domingo, 27 de novembro de 2022

A Oração Sacerdotal e a identidade da igreja - 2

    Jesus prossegue com os rogos ao Pai, desta vez roga por santidade. E define a palavra como referencial para a santificação.

   A verdade entra na vida do crente na conversão. Pela primeira vez, quem crê, obtém, por meio do Espírito, revelação de sua real condição perante Deus.

   Porque na conversão, a tristeza segundo Deus produz arrependimento, como afirma Paulo. E, pelo Espírito Santo, a palavra de Deus é compreendida e completa a obra de Deus em nossa vida.

   E Jesus é o modelo de santidade para a igreja. Ele afirma: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade." João 17:19.

   A igreja é resultado da oração de Jesus. Todos os que viemos a crer pela palavra entregue aos apóstolos, nós o somos por meio de intercessão do Filho. Como Jesus mesmo afirnou, fomos dados, pelo Pai, aos cuidados do Filho.

   E agora outro rogo de Jesus é que sejamos um. Essa é a principal definição de igreja. Porque, do mesmo modo que Pai e Filho são um, essa mesma comunhão nossa com o Pai, pelo Filho, define igreja.

   E será assim para que o mundo creia que Jesus enviou a igreja. E Jesus define os parâmetros dessa comunhão. Ele afirma: "...eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim." João 17:23.

    Jesus em nós, o Pai em Jesus, a igreja nessa unidade aperfeiçoada, reconhecida, no mundo, com autoridade e identidade, experimentada no amor, o mesmo amor do Pai no e pelo Filho.

   E mais uma vez Jesus menciona ser essa a glória da igreja, qual seja, manifestar essa comunhão, no mundo, testemunhar do Filho, como obra dEle e da obra que Ele, nela e por ela, realiza, manifestando o amor de Deus.

   Essa é a identidade da igreja. E Jesus termina a sua oração, ao mesmo tempo em que encerra o que tem a dizer, enseja o que fica a ser dito e a ser experimentado pela igreja em sua missão.

   A igreja transparece Jesus, indicando ao mundo que Ele foi por Deus enviado, sendo que a obra de amor que veio realizar, está manifesta nela, na igreja. Porque essa é a glória que ela reflete.

   Paulo na carta aos Filipenses indica com que motivação a igreja acolhe sua vocação. De modo geral, nas cartas da prisão, ele exorta a que a igreja reconheça essa vocação.

   Num desses trechos, ele afirma: "Se há, pois, alguma exortação em Cristo". Filipenses 2:1. Sim, a exortação que há em Crsito é que vai nos motivar, na construção, manutenção e efeito dessa vocação.

    E em toda essa perícope de continuação desse texto, na carta aos Filipenses, Paulo vai relacionar característica práticas marcantes da identidade da igreja. Até terminar, afirmando: "...para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai." Fp 2:10,11.

   Toda a língua confessar Jesus, para isso a igreja está no mundo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

A identidade da igreja em Colossenses - Final

   Entre outras abordagens possíveis, destacamos três aspectos que, na carta aos Colossenses, bem fundamentam a identidade da igreja.

  Relacionados às perícopes do texto, em Cl 1,13-23 e 2,8-15, o primeiro deles: 1. Fundamentos cristológicos; o segundo deles, em Cl 3,1-11: 2. Fundamentos de santidade; e o terceiro, em Cl 3,16-25: 3. Fundamentos de vida cristã.

1. Fundamentos cristológicos:
   Ao analisar, pelas palavras de Jesus, em At 1.8, que  igreja, no mundo, como sinal do Reino de Deus, recebe "poder do Espírito" para ser "testemunho de Jesus", ela precisa conhecer Jesus.

    E Paulo já define que o ministério pastoral é "apresentar os homens (e mulheres) perfeitos em Cristo", Cl 1,26-28. Portanto, compreender, pelos traços da carta, as afirmações sobre Jesus, é fundamental.

    1.1. Foi Deus, pessoalmente, quem nos libertou do "império das trevas" e nos "transportou para o reino do Filho do seu amor". Esse "transporte" é salvação. E como expresso por Jesus, no Evangelho de João, a missão dada ao Filho, pelo Pai, agora é a mesma dada a igreja. 

