segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Sobre likes e autoestima

    Definitivamente, contra a maré. Certo dia, quando Jesus acordou cedo, saiu caminhando pelas cercanias do "mar da Galileia", pura pretensão, este apelido, começou a agir como um visionário.

   E olha que estamos perto do ano zero. Estamos em pleno mundo romano, perto do fim do mundo, quer dizer, numa fatia longínqua de terra, a parte mais ao norte da Palestina, uma fatia da província romana da Síria, uma unidade encrenqueira do império.

   Se alguém quer o glamour que a vida tem, exposição na mídia, um mínimo de likes que seja, jamais vai dar com seus costados na Palestina. Foi por aí que Jesus decidiu começar.

   Uma tal Jesus. Visionário. Falava de um "reino". Dizia que seu empenho era por um tal reino de Deus. Até  mesmo um intelectual, que o valha, procurou-o para checar a história. À noite.

   Sim, porque associar a imagem a alguém como Jesus, sem nenhuma pincelada de mídia, detona a própria autoimagem. E se há alguma coisa que cuidar, hoje em dia, e naquela época não era diferente, é a autoimagem. Nicodemos teve esse cuidado.

   Encontraram-se à noite. Escondido. E ele veio com uma conversa, exatamente sobre imagem, dizendo a Jesus que bem achava que ele, Jesus, fosse alguma coisa, porque algo nele, Jesus, sinalizava para isso.

   Jesus veio com essa de reino. Talvez o intelectual até soubesse umas referências sobre essa ideia. Não sabemos, mas pelo menos ele deveria conhecer o sonho de Nabucodonosor, destrinchado, em seu sentido, por Daniel.

  Ora, caramba, se há algo etéreo, como autoimagem, é o sonho. O que é o sonho? Esse, descrito em Daniel, diga-se, de passagem, um livro meio estranho, chamado "Apocalipse do Antigo Testamento" (AAT, ora, se ainda fosse um App).

    Nabucodonosor é imperador da Babilônia e sonha que há uma estátua gigante, com cabeça e dorso de ouro que, de cima para baixo, até os pés, vem decrescendo no grau de nobreza dos metais que a compõem: ouro, prata, ferro, bronze, barro e bronze, até chegar a barro puro.

    De barro são os pés, apoios da estátua, de barro misturado ao bronze as pernas, a coluna da estátua, de modo que, ao se soltar, sem mãos, uma pedra, ela dá nos pés e pernas de barro e sua mistura, e a estátua se esmigalha pelo chão.

   Essa tal pedra cresce e cresce, agiganta-se, e ocupa o mundo inteiro. Isso é um sonho. Qualquer um percebe isso. A moral da história é que a sequência de metais, do mais ao menos nobre, reprentam reinos, impérios que se sucederam na história.

   E a pedra que se desprende, arrebenta com a estátua, esmigalhando-a, significa a diluição, dissolvição desses impérios mundiais ao longo da história, o que, de fato, já ocorreu, e a pedra misteriosa, cortada sem mãos, representa, no sonho, esse tal reino, esse outro do visionário Jesus.

   Que cobra de seu interlocutor, Nicodemos, conhecer. Afirma a ele que é possível enxergar e até fazer parte desse reino. E Jesus vai, por sua vida afora, mencionar o reino. Dizer que, ainda que seja por força, as pessoas devem aspirar a entrar nele.

   Dizer que não adianta procurar sinais visíveis externos dele, porque está dentro em nós (quem somos esse "nós"?). Marcos, o evangelista, diz de uma semente que cresce, cresce, cresce, plantada que foi, que dormindo e somente aguando e cuidando, o dono percebe seu aumento assombroso.

   É isso. Jesus*, trade-mark, quer dizer, marca registrada, acessório para autoimagem pessoal, incrementando teu perfil de mídia, todo mundo quer. Mas o visionário, que espalha a ideia de um reino de Deus, que para entrar nele é preciso enxergar primeiro, talvez essa ideia avaliem como meio louca.

   Que para entrar nesse reino, disse ao intelectual, tem de nascer de novo. Essa geração, literalmente, provém de Deus. Com DNA e autoria comprovada. 

   E cuidado com a palavra reino. Porque quem vai ser convidado para essa festa, é a marginália de rua, cujo cheiro, roupas e pedigree, com certeza, não grajeiam likes. Pobre, então, da autoimagem.

