quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O legado que queremos

      O que dizer sobre Daniel Gonçalves Lima. Na vida passamos por fases diversas. A cada qual corresponde um sentimento diverso. Uma coisa é vivenciar, a cada época, outra é projetar a memória sobre cada fase.

   Neste texto vou recordar imagens do que igreja representou para mim. Na criação com que Dorcas e Cid me instruíram, igreja e Bíblia estiveram sempre presentes. E da parte de minha mãe, igreja e denominação não se separaram jamais.

  Tão forte nela que nunca trocou os congregacionais pelos batistas, ainda que o esposo fosse pastor naquela outra denominação, e a mãe dela, ainda no namoro, houvesse aconselhado não prosseguir nessas bases.

     Meu pai nunca contribuiu, em minha criação, para que eu fosse duplo ou hesitante. Uma vez, no batismo, por achar que deveria mencionar a diferença, pelo volume de água, e, de minha parte eu, quando ingressei no Seminário, conversamos sobre essas diferenças.

    Uma das razões que me levou a optar por estudar em nosso Seminário, na época, em 1978, hóspede do Edifício Kalley, anexo da Igreja Evangélica Fluminense, era participar de modo mais próximo e efetivo do contexto da liderança denominacional.

    Porque por seu tamanho, havia participação conjunta entre professores e membros dos cargos eletivos da diretoria da Junta Geral daquele tempo, ainda ocupando as dependências do antigo local em São Cristóvão, onde ocorria seu expediente.

    Terminei o Seminário em 1981, quando completava 24 anos, e fui ordenado em 1983, ano em que completei 26 anos. Nessa mesma época, ocupei o cargo de secretário executivo da denominação, até 1985.

    Diferente o mergulho na realidade da denominação, a partir da vivência da realidade da igreja. Tudo, em minha vida, misturava-se aos traços de maturidade, que sempre avaliei como defasada, em relação ao curso da idade biológica.

    O próprio conceito de congregacionalismo foca a igreja como núcleo dos conflitos, da ação do Espírito, da unidade administrativa denominacional. Documentos dela, ação de seus líderes e efeitos de sua administração devem ter a igreja como alvo e prestar a ela serviço.

    Mas a máxima de Salomão, tudo é vaidade, é somente um dos assaltos que pode surpreender quem se envolve e se vê incluído no contexto da denominação. Portanto, é sempre um teste permanente, principalmente para quem ocupa seu cargo máximo ou atua nas cercanias dessa liderança.

    Meu início de ministério, que se deu nesse mesmo ano de 1983, assim como a decisão que marcou e assinalou o seu desempenho, até hoje, deu-se por influência dessa liderança denominacional dos anos 80 e 90. E entre eles destaco o Rev. Daniel Lima.

    Num de seus períodos à frente da denominação, minha mãe ocupou o cargo de presidente da confederação de mulheres congregacionais. Por uma gestão. Nunca quis repetir, embora convidada outras vezes, coisa dela. Nesse período o presidente da Junta Geral da denominação foi o pastor Daniel Lima.

     Para mim, sempre foi modelo de comportamento ético e coerente, fosse em seu perfil na denominação, fosse no exemplo que a nós chegava como ministro, incluída a visão missionária de sua igreja local.

    Em relação à sua família, tive chance de conhecer, da mesma forma, os traços nitidamente marcados na vida dos gêmeos Daniel e Deisiel, assim como na de Davi, todos meus acampamentes nas temporadas do Ebenézer. Na esteira de seu pai, são pastores. 

    Os anos 80 e 90, no contexto denominacional, foram marcados por uma polarização que, na época, teve seus transes de queda de braço, mas foi superada numa demonstração de maturidade, infelizmente inusual, que foram sucessivos fóruns para definição doutrinária.

      De um lado, pastor Daniel Lima, de outro, Amaury Jardim, dois lados de uma mesma igreja, lideranças marcantes de uma geração e eu, particularmente, influenciado pelos dois. Cascadura, para onde fui, em 1966, era igreja que tem Amaury Jardim como membro fundador.

    E o espírito missionário que, aos dois pastores aqui mencionados, foi tão nitidamente marcante em seu ministério, a mim afetou profundamente. Antônio Limeira Neto, que nesse mesmo período, desafiava pastores e suas esposas, missionários e missionárias a desbravar o país, foi outro líder e outra feição dessa denominação tão amada por minha mãe.

    Hoje tenho 64 anos. Estou no Acre há quase 27 anos. Minha vida traz até hoje às marcas dessa liderança. Pastor Daniel Lima correspondeu-se comigo em meu início aqui no Acre. Esteve envolvido comigo na administração e ideia de implantar aqui o Seminário Kerigma, que funcionou de 1998 a 2004, formando 3 turmas.

     Limeira me fez seguir o rastro de suas iniciativas, até hoje não suplantadas no esforço missionário, quando iniciou uma congregação em Copacabana, igreja que pastoreei entre 1992 e 1994, assim como vim para o Acre, em 1995, pareando com Nelson e Josilene Rosa, por ele convidados e que estão aqui desde 1984.

     E o pastor Amaury Jardim, abridor de igrejas como Daniel Lima, foi meu conselheiro na época de entrada no Seminário, assim como pregou em minha ordenação, em 2 de janeiro de 1983. Para mim, são três exemplos de lideranças de um tempo em que a denominação produziu grandes exemplos.

    Ainda produz exemplos. Aliás, somos e seremos exemplo. Precisamos refletir do que seremos exemplo. E uma das coisas de que precisamos nos despir é a vaidade. Pode ser substituída por humildade. A primeira bem-aventurança da série, porque é determinante na kenosis, no esvaziamento e na personalidade de Jesus.

    Ainda não mencionei d. Gineta. Várias vezes deparei seu sorriso. Algumas vezes trocamos rápidas palavras. Sem dúvida seu esposo e filhos e filha guardam consigo, do mesmo modo que eu retenho de Dorcas, o que foi fundamental em nossa formação.

    Sem dúvida, o cuidado atento desde a infância, a prontidão em encaminhar à igreja e o apoio incondicional ao esposo foram sua marca. Pastor Daniel Lima, grato por sua história. Por sua postura. Pela denominação que o senhor honrou com o seu exemplo.

    Parabéns por sua família. Parabéns por suas marcas. Considero-me, por razões diversas, como se, de alguma maneira, fosse sua ovelha e um missionário enviado ao campo por sua igreja. Muito honrado por ser considerado seu colega de ministério. E desejando intensamente que o tempo que se configurar em nossa denominação seja, cada vez mais, digno da herança que o amado irmão nos legou.

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