    1.2. Cristo é "imagem de Deus". Nele, a Pessoa do Pai e do Filho não se confundem, mas plenamente se identificam. Se Paulo exorta, na outra carta da prisão, em Ef 5,1-2, "ser imitadores de Deus como filhos amados" e "andar em amor como Jesus andou", somente pela comunhão em Cristo isso é pleno, e se constrói na igreja.

   1.3. Em Jesus Cristo fomos batizados e ressuscitados, completa-se a plenitude de salvação, com a derrota taxativa das protestades do mal, aqui e na carta aos Efésios descritas, sobre as quais Jesus é soberano. E somos apresentadas, diante de Deus, "santos, inculpáveis e irrepreensíveis".

2. Fundamentos de santidade:
   A igreja tem para si um modelo bíblico de ética. Não é por imposição a si mesma, porque, como até Colossenses aborda, impor-se regras não funciona. A ética cristã é fruto do Espírito.

   Não é para ser imposta à sociedade. Porque somente será compreendida, aceita e praticada no contexto da comunhão dos, assim chamados, santos, segundo Colossenses, assim legitimados.

   Mas santidade é obra pesada, de despojamento do "velho homem" (para homem e mulher) e revestimento do "novo homem", que incessantemente se refaz, "para o pleno conhecimento, segundo a imagem" de Jesus Cristo.

   Isso ocorre por esforço individual, na relação íntima e na luta interna contra a natureza carnal em cada um(a). Éramos escravos do pecado, como afirma Paulo aos Romanos, sob o império das trevas, mas somos agora libertos.

   Mas o pecado ainda é orgânico em nós. A faxina é diária. A luta de guerrilha acirrada. Fazer morrer a natureza carnal é sem anestesia. Cortar em nós é cortar de nós. Mas a vitória, mais do que vencedores, é garantida.

3. Fundamentos de vida cristã:
   Nesta parte final  Paulo vai mencionar aspectos práticos, que não significa dizer de automática valência, mas resultado consciente de tudo o que ele disse até aqui.

   A palavra de Cristo deve habitar organicamente em nós e na igreja. Jesus afirma que ela é que nos santifica. E prometeu e concedeu o Espírito Santo, para nos conduzir a ela, na compressão, no suporte para a cumprir e no testemunho autêntico dela, missão da igreja. 

   Se ela habita ricamente em nós, podemos construir a igreja como comunidade de instrução recíproca e mutualidade de aconselhamento.

   Paulo propõe, e já mencionou, que pecados de ocasião, como a maledicência, não mais existam, e que o perdão seja do mesmo modo como Deus o pratica.

   Interessante ele dizer que ainda há algo mais elevado, acima dessa prática, que é o amor, essencial à identidade da igreja, que ele denomina "vínculo da perfeição", definição de igreja. Do amor Jesus disse que é o mesmo com que foi amado pelo Pai e concedido à igreja.

    E alcança a vida prática, do culto, à vida familiar e a vida pública, afirmando que, desde o culto dosado, na congregação, com variedade de arte musical, lugar de destaque à palavra, até à própria índole diária, culto é racional, é dialógico, com a vida prática, e reflexo de vida autêntica.

  Identidade da igreja é a identidade de Cristo. A relação de Jesus Cristo com o Pai é o padrão. E a promessa real é concretização, no dia a dia, de nossa própria participação nessa relação, define igreja.

   A Trindade, Deus Pai, Filho e Espírito Santo, opera em nós. Esse é o principal absurdo da Bíblia, para quem não enxerga pelos olhos da fé.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A identidade da igreja e as Cartas da Prisão - 3

 

   A carta à igreja em Colossos, como Paulo a apresenta, delineia com nitidez o alcance da palavra de poder que Jesus legou aos apóstolos.

   Teata-se de carta manuscrita e em 4,7-18 ele menciona uma plêiade de portadores. Como é reconfortante ler esse trecho e viajar até essa época de pujança no evangelho.

   Sem Wi-Fi, silk-screen, WhatsApp, coisas que pensamos que, sem elas, nada seríamos anymore, Paulo manuscreve, ou seja, alguém faz por ele, porque anota ser a saudação final por seu próprio punho.

   Exorta a que seja lida na igreja coirmã de Laodiceia, e que a carta que lá receberam, seja lida aqui em Colossos. Como ele afirma convicto a Timóteo, "a palavra de Deus não está algemada", 2 Tm 2,9.

    E essa carta chega às nossas mãos. Enviada por um apóstolo preso, juntamente com aos Filpenses, aos Efésios e a Filemon, nesta contando com uma aula de amor, Paulo demonstra de modo prático o poder da palavra de Deus.

