sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Lendo Levítico - Mycobacterium leprae em Levítico - 6

Esta é a lei de toda sorte de praga de lepra, e de tinha, e da lepra das vestes, e das casas, e da inchação, e da pústula, e das manchas lustrosas, para ensinar quando qualquer coisa é limpa ou imunda. Esta é a lei da lepra. Lv 14:54-57.

    O Levítico também estabelece regras com relação a portadores de hanseníase. O designativo "lepra" foi excluído de menção, porque passou a ser associado a preconceito.

   Mais uma vez estamos diante de um contexto de época, refletido no texto bíblico. Mostra-se avançado, para a época, ao mesmo tempo que, visto de nossa época, reflete condicionamentos culturais.

  O avanço, para aquela época, estava na normatização pormenorizada. O sacerdote seria o agente de saúde indicado e preparado para avaliar os sintomas indicadores.

   Quarentena, tratamento, avaliação e indicativo de cura estão normatizados. O problema, devido à aparência repugnante da doença, era sempre associá-la a uma maldição e, em função disso, discriminar seu portador.

   Ainda hoje há doenças, inclusive essa, que despertam nos outros reações indevidas de discriminação. A experiência de Jó ensina, como intitula-se um livro, que "coisas ruins também acontecem com pessoas boas".

     Todo o mal físico, tragédia pessoal, perdas emocionais e materiais de Jó, em circunstância nenhuma, esteve associado ao suposto pecado dele. Philip Yancey, em seu livro Dádiva da dor, em parceria com Paul Brand, torna mais clara a comprensão do dilema de um portador de hanseníase.

   O pai de Brand foi missionário na Índia, numa época avassaladora de propagação dessa doença nesse país, época também do início de descobertas decisivas para o progresso de seu tratamento no mundo todo.

    Aqui no Acre há uma colônia de hansenianos chamada Souza Araújo. Certa vez a visitei, em 2004, e conheci uma interna que havia lá chegado em 1957, no ano em que nasci, e não via nenhum de seus familiares em todo esse tempo.

    Até hoje, há filhos aqui nascidos, que foram separados de seus pais de forma abrupta, traumatizante, porque se desconheciam modelos de tratamento que permitissem a integração social dos portadores sem perigos de contaminação.

    As recomendações de Levítico permitem um padrão cuidadoso de acompanhamento dos portadores e ainda, uma vez restaurados, que se realizasse um ritual meticuloso e simbólico da cura obtida. O detalhe da ave solta indicava a todos o alcance dessa benção.

    Jesus, em seu ministério, não demonstra preconceito contra os portadores desse mal. Vai contra qualquer resquício de visão distorcida, que confunda doença física com maldição supersticiosa.

     Alguém vai mencionar o rei Uzias, amigão do profeta Isaías. Ele ficou instantaneamente hanseniano, porque invadiu o Santo Lugar, no templo, o que não era competência dele. Sim, mas isso não significa dizer que quem é portador dessa bactéria está sob maldição.

    Em Marcos, Jesus chega a tocar num deles, o que não era permitido. Mas respeita a norma do Levítico, recomendado-o apresentar-se ao sacerdote, para o controle de saúde pública. E ainda mais uma recomendação, não divulgar que Jesus fosse um curandeiro de plantão.
   
   E em Lucas 10 deles avistam Jesus de longe, aventuram pedir-lhe cura, são atendidos e um deles professa, num retorno para agradecimento, fé salvadora em Jesus.

    O que também não significa que qualquer e todos afetados serão curados milagrosamente, como falsamente prometido pelas "igrejas" de arrecadação. Meu primo foi acometido e, uma vez em tratamento médico, ofereceu em sua igreja culto de ações de graça por seu restabelecimento.

    Levítico é o livro da pureza ritual, do asseio do corpo, da pureza espiritual, enfim, da santidade ao Senhor. Um refinamento da presença íntima do Espírito Santo no viver, cioso que é de nos tornar aroma agradável, perfume de Cristo, oferta plena de dedicação ao Senhor. Permita-se ser essa benção.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Lendo Levítico - A última tribo - 5

    O Levítico detalha a consagração, precipuamente, dos chamados levitas. Exatamente os decendentes de Leví, patriarca dessa tribo, razão de ser do nome do livro e dos correspondentes sacerdotes.

   A tribo do culto. O tabernáculo, a tenda do deserto, cuja instrução de construção Moisés recebe no monte, da parte de Deus, ficaria aos cuidados dos membros dessa família.

   Tudo o que estivesse relacionado aos cuidados com o tabernáculo, em todas as suas partes componentes, seria encargo desses auxiliares. Por isso não se preocupariam com qualquer outro ofício que não esse.

   Entre as outras tribos, quando se tornassem sedentários, ocupando a terra prometida a Abraão, teriam espaço entre as demais, por elas cedido, porque, por tempo integral, ocupar-se-iam com tudo o que se relacionasse ao culto.

    Montar e desmontar a tenda do tabernáculo, com todo o cercado em seu entorno, manter limpos os utensílios e seus altares, definir pelo calendário os tipos de sacrifícios e festas litúrgicas.
   
     Orientar de modo preciso seu modo de se efetuar, com todo o sustento proveniente de seus irmãos de sangue, incluído o que era oferecido no próprio tabernáculo.

    Mas a diferença fundamental, distintiva, sempre será entre a mera formalidade do cargo e da investidura, e a real marca da personalidade regida por verdadeira vocação. Chamado, suficiência e desempenho são dons do Espírito, ainda que fossem nessa época da antiga aliança.

   Porque a nova aliança, uma vez confirmada pelo sangue de Jesus Cristo, torna sacerdotes todos os que creem. E, do mesmo modo que os antigos levitas, responsáveis pelo antigo cerimonial, o culto agora se amplia, como ensina Paulo, para todos os dias e todo e em qualquer lugar.

    A cerimônia de consagração dos levitas, suas roupas e perfumes, os rituais de seleção de animais, como oferta, constituíram-se num grande audiovisual profético, simbólico, propedêutico em relação à promessa da manifestação do Filho de Deus, o Messias prometido.

    Agora o chamado é nosso, assim como a função, a regência sábia do culto, a proclamação da palavra. A revelação de Deus a Moisés para que construísse, em meio ao deserto, o tabernáculo, era para que plantasse, no meio do arraial, a tenda-símbolo da presença de Deus.

    "Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é, porventura, em andares conosco, de maneira que somos separados, eu e o teu povo, de todos os povos da terra?", Êxodo 33:16.

    Porém, mais do que formal ou somente vista fora, da porta da tenda de cada um, o tabernáculo representava uma presença real, distintiva, identitária. Essa função hoje está configurada na presença da igreja no mundo.

   Somos o edifício no qual Deus habita. Somos sacerdotes e "despenseiros - ao mundo - dos mistérios de Deus". Carregamos conosco a tenda que armamos e desarmamos onde chegamos. Levitas, menos por formalidade, mais por identidade.
  
