quarta-feira, 22 de junho de 2022

Não tem sentido prático

     Sentido prático. Não tem sentido prático. Expressão usada por meu saudoso pai como síntese finalizadora de qualquer outro argumento. "Isso não tem sentido prático", ele dizia.

    Bom dia e tchau. Era para encerrar. Porque se não tinha sentido prático, era para, definitivamente, desistir, excluir da vida.

    Deparei hoje na net certas acertivas, alhures, que me remeteram a essa síntese filosófico-depreciativa de meu pai. Não tem sentido prático.

   Ora, o que não têm sentido prático, definitivamente, não tem sentido prático. Imediatamente, vício de ofício, lembrei de tantos que não mais veem na igreja nenhum sentido prático.

   Não quero, para isso, menção honrosa, porque nem mesmo eu sei se, pura pretensão minha, reconheço e encaro, à altura, o sentido prático da igreja. Ou seu valor, sua relevância, sua importância.

    Vai ver que não. Talvez eu seja um dependente espiritual dela. Certo, porque para isso não se diz dependente químico. Talvez dependente funcional.

   De tanto ser acostumado, pelos pais, principalmente a mãe, com essa rotina de igreja, viciei. Mas teria isso tudo algum sentido prático?

     Hoje há uma porção de gente, quero dizer, muita gente, gente para caramba vivendo como se a igreja não tivesse nenhum sentido prático.

   Vou tentar indicar alguns meios pelos quais, possa ser, igreja volte a adquirir algum sentido prático. Primeiro, está difícil competir com a internet.

   Segundo, ouvir blá-blá-blá de púlpito, ora, ora, ora, que mente vai se concentrar nisso? A própria internet tem pregadores muito mais divertidos, interessantes e interativos.

    Bem, a música parece ser a única cousa que ainda dá para engolir. Porque o mundo mudou muito rápido e o que se cuida, de suas paredes para dentro, está anacrônico com o mundo lá fora.

      As carências são outras. Por um outro Deus (ou deus, sei lá, quem sabe deuses, ou nenhum). Mas ou o Deus da Bíblia desatualizou-se, ou o modo de apresentar caducou.

    Resgatar uma conversa à beira mar, sobre pescaria e Reino de Deus. Quem sabe um sermão numa pradaria, quem sabe. Assistência a gente cheia de necessidades: fome, em todos os sentidos, carências afetivas, autorrejeição, descaso civil.

    Como se fosse gente "como ovelhas que não têm pastor". De vez em quando, uma festa de casamento, com muito vinho. Um bate-boca nas varandas do Templo. Andar, a esmo, pelas vilas, atendendo a carências diversas.

    Gargalhadas com o grupo de mulheres da roupa lavada, uma merenda para as viagens e caminhadas, algum dinheiro em espécie para despesas extras.

    Eventualmente, uma crucificação. A igreja e os discípulos precisam reaprender com o Mestre, em busca do sentido prático da coisa.

   
  

domingo, 19 de junho de 2022

Conhecendo o Senhor

 Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem. Todavia, ninguém contenda, ninguém repreenda; porque o teu povo é como os sacerdotes aos quais acusa". Oséias 4:1-4.


    O texto inicia com uma primeira distinção: uma diferença entre (1) quem supõe ser possível "Ouvir a palavra do Senhor" e (2) quem ou supõe não ser possível ouvir ou em que, ouvindo, não vai atender.

   Em seguida, o texto indica que o Senhor, esse mesmo, pressuposto no verso primeiro, tem uma contenda, no hebraico rib, com os habitantes da terra.

    Levada em conta sua existência, o Senhor tem uma demanda com o povo, no sentido jurídico do termo, porque a ética deles é o inverso da ética que Deus requer.

   E vem enumerado o que não há: verdade, misericórdia e conhecimento de Deus. E a seguir o que, em troca, acresce: perjurar, mentir, matar, furtar, adulterar, arrombamentos, homicídios sobre homicídios.

   Então vem descrito o sofrimento da terra e na terra. (1) ela está de luto; (2) os moradores desfalecem; (3) animais, aves e peixes perecem. Todavia a recomendação final é de que ninguém contenda, porque opressor e oprimido são iguais. Paulo o indica: "Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora". Rm 8:22.