   A regra áurea da interpretação, portanto, deve se aplicar å leitura comparada das quatro. Paulo menciona que amar é "ser tomado de toda a plenitude de Deus", em Ef 3,19. Aos Filpenses, em Fp 1,9-19, exorta a que o "amor aumente mais e mais" porque, somente por essa meio, "aprova-se o excelente" de Deus e se porfia por ser "sincero e inculpável" para o Dia de Cristo, "cheios do frito (do Espírito) de justiça".

     Aos Colossenses, 3,13-14, afirma que devemos perdoar do mesmo modo que Deus, mas isso ainda não é amor, porque este reside um degrau acima e é o vínculo da perfeição, liame da comunhão e identidade da igreja.

    Já dissemos que na pequena carta a Filemon, para que receba seu escravo de volta Onésimo, o escravo fugido (agora liberto pelo evangelho, o poder de Deus, Rm 1,16-17), "não como escravo, agora como irmão", o trocadilho do nome, não mais inútil, mas agora útil, e como reforço da expressão da própria comunhão, identidade da igreja, que se configurou, em Cristo, na prisão, Paulo, então, aspira a que seja configurada no reencontro:

"...para que a comunhão da tua fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo." Fm 1,6. Vai com Onésimo o coração de Paulo: "Eu to envio de volta em pessoa, quero dizer, o meu próprio coração." Filemom 1:12.

    O caráter das cartas da prisão têm, entre si, outros trechos de identidade e reforço interpretativo dessa fase da vida de Paulo e reflexões dele em seu contexto de época. Na inspiração do Espírito, pelo milagre da providência de Deus, nós as temos conosco. Como ele mesmo diz a Timóteo, 2 Tm 3,16-17, "toda Escritura é inspirada por Deus" e única em habilitá-la para "toda a boa obra" de Deus.

  A seguir, em Colossenses, configuração de uma leitura que atende à identidade da igreja a ser preservada. Efésios, essencialmente eclesiológica, Colossenses cristológica, Filipenses reúne e reforça, de modo prático e direto, ambos os traços dessas outras duas e Filemom, com sua aula de amor.

   O efeito de lhes comparar as perícopes é extraordinário na habilitação da igreja em sua identidade, na revisão, profundidade e fixação prática permanente de seu conteúdo.

A identidade da igreja no diálogo de seus textos - 2

 

    A chamada regra áurea da interpretação bíblica é que Bíblia interpreta Bíblia. O diálogo com os textos bíblicos, assim como o o diálogo texto a texto é o primeiro passo para os demais procedimentos de interpretação.

   Podemos fincar pé na oração sacerdotal de Jesus, Jo 17, entre outros trechos do Evangelho de João, para checar os principais fundamentos da igreja, diretamente relacionados a sua identidade.

   Ela se configura na busca pela identidade com o Pai. E há reflexos dessa interpretação nas cartas paulinas, por exemplo, quando escreve aos Efésios em 5,1-2a:

    "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou". Por João 15,10, em sua exortação sobre o amor, Jesus afirma outro fator de identidade da igreja:

    "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço." A igreja é aquela que permanece no amor de Jesus, do mesmo modo que Jesus permanece no amor do Pai. E Deus é amor, 1 Jo 4,8.

    E em Jo 17,20-21, Jesus afirma ser decisivo para o testemunho da igreja no mundo a comunhão que o Espírito promove. A igreja é uma construção do Espírito em nós, obra aperfeiçoada pelo próprio Deus, em Pessoa, Fp 1, 6. A Trindade opera na igreja e pela igreja.

    "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste."

    Aqui Jesus intercede pela comunhão, junto ao Pai. E afirma três aspectos dela em sua oração: 1. Igreja é a fim de que todos sejam um; 2. O modelo dessa comunhão é dado, do mesmo modo que Jesus e o Pai têm comunhão; 3. E termina afirmando que igreja é comunhão com o Pai, pelo Filho, privando dessa comunhão no e como no Pai e no Filho.

    A identidade do testemunho da igreja no mundo somente vai se configurar se essa notável comunhão for genuína, promovida pelo Espírito, refletida na ação de Deus Pai, Filho e Espírito Santo na Igreja. Esta é a construção sobre a "pedra angular", Jesus, à qual Pedro se refere, 1 Pe 2,5-10.

