domingo, 17 de setembro de 2017

O seguimento de Jesus 1

        Definitivamente, após contato com Jesus, não dá para sair igual, seja para o bem, seja para o mal.

       À samaritana Jesus pediu que fosse buscar o marido. Ela poderia ter dito: "está bem, espere que já volto". Mas preferiu ser sincera. Saiu do encontro convertida a Jesus.

       O jovem rico, dublê de gente boa, chamou Jesus de "bom Mestre". E Jesus, sempre polêmico, disse que não existe bom, a não ser Deus.

         E simulou um teste, dizendo ao jovem que abrisse mão de toda a sua riqueza e se tornasse discípulo. Perda total. Renúncia de si mesmo.

        Mas, para aquele jovem, sua riqueza valia mais do que o seguimento de Jesus. Saiu do encontro o mesmo de antes, não convertido a Jesus.

       Não dá para "aceitar" Jesus e continuar sendo o mesmo. Não dá para continuar igual ao que antes.

       A própria razão da morte violenta de Jesus é que ele não foi, todo o tempo, uma unanimidade. Não dá para defrontar Jesus, sem perda total.

     Nada a ver. Há muitos hoje querendo encarar conversão a Jesus de modo reducionista. Seja você mesmo, seja autêntico, embrulha e manda: Jesus te engole.

     Não é o que a Bíblia diz. Aliás, o Livro diz que Jesus vomita. Isso não é fundamentalismo. É fundamento. Favor não confundir.

     Ou se perde tudo. Ou morre-se e ressuscita-se em Cristo. Ou se renuncia a si mesmo e ganha-se Cristo.

      Ou, uma vez defrontando-se com Jesus, sai-se do encontro não convertido a Jesus. Sai o mesmo. E não será para o bem.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Tentação

         Considerando, para Cristo, luta íntima intensa contra as sugestões feitas por Satanás, Jesus enfrentou, internamente, três principais tentações.

        O conflito interno do homem Jesus referiu-se a (1) acreditar que tinha superpoderes, para realizar qualquer milagre na hora que bem entendesse, principalmente para suprir suas humanas limitações, usando e abusando do mandado divino;

        (2) realmente acreditar que Deus teria a obrigação de lhe poupar a vida, livrando-o de toda e qualquer ameaça de que, humanamente, pudesse ser alvo: definitivamente, não correria nenhum risco;

        (3) acreditar que poderia, duma vez, dar jeito no mundo, assumindo autoridade estranha a si mesmo, supondo mesmo que seria capaz de governar o mundo com "justiça", de modo atabalhoado, em conflito aberto com o Pai.

       A reação de Jesus a essas tentações marcam Sua identidade como o único que venceu satanás, diferentemente do casal primordial, no Éden. Tal vitoria, como marco inicial de Seu ministério, predispôs Jesus a cumprir Sua vocação.

      Milagres de Jesus nunca estiveram a serviço dEle mesmo, porém realizou-os em total submissão ao Pai. Constituíam-se num sinal da presença do Reino de Deus no mundo, assim como era referendo de que era apóstolo de Deus no mundo.

      Não tinha seguro total, como se o Pai tivesse obrigação de lHe preservar a vida. Jesus já conhecia os textos do Antigo Testamento, a Bíblia de seu tempo, suficientemente para atribuir a Si mesmo os que indicavam o sofrimento e a rejeição de que seria alvo, até a morte.

       E para Ele, o principal problema do mundo era destruir o mal em seu nascedouro, porém preservando homem e mulher, portadores por excelência do pecado. Portanto, não lHe impressionou ser tentado a governar o mundo, solução superficial para o momento, porém direito Seu inalienável.

       Tentações-modelo vencidas por Jesus, as mesmas aplicadas à igreja, que pensa que pode requerer autoridade para milagres, na hora em que bem entender, ou que pode aspirar a governar o mundo, a pretexto de sua suposta posição diante de Deus.

           Ou se ainda pensa julgar-se a si mesma ser invulnerável, como se fosse blindada por Deus, tornando-se pivô dos seus próprios caprichos, apta a encarar o que elege para si mesma como prioridade e falsa marca de seu triunfalismo.

        Como diz Paulo Apóstolo, se Cristo tem uma glória, essa é a igreja que, por sua vez, se também a possui, Jesus é essa glória. Daí a equivalência em prova de autenticidade compartilhada entre Jesus e sua igreja. Vitórias de Cristo são nossas próprias. Assumamos. Porém, no poder de Jesus, não nos deixemos persuadir em nada por satanás, uma vez que, constantemente, somos por ele tentados.
     