    Grassa na terra essa corrente de injustiças. E não há expediente humano, puramente humano que ajuste ou modifique essa triste sequência. Aqui a amostra se refere a Israel, designado povo de Deus, com a proposta de vocação bem definida.

     Qual seja: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel". Êxodo 19:5,6.

    Resta saber se válida essa vocação. Resta saber se há um Deus por detrás dela. Resta saber se há um rib, um acerto, uma aliança com homens assim bem definidos. Resta saber se tal aliança se expande para fora das fronteiras de Israel. Se os goy, gentios, estão incluídos.

    Estende-se à igreja a expectativa da mesma vocação. Agora é o apóstolo Pedro que indica isso em sua carta: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia" 1 Pedro 2:9,10.

    Oseias reclama que o sacerdote, em Israel, seria o modelo de conduta para o povo. Como os apóstolos foram modelo, At 2,42. E ser sentinela de profetas é o imperativo preceituado por Paulo Apóstolo, 1 Co 14,1. O profeta fala aos homens "edificando, exortando, consolando", 14,3.

    As características que Oseias denuncia faltar nos sacerdotes de Israel, a igreja todas recebe como herança e legado a transmitir em seu ministério, até a vinda de Jesus.

   A igreja "proclama as virtudes" de Deus, que nos chamou das trevas para a luz, Cl 1,13. Oseias denuncia "não há verdade, não há amor, não há conhecimento de Deus". A igreja anuncia Jesus, que é a verdade, Jo 14,,6, por meio de quem nos chega o amor, 1 Jo 4,7 e 10, sendo Jesus a "expressão exata de Deus", Hb 1,3.

    A principal profecia da igreja é o anúncio do evangelho, como Jesus inaugura, Mc 1,14-15. Num só tempo reside a advertência, (1) o tempo escatológico se cumpre, (2) o reino de Deus definitivamente próximo e (3) arrependimento e fé no evangelho como selo de fé, Ef 1,13-14.

    O sofrimento, decorrente do pecado que perdura na terra, fosse entre o povo de Deus, agora entre os gentios, pelas mesmas razões, tem raízes em não conhecer o Senhor. Esse é o destaque da profecia de Oseias: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra". Os 6:3.

   A igreja deve proclamar e viver, testemunhando com sua vida o conhecimento do Senhor. Paulo expressa isso aos Efésios: "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Efésios 3:19.

    Também aos Filipenses: "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo". Fp 1:9,10.

    Aos Romanos: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Romanos 12:2.

   E o próprio Pedro complementa: "Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo". 2 Pedro 1:3,4.

    Deus, pelo seu divino poder, nos doa (1) o que nos conduz à vida e à piedade; (2) que vem pelo conhecimento completo de Deus; (3) que nos chama a Sua própria glória e virtude e ainda (4) nos concede as promessas que nos tornam coparticipantes da natureza divina. Somente assim, também como igreja de Cristo, estamos livres da corrupção das paixões que atuam no mundo.

Congregacional Autêntico

 

REVERENDO MANOEL MARQUES

1- Nasceu no dia 23 de abril de 1877, numa localidade distante de Passa Três, cerca de um quilômetro e meio. Era filho do Sr. Francisco Gonçalves Marques e de D. Maria Marques de Jesus, ambos naturais de Funchal, Ilha da Madeira, Portugal.

2- Com apenas cinco anos de idade, começou a estudar. E com seis já lia as Escrituras Sagradas, embora não compreendesse bem o que lia. Seus pais eram crentes em Cristo e alegravam-se com a atitude do filho, um leitor assíduo da Palavra de Deus.

3- Com 18 anos, converteu-se e, depois de professar a sua fé em Cristo, publicamente, foi batizado pelo Rev. Thomaz Collins Joyce, na Igreja Evangélica de Passa Três, Estado do Rio de Janeiro.

4- Fez o curso primário em Passa Três, Morro Azul e Cipó. Em fevereiro de 1904, a Igreja de Passa Três, por sugestão do Presbítero José Francisco Gomes, enviou-o a S. José do Bom Jardim, onde estudou com o Prof. José Nogueira da Cunha.  No dia 3 de janeiro de 1905, partiu para Juiz de Fora, Minas, onde se matriculou no Colégio Granbery, da Igreja Metodista. Então, matriculou-se no ginásio e no Seminário, onde permaneceu até 1907, quando foi chamado a Passa Três, a fim de tomar conta da igreja, enquanto o seu pastor, Rev. Jabez Wright ia passar as férias na Inglaterra, sua pátria.