   A quem interessar, ler João 3,1-21, e mais as assertivas de Mt 11,12 e Lu 17,20-21 e 14,15-24. E ainda Daniel 2,1-49. Quem sabe firma-se o hábito de continuar lendo...

domingo, 27 de agosto de 2023

Hebreus - argumentos e advertências

"¹ Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, ² a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. ³ O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas". Hb1 

 Introdução: temos crido que Deus falou mesmo muitas vezes e de muitas maneiras? E que agora nos fala pelo Filho? Temos crido que o Antigo Testamento é o registro dessa fala no tempo e que o Novo Testamento é o registro da revelação do Filho?

 Devido à nossa estrutura humana, falha, constantemente precisamos rever nossa postura, e o autor de Hebreus nos ajuda nisso. Entre os argumentos que expõe, após sua introdução, registra palavras de estímulo necessárias para nos ajudar e nos instruir na revisão de nossa postura diante do evangelho.

    Começa afirmando 7 verdades sobre o Filho de Deus. Vai começar por cima, na posição de glória atual, de Jesus, para depois descer ao nosso nível, ao que é necessário alinhar, por meio de argumentos e advertências, para nos conduzir em meio à nossa certeza de fé.

   Ele começa afirmando sobre Jesus, expondo a identidade do Filho: (1) herdeiro de tudo do Pai, (2) foi por meio de quem Deus criou o universo, (3) é o resplendor da glória do Pai e (4) a expressão exata do ser de Deus, (5) sustenta todas as coisas por Sua palavra (a mesma do Pai, em autoridade), (6) fez, por Si, a purificação dos pecados e, finamente, (7) assentou-se junto ao Pai, na glória que somente ele o Pai possuem.

   Agora passa a expor os seus argumentos. Em Hb 1,5-14, ele expõe a superioridade de Jesus em relação aos anjos demonstrando como, no AT, a fala de Deus com o Filho revelava a total intimidade entre os dois, jamais igualada nem entre anjos. Para logo definir quem eles são, em 1,14

1ª advertência: Hb 2,1-4 - (a) apegar-se com mais firmeza às verdades ouvidas; (b) não negligenciar a natureza dessa salvação; (c) Deus deu testemunho por milagres, prodígios, sinais e pelo dom do Espírito Santo.

 Agora, em Hb 2,5-18, passa a destacar as credenciais do Filho, expondo o que significou ter Jesus "participação comum de carne e sangue" conosco. Resumindo, ele diz: (1) Deus sujeita a Jesus o mundo vindouro, em função da glória que herdou; (2) vemos essa glória, ao reconhecer que provou a morte por todos; (3) pois a Deus foi conveniente tornar Jesus autor de nossa salvação, associando-O à nossa santificação; (4) pois o Filho tem conosco total identificação, exceto no pecado, socorrendo-nos em tudo.

2ª advertência: Hb 3,1-4 - (a) considere a pessoa de Jesus, Apóstolo e Sacerdote de nossa confissão (com + sideral); (b) considere a fidelidade de Jesus, da qual Moisés, por exemplo, privou; (c) considere que Jesus é Filho de Deus, Moisés servo, e que a casa de Deus somos nós (e não o tabernáculo ou o templo).

   Neste 3⁰ argumento, Hb 3,5-19, o autor passa a expor como, de que modo louco, o povo de Israel, priorizado na revelação de Deus e a quem Deus concentra seus sinais, não ouviu a palavra de Deus, porque um "perverso coração de incredulidade nos afasta do Deus vivo", v. 12-15.

3ª advertência: Hb 4,1-2 - (a) tenhamos temor (lembrar Paulo, que acrescenta tremor), para não falharmos (ou apostatarmos) como o foi com a congregação do deserto; (b) pois as mesmas boas-novas, a eles e a nós, foi anunciada, mas a eles "a palavra não aproveitou, visto não ter sido acompanhada por fé naqueles que a ouviram".

   No 4⁰ argumento, Hb 4,3-10, o autor discute como aquele povo poderia ter evitado a peregrinação dos 40 anos, apenas filhos e netos terem entrado, com Josué e Calebe, em Canaã. Aliás, eram todos congregacionais, placar de 10 X 2: sendo 10, a vontade deles, e 2, a vontade de Deus. Esse argumento fala de certeza de salvação: quantos já entraram no descanso de Deus?

 4ª advertência: Hb 4,11-13- (a) esforço pessoal e individual, intransferível, para entrar no descanso, porque a palavra de Deus é viva e eficaz; (b) discerne o que vai no espírito e no coração, como uma espada de dois gumes; (c) revela-nos a nós mesmos diante de Deus: não há como nos escondermos.