   É pela comunhão que a igreja exerce entre si, pelo Pai, por meio do Filho, na plenitude do Espírito que é, como Paulo afirma, em Ef 3,16-18, que o mundo vai reconhecer Jesus Cristo nela operante:

     "...para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade."

    A identidade da igreja, portanto, também sigfica o testemunho que dá a respeito de Jesus Cristo. Retornando a João 15,26-27, lemos: "Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio."

   O Espírito dá testemunho juntamente com a igreja. Em Atos 5,32, os apóstolos afirmam isso: "Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem." O Espírito legitima o testemunho da igreja, age nela e por ela, por meio dEle, Cristo habita em nós.

    Em Atos 1,8 Jesus define a prioridade e missão da igreja, consequentemente sua identidade como testemunha de Jesus: "...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra."

   E Jesus o faz, contrapondo a agenda da igreja à dos apóstolos, que julgavam legítimo pedir libertação política para Israel do jugo romano. Advertência para o erro clássico que, desde Constantino, imperador romano do século IV, atrelou a igreja ao governo humano.

    Bajular o governo humano, elegê-lo como alvo de prioridades para si mesma, ambicionar dividir com ele o poder humano, tentação com que Satanás sugeriu a Jeusus reinar sobre o mundo que, ao contrário do afirmado, não pertence, mas jaz no Maligno.

   Jesus venceu essa tentação e manteve Sua agenda. A igreja tem sua agenda. A agenda da igreja é sua identidade com Jesus e a urgência do ministério a realizar. Em João 17,10-11, Jesus afirma, com referência ao Pai: "...ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós."

   Portando, a igreja tem recebido do Pai, por meio de Jesus, tudo o que supre sua identidade e ministério. Pertence ao Pai, Jesus é mediador e alcança a igreja. A igreja tem agenda própria: cumprir no mundo a missão que o Pai legou ao Filho, inacabada, com autoridade de Jesus para a completar.

    A identidade da igreja reside na vivência do amor e no exercício da comunhão, para o testemunho de Jesus. A igreja tem uma missão. A igreja tem no mundo uma agenda. A Bíblia configura para ela essa verdade.

A identidade da igreja e a Bíblia - 1

 

  Fatores externos, assim como internos afetam a igreja na luta por manutenção da sua identidade. A Reforma Protestante, há 505 anos, foi um exemplo marcante e uma guinada história na recuperação dela.

    Pois até a Igreja Católica, de onde ocorre a ruptura, em busca da identidade, admite argumentos de Lutero. Como o seguinte, "Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est” (Igreja reformada sempre se reformando), com o qual devemos concordar, argumento este que não pode ser abandonado.

1. Um dos primeiros fatores, este interno, do qual a igreja não pode se afastar, e foi a principal causa e alavanca da Reforma, é a fidelidade às Escrituras. Esta fidelidade não pode, apenas, ser afirmada, mas vivida.

   Dizer da Bíblia que é inspirada pelo Espírito, "homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", 2 Pe 1,19-21, só se torna válido para a Bíblia aberta e em uso. É fundamental o conhecimento dela, sua vivência prática e espiritual e a pregação. Assim Deus instruiu Josué, que o pôs em prática, Js 1,7-8.

   Paulo a Timóteo, que segue, segundo testemunha o próprio apóstolo, seu exemplo, faz recomendações semelhantes, 2 Tm 3,10-11 e 16-17. Josué foi, em relação a Moisés, o que Timóteo representou para Paulo. Ambos ancorados nas Escrituras. A igreja atual dispõe do púlpito, das escolas dominicais, que M. Porto Filho denominava "a escola da igreja", e do estudo bíblico.

   Como vêm senso priorizados? Púlpito inteligente, com suporte dado ao pastor? Igreja atenta e sedenta, com o espaço e qualidade da mensgem preservados? Estudos bíblicos frequentados na mesma porcentagem do culto dominical?

   E a escola dominical? Falida? Alguém pensa numa outra opção? Sim, até a escola tradicional, pública ou privada, em escala diferente, estão em crise. Mas alguém pensa em fechá-las ou em aperfeiçoá-las? Pois a quantas vai a escola da igreja?

   Não basta. Como está a vivência da famiia com a Bíblia em casa? Cultos Domésticos estão fora de moda? A Bíblia, como nos foi tradicionada, apela à imaginação. O seu próprio texto tem sido atacado pela tradição de teologia liberal, há 100 anos vigente.