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Laodiceia

      Já esta é a igreja a que nenhuma outra deseja ser comparada. Mas atentem para o fato de que a vitória reserva uma promessa inédita, assim como impensável em sua exclusividade: "Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono".

     A nenhuma outra igreja houve promessa de um destaque exclusivo e inédito como esse, atributo único do Pai e do Filho, somente aqui indicado como concessão.  Aqueles crentes, definitivamente, haviam-se tornado intratáveis (e intragáveis). Não há meio termo no Reino de Deus: ou verdadeiramente dentro, ou obviamente fora.

    Eram crentes nominais que, ao invés das três virtudes reunidas pelos filadelfos, boas obras, apego à palavra e amor, uma quadra de vícios os definia como miseráveis, pobres, cegos e nus. Buscavam honra humana, enquanto Jesus lhes sugeria, como compensação, suprir sua falha com equivalentes recursos que lhes restaurassem a dignidade.

     O Senhor da igreja tinha os antídotos: ouro, que suprisse sua pobreza; vestes, que cobrissem a sua nudez; e colírio a fim de, reastaurada a visão, avaliassem sua real condição. A riqueza com que Deus nos supre, após a condição de nudez que nos persegue desde a perda do Éden, proporciona readquirir, em Cristo, o valor usurpado pelo pecado.

     Quem nos permite enxergar essa real condição é o Espírito. E nos é natural, como fez o primeiro casal, fugir do cara a cara com Deus, assim como não querer admitir a nossa culpa. Daí a tentativa de se esconder, simulando fuga, mentindo para si mesmo e para Deus.

    E nem sabes. Porém Cristo reúne expedientes de Sua graça, por meio da palavra que expõe seu amor incondicional: sempre disciplina a quantos ama, como indica Hebreus, apontando para a perfeita disciplina que procede diretamente de Deus. Portanto, propõe o zelo com que, diligentemente, deve-se buscar o lugar do arrependimento.

      Então Jesus sugere outra promessa, talvez a mais íntima entre todas as descritas até agora, qual seja a de, por convite voluntário, ser aceito no lugar onde, para os que ouvem e guardam Sua palavra, Pai e Filho habitam - eis que estou à porta e bato - segundo João Apóstolo ensina, o coração daquele que crê: "viremos para ele e faremos nele morada".
   
     Não há, para Jesus, grau de condição lastimável que não desperte Sua empatia, por efetiva restauração. Não há, em contrapartida, limite para a simulação do ser humano, em sua tentativa de comprar, por moeda sem valor o que, em sua mesquinha concepção, supostamente considera compensador.

      Privar, sim, do amor de Jesus, da comunhão em Sua intimidade, assim como sentar, no trono celestial, em companhia do Pai e do Filho, com os quais se privou morada nesta vida, é literal promessa e plena vitória. Real e nada figurativa a riqueza do Pai, a qual deseja, permanente e ansiosamente, repartir conosco.
Filadélfia

     Toda e qualquer igreja queria ser como esta, que nem as portas do inferno contra ela prevalecem, segundo a definição do que Jesus indicou que representa a autoridade a elas delegada.

     O ser humano faz confusão entre poder e autoridade, como Pilatos, diante de Jesus: ele disse ter poder, Jesus lhe mostrou a diferença, em relação a ter autoridade. Talvez entre as sete, fosse esta a menor de todas. Mas nem era pelo tamanho, mas por essência mesmo que, independentemente do seu tamanho, uma igreja apresenta (ou não) autoridade.

      Jesus menciona, com relação a ela, aprovação nas verdadeiras obras, fruto de fé autêntica, perseverança em guardar a palavra e ser alvo e reflexo do amor de Jesus. Não bastava mais nada. Diante dela, se uma porta se abrisse, ninguém fecharia.

    A pouca força é outra característica. A excelência do poder, a suficiência é toda de Deus. Ele mesmo esvaziou-se a Si mesmo, fez-se homem, servo em dependência total. E, como diz o autor de Hebreus, aprendeu a obedecer pelas coisas que sofreu.
 
     Esse mesmo anônimo autor aponta no texto que, por fé, da fraqueza se tira a força. E aqui residia toda a virtude daqueles crentes. Independentemente do tamanho da igreja, segundo a equivocada visão humana que costumamos ter, sua força  reside no poder de Deus.