   Neste trecho, o autor, em Hb 4,14-16, opera uma transição para a próxima jornada em seu texto. Já havia apresentado Jesus como sacerdote. Agora, reitera, confirma, de modo a desconstruir o antigo edifício do sacerdócio da velha aliança, para construir, em Jesus, o sacerdócio eterno, que nos habilita aos céus.

    Também não deixa de prosseguir em suas advertências: (a) tendo Jesus como fiel sumo sacerdote, conservemos firme nossa confissão; (b) Jesus se compadece e é mediador, diante de Deus, de nossas fraquezas, tendo em tudo sido tentado, nunca tendo pecado; (c) acheguemo-nos, diante do trono da graça de Deus, porque sempre haverá graça e misericórdia para nos socorrer.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

O Filho em Hebreus

"¹ Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, ² a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. ³ O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas". Hb 1


   O autor anônimo de Hebreus inicia sua  carta nas alturas. Resumidamente, logo de início afirma: "Deus falou todo o tempo e de todas as maneiras. E agora, para completar, falou-nos pelo Filho".

   Ou seja, o Antigo Testamento está repleto das falas de Deus. Bem, se há quem descreia, ou avalie que tem de garimpar, nessa parte das Escrituras, as falas de Deus, resta crer ter o Altíssimo, agora, para culminar, ter-nos falado pelo Filho.

   Mas, se, com tudo isso, também não crê que Deus tenha falado pelo Filho, ou seja, ser necessário continuar o garimpo das palavras de Jesus nos Evangelhos, ou que os demais escritores do Novo Testamento blefam, pois nem tudo que dizem, dizem-no em nome de Deus, a situação vai se complicando.

    Vai dar na parábola, que o próprio Jesus contou (para quem nisso acredita), que um Senhor de muitas posses retirou-se e entregou aos servos seus bens. E costumava enviar emissários, para saber como tudo caminhava.

    Pois quando chegavam, para ver as contas, sistematicamente era despachados sob peia, como dizem os acreanos, isto é, espancados e despachados intimidativamente. Ainda que mediante a insistência do dono, que sempre enviava outros e outros e outros.

    Até que o Senhor resolveu enviar o filho, herdeiro máximo de tudo, pois assim, pensou, inverto a intimidação, ou seja, não ousarão tocar nele. Pois ocorreu o inusitado ou o mais esperado, os usurpadores de tudo resolveram matar o filho, raciocinando que, desse modo, não restaria ao Senhor dos bens outra solução.

   E assim o fizeram. A moral da parábola é indicar, pela símile, quem nunca creu em tudo o que o Antigo Testamento atestou, como verdadeiro, desmerecendo todos os profetas por Deus enviados (tipificados na parábola como os servos), e, ainda descreia que o Novo Testamento aponte para o Filho, também nEle não crendo, como que matando-o de novo.

   Pois o autor de Hebreus inicia com a descrição da autoridade máxima do Filho, para falar em nome do Pai. E como foi rejeitado e morto. Porém essa morte Deus reverte em benção.

   E inicia expondo a identidade do Filho que, além de (1) herdeiro de tudo do Pai, (2) foi por meio de quem Deus criou o universo, (3) é o resplendor da glória do Pai e (4) a expressão exata do ser de Deus.

   O Filho ainda (5) sustenta todas as coisas por Sua palavra (a mesma do Pai, em autoridade), (6) fez, por Si, a purificação dos pecados e, finamente, (7) assentou-se junto ao Pai, na glória que somente ele o Pai possuem.

   Nessa apresentação, o autor de Hebreus inicia nas alturas, de onde provém o Filho, reafirma a identidade dEle com o Pai, para então, no decorrer de todo o livro discorrer sobre os efeitos de seu ministério e sua estada entre nós.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Congregação, admoestação e estímulo

"¹⁹ Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, ²⁰ pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, ²¹ e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, ²² aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. ²³ Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. ²⁴ Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. ²⁵ Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima." Hebreus 10:19-25.

     O autor de Hebreus, num dos trechos conclusivos de sua argumentação, desenha um grau de acesso permanente que, por meio de  Cristo, foi conquistado para nós.

   Primeiro, indica que agora, nesta nova condição, há "intrepidez para entrar no Santo dos Santos". Humanamente falando, era um lugar restrito, somente acessível aos sacerdotes judaicos. Pois o autor de Hebreus agora demonstra estar aberto, generalizado o acesso.

   Ele indica que não mais os rituais, porém um fato novo, habilita esse acesso, sendo ele "o sangue de Jesus". Indica-o como "novo e vivo caminho". Trata-se de uma novidade absoluta.

   E passa a mostrar, numa comparação entre o novo e o antigo, como a realidade e suas representações se alinham. O véu que, no templo de Jerusalém, barrava o acesso, simboliza a carne do corpo de Cristo, que concede acesso.

