sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O diálogo da sarça

    Então outra possibilidade. Deus dialoga. Se tudo isso não for uma talentosa montagem, Deus e Moisés dialogam. Deduz-se ser possível a qualquer mortal.

   Deus diz a Moisés ser o mesmo de seus antepassados remotos, os patriarcas de Israel, mas também o Deus dos pais. Se é crível, e o autor de Hebreus assim analisa, os pais de Moisés eram crentes.

   Por fé o receberam, por fé o esconderam, por fé montaram o estratagema do bebê posto ao regaço, na correnteza do Nilo, próximo ao banho da princesa e suas servas.

   Então Moisés, amamentado pela fé, ouviu histórias de fé. Alimentaram-no também com essas histórias. Agora, aparece-lhe o Deus que lhe referencia nessas memórias.

   Deus se apresenta a Moisés. Só resta a este perguntar, a Deus e a si próprio: Quem sou eu? Não há para ele uma resposta objetiva. Ela vem com a tarefa concedida por Deus. E, principalmente, com a afirmativa, concedida por Deus: Eu serei contigo.

    Escolha de Deus por Moisés. Provável escolha de Deus a quem deve chamar. Vale questionar quantos, quem e se Deus chama. Vamos começar pela condicional "se".

    Caso Deus exista, não vai interessar ao ser humano se não for possível saber dEle. Porque se não dialoga com homem e mulher, inútil que exista. Indiferente para essa sofrida humanidade.

    As Escrituras pressupõem o Deus que dialoga. E que não faz acepção de pessoas. Então, vamos ao "quem". Caso Deus selecione, como costumamos, com frequência, fazer, entre os mais e os menos qualificadas, ora, um Deus de elites seria reprovável.

    Já, com as religiões que criamos, estabelecemos castas. Muito embora o Deus assim, tão despojado e democrático, que a todos e a qualquer um acolhe, não seja a nossa preferência, um deus elitista seria, absolutamente, Fake.

     Portanto, se Deus não seleciona, vamos ao "quantos", que então seriam todos. Deus dialoga com todos e qualquer um. Talvez. Porque há quem se exclua do diálogo. Vejamos: não se trata de quem nós excluímos, mas de quem se autoexclui.

    No primeiro tópico da argumentação, do diálogo entre Deus e Moisés, aquele se referencia a este, que pergunta, diante de Deus, quem sou eu? Não se sabe se é a humildade que enseja tal pergunta ou se, ao contrário, é a pergunta que enseja humildade.

    Ou falsa modéstia. No caso de Moisés, ele queria fugir, tanto à pergunta, quanto ao diálogo, quem sabe retornar à vida anônima do nômade pastor de Midiã. Talvez. Quem está diante de Deus, não mais tem para onde fugir e não mais vive sem conhecer, de Deus, o nome e, de si, quem, na verdade, é.

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