   Esse descrédito pelo aspecto histórico do texto, milagroso e de autenticidade da autoria e tradição manuscrita foram postos em questão. Há resposta à altura, por uma apologética consciente e consistente, por parte da igreja? Ou falta å igreja esse conteúdo? Como a igreja terá acesso a essa defesa?

    Época da igreja iniciar campanhas por bibliotecas. Época para promover clubes de leitura. Aprender a explorar com inteligência crítica os recursos da Internet. Porque não será supervarizando-a ou sobrecarregando-a de informação "evangelista" que vai cumprir o seu papel e missão identitária no mundo.

    Mas no contato pessoal. Jesus era homem do contato pessoal. Homem da rua. Discorria do reino para todo o nível social de pessoas. Convocou pescadores da classe de Pedro e André, que somente tinham redes, e Tiago e João, filhos de um empresário da pesca, Zebedeu.

    Chamou zelotas radicais, como Simão, que acreditava na força e na guerrilha contra Roma, e o colaboracionista Judas Iscariotes, amigo de judeus influentes, ligados a Roma, entregando Jesus a eles.

    Chamou ex-curruptos convertidos, como Mateus, entre outros menos conhecidos ou mencionados, como Tedeu, Natanael e Tiago, chamado Menor, mas todos embriões da igreja que somos, tendo aprendido e sendo exortados ao apego à palavra, com Jesus aprenderam missões, "apóstolo" significa quem é enviado, deram continuadade ao ministério do Mestre, como Atos testemunha de uma igreja "perseverante na doutrina dos apóstolos".

     Jesus era homem das ruas. A igreja está fora das ruas. A igreja está distante das Escrituras. A igreja está apática ao mundo. Em que proporção ela tem cumprido o seu ministério?

domingo, 13 de novembro de 2022

A Oração Sacerdotal e a identidade da igreja - 1

"Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti", João 17:1.

    Jesus se dirige diretamente ao Pai. Por isso a chamamos de oração. E será sacerdotal, na medida em que, como num relatório de sua missão, realiza pedidos pela continuidade dela.

    Como tem diante se Si a cruz, roga ao Pai que seja com Ele nessa suprema hora. E encara a cruz como decisiva, tanto para a Sua glorificação, que será vencer, assim como para a do Pai, que tudo nela deposita como expectativa.

    Na cruz, definitivamente, céus e terra, regenerados, se encontram. Como diz o autor de Hebreus, tudo o que o céu herda, por ela é santificado. Nos dois versículos seguintes Jesus resume sua missão, até ali, cumprida, já com  a certeza da vitória na cruz, que a legitima.

    Jesus afirma que, pela autoridade recebida do Pai, já havia conferido vida eterna a todos os que o próprio Pai lhe havia concedido. E declara o que seja vida eterna: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." João 17:3.

    E volta a mencionar o sentido do que seja a glorificação do Filho e do Pai: a obra realizada pelo Filho glorifica o Pai e agora, diante da cruz e da vitória nela, o Filho será restaurado à glória que sempre teve.

   E como tática reincidente do evangelista João, ele vai esmiuçar, com detalhes, essa obra realizada e completada por Jesus em sua missão, qual seja:

1. Ter manifestado aos que do Pai recebeu, aos seus cuidados como Filho, o nome do Pai, ou seja, a identidade do Pai, por meio da Palavra que eles têm guardado;

2. Pois a essa altura da missão, têm reconhecido a identidade entre o Pai e o Filho porque, tendo recebido a palavra de Jesus, acolhem a palavra e creem que Jesus provém do Pai, enviado por Ele.

    Então, nessa altura de sua oração, Jesus passa a rogar por eles, primeiramente aqueles apóstolos, assim como por toda a igreja, e isso nos inclui. E se configura não somente a identidade do Filho com o Pai, mas a nossa identidade com eles, e isso se chama igreja:

    Jesus, ao mencionar: "...ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado", Jo 17:10, reparte com a igreja tudo o que recebeu do Pai e arrisca-se a afirmar que nela será glorificado.

   O primeiro rogo do Filho é guardar, no nome do Pai, os que ficam no mundo, já definindo sua identidade, "para que eles sejam um, assim como nós", v. 11c.

   Jesus argumenta que, enquanto presente entre eles, no nome do Pai, concedido ao Filho, foram guardados, protegidos e não houve perdição, exceto para o filho da perdição, segundo consta nas Escrituras.