  O sacerdócio restrito, somente para levitas, que atendia exclusivamente à religião de Isarel, apontava para uma concretização agora já realizada, que se materializa em Jesus: Ele é o Sumo Sacerdote real. E passa, então, a indicar o modo desse acesso concedido.

   Menciona o coração, a consciência e o corpo. E com esses níveis e lugares de percepção e santificação, menciona sinceridade, certeza de fé e purificação. Em decorrência, indica as consequências dessa nova postura.

   Guardar a confissão de fé, sem vacilar, confiando na promessa de quem a fez. Animar uns aos outros, no amor e nas obras, que são resultado da salvação.

  E reafirmar a congregação, como o lugar de todo o estímulo e admoestação. Esta é uma situação que implica exortação e, até mesmo, uma insistência semelhante ao incômodo.

  Por isso não devemos abandonar a congregação. Isso ocorre quando tiramos de nossa vida o lugar dela. Pois não há outro lugar onde esse tipo de estímulo e admoestação (ad, ao lado de + molestar, incomodar, exortar) vai manter nossa intrepidez, nossa confiança no Senhor e nossa segurança.

   E toda essa postura é recomendada mediante uma agenda e contagem de tempo de que somente a igreja priva. Somente ela conta desse modo e anuncia esse desfecho de época.

   Condiz com a advertência de Jesus, para o tempo cumprido, a proximidade do reino e a urgência de atitude: "¹⁵ O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho." Marcos 1:15.

domingo, 20 de agosto de 2023

A greja em (seus) Atos

¹ E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos. ² E uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto. ³ E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão. ⁴ Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra. ⁵ E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava a Cristo. ⁶ E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia; ⁷ Pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. ⁸ E havia grande alegria naquela cidade." Atos 8:1-8


    Antes de apreciar a leitura do livro de Atos dos Apóstolos, há três aspectos decisivos como introdução geral: 1. É um livro teocrático, ou seja, que indica a ação direta de Deus na vida da igreja; 2. É um livro fidedigno e que demonstra a fidelidade de Deus a suas promessas; 3. É um livro atual, sua história ainda está sendo escrita e, positiva ou negativamente, fazemos parte dela.

   Portanto, de imediato, há três implicações diretas paraa nossa vida: 1. Desejamos dirigir nossa vida ou desejamos que Deus a dirija? A nossa vida pertence a Deus ou a nós mesmos? 2. "Deus não cumpre as promessas que nunca fez, mas cumpre todas as que fez": Ele não está a nosso serviço, como seguro de vida grátis, mas nossa vida está a serviço dEle. 3. A partir da recomendação de Jesus, a igreja se instala e inicia seu ministério. Em Atos, ela chega à capital do mundo, espalha-se por toda a parte e, no seu clímax, abre sua história até à vinda de Jesus.

   Atos nos ensina que o agir de Deus rege a história. Precisamos enxergar isso e nos ver incluídos nele. Há quatro momentos iniciais nesse livro que indicam o que move a igreja, definindo sua identidade, assim como a continuidade de seu ministério e autoridade.

   O pirmeiro desses quatro momentos é aquele do impulso da espiritualidade, ou seja, a promessa do derramamento do Espírito Santo se cumpre em Pentecostes. Jesus havia advertido aos apóstolos que, sem a autoridade, plenitude e condução do Espírito, não arredassem os pés de Jerusalém.

   A primeira atitude da igreja, movida e plena do Espírito Santo, é ir para as ruas. Atos registra, por boca de Pedro, na pena de Lucas, a primeira pregação após a ressurreição de Jesus. Isso define o principal ministério para a igreja. E, de 120 pessoas, encurraladas num cenáculo, tem-se agora cerca de 3000, de 14 diferentes recantos do mundo da época, que encontraram Jesus na festa de Pentecostes em Jerusalém.

  Este é o impulso da espiritualidade, resultado da promessa de Deus, marcado pela descida do Espírito Santo, impulsionando a igreja para cumprir seu ministério e exercer sua autoridade. Porque os novos convertidos, de volta às suas localidades, pregam, implantam igrejas, são movidos por esse agir de Deus. O próximo impulso, talvez, não tenha tanta visibilidade mística ou propaganda midiática como o primeiro.

   Trata-se de outro momento, na vida da igreja, que é aquele do impulso pelo sofrimento. Ele já se configura na presença da igreja nas ruas, no segundo sermão de Pedro, agora na esplanada do Templo de Jerusalém. Os apóstolos são duramente ameaçados, reprimidos, açoitados e presos.