    Identidade de vocação, chamado, desempenho de ministério, santidade e profecia. Está ao nosso encargo. Restou apenas uma tribo de levitas. Espalhada em meio a este mundo, mas sem pertencer a ele.

   Como diz Jesus, estando no mundo, sem que seja mundo. Como testemunhou Paulo, extraindo dele sustento, como se em nada dele dependesse. Resta uma e essa última tribo que ainda deve preservar seu ministério.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Lendo Levitico - Texto longo, mas merecido: tem mulher como tema - 4

      A discussão dos papéis da mulher, do modo como a Bíblia os define, coloca-a no mesmo nível do homem.

     Embora, principalmente, no mundo moderno essas discussões estejam afetadas por reivindicações, muitas vezes, desfocadas, não podemos permitir que nosso entendimento bíblico seja afetado.

    Do princípio para o fim, por assim dizer, Gênesis 1,26-27 indica, para homem e mulher, o mesmo status de semelhança com Deus: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou", Gn 1:27.

    O entendimento viciado deste texto já confere, de modo distorcido, ao homem, um status que não é seu. Não existe uma hierarquia de degraus, onde Deus está acima, o homem vem em segundo lugar e a mulher em terceiro.

   Deus está acima, enquanto homem e mulher se equivalem em submissão a Ele. Outro texto também mal interpretado, e que afeta o grau de relação entre homem e mulher, é o que a Bíblia expressa como consequência do pecado.

   Ora, se é consequência do pecado, por si adquire uma feição distorcida daquela que, inicialmente, foi plano de Deus. Essa outra distorção decorre do entendimento do texto: 

   "E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará", Gn 3:16.

   Portanto, a Bíblia não está afirmando que "o desejo da mulher está totalmente submetido ao do marido". O que a Bíblia afirma aqui é que "ter o desejo numa luta constante de uma submissão total ao marido" é resultado da afetação que o pecado promove nessa mesma relação.

     Mesmo porque outro texto, em Gn 2,18, que denomina a mulher de "auxiliadora idônea", não significa dizer que, por ser "auxiliadora", está numa condição menor e abaixo da posição do homem:

    "Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea". Se fosse assim, o texto a seguir não poderia ser expresso como se fossem um só: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne", Gn 2:24.

    Impossível ser um só se houver subserviência. Portanto, tanto nesse trecho em que a mulher é mencionada como "auxiliadora", quanto no outro texto, desta vez no Novo Testamento, em que se afirma ser ela "submissa" ao marido, não existe, na perspectiva bíblica, diminuição ou posicionamento abaixo daquele indicado para o homem.

    Trata-se de papéis distintos para um e para outro. Outro texto indica, de modo bem explícito e claro, não haver, para Deus, distinção de importância ou hierarquias entre um, o homem, e outra, a mulher: "Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus", Gálatas 3:28.

     Ser um em Cristo não implica hierarquia, a não ser de todos, do "andar de baixo", em relação a Ele, porém todos em igual grau de importância. O nome disto é igreja.

   É um erro incorrer no mesmo erro de época, no qual estava contida a cultura do tempo bíblico que, em alguns reflexos, demonstrava preconceito contra a condição de ser mulher.

    Há na Bíblia dois eixos: um deles refletido nesse preconceito, e o outro eixo o do resgate da condição de mulher que a própria Bíblia indica. Por exemplo, o primoroso texto de Provérbios 31,10-31, em que a mulher ali descrita faz mais e melhor do que muitos homens, e ainda é elogiada por eles.

     "Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra", Pv 31:23. "Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas" Pv 31:29. O reconhecimento de tudo o que ela faz é multivalente.

    Não confundir preconceito contra a condição de ser mulher com a concessão de dons que, na Bíblia, em nenhum momento é subdividido por condição sexual. Não há dons do Espírito exclusivos para homens ou exclusivos para mulher.

    A divisão geral em categoria dupla, feita por Pedro, em sua 1 carta, dons de serviço e dons da palavra não se aplica dons de serviço para as mulheres e dons de palavra para os homens.

    Hulda não era menos do que Jeremais porque era mulher. Débora não foi menos do que Samuel, como dois juízes, porque a outra aqui foi mulher. Ester não foi mais do que Rute, diante de Deus, porque uma foi rainha da Pérsia e a outra uma retirante moabita pobre.

    Não diminuir os dons em sua importância. Não diminuir nem a mulher e nem o homem em sua importância. Aliás, diante de Débora, foi Baraque que fraquejou na fé:

    "Então, lhe disse Baraque: Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei. Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque para Quedes" Juízes 4:8,9.

    Quanta coisa e como é relevante o livro de Levítico quando aborda questões tão atuais, como o valor da mulher equidistante ao do homem, diante de Deus, nunca menor e não subserviente a ele. Minha costela que falta(va).

    Vamos aprender a dar å mulher o valor que a Bíblia lhe condiz. E proclamar isso ao mundo. E vivenciar como igreja. Ah, sim: em Lv 12 a mulher ter resguardo de 30 dias para menino e 60 para menina, puro preconceito em relação à condição de mulher.

   A lei atual confere 120 dias para qualquer parto. Sábia decisão dela. E quanto a nós, vamos ficar fora do eixo desse preconceito. E ler a Bíblia quando resgata para a mulher o grau e o lugar que, desde a  criação, sempre lhe pertenceu. Discussão dos papéis da mulher, do modo como a Bíblia os define, coloca-a no mesmo nível do homem.

     Embora, principalmente, no mundo moderno essas discussões estejam afetadas por reivindicações, muitas vezes, desfocadas, não podemos permitir que nosso entendimento bíblico seja afetado.

    Do princípio para o fim, por assim dizer, Gênesis 1,26-27 indica, para homem e mulher, o mesmo status de semelhança com Deus: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" Gn 1:27.

    O entendimento viciado deste texto já confere, de modo distorcido, ao homem, um status que não é seu. Não existe uma hierarquia de degraus, onde Deus está acima, o homem vem em segundo lugar e a mulher em terceiro.

   Deus está acima, enquanto homem e mulher se equivalem em submissão a Ele. Outro texto também mal interpretado, e que afeta o grau de relação entre homem e mulher, é o que a Bíblia expressa como consequência do pecado.

   Ora, se é consequência do pecado, por si alqueire uma feição distorcida daquela que, inicialmente, foi plano de Deus. Essa outea distorção decorre do entendimento do texto: 

   "E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará", Gn 3:16.

   Portanto, a Bíblia não está afirmando que "o desejo da mulher está totalmente submetido ao do marido". O que a Bíblia afirma aqui é que "ter o desejo numa luta constante de uma submissão total ao marido" é resultado da afetação que o pecado promove nessa mesma relação.

