Ele é. Então dizer que Jó viu Deus tem sentido figurado, apenas. A reposta será sim e não.

    Sim, porque ver Deus pelos olhos da fé é comum a todo o que crê. Não, porque ninguém viu, a respeito de Deus, tudo o que tem para ver. Quando Jó disse "agora meus olhos te veem", é porque, por exemplo, poderia, a partir dali, percorrer repetido toda a sua experiência até ali, e seria tudo totalmente novo, porque Deus torna tudo novo de novo sempre. 

     Deus renova a nossa experiência de um modo que é como se o víssemos a cada momento e de modo renovado. A experiência de Jó nos socorre para que peçamos a Deus que também seja a nossa, com nossos olhos bem abertos.

      Tão cruciante a experiência de Jó que, talvez, em algum momento, ele pode ter se enganado, achando a própria experiência ou circunstância superior ao próprio Deus. No auge de sua dor ou perplexidade, talvez Jó tenha "reinterpretado" Deus.

     Imaginemos, logo de início, a avaliação que Deus faz de tudo o que Jó havia dito: "Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento?" Jó 38:2. Será que, lendo o livro de Jó, a gente imaginou que essa era, todo o tempo, a avaliação de Deus a respeito do que dizia, todo o tempo, nosso herói?

     E logo depois, ainda nessa introdução de sua conversa com Jó, Deus pergunta: "Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?" Jó 38:4. Em relação a Deus, onde estamos nós? Isaías diz que Deus tem uma espécie de "moradia dupla":

     "Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos". Isaías 57:15.

     Vivemos um tempo semelhante ao de Jó. Muitas pessoas, em maior ou menor intensidade, estão tendo experiências de doença, impotência e perda. Deus não está indiferente e continua maior do que toda a provação, tribulação e dor que estamos enfrentando.

     Vemos Deus no momento da fé que opera a nossa salvação. Paulo Apóstolo afirmou ao rei Agripa: "Não fui desobediente à visão celestial". At 26,19. Quando, como diz Pedro em 2 Pe 1,19, "Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração".

     Esse resplendor da candeia, esse "nascer da estrela da alva" é a primeira visão de Deus. Até aí, ouvíamos falar, mas daí em diante, nossos olhos O viram. Mas haverá muito mais a ver. Por isso Jó afirma, sem se considerar "super crente", que ainda tinha muito a enxergar.

      E não existe grau de espiritualidade na igreja de Cristo. Pelo menos, não deveria existir. Para Deus, não existe espiritualidade que não seja serviço. Em sua despedida, quando simbolicamente Jesus lavou os pés dos apóstolos, quis indicar exatamente isso.

    O gesto de Jesus não foi demagógico ou apenas teatral. O mais espiritual, no sentindo verdadeiro, servo de todos e Senhor de todos. Nenhuma espiritualidade no Reino de Deus preenche a vaidade humana pessoal, mas está a serviço de todos os demais, como foi com Jesus. Como afirma João Apóstolo, em 1 Jo 4,17: como Jesus é, nós somos neste mundo.

     Nossos olhos precisam fixar-se na visão com que fomos chamados. Desde que Deus se revelou a nós, não podemos viver como quem apenas dEle ouve falar. Mas como quem "enxerga o invisível", segundo nos diz o autor de Hebreus.