    Destaca-se um líder nessa perseguição. A palavra usada é que Paulo assola a igreja. Essa perseguição não deixa de impulsionar a igreja. Deus dela se vale para cumprir Seus desígnios. E os que são dispersos, pela tribulação notável que sobrevem a Estêvão, seguem anunciando a palavra por onde vão.

   Mais um momento na vida da igreja se configura no terceiro impulso. E esse é missionário. Jamais se poderia imaginar que, pelo Seu poder e soberana vontade, Deus converteria Saulo, benjamita e líder fariseu, perseguidor por excelência da igreja, vocacionando-o como missionário. O melhor da liderança de Antioquia é destacado para missões.

   "Não sabemos como o Espírito falou e como a igreja ouviu, mas sabemos como a igreja estava: em jejum e oração". Inicia-se o movimento que atinge e aviva todo o mundo da época. A estratégia é procurar as sinagogas, cumprindo o ide de Jesus, lugar onde as Escrituras são estudadas. Mas uma vez rejeitada essa visitação de Deus, os apóstolos se voltam aos gentios.

   E o quarto momento se define como o impulso da multiplicação de igrejas. À medida que Paulo e seus companheiros implantam igrejas, instruem a que sejam missionárias. E Deus define a estratégia. De novo, não sabemos como Ele, por meio do Espírito, diz não à Bitínia e, pelo menos naquele momento, não à Ásia, mas sabemos, com clareza, que os apóstolos entendem que o momento é da Macedônia.

   E o livro prossegue demonstando como foi essencial entender isso. A igreja não definia por si mesma, mas seu impulso missionário era espontâneo bastando, apenas, Deus indicar o lugar exato. Por exemplo, Paulo expressar em sua carta aos Filipenses, que essa igreja se associava a ele em seu trabalho missionário.

   Ajudaram a implantar igreja em Tessalônica. Em sua carta a essa igreja, o apóstolo descreve, em relação àqueles irmãos, da "abnegação do amor, da operosidade da fé e da firmeza da esperança" em Jesus. Em relação aos de Bereia, destaca seu interesse pelas Escrituras. E ainda quanto à igreja de Filipos, quantos empecilhos não impediram que, naquela cidade, surgisse uma igreja.

   E assim o foi em Corinto, na Ásia, em Éfeso, mesmo em Jerusalém, onde provações e ciladas até mesmo os patrícios lhe preparavam, e foi assim, de provação em provação, que chegará a Roma. O profeta Ágabo certifica de que será encarcerado. Mas o que os irmãos interpretaram como obstáculo, Paulo esclarece que será alavanca para chegar a Roma e que, nunca, nenhuma circunstância será suficiente ou intimidadora para que ele proclame o evangelho.

   Irmãos, a crise ou qualquer crise, seja interna, da igreja, seja fora dela, pressionando-a, deve ser por nós entendida como alavanca para a igreja. Todos esses momentos vividos em Atos serviram de impulso. Eles se configuram em repetição. E se constituem em desafios, não em obstáculos.

    Cabe a nós interpretarmos a época. Construir nossa estratégia. Motivarmo-nos a nós mesmos. Somos nós que realizamos a leitura das Escrituras, para nelas identificar os rumos que Deus deseja nos mostrar. E também nós que valorizamos a Bíblia, entendendo-a como nosso manual de ação.

   A pregação do evangelho é nossa principal tarefa. O anúncio do reino de Deus, dentro dos parâmetros estabelecidos por Jesus, que são urgência, tempo definido e contado, proximidade e plano de acesso, qual seja, arrependimento e fé no evangelho, constituem-se no essencial cumprimento do ministério da igreja. Tudo o mais subscreve-se a isso. 

    Precisamos interpretar nosso tempo e nossa época. Essa leitura deve ser constante e lúcida. Afinal, como igreja, somos instituição ou povo dirigido e guiado por Deus? Preferível nos vermos como o povo no deserto, namorando de Deus, em paixão e no primeiro amor, como diz Oseias, em sua profecia, carregando a tenda, como uma igreja de sobrevivência na jornada temporária nesse mundo. 

   Com o mínimo de dependência, como diz Paulo aos Coríntios, vivendo no mundo é do mundo, mas não preso ou dependente interinamente dele. Não se deixando invadir pela mentalidade que, de assalto, tenta tomar tudo para si, definindo como seu todos os valores, absorvendo para si todas as coisas. 

   A igreja é vanguarda da ação de Deus. Assim precisa se entender, assim precisa agir, em nome de Jesus, cumprindo sua missão.