5- Em 22 de julho do mesmo ano, assumiu a direção da Escola Diária, mantida pela igreja, e de que eram professoras as irmãs Presciliana Cherem e Maria Estrela, sua auxiliar. 

6- No dia 15 de fevereiro de 1908, foi para Campinas, São Paulo, onde se matriculou no Seminário da Igreja Presbiteriana. Ali permaneceu até fins de 1911, quando terminou o Curso de Teologia. Foram seus colegas de turma, dentre outros, os Reverendos Francisco Antônio de Souza, Elias Tavares, Thomaz Guimarães, Tancredo Costa, Herculano de Gouveia, Teodomiro Emeric, Pascoal Pita e Américo Cardoso de Menezes.

7- Terminado o Curso, partiu para Passa Três, onde trabalhou durante seis meses como evangelista. 

8- Em setembro de 1911, o Reverendo Jabez Wright foi pastorear a Igreja Evangélica do Encantado. O Reverendo Manoel Marques foi escolhido para substituí-lo.

9- Em 20 de novembro, o Reverendo Manoel Marques é consagrado ao Santo Ministério, no templo da Igreja Evangélica Fluminense, na antiga Rua Larga de S. Joaquim, no Rio de Janeiro, pelo Reverendo Alexandre Telford. O discurso oficial foi feito pelo Reverendo Francisco Antônio de Souza e a parênese pelo Reverendo Leônidas da Silva. 

10- Em 3 de dezembro de 1911, celebrou, pela primeira vez, a Ceia do Senhor, em Passa Três e no dia 15 realizou a primeira cerimônia de casamento.

11- Pastoreou a Igreja Evangélica de Caçador, na qual foi empossado em 11 de novembro de 1911.

12- No dia 21 de dezembro, o Reverendo Marques e a jovem Francisca de Almeida uniram-se pelos laços sagrados do matrimônio, sendo ministro oficiante o Bispo J. W. Tarboux, em Juiz de Fora, Minas.

13- Em 1913, foi nomeado Juiz de Paz em Passa três, distrito de S. João Marcos.

14- Tomou parte na Primeira Convenção Geral de nossas igrejas, realizada na Igreja Evangélica Fluminense, nos dias 6 a 10 de junho de 1913, da qual foi secretário. Defendeu a tese – Publicação de uma Revista  da Aliança (Convenção), da qual resultou a transformação de “O Cristão”, de órgão particular (da Família Fernandes Braga) em órgão denominacional. 

15- Foi o pioneiro da evangelização do nosso trabalho no Litoral Sul-Fluminense. Organizou a Igreja Evangélica de Tarituba, hoje desaparecida, em 17 de junho de 1923, de onde surgiram as igrejas de Praia Vermelha, Angra dos Reis e Tapera, na Ilha Grande. 

16- Também foi o iniciador da Igreja de Ebenézer, em São Paulo, da qual se originou a de Cachoeira Paulista. Foi pastor de quatro igrejas – Passa Três, Tarituba, Ebenézer e Caçador – , de quatorze congregações e dez pontos de pregação, nos Estados do Rio e de São Paulo. Mensalmente, viajava: - 14 quilômetros a pé; 235 a cavalo; 200 por via férrea; de lancha, 15; de canoa, 9 e de automóvel, 31. Em 5 de julho de 1929, depois de fazer uma viagem pastoral às igrejas do Litoral Sul-Fluminense, foi acometido de uma doença grave, que o impediu de viajar.

17- Depois de durante 20 anos de pastorado  em Passa Três, foi residir na casa pastoral da Igreja de Bento Ribeiro, para facilitar o trabalho de sua esposa, D. Francisca, que assumiu a direção da Escola Primária da Igreja Evangélica Fluminense. Isto em agosto de 1930. 

18- Em 31 de dezembro desse mesmo ano, foi eleito vereador da Câmara de São João Marcos. Era uma homenagem do povo dessa cidade, onde tantas vezes pregou o Evangelho de Jesus Cristo.

