sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Presente

 "...que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?". Salmo 8,4.

    Somente um destempero alucinógeno para alguém pensar em vaidade, um traço que seja, diante da formulação dessa pergunta. Que é o homem?

    Aqui no sentido genérico, homem ou mulher, enfim, qualquer representante da raça humana. Deus para se ocupar com o ser humano, descer a detalhes de sua condição, somente toda misericórdia.

   Isso. Essa palavra reúne, em sua estrutura, miserere + cordis, algo como miséria + cardia, este o radical que forma os derivados de coração. Definição: "ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas".

     Pode-se dizer que Deus tem vocação pela miséria humana. As Escrituras nos socorrem na compreensão das razões de Deus: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou." Hebreus 2,14.

    Pormenoriza ainda mais, referindo-se à condição de Deus, em Jesus Cristo: "Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos". Hebreus 2,17.

     Essa identificação de Deus com as mazelas humanas, em Jesus, a encarnação do Verbo, radical e definitiva, como as Escrituras retratam, é o sentido permanente do Natal.

   O Natal na história e o seu efeito permanente no decorrer da história, tem sentido a cada vez que o Espírito Santo batiza em Jesus alguém que nEle crê. Jesus explicou a Nicodemos o sentido desse novo nascimento.

    A solução das mazelas humanas tem resultado em Jesus, quando alguém nele batizado experimenta a morte e ressurreição em Jesus. Socorram-nos as Escrituras: "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida". Romanos 6,4.

   Definitivamente Deus se ocupa com a miséria humana em todos os seus vieses, para muito além de nossa limitada percepção, ou seja, percepção de nossa própria miséria, percepção da dimensão do amor de Deus.

    Que é o homem/a mulher que deles te lembres? Estamos na memória de Deus, que nos revela Seu amor. Devolve a nós a sensibilidade perdida.

      "Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, as Escrituras falando de Jesus, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados". Hebreus 2,17-18.

     A bondade de Deus nos conduz ao arrependimento. Nunca desprezemos a bondade de Deus, reconhecendo que, por ela, alcançamos visão de nossa real condição e também por ela reconhecemos o amor de Deus.

     "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar". 2 Coríntios 7,10. "Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento." Romanos 2,4.

     Natal é tempo de se reconhecer que Jesus, o Verbo que se fez carne, Jesus, Deus encarnado o fez por amor, a fim de resgatar o homem de sua condição miserável. Um presente de si para si mesmo, por meio de Jesus.

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