     Mesmo porque outro texto, em Gn 2,18, que denomina a mulher de "auxiliadora idônea", não significa dizer que, por ser "auxiliadora", está numa condição menor e abaixo da posição do homem:

    "Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea". Se fosse assim, o texto a seguir não poderia ser expresso como se fossem um só: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne", Gn 2:24.

    Impossível ser um só se houver subserviência. Portanto, tanto nesse trecho em que a mulher é mencionada como "auxiliadora", quanto no outro texto, desta vez no Novo Testamento, em que se afirma ser ela "submissa" ao marido, não existe, na perspectiva bíblica, diminuição ou posicionamento abaixo daquele indicado para o homem.

    Trata-se de papéis distintos para um e para outro. Outro texto indica, de modo bem explícito e claro, não haver, para Deus, distinção de importância ou hierarquias entre um, o homem, e outra, a mulher: "Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus", Gálatas 3:28.

     Ser um em Cristo não implica hierarquia, a não ser de todos, do "andar de baixo", em relação a Ele, porém todos em igual grau de importância. O nome disto é igreja.

   É um erro incorrer no mesmo erro de época, no qual estava contida a cultura do tempo bíblico que, em alguns reflexos, demonstrava preconceito contra a condição de ser mulher.

    Há na Bíblia dois eixos: um deles refletido nesse preconceito, e o outro eixo o do resgate da condição de mulher que a própria Bíblia indica. Por exemplo, o primoroso texto de Provérbios 31,10-31, em que a mulher ali descrita faz mais e melhor do que muitos homens, e ainda é elogiada por eles.

     "Seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra", Pv 31:23. "Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas" Pv 31:29. O reconhecimento de tudo o que ela faz é multivalente.

    Não confundir preconceito contra a condição de ser mulher com a concessão de dons que, na Bíblia, em nenhum momento é subdividido por condição sexual. Não há dona do Espírito exclusivos para homens ou exclusivos para mulher.

    A divisão geral em categoria dupla, feita por Pedro, em sua 1 carta, dons de serviço e dons da palavra não se aplica dons de serviço para as mulheres e dons de palavra para os homens.

    Hulda não era menos do que Jeremais porque era mulher. Débora não foi menos do que Samuel, como dois juízes, porque a outra aqui foi mulher. Ester não foi mais do que Rute, diante de Deus, porque uma foi rainha da Pérsia e a outra uma retirante moabita pobre.

    Não diminuir os dons em sua importância. Não diminuir nem a mulher e nem o homem em sua importância. Aliás, diante de Débora, foi Baruque que fraquejou na fé:

    "Então, lhe disse Baraque: Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei. Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque para Quedes" Juízes 4:8,9.

    Quanta coisa e cono é atual o livro de Levítico quando aborda questões tão atuais, como o valor da mulher equidistante ao do homem, diante de Deus, nunca menor e não subserviente a ele. Minha costela que falta(va).

    Vamos aprender a dar å mulher o valor que a Bíblia lhe condiz. E proclamar isso ao mundo. E vivenciar como igreja. Ah, sim: em Lv 12 a mulher ter resguardo de 30 dias para menino e 60 para menina, puro preconceito em relação a condição de mulher.

   A lei atual confere 120 dias para qualquer parto. Sábia decisão dela. E quanto a nós, vamos ficar fora do eixo desse preconceito. E ler a Bíblia quando atentos ao resgate para a mulher do grau e do lugar que, desde a  criação, sempre lhe pertenceu.

sábado, 24 de setembro de 2022

Lendo Levítico - Hábito feliz: calculo de leitura da Bíblia - 3

 Por demais exótico, em Levítico, o texto que reclama uma dieta alimentar meticulosa. A mensagem principal da Bíblia está clara. Por isso dissemos que é a partir da congregação que vem o chamado, e este para a salvação.

     Pois na leitura da Bíblia, escrita ao longo de séculos, aliás, milênios, caso haja boa vontade e coerência, dá para se fazer uma ponte com os dias atuais. E livros como Levítico permitem essa relação. Trata-se de recomendações gerais para todas as áreas da vida, relacionadas à higiene, em todos os sentidos.

   Por exemplo, quando o texto de Levítico que, além da pureza ritual e da santidade no caráter, estende a assepsia à dieta alimentar, ainda assim é possível se fazer uma ponte com os dias atuais. 

   Ora, se correu o boato de que a COVID teve a ver com a dieta de degustação de morcegos, independente de ser verdeira essa associação, ninguém negou que haja quem coma. Mas o Levítico também atesta que morcegos estão fora da lista recomendável de alimentos.

   E quanto aos gafanhotos, que constam na lista como recomendáveis, deles se alimentava João Batista, exótico, como já mencionado, sem que saibamos qual exatamente a receita que ele fazia, ainda utilizando mel silvestre.

    Bem, por aqui, na beirada dos rios da Amazônia, ainda se pratica o mujangué, que os seringueiros usavam, misturando ovos crus de tracajás com farinha d'água e açúcar. Está bom para você?

   Não precisamos mais pelejar a fim de demonstrar a atualidade do Levítico. E ainda nem mencionamos, por aqui, a dieta de peixes, subdivididos entre os sem e os com couro, certinho com as recomendações do texto bíblico.

   E a carne de caça? Que tal procurar saber se porquinhos do mato se enquadram na dieta nutricionista levítica? Cobra está de fora, mas certa vez, e nem foi por aqui, ofereceram-me, tendo eu, delicadamente, rejeitado. 

   E, para encerrar, corrigimos a conta que fizemos ainda no primeiro texto desta série, quando dividimos por 100 dias os capítulos da Bíblia e encontramos centenas. Lembram? 1189 capítulos totais da Bíblia.

   Pois a ordem de grandeza é outra. 1189/100, caso desejemos ler em 100 dias. Desejando aproximar para mais, ou seja, 1200 (mesmo porque só o Salmo 119 tem 176 versículos), vai dar 12 capítulos por dia. Agora sim, numa semana, cerca de 84 capítulos da Bíblia lidos.

   Para os que vão tentar em 200 dias, subdivida por 2 e, caso num ano, por 3. Respectivamente, 6 por dia ou 4 por dia. Para ler em 1 ano, fixe sua conta nos 5 capítulos por dia.

   365 X 5 = 1825 que, menos 1189 = 636. Você está entendendo? Caso queira ler a Bíblia em 1 ano, lendo 5 capítulos por dia, ainda fica um saldo de 636. Mas raciocine que:

    Por exemplo, no dia da leitura do Salmo 119, você não vai ler inteiro, porque ele tem 176 versículos. Quando for ler o capítulo 1 de Lucas, que tem 80 versículos, muito provavelmente vai subdividir. O mesmo de outros salmos, como o Salmo 18, com 50 versículos, ou Ezequiel 23, com 49.