    

Graça por graça

 

   Tenho uma dívida permanente de gratidão. A irmã Graça Silveira foi decisiva em meu começo como professor na cidade de Rio Branco, em 1995, logo que aqui chegamos, eu e minha família.

    Compreendemos  eu e ela, como dádiva de Deus. E lhe fui grato, sempre mencionando e me recordando do dia em que, residindo no Bela Vista, na Floresta, na casa pastoral da Igreja Presbiteriana, deparei uma senhora batendo palmas e me chamando pelo nome.

    Era a Diretora da Escola Municipal Dom Giocondo Maria Grotti, onde trabalhava a irmã Graça Silveira, que, sabendo de minha formação, havia indicado a Letiva o meu nome.

   Eu disse, mas como? A Diretora perguntou: O Sr é formado em Língua Portuguesa? E confirmei que sim, Licenciatura Plena. Puxa, professor: estamos quase em maio e não temos professor na escola.

     Eu retruquei: como ajudar? Fácil, disse ela: Passe na Secretaria de Educação da Prefeitura e pegue uma autorização. Foi o que fiz e assim iniciei, nesta cidade, minha jornada como professor. 

   Por isso, associo à irmã Graça Silveira a iniciativa que, para mim, confirmou formação acadêmica e profissional porque, desde 1980, Deus me conduzia, no dilema de sair do curso de engenharia, entendendo as letras e não os números como vocação.

    E seria em Rio Branco, Acre, o início do magistério, associando a carência ocorrida na cidade, naquela época, à providência dEle, movendo o expediente da irmã Graça Silveira em me indicar à sua Diretora.

     O dilema da decisão letras X números foi marcante em minha vida.  Agora, com 66 anos, pode nem parecer tão dramático, mas por volta de meus 20 anos o foi. Pois a compreensão dessa confirmação e o início em sala de aula, no Acre, foi decisivo.

    Deus tudo norteou, definindo, construindo e demarcando minha personalidade. Terminando o Seminário em 1981, em 1983 fui convidado a dar aulas de hebraico. Configurava-se o perfil de professor, e não engenharia, cuja matrícula tranquei em 1979.

     Então habilitei-me na UERJ, 1982-1988, cursando licenciatura em Português-Hebraico, eu e pastor Paulo Leite, como no Seminário, colegas de turma. Fui ordenado pastor em 02/01/1983 realizei concurso, em 1992, no Rio de Janeiro e, em agosto de 1994, chamado para lecionar no município dessa cidade.

   Mas fiquei apenas até dezembro de 1994, para vir para Rio Branco, onde agora Deus confirmava a formação realizada, suprindo o sustento da família, usando, para isso, a presteza da irmã Graça Silveira.

    Junto com o ministério pastoral, a relação construtiva com os alunos, 16 anos na escola pública, com mais 15 anos seguidos em escolas privadas, delinearam o traço de minha vida nestes 28 anos de Acre.

    Deus usou a irmã Graça Silveira para me introduzir nessa dinâmica. Reconheço isso, diante de Deus, jamais esqueci e sempre menciono. Realizei concurso em 1997, iniciei no CEBRB em 1998, completei a outra matrícula em 2006.

   Também tive o privilégio de realizar, com o pastor Nelson Rosa, o casamento de sua filha Meire. E conhecer o seu filho, Fred, da maneira mais divertida e inusitada possível.

   Vindo ao Acre, pela primeira vez, em agosto de 1993, logo reconheci os indícios de chamado. Faltava confirmar com a esposa, no Rio de Janeiro, e demais ajustes, que sempre somam nessa confirmação.

   Marcamos para julho de 1994 a nossa vinda mas, em função do nascimento do bebê Isaac, em abril, adiamos para janeiro de 1995. Então decidi retornar ao Acre, para ajustar onde morar, quando a família chegasse.

   Foi quando conheci Fred. Havia uma "pelada" de futebol de salão, na quadra do antigo colégio Lindaura Leitão, na Isaura Parente, já demolido por problemas estruturais.

   Era noite, refletores acesos, jogo correndo, e alguém me apresentou ao Fred. Ele, mais do que empolgado, bem ao seu estilo, parou a bola. E me levou à quadra, apresentando o carioca que vinha para o Acre, pedindo que eu falasse algo sobre o evangelho.

   Bem ao seu estilo. Eu gaguejei, é claro. Não estava acostumado a esse estilo. Mas falei: Desculpem o Fred, mas a vida é assim mesmo, o inesperado ocorre. Por isso devemos estar preparados, e o evangelho é a melhor prevenção, para esta e qualquer outra surpresa, positiva ou não.