     Por isso Jesus só teve elogios para essa igreja. Não que fosse perfeita, pois toda igreja é santa e pecadora. Mas atinavam com a essência do poder, que emana de Deus, granjearam autoridade em Jesus e reconheciam suas limitações, aprendendo a andar unicamente por fé.

     Como ensina Paulo Apóstolo, ser igreja é estar crucificado com Cristo, não sendo nós próprios a viver, mas Cristo viver em nós, em plena indentidade e andar senão por fé. Essa igreja, em sua força, vivia isso. Basta à igreja viver isso.

    Atualmente assistimos ao triste espetáculo de grande parcela de igrejas aspirar ao poder que não vem de Deus: desejam poder político, financeiro e, o que é mais ridículo ainda, presumem ter poder "espiritual". Trata-se da mais completa fraude, arremedo de Reino de Deus.

     Jesus afirma aos de Filadélfia que não negaram Seu nome. Um conjunto de atitudes, demonstrado por aqueles crentes, permitiu definir essa igreja como perfeitamente identificada com Jesus. Como afirma Paulo Apóstolo aos tessalonicenses, o nome de Jesus é glorificado em nós e nós glorificados no nome dEle: isso também, em essência, é ser igreja.

   

terça-feira, 11 de julho de 2017

Sardes

    O que se pode dizer como um paciente terminal. Mas havia vida e gérmen de resistência no seio dessa igreja. O mesmo remédio que podia salvar Éfeso, arrependimento, é sugerido por Jesus a esses crentes.

     Uma igreja que vivia de aparência: nome, vistoso, de vivo mas a realidade era o inverso. Obras não somam para a salvação, mas quando autênticas, são indicador de fé verdadeira. As que a igreja praticava, eram sintoma indicativo de seu estado terminal.

    Paulo Apóstolo diz aos tessalonicenses que nenhuma igreja e crentes sadios serão apanhados desprevenidos quando da súbita chegada de Cristo em sua segunda vinda. Mas os desta igreja haviam perdido sua identidade e seriam surpreendidos como qualquer incrédulo.

    Jesus adverte que qualquer igreja esteja atenta para o que recebeu e ouviu como, de novo, Paulo falou aos coríntios: o que tenho recebido e ouvido vos tenho transmitido. Quem tem ouvidos para ouvir...

    O padrão de avaliação para esta igreja está relacionado aos dois modos de abordar fé e obras: Tiago o fez com aproximação pelas obras autênticas, para chegar à fé verdadeira; Paulo fez aproximação pela fé verdadeira, para que, decorrência natural, sugissem suas obras, vistosas e perfeitas, aos olhos de Jesus.

     Um restante não se havia contaminado. Sua marca diferencial eram vestes brancas de um sacerdócio real, como agora é Pedro Apóstolo que destaca. Uma contaminação da fé não permite que verdadeiras obras, de um sacerdócio real que agrada a Jesus, apareçam.

    Como observou Paulo a Timóteo, uma fé sem fingimento, que o jovem pastor trazia consigo, herança de duas mulheres que o precederam, permite discernimento para que nenhum contágio contamine a vida da igreja.
Tiatira

      Parecem os tessalonicenses do tempo de Paulo Apóstolo, indicados como quem tinha amor abnegado, fé operosa e firme esperança. Esses crentes enfileiravam amor, fé, serviço, perseverança e boas obras, todos os indicadores de uma igreja viva e operante.

      Mas lhes faltava iniciativa para pôr freio a uma falsa profetisa que, por similaridade, como no caso pregresso de Balaão, aqui foi chamada Jezabel, heroica ao inverso no Antigo Testamento.

     Essa mulher granjeou fama e fez escola, muito provavelmente liderando uma turma que, além de preservar consigo elementos de sua religião pagã anterior, certamente não eram verdadeiramente convertidos, por ainda também conservar, entre si, práticas mundanas.

     Mesmo assim ganham tempo para que se arrependam o que, segundo a Bíblia, significa ser induzido por uma "tristeza segundo Deus" a qual, certamente, conduz ao verdadeiro arrependimento que produz salvação.

      Jesus vai interferir de modo a deixar claro para as demais igrejas, já que cada uma serve como parâmetro a todas as outras, de que pode prostrar todos os seguidores dessa falsa "pastora".