    Para tanto, com essas subdivisões, você terá coberto esse saldo de 636, na verdade completando sua leitura até antes do ano fechar em seus 365 dias. Mas o mais importante é adquirir ou retornar ao hábito de ler as Escrituras.  Bem-aventurado o homem e a mulher cujo prazer está na lei do Senhor, diz o Salmo 1.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Lendo Levítico - A voz que vem da congregação - 2

 "Chamou o Senhor a Moisés e, da tenda da congregação" Levítico 1:1.

   Num mundo como o atual, que valor tem "chamar da tenda da congregação"? De onde, no primeiro versículo de Levítico, é dito que o Senhor chamou Moisés.

   O que se tem a dizer a partir da tenda da congregação? Eu acho que seria errado supor que todas as vozes provém dela. Há vozes fora dela. Na Idade Média a Igreja quis ser a única voz. Puro engodo.

    Porque nem da parte das Escrituras, que deveria ser seu específico, ela falava. Pois aqui já se define um específico por parte da congregação: a voz do Senhor deve proceder dela.

   Inverteu os papéis. E presumiu-se. A partir da congregação ouve-se uma voz que, sim, rege a vida, mas não com a petulância de ser a única ou de ser infalível.

   Mesmo porque a congregação fala da parte de Deus, ou Deus fala por meio dela, mas ela não rege o mundo fora, porque não está posta no mundo para tanto.

   Jesus não teve aportes político-ideológicos, não resolveu mudar traços da cultura de seu tempo, não se envolveu nas lutas por direitos sociais mais urgentes de sua época.

   Não porque não tivesse opinião formada sobre esses assuntos, ou porque não avaliasse que, aos olhos de Deus, mudanças radicais deveriam ocorrer. Mas porque o específico de Jesus era dizer que Deus fala, chama e quer se fazer ouvir.

    Por isso Jesus, embora se dirigisse pessoal e especificamente a pessoas, sempre teve a congregação como referência, fosse na sua ida às festas litúrgicas de Israel, em Jerusalém, no templo, fosse em suas visitas às sinagogas, na Galileia e na Judeia, fosse em sua ida informal a eventuais festas, como o casamento em Caná.

     Mas preveniu que edificaria a sua igreja. Porque Deus chama da congregação. Não. A palavra que vem da congregação não é a única voz. E nem quer abarcar todas as outras vozes, como se fosse tudo governar.

    Em Israel, Deus nunca quis que o rei também reunisse, em si, a autoridade sacerdotal. Mas sempre quis que ele ouvisse Sua voz. Vinde e arrazoemos, diz o Senhor, por meio da profecia de Isaías.

    A partir da congregação Deus fala. É ela que transmite no mundo a palavra de Deus. Guarda consigo a palavra e a transmite com fidelidade.  Mas é voz específica, sem pretensão de calar todas as outras.

   O próprio Jesus não se envolvia em polêmicas que não fossem direcionadas para as prioridades do Reino. E a principal é que Deus pode ser ouvido, enviou o Filho que batiza no Espírito aquele que crê e concede discernimento para se reconhecer o que agrada a Deus.

    A congregação não foi constituída para reger o mundo. Mas para prevenir que Deus fala. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Lendo Levítico - 1

     Sugerida a leitura de Levítico, pode parecer pura provocação. Porque parece deveras hermética. Por isso também sugerimos uma leitura casada com Hebreus.

  Evidentemente, alguém pode argumentar que estou esperando muito de meus leitores. Engano. Eles vão superar em muito as expectativas.

   Bem, em linhas gerais, Levítico fala de santidade. Extensivamente, de assepsia em todos os sentidos. Pureza não somente ritual. Alimentar também.

   Corporal, mental, psicológica, sócio-ambiental, enfim. Válida para uma época antiga, nos acampamentos do deserto. Há em Hebreus um versículo-chave para compreender Levítico, transcrevemos abaixo:

    "...porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados", Hb 10:4.

     A base ritual de Levítico é o sacrifício de uma variedade de animais. Deus se revela na história. Nesse caso, a religião do povo a quem se revela, parelha com os rituais das nações ao redor.

   Por isso Deus se enquadra naquela cultura. Mas estabelece  fronteiras nítidas de separação, apartando seu povo de práticas idolátricas e sem nenhum sentido de legítimo culto e adoração ao Deus vivo.

    Por exemplo, o sangue, que noutras culturas apresentava um valor ritual deslocado de importância, bebido, encharcado em banhos rituais, servido como alimento, no Levítico é derramado ao chão ou salpicado, como simbologia de propiciação.

   O sacrifico de animais eram tratados de modo a que não houvesse, senão, aroma de carne ou gordura queimadas, muito próximo do odor dos modernos churrascos. Outras porções de grãos e demais farináceos eram, sim, queimados, mas também repartidos entre oficiantes e ofertantes.

    E mais normas gerais de asseio pessoal, limpeza do ambiente do arraial, externo e interno às tendas, limpeza de utensílios, roupas, que alimentos comer ou não, como tratar sua higienização e preparo, enfim, a leitura atenta de Levítico indica o modo inteligente de se portar no deserto e nas fronteiras com uma variedade de povos, porém preservando sua identidade.

    É o livro dos limites. Como se manter dentro dos limites da santidade ao Senhor. Desafiador, quando fazemos uma analogia com nosso tempo. Onde estão as fronteiras de santidade? Tremendamente móveis, versáteis, flexíveis e até e muito virtuais, eu diria.

   Marcos antigos. John Stott, que chegou a pregar para a rainha que, recentemente, deixou-nos, escreveu um livreto Cristianismo Equilibrado. Nele, marca a postura de Jesus, demonstramdo como se revela assombrosamente revolucionária, ao mesmo tempo que irremovivelmente tradicional.

    Levítico, livro de sua época, sinaliza pureza e perfeição rituais, profetizando a obra completa realizada em Jesus, conforme nitidamente descrito em Hebreus. Assim como ensina que assepsia é algo não somente do ambiente, mas também do asseio íntimo, do cuidado alimentar e da santidade espiritual.

    

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Intimidade com a Palavra

 

    Caso não leia meus textos, este eu aconselho não ser lido. Será o mais confuso de todos. Bem, modéstia à parte. Acordei pensando se o texto de Isaías 6, como o da sarça, em Êxodo 3, poderia se repetir todos os dias.

   Cada qual leitor encarando ser Deus Santo, Santo, Santo e vendo a si mesmo "Ai de mim". Se foi pura retórica. Porque lá se vão mais de 40 anos quando, em 1978, entrei no Seminário. Dizendo que, entre outros textos, por justificativa, havia o de Isaías.

   Comecei a comprar livros, tanto na livraria fundamentalista, por isso chamada Livraria Evangélica, quanto nas Edições Paulinas, de viés católico (romano). Os caras, principalmente, alemães, cuja exegese detonava a Bíblia foram lidos por mim.

