sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Companhia de Jesus dia a dia

E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século". Mateus 28:20.

       A companhia de Jesus é constante conosco. Ele mesmo prometeu. Embora contemos dias e anos, haja legendas e números, Jesus promete "estou todos os dias". Portanto se, para nós, faz sentido de 31/12/2021 para 1⁰/01/2022, para Jesus continua sendo "todos os dias".

     Podemos então refletir sobre palavras de Jesus em três ocasiões das Escrituras, dirigidas a três característicos representantes da condição humana, os mais frágeis, assim assinalados ou, se não o são, seriam aqueles mais necessitados de cuidados, respeito e proteção ou os mais afetados pela violência humana nos dias atuais.

  Quando a preocupação, inoportunamente deslocada de sua prioridade, na discussão entre os apóstolos, era: "Quem é, porventura, o maior no reino dos céus?". Mateus 18:1. Jesus destaca uma criança como exemplo.

    "E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus". Mateus 18:3,4.

    Uma criança, no conceito de Jesus, ensina sobre humildade, conversão e plenitude no reino de Deus. E quando Jesus foca numa mulher, tendo sido revolucionário em colocá-las no seu lugar de destaque, sempre indicado pela linha lúcida das Escrituras, ele toma a samaritana como exemplo.

     "Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber". João 4:7. Somente Jesus tem essa capacidade de, a partir de uma necessidade vital sua de sanar a sede, iniciar um diálogo que se torna uma aula de teologia, na qual aborda água da vida como suprimento vital para a alma, revelação do Verbo de Deus àquela mulher e adoração genuína a Deus.

     E  na linha profética da certeza de Jesus como Salvador, dois anciãos, Simeão e Ana, esta com, no mínimo, 84 anos, ensinam mais cinco lições fundamentais na conduta do caminhar com Jesus e da esperança pelo dia de Sua vinda.

    "Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo". Lucas 2:25,26,27a.

     Com este ancião aprendemos como conviver com o e no Espírito, acolhendo, pelos olhos da fé, Suas revelações, por meio das Escrituras, ouvir Sua voz e ser movido por Ele. E com a anciã aprendemos a louvar a Deus por Jesus, seu maior dom, e anunciar o evangelho como única prioridade.

   "Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém". Lucas 2:36-38.

    Evidentemente que os outros representantes da condição humana não ficam de fora. Podemos destacar o que Jesus tem a dizer aos jovens, visto que todos os seus discípulos situavam-se nessa faixa etária. Há uma palavra específica do mais novo entre os apóstolos diretamente dirigida a eles.

   "Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno". 1 João 2:14. Não quer dizer que somente eles vençam o maligno ou sejam somente eles fortes. Mesmo porque as Escrituras operam uma inversão, quando não se leva em conta a ação de Deus.

     "Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam". Isaías 40:30,31.

    O diferencial não é ser jovem, mas pôr no Senhor a esperança e a confiança. E a nós, os homens, a palavra de Jesus pode ser conferida no perfil do apóstolo Paulo e sua visão da relevância de sua própria vida.

     "Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus". Atos 20:24.

    Aos adolescentes, há uma palavra de resposta de Jesus a seus pais, num momento de expectativa em relação a uma questão de decidir sobre quem recaía a responsabilidade por um lapso.

  "Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" Lucas 2:48,49.

   Sem dúvida, o lugar onde passar toda a adolescência, envolvido com o Livro por excelência, o único onde estão escritos os "oráculos de Deus", é o templo, é na igreja. Cremos que, com essas palavras de Jesus, podemos aguardar Sua vinda, seguindo essas diretrizes específicas a cada uma das faixas etárias.
    

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Fra(n)camente 1 - Repugnância

     Não é uma palavra boa para se terminar um ano. Re + pugna, seria juntar "voltar" (re) + pugna (lutar) que, por sua vez, vem de "pugnus", que significa "punho".

     Portanto, repugnância teria, agregada a si, como sinônimas, auxiliando compreender seu significado as palavras asco, nojo, aversão, antipatia, repulsa, falta (ou nenhum desejo por) de compatibilidade.