      Muitas vezes, como nessa igreja, outras mais fogem do confronto com más lideranças que surgem em seu meio, preferindo um ajuste político de "boa vizinhança". A principal desculpa é tolerar desvios de conduta, para não perder "ovelhas". Vivemos um tempo em que quantidade e não qualidade conta muito.

     Jesus exige confronto com a verdade, e não confronto por força ou violência, contrário ao Espírito, como diz Zacarias, profeta. Essa mulher havia conquistado espaço de ensino, sedução e prática em meio aos irmãos.

       Não por ser, precipuamente, mulher, o que até era inusual para a época. Porém por ser liderança negativa que, deixada por sua própria conta, comprometia uma parcela acentuada de um grupo em tudo enriquecido por virtudes do evangelho, porém acovardado diante da relevância às avessas conquistada pela falsa profetisa.

     Eles precisavam do mesmo avivamento por que passou Elias, deprimido, intimidado e acovardado em Horebe, onde havia se escondido da Jezabel histórica. Deus o reanimou, trazendo-o de volta ao contexto de sua vocação. Jesus coloca essa igreja diante desse mesmo incentivo, por meio de uma grave advertência.
Pérgamo

      Uma igreja que fazia concessões. Agir desse modo descaracteriza, torna-se perda de identidade. Que tipo de concessão, hoje, individual ou coletivamente igrejas estão se permitindo fazer?

      Neste caso, são mencionadas doutrinas danosas no seio dessa igreja, que competiam com o que Paulo Apóstolo denomina "sã doutrina". Talvez contaminação por religiões de mistério, tão comuns na sociedade da época, aqui caracterizadas pelo estilo Balaão de se deixar corromper por interesses escusos. O fato era que Jesus estava contra tais práticas.

      Reconhecidamente, não era fácil o contexto social daqueles irmãos, caracterizada a cidade como "onde está o trono de satanás", muito provavelmente, entre outras, a religião oficial do culto ao Imperador de Roma, obrigatória, fascinante e tremendamente influenciadora.

     Mas essa pressão de fora para dentro da igreja não era justificativa para que ainda outro grupo distintivo, pouco identificado, dos nicolaítas, fosse tolerado, ao lado do anterior, uma segunda falsa doutrina acolhida clandestinamente, de influência negativa entre os irmãos. Revelava simpatia pelo que é "vã filosofia", despreparo e covardia para dizer não, provavelmente a gente influente dentro da igreja.

     Os aspectos positivos dessa igreja não compensavam a indiferença com relação aos dois grupos de falsa doutrina, independentemente do grau de relevância que tivessem. E a corrupção interna e pressão sofrida de fora são caracteristicas permanentes de enfrentamento para cada igreja em todas as épocas.

    De qualquer modo, o problema de Pérgamo, na visão do Senhor da Igreja, foi posto: doutrinas que contaminavam a saúde que somente a sã doutrina proporciona à igreja, contra as quais o próprio Jesus se colocava impediam, internamente, que tivessem autoridade para fazer frente às pressões de fora para dentro. Traços indicativos que caracterizam o embate atual de qualquer igreja.

   

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Esmirna

       Apresenta reação e recebe promessa de Jesus porque resiste à principal característica que acompanha a igreja, esboçada nos tempos do Novo Testamento, e presente por quase 200 anos seguidos: a perseguição.

      "Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos", afirma Paulo. Característica tão distintiva do evangelho na vida do cristão era a marca da identidade dessa igreja.

      Notar que, nesta igreja, resistir a perseguições era autêntico, enquanto que, na anterior, era mais um sinal de presunção. Outra nota que distingue, em oposição, esta igreja da anterior, era sua pobreza. Notar que, consequentemente, sua riqueza era traço de autenticidade.

      Não quer dizer que, como costumamos avaliar, toda igreja pequena e pobre é rica, como Esmirna, assim como toda igreja grande e rica é como Éfeso. Nada é assim tão simplista. E nossos olhos devem estar voltados para a nossa igreja. É no exercício de a enxergarmos com as lentes do Espírito é que, eventualmente, poderemos ajudar outros, principalmente pelo exemplo.

    Tribulação e provações, em sua variedade, agora é Tiago quem afirma, é motivo de toda a alegria. Mais duas caracteristicas que, pelo que está confirmado em outros trechos da Bíblia, demarcam a identidade inabalável dessa igreja e de qualquer outra.

