terça-feira, 30 de agosto de 2022

Ainda arde?

    A cada dia uma sarça. Que encontro fortuito foi esse o de Moisés?  Conseguira aquietar-se em sua guinada de vida? De bem nascido, como simulacro, no império do Egito, até um pastor anônimo em Midiã.

     Com um assassinato e denúncia dele no meio. Agora, um casamento de ocasião, vida em fuga, para onde ir desse ponto de sua vida? Até que viu a sarça que, de si, 🔥queimava-se, mas não se consumia.

   Foi conferir e encontrou Deus. De quem, também, procurou fugir. Deus disse que descia, viu de onde Moisés fugiu, entendeu-lhe o dilema, na tentativa de se identificar como escravo judeu.

    Agora, diante de Deus, era com Ele que haveria de se identificar, para ser profeta dEle no contexto de vida no qual o próprio Deus prometia interferir.

    "Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo", Êxodo 3:7,8.

   Algumas perguntas decorrem: 1. Quantas vezes, na vida, deparamos a sarça? 2. A ardência dela, dentro, só acontece na vida uma única vez? 3. Deus todo o tempo enxerga a opressão sobre o povo, para agir, estando sempre pronto a fazê-lo? 4. Para isso, quantos e quem chama para seu(s) profeta(s)?

    Talvez haja uma sarça para cada um. E não seja somente um e o mesmo encontro, mas todo encontro com Deus, pelo menos, deveria ter a mesma urgência, a mesma ardência e a mesma santidade.

   No livro Marcas do Evangelho registrei um sermão de meu avô Tula, de 1972, que ele intitulou "Tornando Deus comum". Ou seja, banalizando Deus. Somos tão entendidos de Deus, que já começamos a manipular.

   Temos nossa Escritura. Nossas doutrinas. Nossa ortodoxia. Nossa igreja. Nossa teologia. São tantas opções e, como diz Roberto Carlos, tantas emoções, que beira já a idolatria essa feição nossa pessoal de Deus.

   Deus é aquilo ou a quem o reduzimos. Mas Ele tem posto diante de nós a sarça. Diz o texto das Escrituras: "Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui!", Êxodo 3:4. Mais uma pergunta: posso pôr meu nome no lugar desse?

    Afinal, trata-se de uma grande, de uma estupenda mitologia cristã tudo isso que as Escrituras falam de Deus? Será, como na Grécia antiga, que projetava no Olimpo deuses e deusas reflexo deles mesmos?

    Então, criamos Deus à nossa imagem e semelhança? Como disse meu avô em seu sermão, há 50 anos atrás, tornamos Deus comum ou banal? Puxa, como temos, então, tornado-nos sofisticados! Parabéns para nós.

    Vamos nos vestir, pôr a roupa do dia, quem sabe, engalanados, mas descalços. Vamos nos despir. Vamos nos deixar assombrar de novo por Deus. Quem sabe, por sua santidade. Quem sabe, por sua sensibilidade.

   Talvez, até, por sua ação na vida e no mundo. Há uma sarça diante de mim? Voltei-me para ver? Deus tem algo a dizer? Está me chamando para ser profeta (ou profetisa) dEle? Tenho uma vocação?

    Hoje vou sair descalço(a). Para não tornar Deus banal. Talvez não seja esse o capricho. Mas sim, voltar-se, para ver a sarça que arde e ouvir a voz que fala.
     

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