     Na verdade, seria bem íntima essa sensação, plenamente disfarçada pela hipocrisia social, cedo aprendida na cartilha do convívio. Diria eu, ensinada intuitivamente pelos pais, delicada e disfarçadamente, porque ninguém quer ser acusado de ser um repugnante praticante.

    Os disfarces para tanto são muitos. Assim como as razões por que repugnar. Existem as clássicas como, por exemplo, cor da pele ou nível social. Disfarçar a íntima repugnância pelo preto e pelo pobre.

    Trazem patente e flagrantemente suas características. Aliás, são transformados em discurso e tema de ideologia e movimentos sociais de denúncia e libertação. E, em muitos casos, à hipocrisia agora soma-se a demagogia.

    Não que não devam ser um constante tema para discussão. Mas o que se reclama aqui são as ações efetivas e que caminhos traçar na efetiva solução secular, senão milenar desses, pelo menos esses dois, fatores de repugnância social.

    Um outro fator, agora mais ligado à minha área de atuação, é como o disfarce da religião, mais um fator que promete e afirma praticar igualdade, é usado para disfarçar a repugnância. Vou falar da minha. Por entender um pouco mais sobre ela do que da dos outros.

    Definitivamente o evangelho iguala todos, no antes e no depois de se encontrar Jesus. Todos pecaram, afirmam as Escrituras, situados na condição de "destituídos da glória de Deus", ou seja, todos somos, por natuteza, repugnantes.

    Aqui talvez haja já um problema inicial de aceitação. Ou haja uma aceitação retórica dessa afirmação. Isso significa sentir asco, nojo de si mesmo. De início. Vamos especificar e generalizar.

    Diante de Jesus, somos educados a perceber, sentir e exercitar repugnância por nós mesmos. Todos estamos nessa mesma condição. Muito embora o processo de se encarar essa realidade, nua (literalmente, e fora do Paraíso) e crua seja doloroso e, muitas vezes, disfarçado por franca covardia.

    Então o verniz social e os já mencionados vícios intuitivos de formação podem ser uma tentação a se mascarar essa realidade ou a domesticar o "evangelho" que se vai aceitar (e praticar). Definitivamente, repugnância é um tema não autopraticável: somente praticado com os outros.

     Lembrei da parábola do bom samaritano, assim chamada. Jesus focou exatamente na crítica aos "religiosos" e sua hipocrisia. Seu legalismo transformado numa prática flagrante, por parte do primaz, o sacerdote, e seu aprendiz, o levita. Sim. Repugnância faz escola.

    Nesse ano que passa até o vírus se tornou pretexto. Se alguém não quiser ou não quer outros alguéns perto, ainda há a prevalência do omicron, entre outras variantes. Chance de se prorrogar o afastamento.

    Para terminar, quero lembrar mais dois personagens, que podem ser quaisquer uns, porque repugnância, embora seja delicado mencionar, afeta a todos. Jesus e Jonas. Ambos com "J". O primeiro, porque tem o remédio para esse mal. O segundo, porque quis levar ao extremo esse mesmo mal.

     Jesus ensina direcionar a repugnância para o lugar e pessoa certos: para você mesmo e o nojo que o teu pecado deve inculcar a você mesmo. Jonas ensina que a fuga à repugnância, sua generalização extrema e até a tentativa de suicídio, seja moral ou literal, não resolvem o problema.

     Para quem não acredita no peixe de Jonas ou não acredita num Deus capaz de deparar um peixe desse teor, pelo menos tenta acreditar num Deus que ressuscite defunto, mais especificamente aquele que as Escrituras dizem ter sido ressuscitado ao terceiro dia.

     Parece que nesse anônimo Jesus, mais para desconhecido, reside a cura ou, pelo menos, o correto direcionamento para a repugnância. Vamos entrar nesse novo ano pensando nisso.

     Repugnância dirigida somente às variantes do vírus. Ao próprio pecado individual pão nosso de cada dia. E a uma aceitação ainda mais plena do evangelho, mas sem domesticagem. Ele faz coisas que nem a ideologia sonha em fazer.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Sermão de Natal

 Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer". Lucas 2:15.