     Um dos princípios do sentido bíblico de igreja é que são corpo de Cristo. Todas e cada uma delas. Como assinala Pedro, somos, cada um de nós, pedras brutas ajustadas pelas mãos e ministério do próprio Jesus, como pelo Senhor, o Espírito, completa Paulo. Isso independe do tamanho, classe social ou latitude.

     Definitivamente, os critérios pelos quais cada igreja é avaliada são dados pelas Escrituras. Não são aqueles concedidos pela capacidade humana. Nesse caso, será vício tentar, por critérios puramente racionais e humanos, estabelecer os parâmetros do que a Bíblia define ser igreja de Cristo.
   
 
Éfeso

    Uma igreja-empresa. Eficientíssima em tudo o que se empenhava em fazer. Falha somente no essencial: no amor, traço distintivo da natureza de Deus em sua comunicação aos homens.

    Trata-se de uma igreja que se adaptou ao extremo na satisfação dos requisitos de seus membros, em sua própria vaidade. Olhando para si mesma, ela se autoavalia como excelente, porém ganha zero na avaliação de Jesus.

     É tão grave e, ao mesmo tempo, tão imperceptível por ela sua falta, que é a única igreja a ser advertida de que será removida, deixará de ser na verdade, porque já não mais vinha sendo igreja: "moverei do seu lugar o teu candeeiro", diz Jesus.

    Características que enchem os olhos da eficiência, mas não definem igreja pelo padrão de Deus: (1) obras e labor intenso; (2) capacidade contínua de permanecer no que faz; (3) desmascarar falsos obreiros e homens fraudulentos; (4) e capacidade de suportar perseguições por causa do nome de Jesus.

    O perigo de seguir o (mau) exemplo de Éfeso, uma mega igreja numa mega cidade, é tornar-se uma igreja que se basta a si mesma, assim como ser socialmente bem avaliada, porém reprovada nos critérios e avaliação de Jesus.

     O perigo é a igreja perder sua capacidade de atinar com os critérios pelos quais deve autoavaliar-se. Esses critérios são conhecidos e aplicados pelo Espírito, porém levados a efeito pela própria igreja à qual, de uma vez por todas, foi dada a Bíblia como manual. Esse é o conflito permanente daquela que Jesus estabeleceu para "estar no mundo", sem "ser mundo".
Cartas às Igrejas

     Como se fossem cartas circulares. Mas não no sentido de dizer o mesmo a todas. Ao contrário, específicas a cada uma.

     Provinham do Senhor da igreja, aquele que caminha entre os candelabros e tem eu Suas mãos seus pastores. Em cada carta, a assinatura sempre se reporta às características anotadas na visão inicial.

       E obedecem a uma estrutura bem definida: introdução, indicando Jesus como emissário, a partir de características dEle já explicitadas. Descrição do que Ele conhece sobre cada igreja, com solene palavra de avaliação, incluindo pontos fortes e/ou fracos de cada uma. E advertência final que ouçam sempre o Espírito, guardião a quem foi entregue os cuidados com as igrejas, seguida da específica promessa de bênção ao vencedor.

      Variam, então, os tipos de um circuito de 7 cidades, próximas à costa do que hoje é a Turquia, Ásia Menor nos tempos do Novo Testamento. Éfeso, a maior delas, e em seu circuito as demais.

     Destacadas as exigências, bênçãos e advertências de Jesus, elas representam as igrejas de todas as épocas e os detalhes da análise feita indicam que sempre, todas e cada igreja devem atentar para o que o Espírito tem a dizer.

    Em nossos dias o Espírito fala. E fala pela Bíblia, como Jesus menciona, quando caracteriza Seu (do Espírito) ministério. Cada igreja hoje pode ouvir Sua voz, empenhada em sua avaliação. Essa é mensagem geral das cartas às igrejas.

    E no caso da leitura atenta de seu conteúdo, destacam-se lições sobre (1) o modo específico do cuidado de Jesus; (2) o modo como a igreja influi ou deixa de influir em seu contexto imediato; (3) o certo e o errado, quanto às doutrinas em redor e o preparo devido de seus ministros.

    Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz a cada igreja. As cartas do Apocalipse são um manual de como ouvir.
 
     Uma das coisas que costumam confundir o leitor do Apocalipse é sua tentativa de tornar literal o que vem lendo. Por exemplo, tenta imaginar, na visão inicial de João, a pessoa de Cristo descrita.

   Tudo bem com veste branca, de linho, com um cinto de ouro. Chique e sofisticado, no último. Mas agora, imaginar a pessoa dentro, vai ficar medonho. Olhos que projetam chama, como um maçarico permanente.