   Eu acho que a Igreja Católica Romana tem, até hoje, ressaca da Reforma Luterana, por isso desgasta o Livro. Ela tem de reafirmar que, Sola Scriptura, ou seja, Soememte o Livro, é, no mínimo, um exagero. Tanto assim que não se pode mesmo muito confiar nele.

    Mas não precisa a Igreja Romana detonar o Livro. Pode deixar que a gente se afasta dele sozinho. Seja deixando empoeirado, sumido nas prateleiras, dentro de casa, seja abordando-o de forma equivocada.

   Cuidado com a tua ortodoxia. Pode ser tóxica. Pelas duas razões acima indicadas: por estar longe da Bíblia ou por abordá-la de forma viciada. Os caras alemães, todos bam-bam-bans, em resumo, dizem que a Bíblia fala de um Deus.

   Nós, conservadores, às vezes (in)justamente chamados fundamentalistas, dizemos que Deus fala na Bíblia. Então vamos voltar a Isaías. Recomendo uma releitura do capítulo 6. Propondo reler todo o livro, com as lentes de santidade.

    Faça um gancho com Isaías 53. Por ele, vai entender o modo como o Deus pretendeu resolver o problema do "Ai de mim", ou seja, o fato de Isaías, eu e você reconhecermos que, definitivamente, não somos santos. Deixa de presunção.

    Cuidado, repito, com tua ortodoxia. Pode ser excludente, como Jesus nunca foi. Paulo dizia que há uma "doutrina sadia". Ele porfiava por atinar com ela. Façamos igual. E sugiro, adiante, para esta semana que se inicia, ler Levítico e Hebreus.

   Caso o assunto seja santidade, ah, sim, e termina a leitura completa de Isaías por essa mesma ótica. Caso te falte ambiente para leitura do Livro, siga a sugestão da foto acima (repare o detalhe da caneta). Ah, sim, repito: deixa de ser presunçoso(a) ou presumido(a). Dá no mesmo.

   Muitos contrastes há entre nós e o Altíssimo. A santidade é apenas um deles. Mas reflita no esforço dEle em eliminar essa distância. É matemático. Ele reduziu a zero essa distância. Tenhamos uma boa semana.

   Ah, desculpem (eu havia prometido um texto confuso), pelo sermão de ontem, a sugestão era ler a Bíblia em 100 dias. São 1189 capítulos no total. Em síntese, cerca de 120 (para mais) por dia. Isaías tem 66. Levítico tem 27. Hebreus tem 13. Somados, dá 106.

    Bem, leia mais uns 10 salmos. Procure os que falem sobre santidade. Sugiro, a princípio, 14, 32, 38, 51, 103, enfim. Selecione  mais 5 deles, aproveita para aprender a passear pelo Saltério. Busca intimidade com a palavra.

domingo, 18 de setembro de 2022

O filho do carpinteiro

 "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor", Lc 4,18-19.

    O que, especificamente, Jesus quis dizer sobre si mesmo quando aplicou esse texto a sua própria vida? Como os ouvintes, de súbito, compreenderam?

   Talvez o primeiro impacto deles é que, de modo muito irreverente, como avaliaram, Jesus aplicou muito diretamente a si as Escrituras que leu. Devem ter pensado que eram palavras herméticas, de tão sagradas.

  Aplicáveis ao profeta, sabe-se lá por qual exercício compreendê-las, de que "unção" de Espírito o profeta falava, mas saltarem do texto, encarnando em Jesus, ou por Jesus, foi demais para eles.

   Como o Espírito do Senhor estar sobre Si? Talvez já a partir da afirmativa de Jesus que se cumpria nele tal profecia, enervaram-se, porque tal expediente, na profecia de Isaías, diria respeito a quem, quem sabe o profeta, segundo avaliavam, jamais se encaixaria no filho do carpinteiro.

   À medida que Jesus seguia em grau, expandindo na leitura e linguagem do texto, para dizer, ao final, que esse é o dia desse cumprimento, aprofundava-se o escândalo. Porque o hoje a que Jesus se referiu está mais ligado a Ele mesmo do que ao calendário.

   Os ouvintes entenderam assim. Por isso assustaram-se com a ousadia do pregador do dia. E então mais assustou-os a linguagem do modo como o Espírito vinha sobre Ele.

   E certamente, por esse meio, nesse dia na sinagoga de Nazaré, Jesus indicou o modo como o Espírito vem sobre cada homem e mulher. Porque vindo sobre Jesus, por Ele, vem a todo o que crer.

    A unção de Jesus, orginal sobre Jesus, por meio de Jesus, identifica com Ele todo o que crer. É Jesus o primeiro a evangelizar os pobres. Em que sentido? Desprovidos. Não no sentido somente de bens materiais. Porque há quem não é desprovido desses bens, mas é depauperado de espírito.

   O mesmo raciocínio se aplica às outras modalidades de atenção, alvos do poder de Jesus. Há quem não seja cativo de vergões, mas é prisioneiro de si mesmo.

   Quanto aos cegos, é literal. Somente Jesus pode abrir os olhos de quem está em trevas, que não são essas corriqueiras da vida, falta da luz do sol ou de lâmpadas que alumiam, mas são as primordiais, que afundam a existência no caos íntimo, no mal que há dentro de cada um.

    Tudo isso oprime. A pobreza de virtudes de que, como ser humano, somos desprovidos. A prisão que nos amarra em ser e proceder ao inverso da vontade de Deus é o maior e mais impositivo cativeiro. E não enxergar que é, exatamente assim, constitui-se na maior tristeza e depressão da existência.

   Toda essa carga nos oprime. Mais do que de fora para dentro, como afirma o próprio Jesus, é de dentro para fora, do coração do homem e da mulher, é que aflora toda a maldade que nos atormenta e mantém cativos.

   Mas Jesus inaugura o ano aceitável do Senhor. Mas do que somente o tempo cronológico, surge o tempo da oportunidade. A vida que Jesus vem nos devolver nos encontra neste tempo da história humana, mas se projeta para a vida eterna.

   Jesus constitui-se no decisivo e profético sinal do Reino de Deus. Eis o agora de Deus. O tempo aceitável. O dia da salvação. Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Eis o tempo sobremodo oportuno. Eis o dia da salvação 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Ainda sangra

 "E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente", João 20:27.

    Ainda sangra.  Desnecessário pôr mãos na ferida cicatrizada. Naquelas marcas. Não necessita para crer. Basta a palavra sobre o ato feito, acabado, pronto, consumado.

   Mas sangra ainda enquanto se oferece o sacrifico como porta, como acesso, como propiciação. Um dia cessa. Um dia a chance cancela. Por todos, para todos, bastando admitir o que está posto.

   Posto está que o sacrifício é remidor. Que atende Deus. Que atende ao homem. Que o que é devido à paz está coberto. "Ah, se conheceras hoje o que é devido à paz". Paz tem a ver com preço pago.