    Há um convite "Vamos". Esse convite, embora no texto tenha sido compartilhado pelos pastores, entre si, foi motivado pela aparição de anjos e pela urgência da notícia.

   E foi boa nova, boa notícia: "...é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor". Lucas 2:11. Essa é a principal notícia dada pelas Escrituras.

     Portanto, esse Vamos tem uma motivação que vem de cima, do alto, da parte de Deus. Sua atenção e o atendimento a esse "Vem", como chama o próprio Jesus, ou a esse "Vamos", como entre si a acertaram os pastores, significa atender a um chamado de Deus.

    E vejamos. O que pretendiam ver? Para o que foi depertada a sua atenção? Ver tudo o que Deus revela. E quem é o que revela? Um que não cabe na compreensão humana. Que faz, pelo seu poder, o que a compreensão humana não dispõe de capacidade nem para realizar e nem para compreender.

    O que a Escrituras revelam a respeito de Deus não cabe na compreensão humana. Todas as vezes em que tentaram ou em que tentarem reduzir, para que caiba, diminuem Deus, idolatram, fugindo da natuteza, propósito e tamanho da fé.

    Porque são os acontecimentos que o Senhor dá a conhecer. Por isso são compreensíveis e notificados por meio da fé. Distinguem-se de todos os demais. Por isso ocorre um falso conflito entre fé e ciência.

    Deus está fora da ciência. Porque a criou. Por isso que tais acontecimentos estão fora da capacidade e do método científico. O Verbo se fez carne. Habitou entre nós. Vimos a sua glória. É a glória do unigênito do Pai.

     Já estamos chegando ao fim da história humana. Não há mais tempo e nem espaço para polêmicas estúpidas. O que Deus nos dá a conhecer não está escrito nos compêndios. Está testemunhado nas Escrituras.

    Ao alcance da fé. Fé é  certeza e convicção. Porque decorre de acontecimentos que Deus dá a conhecer. Que Ele mesmo traz à luz. Que Deus mesmo realiza e dá a conhecer.

    Natal é acontecimento que Deus realiza e dá a conhecer. Crer ou não crer não muda o que Deus realiza. Ele dá a conhecer. Deus revela. Deus dá garantia. E convida a vir e ver.

     Venha, veja a creia. Porque Deus realiza obra nesse tempo maior do que todas. E dá a conhecer. Por meio de sua mídia, um coral de anjos, dirigida a gente simples, despojada de vaidade, provida de sabedoria.














sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Presente

 "...que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?". Salmo 8,4.

    Somente um destempero alucinógeno para alguém pensar em vaidade, um traço que seja, diante da formulação dessa pergunta. Que é o homem?

    Aqui no sentido genérico, homem ou mulher, enfim, qualquer representante da raça humana. Deus para se ocupar com o ser humano, descer a detalhes de sua condição, somente toda misericórdia.

   Isso. Essa palavra reúne, em sua estrutura, miserere + cordis, algo como miséria + cardia, este o radical que forma os derivados de coração. Definição: "ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas".

     Pode-se dizer que Deus tem vocação pela miséria humana. As Escrituras nos socorrem na compreensão das razões de Deus: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou." Hebreus 2,14.

    Pormenoriza ainda mais, referindo-se à condição de Deus, em Jesus Cristo: "Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos". Hebreus 2,17.

     Essa identificação de Deus com as mazelas humanas, em Jesus, a encarnação do Verbo, radical e definitiva, como as Escrituras retratam, é o sentido permanente do Natal.

   O Natal na história e o seu efeito permanente no decorrer da história, tem sentido a cada vez que o Espírito Santo batiza em Jesus alguém que nEle crê. Jesus explicou a Nicodemos o sentido desse novo nascimento.

    A solução das mazelas humanas tem resultado em Jesus, quando alguém nele batizado experimenta a morte e ressurreição em Jesus. Socorram-nos as Escrituras: "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida". Romanos 6,4.

   Definitivamente Deus se ocupa com a miséria humana em todos os seus vieses, para muito além de nossa limitada percepção, ou seja, percepção de nossa própria miséria, percepção da dimensão do amor de Deus.