   Perdição não é determinação das Escrituras, nem do Pai e nem do Filho. Perdição é não aceitar o nome do Pai e nem do Filho, não aceitar a glória do Pai e nem a do Filho e, principalmente, negar para si mesmo a cruz do Filho, a única a dar acesso ao nome e à glória desse nome.

    Jesus especifica do que guardar: do mal que, como Ele mesmo, a igreja vai enfrentar no mundo. Precisam se alegrar, porque vão assistir à morte, ressurreição e retorno de Jesus ao Pai. E porque, tendo acolhido a palavra de Jesus, quanto maior sua identidade com Ele, mais serão odiados pelo mundo.

    "Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo." João 17:15-18.

   Jesus argumenta com o Pai:
1. A igreja não é para ser tirada (ou se retirar) do mundo;
2. Deus guarda a igreja do mal (a não ser que perca a sua identidade de ter o Pai - e o Filho - como pastor);
3. A igreja não é (nem deve buscar ser) do mundo (como Jesus nunca o foi) mas está no mundo, para dar continuidade à missão de Jesus Cristo;
4. A igreja deve se permitir ser santificada pela palavra de Deus, este é um rogo de Jesus;
5. A igreja é enviada ao mundo por Jesus, do mesmo modo que Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai: o mesmo envio, a mesma identidade.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

O mal e o trauma da cruz

    Deus é relacional. Muito provavelmente, por isso, criou o ser humano. Porque amor não se vive, nem como Ser eterno imutável, em solidão.

   Relação é o ponto nevrálgico da existência divina. Nervo exposto. Sua encarnação também atende a essa necessidade. Deus se faz homem, por um pouco menor do que os anjos, como diz o texto.

   Por causa da morte. Anjos não morrem. Mas sim o ser humano. Morrem e também matam. Por isso Pedro afirma que, com relação a Jesus, mataram o autor da vida.

   Duplo exagero de Pedro, supervalorizando Jesus e super depreciando a condição humana, como um generalista. Ou então, uma dupla análise exata.

    O crime contra Jesus assinala bem do que é capaz o ser humano. E uma vez confiando-se na descrição dos Evangelhos, ao final, ninguém quis assumir a culpa.

   Se perguntarem a Pilatos, representante do poder romano, lavou suas mãos. Se perguntarem ao staff do templo, saduceus e seus cúmplices do Sinédrio, os fariseus, ambos não assumem e dirão que entregaram a Roma um conspirador.

   Pelo que a Bíblia diz, Jesus é mais do que somente um exemplo de conduta a ser imitado. Sua cruz é antídoto contra o mal. Este não tem sua origem bem definida. Mas seus efeitos, com todos os requintes, bem tristemente conhecidos.

    Sacrifício central nas Escrituras, profecia no Antigo Testamento e ponto central do Novo, a crucificação, permitida por Deus é, a um só tempo, prova definitiva de amor, assim como a que atrai a si qualquer possibilidade de remissão.

   Caso seja reconhecida, indivíduo a indivíduo, a dimensão do mal e surja, na condição humana, real desejo e carência por arrependimento, a única possibilidade de redenção decorre da cruz.

    E ainda essa consciência da dimensão do mal somente é concedida por Deus. Ele, pessoalmente. Paulo Apóstolo afirma que a "tristeza segundo Deus produz arrependimento". Não há outra natureza de sensibilização para o problema do mal.

   Pode ser discutido, definido, apontado por critérios variados, sejam até cientificos, caso se queira indicar essa modalidade como a mais provável para definir. Do Iluminismo para cá tudo é ciência.

    Mas o conceito de mal aqui é o bíblico. Não se difere do diverso. Aliás, confirma-o. Mas a solução que requer, definitiva, é bíblica, com exclusividade.

    Para o antídoto contra o mal, em todas as suas manifestações, somente a cruz. E as Escrituras também indicam que essa solução não se restringe a essa existência.

    E para que ela se manifeste, ou seja, a solução, a morte não se constitui em obstáculo, assim como não assinala o fim. A morte física, para a Bíblia, é uma descontinuidade. Para além dela há vigência do trauma da cruz.

    Vai se manifestar a cura de todo o mal, na ressurreição, assim como o juízo, para o mal que rejeitou cura. Sim, porque, como denuncia Jesus, "de dentro, do coração humano, é que procedem os maus desígnios".