   Tudo muito rápido. Posteriormente, conheci os outros filhos da irmã Graça, Jane e Fernando. Agora sei que há netos e até bisneta. O gesto da irmã Graça Silveira estabeleceu o elo que confirmava meu ingresso no magistério, em Rio Branco, já indicado o elo da providência de Deus, habilitando-me, desde meus 20 anos, também para o ministério pastoral.

   Nesse ano de meu início, em abril de 1995, nosso sustento duplicou, visto que Regina cuidava de Isaac, com 1 ano de vida, e somente em 1998 inciou no colégio onde, até hoje, ela trabalha.

   Gratidão a Deus. Gratidão à iniciativa dessa irmã. Certeza de sua companhia ao lado de Jesus. Marcas de sua vida cristã, mais de perto marcando a vida de seus filhos e filhas, assim como testemunhando a tantos outros.

   Gratidão pela vida do pastor Nelson e sua esposa Josilene, incansáveis no anúncio do evangelho, em seu labor no Reino de Deus e no exemplo de dedicação, vocação e chamado a uma dedicação integral. Ah, Senhor, se a geração de hoje imitasse esse casal...

   Por meio deles o evangelho alcançou a família de Graça Silveira. Por meio deles, seguindo seu despertar missionário, eu e minha esposa enxergamos o Acre e o apelo "passa a Rio Branco e ajuda-nos".

   Por meio da irmã Graça, Deus, em sua graça, confirmou o elo que, desde os dramas de meus 20 anos, habilitava-me, muitas vezes sem eu nada vislumbrar, que a dobradinha magistério/ministério seriam meu traço de existência.

    Ontem, no sermão pelos 168 da denominação congregacional, essa que a irmã Graça abraçou, com toda a sua dedicação, o pastor Nelson Rosa lembrou como ela foi essencial, em sua amizade e seu amor, tanto para ele, quanto para sua esposa Josilene.

   Companhia mais que frequente nas evangelizações diárias, nas visitações, sempre membro da igreja onde eles estivessem, fosse Tancredo, Vila Betel ou Ilson Ribeiro. Dizimista fiel. Ainda que estivesse fora de Rio Branco, nunca falhou em sua fidelidade.

   Graça e minha mãe Dorcas estão agora juntas no mesmo lugar, em companhia de Jesus e todos os demais que já partiram. Quando minha mãe se foi, pedi a Deus que me concedesse ser muito mais parecido com ela, ainda nesta vida.

   Pois na medida em que elas marcaram nossas vidas, na medida em que muito imitaram Jesus, como filhas muito amadas, resta a nós aumentar ainda mais, para além das marcas que deixaram em nós. Exemplos de mulheres virtuosas.

   Graça por graça.

Marcas de valor:

sábado, 19 de agosto de 2023

Família sorriso

    

      Família linda essa a nossa. Sou filho do quarto filho. Antônio e Adalgiza geraram 11 filhos. Mas criaram 8 entre eles. Pela ordem, Nair, falecida; José; Alaíde, falecida; Dejanira; Maria; e meu pai, Cid. Depois vieram Jani, Mário, João Batista, também falecido ainda bebê, e Isaías, o caçula

     Dejanira era o sorriso mais lindo entre todos. Visitei tia Deja muitas vezes em Cosmos, encostadinho em Paciência. Por isso me acostumei a conviver com as filhas dela, Dionice e Dalmi.

   Os meninos eu via menos. Dirceu foi com quem mais convivi. Lembro de um almoço em sua residência, família completa, ele, a esposa, os filhos, eu, meu pai e minha mãe.

   O mais velho de tia Deja foi com quem menos convivi. Aliás, não me lembro de sua fisionomia. Mas as meninas de Deni, ora, conheci-as ainda solteiras. Sempre as achei muito lindas.

   Herdaram o sorriso da avó materna, mas também do pai, Ademar. Dele também não esqueço o sorriso. Aliás, Ademar sorria com o rosto inteiro. Como Ana Lúcia, que muito se parece com o pai. No livro que escrevi, sobre nossa família, menciono os pais dele.

   Foi nessa casa que, em 1951, minha mãe se hospedou, quando foi visitar essa família linda, no recanto que conhecemos como roça. Ademar foi a referência e o motorista avisado para deixá-la na porteira da fazenda de Manel Chiquinho e d. Aninha.

   Mas que gente hospedeira! Acolhedora ao máximo. Que refeição gostosa. Minha mãe nunca esqueceu. Juntavam-se os sorrisos de tia Maninha com os de toda essa gente linda.