    Que é o homem/a mulher que deles te lembres? Estamos na memória de Deus, que nos revela Seu amor. Devolve a nós a sensibilidade perdida.

      "Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, as Escrituras falando de Jesus, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados". Hebreus 2,17-18.

     A bondade de Deus nos conduz ao arrependimento. Nunca desprezemos a bondade de Deus, reconhecendo que, por ela, alcançamos visão de nossa real condição e também por ela reconhecemos o amor de Deus.

     "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar". 2 Coríntios 7,10. "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento." Romanos 2,4.

     Natal é tempo de se reconhecer que Jesus, o Verbo que se fez carne, Jesus, Deus encarnado o fez por amor, a fim de resgatar o homem de sua condição miserável. Um presente de si para si mesmo, por meio de Jesus.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O legado que queremos

      O que dizer sobre Daniel Gonçalves Lima. Na vida passamos por fases diversas. A cada qual corresponde um sentimento diverso. Uma coisa é vivenciar, a cada época, outra é projetar a memória sobre cada fase.

   Neste texto vou recordar imagens do que igreja representou para mim. Na criação com que Dorcas e Cid me instruíram, igreja e Bíblia estiveram sempre presentes. E da parte de minha mãe, igreja e denominação não se separaram jamais.

  Tão forte nela que nunca trocou os congregacionais pelos batistas, ainda que o esposo fosse pastor naquela outra denominação, e a mãe dela, ainda no namoro, houvesse aconselhado não prosseguir nessas bases.

     Meu pai nunca contribuiu, em minha criação, para que eu fosse duplo ou hesitante. Uma vez, no batismo, por achar que deveria mencionar a diferença, pelo volume de água, e, de minha parte eu, quando ingressei no Seminário, conversamos sobre essas diferenças.

    Uma das razões que me levou a optar por estudar em nosso Seminário, na época, em 1978, hóspede do Edifício Kalley, anexo da Igreja Evangélica Fluminense, era participar de modo mais próximo e efetivo do contexto da liderança denominacional.

    Porque por seu tamanho, havia participação conjunta entre professores e membros dos cargos eletivos da diretoria da Junta Geral daquele tempo, ainda ocupando as dependências do antigo local em São Cristóvão, onde ocorria seu expediente.

    Terminei o Seminário em 1981, quando completava 24 anos, e fui ordenado em 1983, ano em que completei 26 anos. Nessa mesma época, ocupei o cargo de secretário executivo da denominação, até 1985.

    Diferente o mergulho na realidade da denominação, a partir da vivência da realidade da igreja. Tudo, em minha vida, misturava-se aos traços de maturidade, que sempre avaliei como defasada, em relação ao curso da idade biológica.

    O próprio conceito de congregacionalismo foca a igreja como núcleo dos conflitos, da ação do Espírito, da unidade administrativa denominacional. Documentos dela, ação de seus líderes e efeitos de sua administração devem ter a igreja como alvo e prestar a ela serviço.

    Mas a máxima de Salomão, tudo é vaidade, é somente um dos assaltos que pode surpreender quem se envolve e se vê incluído no contexto da denominação. Portanto, é sempre um teste permanente, principalmente para quem ocupa seu cargo máximo ou atua nas cercanias dessa liderança.

    Meu início de ministério, que se deu nesse mesmo ano de 1983, assim como a decisão que marcou e assinalou o seu desempenho, até hoje, deu-se por influência dessa liderança denominacional dos anos 80 e 90. E entre eles destaco o Rev. Daniel Lima.

    Num de seus períodos à frente da denominação, minha mãe ocupou o cargo de presidente da confederação de mulheres congregacionais. Por uma gestão. Nunca quis repetir, embora convidada outras vezes, coisa dela. Nesse período o presidente da Junta Geral da denominação foi o pastor Daniel Lima.

     Para mim, sempre foi modelo de comportamento ético e coerente, fosse em seu perfil na denominação, fosse no exemplo que a nós chegava como ministro, incluída a visão missionária de sua igreja local.