   Mal tem nome e sobrenome. Vitória sobre o mal também. E o nome dela é Jesus Cristo. Melhor se prevenir nEle e com Ele.

   Porque em Jesus, batizados, ou seja, com Ele unidos, na morte e ressurreição dEle, reside o antídoto para o mal na carne, ou seja, na condição física do ser humano.

   NEle, como dizem as Escrituras, morre o ser humano do pecado e ressuscita o ser humano da justiça que vem pela fé no nome de Jesus Cristo.

    Para banir o mal, em todas e em cada configuração, somente contraposto o trauma da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 6 de novembro de 2022

Jesus, o exegeta do Espírito

 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. [...] Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito." Jo 14:16,17 e 25-26.


    Podemos nos referir a Jesus cono o exegeta do Espírito, ou seja, aquele que descreve quem é o Espírito Santo e qual será o seu ministério nos salvos.

   Não há, nas Escrituras, ninguém que revele, com maior exatidão, quem é o Espírito Santo e como vai agir na igreja. Na conversa íntima com os apóstolos, no contexto da última Páscoa, ao instituir a Ceia do Senhor, Jesus apresenta aos apóstolos essa, assim chamada, terceira Pessoa da Trindade.

    Pelo menos, em linhas gerais, três atribuições da identidade do Espírito, Jesus apresenta nos capítulos 14, 15 e 16 do Evangelho de João.

1. O Espírito Santo é aquele que nos ensina todas as coisas, Jo 14,25-26:

   Com a mesma autoridade de Jesus. O Espírito tem acesso a tudo o que o Pai e o Filho têm e compartilham, Jo 16,13-15. Por isso Jesus pode afirmar, sobre o Espírito, o que afirma sobre Si mesmo.

   Assim como disse que está conosco todos os dias, até a consumação do século, Mt 28 20, afirma que o Espírito Santo está conosco e está em nós. Para Paulo, em Ef 3,16-17, é dessa forma que Cristo habita em nós.

   E do mesmo modo que Jesus é Mestre, Jo 13,13, e o próprio Jesus afirma que Deus ensina, Jo 6,45, também o Espírito nos ensina, sem perda ou acréscimo.

    Muito interessante notar que esse era o principal mistério do Espírito na congregação do deserto, o povo de Israel, em toda a época em que Deus com ele trabalhava para que cumprisse sua vocação, Ex 5,19-20. Neemias, em sua oração de confissão, destaca esse ministério, Ne 9,19-20.

2. O Espírito Ssnto testemunha e dá testemunho de Jesus, Jo 15,26-27:

    A principal missão da igreja, At 1,8. Os apóstolos desejavam, e esse é um equívoco recorrente, que Deus interviesse para resolver o problema político de submissão de Israel a Roma.

   Jesus reforçou a natureza de reino de Deus, sobre o qual havia falado nos 40 dias entre a ressurreição e a ascensão, At 1,1-3, indicando que cabia a igreja testemunhar Jesus.

   Esse intervalo de tempo é escatológico, Mc 1,14-15, e a identidade da igreja pode estar associada à rejeição dela, do mesmo modo como Jesus foi rejeitado, Jo 15,24-25, e como ocorre com a igreja em At 5,32 e 40-42.

   Mas não do modo como ocorre nos dias de hoje, sem autenticidade expressa, nem defesa ou apologia dela, e ainda envolvimento espúrio com a política.

3. O Espírito Santo é aquele que guia a toda a verdade, Jo 16,12,15:

    Para que Jesus pudesse dizer que é, para nós, caminho, verdade e vida, precisou indicar o Espírito Santo como aquele que permite que essa verdade se cumpra em nós.

    O Espírito guia a toda a verdade, e essa verdade é Jesus, ele glorifica Jesus, o Espírito nos vivifica, como afirma Paulo em Rm 8,11, assim como Jesus já afirmou que Ele está em nós, daí estarmos no caminho.

    O Espírito nos atende em nossa santificação, pois a nossa luta contra o velho homem somente acontece em parceria com Ele, Gl 5,16-17, assim como o amor de Deus somente em nós é derramado por meio do Espírito, Rm 5,5.

   E é o Espírito que permite à igreja edificar a si mesma, na harmonia e suprimento dos dons, 1 Co 12,4-7. Fica bem claro que não há, sem a mediação do Espírito em nós, fundamento e efetividade da identidade e ministério da igreja.