     Vá somando uma cabeleira branquíssima, pés de bronze e, para terminar, ao contrário do engolidor de espadas circense, no caso do Jesus que João vê, sai uma espada afiada, de dois gumes, da boca.

    Pois é para imaginar a cena descrita, mas Jesus, ali, não é literal. O que João vê e associar é uma imagem que simboliza atributos que, verdadeiramente, pertencem a Jesus.

   Que ainda transita por entre candelabros e segura estrelas em suas mãos. O que aprendemos é que Jesus, agora o Jesus real, tem livre trânsito entre Suas igrejas e segura por suas mãos seus pastores.

    A palavra que sai de Sua boca é precisa, Seus olhos tudo veem, Seus pés são firme fundamento e alicerce, Sua roupa, como simbolizada nas vestes sacerdotais do AT, no caso dEle, indicam sacerdócio real, único perfeito e permanente.

    Está pronto o cenário das revelações que virão. Toda a autoridade do que segue, provém da Pessoa aqui indicada, nada mais, nada menos do que o próprio Jesus. Essas imagens, a partir de agora, "coladas" a Jesus, eram bem fáceis de ser assimiladas pelos leitores originais.

    Mais do que leitores, pois muitos deles, talvez quase a totalidade não lia o grego, enxergavam as imagens que lhes deixavam no imaginário uma impressão bem clara da mensagem que João desejava transmitir e da Pessoa, fonte precípua de toda a... revelação, ou seja, de todo o Apocalipse.
Apocalipse Now

     Nome de um famoso filme sobre a presença americana no Vietnam. Acertaram, sem querer, o sentido do livro. Sim, porque, querendo dizer que aquela guerra foi antessala do apocalipse profetizado, indicaram uma característica permanente do autor do livro: Apocalipse é sempre agora.

    João Apóstolo assumiu o gênero apocalíptico, inaugurado com Ezequiel e Daniel, porque desejava indicar que é necessário, permanetemente, alertar para a realidade de um apocalipse iminente.

    Trata-se de um gênero textual de impacto, em função das cenas descritas. Criaturas horrendas e fantásticas, visões celestiais e narrativas de ferrenhas batalhas mexem com o imaginário do leitor.

    O livro é um grande cenário teatral, abarcando como tema a cena final da história. Tem tudo que uma peça teatral reúne como elementos que a compõe: dedicatória às igrejas, abertura, com a grande cena celestial, suspense inicial, que desencadeia a ação, grandes conflitos que antecipam o clímax e, por fim, o desfecho final.

    Na verdade, "apocalipse", a primeira palavra do livro, significa "revelação", que João aponta como recebida por meio do anjo que, por sua vez, recebeu de Jesus, que recebeu de Deus. É que a essa palavra, por causa mesmo do jeitão do livro, foram associadas as ideias de "fim do mundo", "criaturas horrendas", como as bestas e dragões, e o "medo do texto", ao qual muitas pessoas aludem.

    Mas uma visão de conjunto, uma leitura com método, a compreensão de sua linguagem e o entendimento de sua simbologia, proporcionam uma ideia geral da estratégia inteligente utilizada pelo autor, no uso desse gênero, de modo a gravar uma imagem permanente de advertência, quanto aos fatos e profecias que antecedem e anunciam o fim dos tempos.
       Ora, a visão de Ezequiel. Uma vez comentada sua especificidade, comparada a que nos diz respeito, presa ao modo e visto como Deus se revela, individualmente.

     Avistou um revolver de nuvens que procediam do norte, a princípio típica de uma concentração de cumulus nimbus, porém progressivamente mais horrenda do que o aspecto daquelas. Muito mais do que isso.

      Assomava-se. Vinha em sua direção. Não era somente ameaça de uma segura tempestade, porque aquela concentração tinha algo específico a revelar ao profeta.

      Houve um limiar, um limite, uma fronteira na percepção dele, desde que considerasse ser apenas um acúmulo corriqueiro, porém estranho, de nuvens, para, na verdade, torná-lo consciente de que não era rotina.

    Como Elias, em conflito pessoal com sua própria vocação, deprimido e fugindo de Deus, no interior da caverna, não sabia discernir se Deus estava no temporal, nos raios que caíam ou no terremoto. Em nenhum deles. Deus sempre está.

    Como nós, que tentamos discernir as circunstâncias do viver, perguntando como pode? Onde Deus está, que não impõe limites e põe freios à maldade. Querendo deterninar os modos de Deus, quando nem os nossos nem os dos outros determinamos.