    Em relação à sua família, tive chance de conhecer, da mesma forma, os traços nitidamente marcados na vida dos gêmeos Daniel e Deisiel, assim como na de Davi, todos meus acampamentes nas temporadas do Ebenézer. Na esteira de seu pai, são pastores. 

    Os anos 80 e 90, no contexto denominacional, foram marcados por uma polarização que, na época, teve seus transes de queda de braço, mas foi superada numa demonstração de maturidade, infelizmente inusual, que foram sucessivos fóruns para definição doutrinária.

      De um lado, pastor Daniel Lima, de outro, Amaury Jardim, dois lados de uma mesma igreja, lideranças marcantes de uma geração e eu, particularmente, influenciado pelos dois. Cascadura, para onde fui, em 1966, era igreja que tem Amaury Jardim como membro fundador.

    E o espírito missionário que, aos dois pastores aqui mencionados, foi tão nitidamente marcante em seu ministério, a mim afetou profundamente. Antônio Limeira Neto, que nesse mesmo período, desafiava pastores e suas esposas, missionários e missionárias a desbravar o país, foi outro líder e outra feição dessa denominação tão amada por minha mãe.

    Hoje tenho 64 anos. Estou no Acre há quase 27 anos. Minha vida traz até hoje às marcas dessa liderança. Pastor Daniel Lima correspondeu-se comigo em meu início aqui no Acre. Esteve envolvido comigo na administração e ideia de implantar aqui o Seminário Kerigma, que funcionou de 1998 a 2004, formando 3 turmas.

     Limeira me fez seguir o rastro de suas iniciativas, até hoje não suplantadas no esforço missionário, quando iniciou uma congregação em Copacabana, igreja que pastoreei entre 1992 e 1994, assim como vim para o Acre, em 1995, pareando com Nelson e Josilene Rosa, por ele convidados e que estão aqui desde 1984.

     E o pastor Amaury Jardim, abridor de igrejas como Daniel Lima, foi meu conselheiro na época de entrada no Seminário, assim como pregou em minha ordenação, em 2 de janeiro de 1983. Para mim, são três exemplos de lideranças de um tempo em que a denominação produziu grandes exemplos.

    Ainda produz exemplos. Aliás, somos e seremos exemplo. Precisamos refletir do que seremos exemplo. E uma das coisas de que precisamos nos despir é a vaidade. Pode ser substituída por humildade. A primeira bem-aventurança da série, porque é determinante na kenosis, no esvaziamento e na personalidade de Jesus.

    Ainda não mencionei d. Gineta. Várias vezes deparei seu sorriso. Algumas vezes trocamos rápidas palavras. Sem dúvida seu esposo e filhos e filha guardam consigo, do mesmo modo que eu retenho de Dorcas, o que foi fundamental em nossa formação.

    Sem dúvida, o cuidado atento desde a infância, a prontidão em encaminhar à igreja e o apoio incondicional ao esposo foram sua marca. Pastor Daniel Lima, grato por sua história. Por sua postura. Pela denominação que o senhor honrou com o seu exemplo.

    Parabéns por sua família. Parabéns por suas marcas. Considero-me, por razões diversas, como se, de alguma maneira, fosse sua ovelha e um missionário enviado ao campo por sua igreja. Muito honrado por ser considerado seu colega de ministério. E desejando intensamente que o tempo que se configurar em nossa denominação seja, cada vez mais, digno da herança que o amado irmão nos legou.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Lapso

     Lapso. Por exemplo, entre a samaritana largar o cântaro e noticiar seus companheiros que havia encontrado Jesus, houve um lapso, no qual a mulher recolhia consigo o que foi seu econtro pessoal com Jesus, ao ponto de transmitir esse efeito.

    Quando, quanto, com que intensidade e frequência transmitir Jesus? Se é verdadeiro o que disse, que estaria com os que cressem todo o tempo, qual o intervalo de tempo entre essa constatação e seu efeito na vida?

    Que efeitos atualizados Jesus promove na vida de quem com ele encontra? Há um efeito alienante que, ao invés de tornar vivência com Cristo em novidade permanente, é tornada em formalidade religiosa?