19- No dia 31 de julho de 1931, vítima de uma congestão cerebral, rendeu o espírito ao Criador no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro, à Rua Bom Pastor, com apenas 54 anos de idade. Na ocasião, não podia falar. Elevando as mãos para o céu, entretanto, quis dizer: “Eu vou para Jesus”. Foi crente durante 38 anos e ministro do Evangelho 20. Deixou viúva a irmã D. Francisca de Almeida Marques, mais conhecida, na intimidade, por D. Chiquinha, e seis filhos, sendo três homens – Euclides, Onésimo e Milton, pastor da Igreja de Passa Três, e três mulheres – Ione, Irene e Elza.

20- O Reverendo Manoel Marques foi um dos maiores, senão o maior evangelista dos sertões fluminense e paulistano. Foi obreiro da Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal. No último artigo que publicou em “O Cristão”, ele escreveu: “Procurai fazer, aqui nesta vida, tudo quanto for possível pela obra grandiosa de Jesus Cristo”.

Extraído da Revista da Escola Dominical de Jovens e Adultos do 4° Trimestre de 1970. Ano XXI – Número 4.

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Colaboração do Historiadorr e Presbítero Sérgio Prates, da 2a Igreja Evangélica Congregacional de Canpo Grande do Rio, Rio, RJ.

terça-feira, 14 de junho de 2022

E o Verbo se fez carne

    E o Verbo se fez carne. Decisivo é reconhecer que assim foi, para ensinar o homem em toda a gramática. Como diz meu colega Marcos Bagno, Dramática da língua portuguesa.

  Se é dramático ensinar gramática, imagina ensinar vida. O Verbo se fez carne para ensinar vida ao ser humano. Irônico o termo. Porque "ser" humano já se subentende ser, em plenitude, e o que ser: humano.

   Mas houve perda de identidade. Amor se tornou obsessão, egoísmo, manipulação. O mal afronta o bem e o que é bom rivaliza com o  ruim. Ódio passou a ser amor fake. Disfarçado. Chamado um pelo outro, sem se reconhecer o equívoco.

   É melhor acreditar que o Autor da vida, Deus, se fez homem. Vai ser preciso fé. Ora, nem todos acessam esse aplicativo. Mas é essencial. Sem ele, todo o sistema leva à breca. E não é samba de breque.

   E após a Torre de Babel, ensinar toda a gramática em todas as línguas. Pretensão do ser humano dizer que não precisa aprender vida. Ora, que se afirme isso. Afinal, até a morte nos tirá-la, tudo mundo pensa que é dono da sua.

   E já dizia Vinicius, vida só tem uma. Aliás, ele diz isso na irônica poesia do Samba da benção. "A vida é pra valer/E não se engane não, tem uma só/Duas mesmo que é bom/Ninguém vai me dizer que tem/Sem provar muito bem provado/Com certidão passada em cartório do céu/E assinado embaixo: Deus/E com firma reconhecida!".

   E foi desse jeito que o samba diz. O Verbo se fez carne, com firma reconhecida e assinado embaixo, Deus: o Filho, literalmente, é a cara do Pai. Andam, diz-se do ser humano, com sede de amor. Isso é bom. Mas não confundir, por favor, amor com uso manipulado. 

   Aliás, na Criação, quando o Espírito pairava por sobre as águas, e Deus fez a definitiva separação entre luz e trevas, o Filho estava junto. E Deus viu e avaliou tudo quanto fez e eis que foi bom. E o Espírito ansiava por colocar a eternidade no coração do ser humano.

   Portanto, é lícito, acima de tudo, buscar o amor. O bem. O bom. O Verbo veio, precipuamente, ensinar o bem e o bom. Há polêmicas. Sim, porque o ser humano não aceita passivamente que precise aprender, muito menos admite ser ensinado, ou que precise crer, ou que lhe falte vida.

      Mas é patente e explícita a maldade humana. Em vários graus. Vivemos um tempo de declarada busca pelo bem, com o mundo cheio de maldade humana. Pelo bom, com a parecença de que, quanto mais, prevalecem os maus. Enfim, um tempo do pseudo amor, prevalecendo a defraudação. 

   Cabe distinguir. Sem que se confunda um pelo outro. Amor Fake. Bem que não é bem e nem bom. Porque o próprio Jesus, este apontado como o Verbo, ele mesmo afirma: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios". Marcos 7:21.