    O ser humano não é dono de
nenhuma coerência. Mas deseja determinar, para Deus, uma teologia. Ezequiel, junto aos exilados, perguntava como e por quê? Eles perderam, a um só tempo, sua terra, seu rei, sua liberdade. Caiu, a um só tempo, o trono, o templo, foi-se a terra, só ficou o Livro.

     A única saída era enxergar, afinal, onde está a glória de Deus, aviltada na aposta feita, nessa aliança suicida com um povo rebelde. Ezequiel, de cara, a enxergava.

     Deus diria a ele, em meio à própria relutância do profeta: esse povo rebelde, ouvindo ou deixando de ouvir, saberão que, no meio deles, esteve um profeta. Como está em Amós, nada essencial Deus faz sem que comunique isso ao profeta.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Escrevendo sobre Ezequiel.

    Começa mirabolante o livro que toma seu nome. Visão em CinemaScope colorida. Esta é a mãe das técnicas modernas de filmagem, surgida em minha geração.

    Ezequiel viu a gloria de Deus, como este escolheu manifestar-se a ele. Sim, porque é da soberania de Deus a escolha do modo como vai, individualmente, manifestar-se.

    Por exemplo, o caso de Paulo que, literalmente caiu (se, na verdade foi esse o transporte) do cavalo. Ou como no caso de André e João, cujo xará, denomindo Batista, apontou, num jeito meio grosso: "Eis o Cordeiro de Deus".

    Ezequiel, assentado entre os exilados, à margem do rio Quebar, amargava-lhes, entre outras coisas, o ódio expresso no Salmo 137. Um anônimo não teve escrúpulos em registrar tal emoção.

     Também, como destacou o pastor Manoel Porto Filho, aquele povo indignava-se com o pedido de seus algozes babilônios que desejavam ouvir-lhes a já internacional e famosa música.

    Mas como, diziam, cantar no cativeiro. Especificamente, disse Porto Filho, é o lugar mais próprio de se cantar. Muito provavelmente Ezequiel lhes seguia o mesmo estado de ânimo.

    E nós, sentados em meio à nossa própria realidade, exilados nela, também não divisamos muito otimismo. Resta-nos divisar a glória de Deus.

    Muito provavelmente, não em CinemaScope. Outro anônimo, o autor de Hebreus, indica que a experiência atual é muito mais próxima da face de Deus. Se assim não divisamos, é por outro tipo de cegueira.

   Talvez pela prática equivocada de não olhar para o rosto do outro. Ver, no rosto do outro, expressão da face de Deus. Isaías diz que não devemos nos esconder do nosso semelhante. Para Deus, não há outro modo de olhar, senão cara a cara.

     Passeando no jardim, pela viração do dia, buscava olhar o casal cara a cara. Nós, que já enxergamos Deus, em Sua glória, devemos encarar o outro, qualquer outro, cara a cara, refletindo a glória de Deus por nosso rosto.

    Paulo a isso se refere, quando diz "somos transformados, de glória em glória, como pelo Senhor, em nós o Espírito".

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


   Orações à parte (clima de virada)

   É o recurso mais chão da teologia. Sem ela, desista-se. Sim, porque admitir um Deus que não ouve, é melhor desistir. Discorrer sobre Deus, panos pra manga. Dizer que Ele fala, que resta-nos (e é sábio) ouvi-Lo, ok, durma-se com um barulho desses.

  Mas não ter certeza de que Ele nos ouve (e responde, é claro), não vale a pena: se o Altíssimo não ouve, ou não responde ou é surdo a orações, perdeu sua utilidade. Podemos ou, mesmo que não, vivemos sem ele, por nossa própria conta e risco.

  Oração é o mínimo. Que oração? Bem, varia de freguês a freguês. A mulher sírio-fenícia pediu a Jesus pela filha. Se podemos considerar oração, Jesus foi grosso com ela: não se tira o pão da boca dos meninos, para dá-lo a cães. Então, replicou a mulher, me dê migalhas.

  Migalhas. E os exegetas, magos da verdade, salvadores da pátria (alemã) e dos textos, costumam dizer que a regra é se houver grosseria, há prova de autenticidade. Então, essa tradição da siro-fenícia está correta. Migalhas.