     Que expectativa Jesus sempre nutre pela igreja? Que significa, para ela, vivenciar e, de imediato, espontânea e naturalmente, anunciar Jesus? A urgência da mensagem que ele mesmo proclamava requer esse mesmo eco por parte da igreja.

      "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho". Mc 1,14-15.

     E não se trata de obrigação, imposição, repetição mecânica de credo, mas de uma natural expressão do resultado da presença de Jesus no viver. E presença de Jesus no viver significa vida em plenitude, identidade do humano restaurada, vocação de ministério para a igreja, até denominada "corpo de Cristo".

     Uma de suas últimas palavras, quando ainda entre nós, no momento mesmo de sua ascensão, foi mencionar três vocábulos: poder, Espírito Santo e testemunho. Ora, ora, ora: o poder e todo o seu delírio. Satanás sugeriu a Jesus, olha o ridículo da proposta, obter para si poder.

     Então Jesus disse à igreja: "Recebereis poder". De que natureza? Ele especifica o modo e natureza: "Ao descer sobre vós o Espírito". Sim, o Espírito que recebe o adjetivo exclusivo de Deus: "Santo". E Jesus completa com a finalidade pela qual receber poder: "Sereis minhas testemunhas".

      A igreja de Jesus recebe do Espírito Santo poder para ser testemunha de Jesus. Espontâneo, natural, voluntário e identitário. Há um lapso entre a realidade do contato com Jesus e o seu resultado, que se chama testemunho. Que seja imediato, natural e espontâneo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Fortuito, que seja

  João Batista era típico. Viu Jesus passar, não desconversou, instigou dois de seus discípulos a mudar de mestre. Ao inverso, para ele, dispensar discípulos parecia ser prioridade.

     Por um momento a dupla, André e seu misterioso companheiro, ficaram como que sem rumo: o outro, que seguia adiante, a quem o Batista alcunhou "Cordeiro de Deus", voltou-se, para inquirir: "E vocês, o que querem?"

     Se fosse carioca, "E vocês, qualé?". Ressabiados, por um lapso sem mestre nenhum, timidamente perguntaram, ou seja, balbuciaram, "a gente só queria saber onde". A resposta pronta, "Venham e vejam".

     Ora, o Batista e Jesus sabiam da exiguidade de seu ministério, o primeiro mais ainda. Não é que queria se desfazer de discípulos, mas era que precisava encaminhá-los. Aliás, para isso fora enviado.

     Os discípulos, sim, eram neófitos, e todos eles têm muito ou algo de inoportunos. Mas estar atento às indicações mínimas do Batista era o que de único e principal se exigia deles.

   E quanto a Jesus, ser direto e objetivo, do mesmo modo, era a essência de sua vocação. Para isso viera, de uma vez, tornar objetivo e direto o acesso ao Pai. Instigou-os à fé, que consistia em Lhe seguir os passos, ora, era esse e ainda é o "vir e ver".

      Tanto era e é assim, que André entendeu e chamou o irmão. Não tinha o que declarar, senão dizer: "Achamos o Messias". Bom garoto. Exatamente isso, desde o Batista, em direção à Jesus. E este, mais que direto e objetivo, para cada um tem a profecia. Para Cefas, Pedro Pedra, a símile do crer e do ser igreja.

     E Jesus continuava e continua chamando. "Vem e segue-me", disse a Felipe, outro da cidade e região da Galileia, precisa e profeticamente apelidada "dos gentios", quer dizer, de todas as gentes: "o povo que andava em trevas, haveria e ainda há de ver grande luz", anunciava Isaías a respeito de Jesus.

     Felipe, como André, entendeu a coisa, para dizer a Natanael: "cessou nossa busca, encontramos aquele sobre quem as Escrituras, seja a Lei, sejam os profetas, dão seu único testemunho". Quem, indagou? O Nazareno, identificou Felipe.

"De 'Nazaré', ora, Felipe, tenha a santíssima paciência". Vem e vê, pegando o jeito de Jesus convidar, disse Felipe.