    Não se trata de pessimismo atávico. É cósmico: a maldade foi incorporada pelo ser humano, que a refinou em crueldade, agora sim, atávica. Portanto, somente o Verbo que se fez carne. Todo carne. Como toda carne, para viver o que é vida e restaurar, no ser humano, toda a vida, plenitude de vida.

   Mas para restauração da identidade perdida. Ser humano não é Fake. Amor tem padrão de origem e autoria. Bom é o que Deus avalia e atesta como bom. Viu Deus tudo quanto fez e eis que era muito bom. Somente o Verbo restaura a bondade no ser humano.

     O Verbo, ele mesmo criador, em Deus, com Deus e sendo o próprio Deus é o único capaz de restaurar a conduta humana. Esta é incapaz de amar, a não ser que aprenda. Incapaz de ser boa, a não ser que pela morte de sua natureza vil.

   Para isso, o Verbo se fez carne.

domingo, 12 de junho de 2022

Cumpre ser videira

    O texto da videira define o modo como, ligados a Jesus e trabalhados pela graça de Deus tornam-se possíveis os frutos dessa relação.

    "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda". João 15:1,2.

    Esses dois versículos iniciais são a síntese do que segue exposto, pormenorizadas todas as características desse resultado, indicadas como fruto permanente.

   Nada pode compensar acima do que seja a comunhão em Cristo, por meio dEle ligados ao Pai. Mas é exatamente em virtude dessa comunhão que se destacam todos os efeitos que o texto da videira ilustra.

    O primeiro elemento são os frutos permanentes dessa relação. Em relação a isso o texto afirma que estamos ligados à videira, que é Cristo, a Deus é o agricultor que continuamente nos limpa, para que também continuamente produzamos frutos.

    E por meio de Sua palavra Ele nos purifica. Foi por ouvi-la e atender, que somos salvos, sendo satificados por obedecê-la. Temos 176 versículos do Salmo 119 que nos indicam os benefícios da Palavra de Deus em nós, entre tantos outros aspectos, esse da santidade.

   "Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti". Sl 119:11. Três elementos principais como efeito dessa comunhão o apóstolo menciona a seguir, que são a plenitude da vontade de Deus em nós, o amor no modo como o próprio Jesus o aprendeu e a alegria resultante.

    O profeta Oseias indica esses efeitos da comunhão com Deus, de como há plenitude de amor e alegria: "Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias; desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor". Os 2:19,20.

    Desse modo, como em Oseias é temática principal, é possível conhecer o Senhor: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor". Os 6:3. O profeta também indica como "desposar", no sentido bíblico, significa comunhão do casal entre si e do casal com Deus.

    Aqui João vai expressar a feição do casamento para fora de si mesmo, como testemunho ao mundo, por meio da igreja: por meio de guardar a palavra, guardar-se em santidade e ser no mundo testemunha do poder do evangelho.

    A marca em si do compartilhamento dessas bênçãos é a ação do Espírito em nós. Isso representa e significa ser testemunha de Jesus no mundo, o que representa a identidade do ser igreja.

   Paulo, aos Efésios, indica o modo como o testemunho de Cristo se torna efetivo em nós: "...para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor".
Ef 3:16,17.

    E Paulo conclui: "...e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor". Ef 3:17. Este é o conhecer, de que falam tanto João Apóstolo, quanto o profeta Oseias.

    E tanto aos Efésios, quanto na carta aos Filipenses Paulo indica como o amor cumpre seu papel exclusivo e inclusivo no relacionamento com Deus, na identidade da igreja e na benção do casamento.

   Diz Paulo Apóstolo: "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus". Ef 3:19. E também:  "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus".
Fp 1:9-11.

    Desse modo, assim ligados a Cristo, em comunhão com Deus, pela benção e ação do Espírito em nós, cumpre ser igreja no mundo. Assim como cumpre experimentar todas as bênçãos do casamento, incluída a benção de se constituir família, no modelo de Deus, a benção para os filhos e para o casal, nesse contexto, e a benção para quantos desse convívio privam. Deus assim nos fortaleça.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Coração sábio

 Contar os dias. Bem, o que, exatamente, o salmista quis dizer com isso? Matemático? Basta uma conta rápida e nem tão complexa.