  Para a fé, bastam migalhas. E, mesmo se houver grosseria, haverá resposta. O caso é insistir. Mas há dose nessa insistência. Já outra tradição, agora não garanto se é autêntica, do sermão do monte, diz para não insistir se for pedido em vão: pelo muito falar, não vai ser atendido.

  Não diga que, outra vez, é grosseria. É porque oração tem que ser inteligente. Aqui dividem-se fariseus e gente rasteira, no Reino: aqueles, vício muito frequente entre nós, humanos, falamos para ser ouvidos (e elogiados, pura vaidade); estes, exatamente por serem faltos de razão, isso na abalizada avaliação dos outros, sempre é assim, têm mais chance ser ouvidos.

  Vide a viúva insistente da parábola. Mas com muita ou pouca argúcia no falar ou no pedir, na oração, brilhante dedução ou informação aos navegantes: o Espírito intercede por nós, sobremaneira, com gemidos inexprimiveis. Motivo: definitivamente, não sabemos orar como convém.

 Pois é, já que ninguém acerta com a receita da oração, vem auxílio do Alto. E, segundo o texto, adjetivado em intensidade e, quanto ao conteúdo, criptografado: não dá pra saber o que, a nosso favor, Ele diz ao Pai. Também, interessa saber que, com a ajuda do Espírito, basta boa intenção e sinceridade, que o resto vai, Ele ajuda.

  Oração é também uma questão de coerência. Se não fosse por isso, ponto de partida, acho que nem o Espírito ajudaria. Por exemplo, a primeira oração de um mortal a ser atendida, tem de estar coerente com o seguinte axioma: sem fé, é impossível agradar a Deus. É necessário que o que se aproxima, creia que ele existe. E, entre outras coisas, atende às orações.

  Pronto. Primeiro ponto de coerência. Ainda assim não é tão simples assim. Mas é o primeiro esboço de fé. Daí, procedem todas as demais orações, com todas as falhas de coerência possíveis, tão afeitas a nós. Entenderam, porque é necessário que o Espírito seja como que "muleta de orações"?

 Valeu, Espírito, muito grato. Mais um ponto para Você. Se não fosse por isso, venceria o farisaísmo, com o pessoal se exibindo até, vejam só, em oração. Assim, venta, Espírito. Para quem não gosta, bem-feito: mais um expediente para nos tornar a todos iguais, nivelados por baixo, ao mesmo nível. Tem gente (e não são poucos) que odeia isso.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Crônicas do Cântico da Vinha - Isaías 5:1-7 - (1)

"Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha."

   Pede que cante? Quem é o que canta e quem é o amado? E dizer da autoria do cântico: o autor é quem canta ou canta ao amado o cântico que este compôs?

  Pois, se o amado já conhece o cântico, por que cantá-lo? Que efeito faz nele ouvir o cântico que ele mesmo compôs? Poderá ser que, quem dedica já chama pelo nome "cântico de meu amado" o cântico que para ele compôs.

   Pois o que inspirou o cântico foi notável e o próprio conteúdo será determinante para que se conheça a urgência em compor, ainda que seja, conhecer os motivos da inspiração em compor.

   Passa a historiar, o meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Notável o suficiente para despertar dotes num menestrel. O ato de compor, em si, e de cantar constituem-se numa marca de perenidade, enunciação e detalhamento.

   O que o menestrel divulga com seu canto se espalha, encanta e cativa. A marca do que narra pela história de sua música traslada o tempo e permanece tatuado no senso e sentido de quem ouve. Este carregará consigo, por seus dias a fio, a memória do canto que ouviu.

   Como diz a canção do amigo, mas quem ficou, no pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou. E quem voou no pensamento ficou, com a lembrança que o outro cantou.

  Nunca mais será esquecido. Permanece a história gravada na retina do tempo. O grau do que motivou funde-se de uma vez no canto que, em si mesmo, carrega num novo viés o ocorrido. A ênfase que, por si, tem o fato agora ganha relevo na feição do canto.

  Aliás, o canto realça o relevo que, por si, o fato traz. Por ser o ser humano distraído com o fato, esquecediço, principalmente por distração intencional, o canto com suas notas fere o espírito e deixa nele cravada a cicatriz.

  Não se poderá dizer, jamais, que não se soube, que não se ouviu aquele canto daquele menestrel, como o mais que lírico silvo de um trinado. Para sempre gravado na memoria, cumpre-se a intenção do menestrel, que passa com sua música e, como o Flautista de Hamelin, obrigatoriamente, atrai após si seu séquito.