    Provocativo, só de hagá, como se diz no Rio, Jesus saudou Natanael: "taí um gente boa", como também se diria em carioquês. Ele estranhou a saudação, e achou mesmo que era só de hagá. Não era. Jesus conhece.

   Jesus sinalizou que conhece todas as angústias. Natanael extasiou-se. Jesus replicou, não por tanto, mas por ainda muito mais. Já viste os céus escancarados e anjos subindo e descendo? Por pouco e por ainda muito mais. Por tudo. Por certo. Decerto, por fé.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Manda dizer

"Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?!" João 4:29.

    Essa mulher, a anônima samaritana, encontrou Jesus. Há um hino, muito ouvido e tocado por meu pai, num programa radiofônico que transmitia, na década de 70, que dizia: "Oh, que será?! Que será ver a Cristo?!".
     De um e de outro modo, na narrativa bíblica e na letra do hino, está em questão encontrar Jesus ou vê-lo cara a cara, presença física, pelo menos o que a letra do hino quer dizer.
    Hoje aplica-se à realidade da presença de Jesus. Ele afirmou aos discípulos, em sua despedida, após a ressurreição, que estaria com eles, por extensão, com a igreja, ou seja, com todos os que nEle cressem, "todos os dias, até a consumação do século".
    A pergunta aqui é o que significa tal afirmação, como vivenciá-la hoje e como transmitir a outros essa realidade. Porque os que cremos em Jesus e partilhamos Sua presença devemos vivenciar de modo especial e transmitir essa realidade a outros.
    O que será intenso e natural. Porque se não está sendo, algo de muito estranho está ocorrendo conosco. Uma espécie de indiferença ou alienação da principal característica de nossa vida.
     Caso  não haja intensidade, empolgação e novidade permanente, em função da presença de Jesus em nós e conosco, não passamos de míseros religiosos. Religião é um fator cultural e sócio-relacional.
     Herdamos ou rejeitamos a partir de nossa herança cultural e adotamos uma delas ou não em função de sua característica relacional. Mas ter a Cristo é outra coisa.
     Jesus não é um ícone ou marca. Trata-se de uma pessoa. Aliás, uma extraordinária, em todos os sentidos, Pessoa. Desde a história de sua estada entre nós, indicada na narrativa dos Evangelhos, até os fatos inusitados relacionados à sua ressurreição.
    Sem crer na ressurreição de Jesus, ele perde toda relevância. Ora, é evidente, quem deseja vê-lo a distância, como um exemplo de conduta, um ícone místico religioso, personalidade de destaque universal, que o valha. Alvitre de cada um.
     Mas quem crê na ressurreição de Jesus, admite e confirma que com ele se relaciona. Com ele experimenta comunhão. Com ele caminha. A mulher samaritana que com ele se encontrou saiu do encontro transformada, chegou a sua vila e denunciou aos de sua relação.
     Para ela, era o Cristo. Provoca-os a autenticar essa realidade. Eles mesmos constatam, afirmando depois: "não pelo que você disse, mas pelo que nós mesmos ouvimos e agora sabemos".
    O jovem rico sai triste da conversa com Jesus. Sim. É possível sair frustrado desse encontro. A pessoa de Jesus exige de quem o encontra abrir mão do contraditório que representa a vida de qualquer um em relação à dele próprio.
     E Zaqueu, o baixinho ricaço, acolheu Jesus em sua casa, curiosíssimo em conhecê-lo, quando, repentinamente, levantou-se e se comprometeu a indenizar, multiplicado por 4 vezes, a quem havia lesado. E ainda, com metade dos bens que sobrassem, acudir os menos favorecidos.
     Tudo consequência do encontro com Jesus. Imagine-se alguém receber em sua porta, atendendo revoltado, um emissário de Zaqueu: "Aquele ladrão! Que que ele quer?". O emissário: "Mandou lhe entregar um abono de 4 vezes mais o que ele lhe surrupiou".
      "Meu Deus! Como assim devolver 4 vezes mais?! Que que aconteceu com ele?". O emissário: "Manda dizer que encontrou Jesus".