   Existencial? Seria, ao invés, exaustivo. Será que ele pensou em filosofia? Quem sabe. Talvez uma projeção para fora de si mesmo, bisbilhotando certos pontos essenciais.

   Expor à apreciação externa? Bem, varia de acordo com o freguês da hora. Se for amigo, sendo sincero, assim mesmo vai amenizar, aqui e ali. Algumas omissões, alguns pontos de destaque.

    Se for inimigo, ou até mesmo amigo fingido, também não deixará de ser sincero, para consumo, porém sugerindo deslizes, coloridos com cores a gosto da desfeita.

    Espiritualmente falando? Amplo e vago. Ainda bem que o salmista diz a Deus "Ensina-me" a contar os dias. Assim fica fácil. Só resta saber como Deus ensina e como se aprende.

   Ao longo da vida, esse ensino talvez esteja relacionado ao modo como se foi aprendendo. Em casa, na escola e na rua. Pelo menos nesses três lugares. Pensa numa coisa aprendida em casa, outras na escola e outras, ainda, na rua.

   Talvez Deus seja um tempero nessas coisas. Aí, varia de família a família. Eu penso na minha. E como, lá em casa, meu pai contava histórias da Bíblia, penso na família de Jacó.

    Esse foi o cara que se passou a chamar Israel, "aquele que luta com (ou contra) Deus". Mais genérico, não caberia: quem não luta contra Deus? Para não se dizer que se luta contra si mesmo.

   Jacó era trapaceiro. Aliás, o nome dele significa algo como "pegar no pé", foi o que ele fez com o irmão gêmeo, ora, ora, já no ato do nascimento. Junto com a mãe, posteriormente, os dois enganaram Esaú e Isaque, este o pai.

   Mais tarde lhe passaram a perna, o tio Labão, o espertalhão, e ele ficou cativo 14 anos para casar com Raquel, a preferida. Levou antes Lia, com a desculpa, dada pelo sogro que, naquela cultura, a mais nova não casava antes da irmã mais velha.

   Na disputa pela vantagem na quantidade de filhos, Raquel, a preferida, mas estéril, já perdendo para e irmã de 4 X 0, deu a serva Bila para servir Jacó e providenciar prole.

   Lia correu para apresentar Zilpa, serva dela, mais uma na concorrência, Jacó, burguês e servido nesse jogo, pôs 13 filhos, um deles Diná, uma mulher, no mundo.

   E de tanto paparicar José, primeiro de Raquel que, finalmente, engravidou, despertou ciúmes nos demais rapazes. Quase um Caim 2, assassinato somente evitado pela intervenção de Rubem, o primogênito.

    Confusões de família, resolvidas muito depois, no Egito, quando José, já primeiro ministro e não reconhecido pelos irmãos, que o haviam vendido como escravo, costura um acordo entre todos que, sensibilizados e amedrontados, finalmente, reconheceram o irmão.

   José é exemplo de como, ainda que numa família complicadíssima, com filhos postos no mundo e criados ao léu, houve um canal aberto ao ensino de Deus.

    Muito provável que tenham sido resquícios da vivência de Jacó. Aqui e ali esbarrava com Deus. Mas o menino e o jovem José deu saltos. A leitura que fez do caos em família, a afronta que enfrentou dos irmãos e as agruras que experimentou no seu começo de vida no Egito adestraram-no para uma vida de fé.

    O Faraó o classificou como um homem em quem o Espírito de Deus habitava. Nem mesmo Faraó entendia bem o que isso significava. Mas José demonstrava consciente em que grau havia aprendido de Deus.

    Contou seus dias com coração sábio. Oh, Deus, concede-nos essa benção. Para quem mal começa a vida, que tenha renomada carreira. 

  Mas sem desprezar, no meio do caminho, a sabedoria dada por Deus, como fez Salomão. Motive suas crianças a fazer essa oração. Explique para elas o que isso significa e seja exemplo dessa prática. 