   Não sejas incrédulo. Não se troca tudo o mais que tanto se refere a Cristo pela compreensão errada das razões pelas cicatrizes. Os loucos, a caminho de Emaús, enalteciam Jesus, cegos para o fato de que a ressurreição é o ponto crucial.

   Porque é a tua ressurreição. A ressurreição de Cristo é a ressurreição de quem nEle crê. Porque Deus começou pelo crucial. Pela pessoa. E o fez na Pessoa e pela Pessoa do Filho. Daí, a cicatriz da salvação.

    Não carece de se achegar, ver e pôr as mãos. Não é necessário ver, para crer. Ao contrário, quem crê é que enxerga. Basta a palavra. Testemunho fiel. Fiel é a palavra e digna de inteira aceitação.

   Ainda sangra. Os efeitos da cruz, ainda que consumada a ressurreição do Filho, e tantas outras a cada um, de fé em fé, ainda sangra para quem não se achegou. Vale até que cesse a oportunidade. Há um anúncio. Este é o dia sobremodo oportuno.

    Esse dia tem um arco de validade que perpassa os tempos. Tem um efeito cósmico. Abarca eras. Mas tem prazo de validade. O Cordeiro exposto como crucificado, desde tempos eternos, resgata a história em seu tempo, em suas épocas.

   Mas não de todos. De muitos. Inscreva-se. Urgente. Enquanto há tempo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Atrevimento paulino

   Nem sabemos se deveria, ou se seria coerente, mas Paulo decidiu pôr, em duas colunas, Adão e Jesus, comparando um ao outro e, sumo atrevimento, denominou Jesus o segundo Adão.

   Se fosse filme, seria Adão II, a Missão. Sumo atrevimento. Mas tinha um resultado em mente e, em termos de teologia, fica difícil argumentar com o Apóstolo, resta ler e saber.

   Começa pela triste realidade. Aliás, dela fogem, por razões diversas, o convencimento de uma grande parcela de gente. Por um homem, entrou no mundo o pecado e, por ele, a morte, que passou a todos os homens, pois todos pecamos.

   Atávico. Negar, seria como atribuir a si mesmo outra origem, quem sabe sideral e extraterrestre. Quanto a admitir que continuamos pecadores, só resta duas coisas: 1. discordar do terno "pecado" utilizado pela Bíblia; 2. negar, incluída, nessa negação, a própria aceitação da proposta bíblica de resgate.

   Pulando, no texto, o escalonamento no prejuízo causado, vamos ao que se diz sobre o outro homem mencionado, no caso, Adão II. O texto começa mencionado muito mais. Aqui já se estabelece o máximo contraste.

   Muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus, superabundante sobre muitos. Muito, advérbio, aplicado à graça, muitos, pronome adjetivo, aplicado aos que são alvo dessa graça, porque não são todos os que creem.

   Alegria e tristeza é o contraste básico desse texto, comparados Adão I com Adão II. Quem dera todos considerassem, a si mesmos, alvo da graça de Deus. E Paulo segue explicando.

   Pecado, sempre por atacado, perdão, no varejo. Múltiplas ofensas, para um só ato de justiça, por meio do qual, literalmente, "veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida".

   Procede o Apóstolo no tabelamento de sua descrição. Por Adão, desobediência que se generaliza, opressivamente, pela humanidade. Avaliam desobedecer como liberdade e, como prejuízo e cativeiro, obedecer a Deus.

   Mas a obediência de um só, Jesus, espalha graça, justiça e perdão. Vale arriscar a chance de que esteja certa tal avaliação. Não há mais o que perder e, com essa solução divina, tudo a ganhar.

   E termina mencionando a lei. Se, instaurada, é corolário da civilização, por si é sinal de que, com a humanidade, nem tudo vai tão bem todo o tempo. Ora, se assim fosse, não haveria necessidade de lei.

   Pois a Bíblia intervém nesses meandros, muitas vezes sombrios. Mas propõe solução acabada. Perfeita. Jesus é a proposta do Livro. Em tudo crível. Como comenta Pedro, fazeis bem em atender à palavra profética. 

domingo, 11 de setembro de 2022

Jesus e as Escrituras no circuito das sinagogas

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor" Lc 4,18-19.

   Lucas procede a uma releitura do texto inicial de Marcos, em relação ao início do ministério de Jesus. Marcos referencia-se em Isaías, para anotar, como via, o "princípio do evangelho de Jesus'.

   Ele enxerga no rápido ministério de João Batista o cumprimento de profecia da Escrituras do Antigo Testamento, por ser ele a anunciada "voz do que clama no deserto".

   E a referência a Jesus vem na contramão das instituições judaicas, cegas para o maior indicativo de todos os tempos. Quando questionado sobre com que autoridade pregava e batizava, João reafirmou de onde provém toda autoridade.

   O profeta de aparência rústica, de trato rústico e de palavra curta e grossa afirnou que nem digno de desatar as sandálias de Jesus ele seria. Nem para o papel de servo servia, mas Jesus o referendou, quando o procurou para ser por ele batizado.

   E assim procedendo, conferiu sentido ao batismo, demonstrando na prática o que significa a identificação dEle com todos os que creem.

    E o próprio Batista indicou que o batismo no Espírito Santo, que é o batismo que somente Jesus tem o poder de realizar, é que define essa identidade de comunhão com Ele.

   O avivamento de João Batista enseja o anúncio da presença de Jesus, confirma sua vinda, define sua identidade e prenuncia seu ministério. O próprio profeta infla e, ao mesmo tempo, esvazia sua importância.

   O próprio Jesus referenda João Batista como o maior dos profetas, ao mesmo tempo que aponta que, no reino de Deus, de cuja indicação para seu cumprimento, visão e entrada, Jesus anuncia, o menor no reino é maior do que o profeta.

   O profeta referenda Jesus, Jesus referenda o profeta, pela fidelidade de seu testemunho, o Pai referenda o Filho no batismo e Jesus começa seu ministério referendando as Escrituras como aquelas que dEle testemunham.

    Lucas, em sua releitura de Marcos, amplia seu escopo. Foca na sinagoga em que Jesus prega, na Galileia, lugar que escolhe como referência, precisamente porque nelas, nas sinagogas, mais que no Templo de Jerusalém, a lei de Moisés, as Escrituras de seu tempo estão mais próximas do povo.

   Desde a época do exílio em Babilônia, as sinagogas se tornaram um referencial para o povo cativo. Uma espécie de Israel em miniatura, para quem havia perdido a "terra prometida", o ritual do culto no Templo e a liberdade.

   Em torno da palavra de Deus, do esboço inicial das Escrituras, único referencial palpável que restou, o povo passou a alimentar a esperança do retorno. Debruçavam-se sobre os profetas, para entender o quando.