   Quem já está mais para depois da metade, terço final ou quarta parte da existência, ainda há tempo para pedir a Deus o ensino e dele partilhar. A oração do salmista se aplica a todas as idades.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

INTRODUÇÃO AOS CADERNOS DE APOIO PEDAGÓGICO

 ACOMPANHAMENTO PERSONALIZADO DE APRENDIZAGEM CADERNO DE MATERIAL ESTRUTURADO EM PORTUGUÊS SEXTO E SÉTIMOS ANOS – PRIMEIRO E SEGUNDO GRUPOS APRESENTAÇÃO 

Caro(a) monitor(a), este caderno é parte do material estruturado de apoio ao acompanhamento personalizado de aprendizagens que precisam ser recompostas e consolidadas entre crianças e jovens do Ensino Fundamental nas escolas participantes do projeto. O ponto de partida para a elaboração deste material é a leitura pedagógico-curricular dos dados resultantes das avaliações diagnósticas que abrem todo este ciclo de intervenções do qual vocês são agentes fundamentais. 

 Esses testes são baseados em descritores, que são aspectos de conhecimentos e habilidades que já deveriam estar plenamente desenvolvidos entre os alunos. Grupos de alunos são, então, definidos pelo conjunto de descritores em que têm desempenho mais problemático nas avaliações. Portanto, os testes identificam por onde começarmos o processo de recuperação desses conhecimentos e habilidades, com o acompanhamento dos alunos em suas trajetórias individuais, para que atinjam os objetivos de aprendizagem esperados para sua idade ou ano escolar. 

 Logo, no planejamento pedagógico e curricular desta iniciativa, consideramos as habilidades, enunciadas nos descritores, mais fragilizadas em cada grupo de alunos. Os materiais, assim, abrangem os conhecimentos e habilidades cujas lacunas podem explicar os problemas apontados pelos testes. No entanto, não se restringem a esse escopo: de fato, vão gradualmente avançando ao longo de percursos formativos que conduzam o aluno para o grupo seguinte àquele em que foi inicialmente alocado. 

 Para tanto, os textos e tarefas em que os materiais são estruturados ampliam o foco, em etapas progressivas, (1) dos conhecimentos e habilidades que devem ser recuperados (2) àqueles que preparam a passagem dos alunos a grupos de perfil mais avançado e próximo das suas etapas de aprendizagem.

Neste acompanhamento, mapeamos, portanto, os conhecimentos e habilidades da BNCC que sejam fundamentais, tanto para superar as lacunas apontadas nos testes, quanto para promover a aprendizagem dos alunos aos níveis que definem os grupos mais adequados a seu ano escolar. Considerando esse duplo objetivo, o caderno, geralmente, trabalha objetos de conhecimento prévios ou necessários, vários dos quais associados a anos anteriores ao ano escolar atual do aluno. No entanto, esse resgate é feito em contextos que sejam significativos e instigantes de modo que não causem, no aluno, a indesejável impressão de uma revisão superficial e desinteressante dos anos escolares pelos quais já passou. Um dos desafios, portanto, na elaboração desses cadernos é encadear conhecimentos fundamentais, mais básicos, ao longo de uma sequência de tarefas que, em complexidade crescente, possam ir contribuindo para a plena realização dos objetivos de aprendizagem esperados. Os elementos centrais de cada caderno são as tarefas. Por tarefa, entendemos algo mais do que uma questão estanque. Pensamos tarefas ou conjuntos de tarefas articuladas umas as outras de modo que, quando finalizadas, gerem evidências sobre as razões das dificuldades de aprendizagem ou a respeito das desejadas progressões que vocês possam ir observando ao longo das intervenções. Para facilitar a observação e registro de eventuais entraves ou progressões na aprendizagem, de modo personalizado, dispomos, ao fim de uma tarefa (ou sequência de tarefas) rubricas na forma de tabelas, em que enumeramos uma sequência, também em um crescendo de complexidade, dos objetivos de aprendizagem pretendidos em cada etapa da tarefa. Para cada um desses objetivos ou etapas, associamos três graus de consecução da etapa/objetivo: não realizada; realizada parcialmente; realizada plenamente. Nas entradas da tabela, descrevemos explicitamente o que significam esses três graus para aquela etapa ou objetivo específicos daquela determinada tarefa. 

 O registro dessas evidências é de fundamental importância tendo em conta várias finalidades, das quais a mais relevante é dar uma devolutiva visível, objetiva e formativa para o aluno, de forma individualizada. Esses dados serão, por óbvio, de inconteste utilidade para professores e gestores pedagógicos, como um relato consubstanciado, ricamente detalhado, dos avanços e eventuais retenções na aprendizagem dos alunos acompanhados. Por fim, nortearão o trabalho dos elaboradores e revisores do material quanto às finalidades e desenho pedagógico das tarefas. 

Além das tarefas, temos textos também com múltiplas funções: trazer contextos e motivações que confiram interesse e significado ao caderno; apresentar, de modo leve e objetivo, elementos de repertório conceitual e técnico na Língua Portuguesa ou Matemática, conforme o caso; motivar e abrir caminho para a tarefa ou sequência de tarefas que vêm a seguir. De qualquer modo, além dessas intenções, pretendemos fazer com o que o material seja autocontido, na medida do possível. 

Alguns trechos do material são comentários e notas que fazemos ao monitor, a título de uma orientação metodológica, em que ressaltamos lacunas e erros comuns entre os alunos; abordagens para o tratamento dos temas e problemas nas tarefas; enlaces e dicas de materiais, mídias, plataformas e aplicativos que subsidiem as intervenções e possam prover estratégias pedagógicas com maior interação dos alunos. 

A seguir, enumeramos os conhecimentos, habilidades e descritores considerados neste caderno

PARÂMETROS PARA ELABORAÇÃO E USO DO CADERNO 

Este caderno do material estruturado tem por finalidade a consolidação ou recuperação de conhecimentos e habilidades relativos aos seguintes tópicos: 

Procedimentos de leitura. 

Contemplamos, nos textos e tarefas, as seguintes habilidades da BNCC: 

EF15LP03 Localizar informações explícitas em textos. 

EF35LP05 Inferir o sentido de palavras ou expressões desconhecidas em textos, com base no contexto da frase ou do texto. 

EF35LP04 Inferir informações implícitas nos textos lidos. 

EF69LP05 Inferir e justificar, em textos multissemióticos – tirinhas, charges, memes, gifs etc. –, o efeito de humor, ironia e/ou crítica pelo uso ambíguo de palavras, expressões ou imagens ambíguas, de clichês, de recursos iconográficos, de pontuação etc. 

Os descritores das avaliações diagnósticas, relativos a esses conhecimentos e habilidades enumerados acima e que caracterizam aos grupos 1 e 2 de alunos são: 

Grupo 1 - Localizar informações explícitas em um texto. 

Grupo 2 - Inferir uma informação implícita em um texto. 

Resumo dos Objetivos de Aprendizagem do Caderno. 

Os objetivos das tarefas deste caderno é fomentar conhecimento para que o(a) aluno(a) seja capaz de localizar informações explícitas em textos de complexidade variada. Além disso, espera-se que ele/ela desenvolva as habilidades de inferir informações implícitas em textos verbais e em textos multissemióticos.

 Algumas Orientações Gerais para a Monitoria. 

No processo de acompanhamento personalizado da aprendizagem estruturado pelos textos e tarefas, o monitor pode adotar algumas ações em sequência: 

 Sondagem: o monitor deverá investigar o conhecimento prévio dos alunos, verificando o que trazem de conhecimento a respeito do assunto que será desenvolvido. Essa investigação é extremamente importante para situar o monitor sobre como começar a abordar o assunto. 

 Acompanhamento: o acompanhamento precisa ser constante, diário, se for possível. Uma maneira de fazer esse acompanhamento é solicitar ao aluno, por exemplo, que explique como resolveu determinada atividade, de modo que você possa entender as linhas de raciocínio do aluno e, sempre que necessário, ajudá-lo a buscar novas estratégias. 

 Verificação: após as atividades, é interessante solicitar aos alunos que expliquem seu raciocínio. O intuito, nesse momento, é verificar se as estratégias escolhidas estão sendo compreendidas ou se alguns alunos apresentam dificuldades que necessitam de alguma intervenção.

Interferência pedagógica: o acompanhamento e a verificação das aprendizagens podem indicar possíveis “falhas” no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Caso isso aconteça, pode ser necessário que as estratégias de ensino sejam revistas, o que demandará mudanças, às vezes bastante significativas. 

Retomada: é o momento em que todo o percurso poderá ser revisto, de modo que, em alguns casos, será necessário voltar ao planejamento, ou rever as rubricas e demais registros feitos pelos alunos e por você no decorrer das atividades, ou ainda excluir, incluir ou adaptar o que for necessário de acordo com as dificuldades que surgirem em sala de aula, entre outras decisões necessárias