   E todos eles referenciam restauração futura, profética, garantida. Assim como, mais além ainda, por detrás do trauma sem conta, mais do que somente retorno à terra, como referencia o autor anônimo da carta aos Hebreus, referendavam a entrada definitiva no "descanso", por meio de Jesus.

    Jesus, lendo Isaías na sinagoga, no início de seu ministério, começando por um circuito, por elas, fosse na Galileia, fosse na Judeia, demonstrava o modo como as Escrituras referendam-no, e como o testemunho de Sua Pessoa é fundamental para a fé.

   Marcos, como que, por sua palavra inicial anotando a temática da fala de Jesus, indica em que contexto se cumpre a última profecia, que vem de João Batista, nos quatro itens da fala de Jesus: 1. Tempo cumprido; 2. Reino de Deus bem próximo; 3. Arrependimento; 4. Fé no evangelho.

   Lucas, utilizando o mesmo profeta que Marcos, assinala que a mais excelsa profecia das Escrituras já cumprida identifica Jesus, quando ele mesmo afirma: 1. O Espírito do Senhor está sobre mim e me tem ungido para: 1.1. evangelizar os pobres; 1.2. enviou-me a proclamar libertação aos cativos; 1.3. restauração da vista aos cegos; 1.4. pôr em liberdade os oprimidos; 1.5. apregoar o ano aceitável do Senhor.

  O culto da igreja de hoje segue o modelo da sinagoga. Nela as Escrituras devem estar, ao alcance da sede e do entendimento. Pois elas testemunham de Jesus, com toda certeza de fé e exatidão. A preferência por estar congregado, para ouvir a voz de Jesus, deve promover em nós a urgência e permanência de um avivamento que nunca esmorece.

sábado, 10 de setembro de 2022

O pardal encontrou casa

"O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!".

     Há coisas mais importantes. Nenhuma delas como afirmar encontrei teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu. Nada como estar ao abrigo da casa do Senhor.

   Jesus disse ser a porta. Há um altar de holocausto, bem à porta, uma bacia de bronze, a meio caminho da tenda, dentro mesa posta e candelabro, um altar de oração e o baú do maior tesouro, a palavra de Deus.

   Rasgou-se o véu, porque, por causa do meu pecado, o corpo violado de Jesus abriu acesso a mim. Não há quem ou o quê se interponha entre mim e a tenda onde Deus comigo habita.

   Desde muito tenra idade minha mãe me conduzia pela mão. E meu pai ali assistia, com a ousadia de a si mesmo se declarar pastor. Nunca se sabe direito com que autoridade alguém afirma uma coisa dessas.

    Há uma estalagem no meio do caminho. Não foi somente Moisés e Jeremias que entenderam assim e que, por razões diferentes, nela se abrigaram. Davi também entendeu o valor dessa casa. Isaías a contemplou como o lugar onde Deus cabe inteiro, do tamanho do mundo, quem sabe do espaço sideral.

    Ezequias se voltou contra a parede, mais do que pedindo cura para si, perguntando pelo sinal de que preferia e, por isso, queria estar lá. Qual seria, então, esse sinal? Josias mandou reconstruí-la.

   O menino, amante da palavra de Deus, desde sua adolescência, encontrou, em meio aos entulhos da reforma, um exemplar do livro da lei do Senhor. Nele leu, consultou a profetisa Hulda e ficou conhecendo os desígnios do Senhor.

   Não há lugar nem maior e nem melhor do que a casa do pardal. Não há proteção maior, nessa caminhada por esse varadouro hostil, que são os descaminhos desse mundo, do que ouvir a voz do Pastor que atende nessa casa.

   Louco. Louca, de na sua jornada incerta nesse mundo hostil, não atentar para o sinal de que se deve sempre, todo o tempo, retornar à casa. Eu encontrei teus altares, Senhor, Rei meu e Deus meu. O pardal encontrou casa.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

A sarça ainda - aula sobre paciência divina

    Na sua infinita misericórdia, para não usar, já usando, um termo coloquial bem brasileiro, na sua infinita camaradagem, o Altíssimo passa a discorrer sobre, digamos, sua carteira de identidade e como Moisés vai repassar a terceiros.

    Deve ser muito interessante rever esses termos, analisar e conferir. O primeiro traço dessa identidade é o famoso "Eu sou o que sou", Moisés, você vai dizer a eles "Eu sou me enviou a vós outros".

   O Totalmente Outro, como diria Karl Barth, envia alguém em seu nome a todos os outros. De ponta a ponta nas Escrituras, até os dias de hoje, pulverizado e diversificado nos termos da definição de "igreja", Deus fala aos homens/mulheres por meio de outros homens/mulheres.

   E mais: Moisés, você vai dizer a eles "o Senhor, Deus de Abraão, Isaque e Jacó me enviou a vós outros", ou seja, o Outro enviou um dentre os outros a todos os outros. E completa, reafirmando Sua identidade: "...este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração", Ex 3:15, reiteração do Altíssimo em relação a como, sempre, será reconhecido.

    A menos que, como já se torna fácil argumentar, para quem segue a corrente do liberalismo teológico, esse texto seja pura pretensão racista judaica, tradição judaica, portanto, falam de Deus, mas não é Deus quem por ele fala. Ficamos com esta segunda opção: definitivamente, Deus fala.

    Ajunta os anciãos, liderança de emergência naquela situação de cativeiro em terra estrangeira, e repete a eles o que você ouviu, Moisés. Pode até não parecer, mas acompanho tudo o que acontece, reafirma o Altíssimo a seu interlocutor.

    O transporte, segue o Altíssimo em Sua agenda, será do Egito para a terra das famílias dos amorreus. Repete a Faraó minha identificação. Mas eu sei que ele não vai permitir, assim, fácil. Então, para a agonia dos liberais, vai começar o nosso enredo.

    Vocês alcançarão mercê, they will be merciful, como dizem os ingleses, isto é, os egípcios, uma vez estressados pelos prodígios que vou operar, serão gentis ao extremo, e a mulherada, típico delas, vai angariar de suas parceiras egípcias múltiplas doações.

   Com e sem constrangimentos, joias, de prata e até de ouro, vestimentas, enfim, tudo o mais, que chegará ao grau do despojo. Até aqui, com tudo isso, esta foi, apenas, a primeira argumentação do Altíssimo à primeira evasiva  de Moisés. Aguardem as outras. Haja paciência com o ser humano.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Estações da Bíblia - Hebreus 2

    O autor de Hebreus segue sua exortação, advertindo que, diante do que foi exposto, é prudente "apegar-se com mais firmeza às verdades ouvidas", para jamais delas se desviar.

   Ele volta a falar de salvação, essa mesma que é o ponto crucial das Escrituras. Que não deve ser negligenciada, anunciada que foi por palavra de total credibilidade, incluídos os anjos no próprio anúncio.

   Declara que "tão grande salvação" foi anunciada pelo próprio Deus, confirmada na fé dos que ouviram, atestada por sinais, prodígios e vários milhares, como indica Pedro, em seu primeiro sermão, logo após a ascensão de Jesus, terem sido os meios de legitimação da pessoa de Jesus como "varão aprovado por Deus".

    Ainda mencionando anjos, visto ser forte, entre seus leitores, o grau de importância a eles conferida, embora seja ênfase deslocada de eixo, entra nos termos de comparação com o ser humano. Implícita está, na ideia de salvação, a participação de Deus no Filho, com e pelo Filho, visando, especificamente, o ser humano.

    Com anjos, agora comparados aos homens (e mulheres), visa-se, mais uma vez, o Filho, como referência da ação de Deus na salvação. Por causa da morte, que nem Deus e nem anjos experimentam, colocou-se no lugar de todos os homens, trazendo-os consigo para restauração em glória que ele sempre teve.

    O autor detalha os termos dessa identificação do Filho com todo ser humano. O foco é Jesus, e o autor recapitula o papel de Jesus na criação, reafirma a condição do Filho em relação aos anjos, assinala sua identificação com os irmãos de carne, por quem o Filho realiza a salvação, socorrendo-os.

    Na sua argumentação, demonstra que identificação do Filho é, estritamente, com Deus e com os homens/mulheres, ou seja, com a condição humana. O mundo futuro está destinado aos homens e mulheres filhos de Deus, anjos são coadjuvantes. Jesus não se identifica com eles, mas em carne e sangue conosco.

    Corrigindo, pois, a comovisão judaica, vai introduzir a figura de Jesus como sumo sacerdote. Agora sim, prepara-se para responsabilizar todos eles que, desde tempos remotos, obtiveram lei, culto e profecia associados, para indicar, na história, a suprema promessa sumamente cumprida em Jesus.

sábado, 3 de setembro de 2022

A conversa da sarça - evasivas de Moisés

    Na pirmeira evasiva foi como se Moisés blasfemasse. Blasfêmia é como um insulto a Deus. Como se fôssemos ou fizéssemos o inverso do que, perante Ele, é digno e justo.

    Porque Moisés, em sua evasiva, argumenta com Deus que, caso admissível seu retorno ao Egito, como haveria de provar ao povo que vinha "em nome de Deus". Que deus?

   E Deus surpreende. Não encara como blasfêmia ou evasiva o subterfúgio de Moisés. Mas diz ao profeta como deverá apresentá-Lo ao povo de Israel no Egito. Eu sou o que sou. Diga a eles: "Eu sou me enviou".

   Como se Deus houvesse dito tudo. Disse e não disse. Pois a maneira dEle se identificar, por esse modo de se referir a Si mesmo, suscita toda a fé. Deus somente há de mostrar o rosto, do modo como o próprio Antigo Testamento indica, um dia, por meio do Filho.

    "Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor , vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo [...] Mas o Senhor vos tomou e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, para que lhe sejais povo de herança, como hoje se vê", Dt 4,15 e 20.

   Que Deus? O livramento do povo de Israel, ao mesmo tempo, dá identidade a Deus e ao povo. Deus que não se envergonha de se chamar pelo povo, de ter Seu nome associado a ele. Quando diz Moisés que é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, não por que e somente os tinha como adoradores exclusivos.

    Mas porque, definitivamente, era o Deus de cada um desles, que o tinham como seu Deus, nome pelo qual O invocacam, também porque pelo nome de cada um deles e dos três, em conjunto, nunca mais Deus deixaria de ser reconhecido.

    É por homens como esses, sobre os quais, comenta o autor anônimo de Hebreus: "Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade" Hebreus 11:16.

   Eu sou tem nome. Cada nome. Não se envergonha de ser por esses nomes chamado. Porque é Deus fé cada um que crê. Assim como não se deve, cada nome, envergonhar-se de ser chamado pelo nome de Deus. Em nome de Eu Sou, sendo o Filho autor e consumador da fé que atende a cada um.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O diálogo da sarça

    Então outra possibilidade. Deus dialoga. Se tudo isso não for uma talentosa montagem, Deus e Moisés dialogam. Deduz-se ser possível a qualquer mortal.

   Deus diz a Moisés ser o mesmo de seus antepassados remotos, os patriarcas de Israel, mas também o Deus dos pais. Se é crível, e o autor de Hebreus assim analisa, os pais de Moisés eram crentes.

   Por fé o receberam, por fé o esconderam, por fé montaram o estratagema do bebê posto ao regaço, na correnteza do Nilo, próximo ao banho da princesa e suas servas.

   Então Moisés, amamentado pela fé, ouviu histórias de fé. Alimentaram-no também com essas histórias. Agora, aparece-lhe o Deus que lhe referencia nessas memórias.

   Deus se apresenta a Moisés. Só resta a este perguntar, a Deus e a si próprio: Quem sou eu? Não há para ele uma resposta objetiva. Ela vem com a tarefa concedida por Deus. E, principalmente, com a afirmativa, concedida por Deus: Eu serei contigo.

    Escolha de Deus por Moisés. Provável escolha de Deus a quem deve chamar. Vale questionar quantos, quem e se Deus chama. Vamos começar pela condicional "se".

    Caso Deus exista, não vai interessar ao ser humano se não for possível saber dEle. Porque se não dialoga com homem e mulher, inútil que exista. Indiferente para essa sofrida humanidade.

    As Escrituras pressupõem o Deus que dialoga. E que não faz acepção de pessoas. Então, vamos ao "quem". Caso Deus selecione, como costumamos, com frequência, fazer, entre os mais e os menos qualificadas, ora, um Deus de elites seria reprovável.

    Já, com as religiões que criamos, estabelecemos castas. Muito embora o Deus assim, tão despojado e democrático, que a todos e a qualquer um acolhe, não seja a nossa preferência, um deus elitista seria, absolutamente, Fake.

     Portanto, se Deus não seleciona, vamos ao "quantos", que então seriam todos. Deus dialoga com todos e qualquer um. Talvez. Porque há quem se exclua do diálogo. Vejamos: não se trata de quem nós excluímos, mas de quem se autoexclui.

    No primeiro tópico da argumentação, do diálogo entre Deus e Moisés, aquele se referencia a este, que pergunta, diante de Deus, quem sou eu? Não se sabe se é a humildade que enseja tal pergunta ou se, ao contrário, é a pergunta que enseja humildade.

    Ou falsa modéstia. No caso de Moisés, ele queria fugir, tanto à pergunta, quanto ao diálogo, quem sabe retornar à vida anônima do nômade pastor de Midiã. Talvez. Quem está diante de Deus, não mais tem para onde fugir e não mais vive sem conhecer, de Deus, o nome e, de si, quem, na verdade, é.