  E o evangelho? O que dizer do evangelho? Gente, eu sou a terceira geração. Porque se contarmos os avós, Dionice, Dalmi, seus irmãos e eu, que somos primos, somos 3ª geração.

   Pois vocês que são 4ª, 5ª e até 6ª, jamais deixem de crer no evangelho. Podem acreditar que, por detrás desses sorrisos, encontra-se a palavra de Jesus e, por que não dizer, o sorriso dele. Porque sorrimos o sorriso de Jesus.

   Como cresceu essa família! E sempre toda linda. E sempre toda de Jesus. E com o sorriso dEle. E não se pode dizer que não houve muitas lutas e provações. Momentos de tristezas, como este agora experimentado. Mas quem partiu, foi para a casa que Jesus preparou.

  E deixaram conosco, que aguardamos chamada, essa certeza. Jesus disse: "Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Vou preparar-vos lugar". Todos os que partiram antes de nós creram nessa promessa.

   Daí termos a certeza de que vamos encontrar lá todos esses sorrisos. Lá não há mais lágrimas, a não ser de alegria. Nem morte, nem dor, nem mais pecado.

   Inesquecível o sorriso de Dionice. Mas sem inveja, mana Ana Lúcia, porque o seu não fica atrás. A gente olha para você, e vê, rememora com saudade, seu pai. E escuta a gargalhada de sua mãe.

   Estamos distantes somente na geografia. Porque em oração e em comunhão, estamos unidos. Sigamos firmes nas promessas que, desde nossa avó e, no seu caso, dos bisavós, também nos foram deixadas como herança.

   Aqui me lembro do Salmo 16, no qual o salmista se expressa, dizendo: "É mui linda a minha herança". Sim, é muito linda a nossa herança, muito linda a nossa família e muito lindos esses sorrisos. 

   Linda a presença de Jesus em nossa vida e em nosso viver.
Família de Dionice: filhas Dioni e Daniele
 e netos e netas


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Síndrome de Adão e Eva

 "A interação verbal só é possível por meio de algum gênero que se materializa em textos, que assumem formas variadas para atender a propósitos diversos, e essas formas e propósitos somente são acessíveis por meio dos suportes, pois neles é que estão gravadas e registradas (física ou virtualmente) as marcas dessa interação que se estabelece."

    Síndrome: "Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que define as manifestações clínicas de uma ou várias doenças ou condições clínicas, independentemente da etiologia que as diferencia".

   Somos portadores da "síndrome de Adão e Eva". Esta é uma das narrativas, talvez a mais ridicularizada das encontradas no texto bíblico. Acima, indicamos outra definição.

   Considerada lida, expressa o texto e seu gênero literário como suporte de uma interação verbal. Portanto, o texto bíblico é suporte para a interação verbal entre Deus e o ser humano, seja homem ou mulher.

   Uma vez suposta a existência de Deus, ou seja, para quem crê em Sua existência, o texto bíblico constitui-se no veículo dessa comunicação. Isto é, há verdades reveladas por detrás, por assim dizer, do que expressa o texto.

   Síndrome de Adão e Eva significa dizer que, pelo expresso na Bíblia, que nos coloca como descendentes diretos desse casal primordial, herdamos deles virtudes e defeitos.

   O texto diz que Deus nos criou à Sua imagem e semelhança porém, agora decaídos, por herança desse prirmeiro casal, somos também à imagem e semelhança de Adão e Eva.

   Portanto, herdar essa síndrome, significa dizer que a história se repete. E não é como farsa. Estamos fora do paraíso (e, definitivamente, nus), mas as sugestões da serpente nos perseguem.

   Em Lucas 4,13, este evangelista faz uma menção dessa mesma personagem do Gênesis. Textualmente, Lucas afirma: ¹³ Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno."

   Aqui trata-se de Jesus, diga-se, de passagem, personagem que herdou a imagem e semelhança de Deus, mas não herdou essa mesma imagem e semelhança de Adão e Eva, mas foi submetido, como o primeiro casal, às mesmas tentações.

   Que tentações? Como ficou explícito no texto do Gênesis (e como destaca um teólogo muito conhecido, Karl Barth), é relevante, antes de ridicularizar a personagem serpente, no suporte literário, em Gênesis, ater-se ao que ela diz.

   Pelo menos, três coisas ela diz: 1. "É assim que Deus disse?" Portanto, põe em dúvida o que Deus diz, se é que diz alguma coisa; 2. Ora, se porventura Ele diz, faça exatamente o contrário: ele disse "Certamente vão morrer?". Eu digo, disse a serpente: "É certo que não vão morrer". Faça o contrário, diz ela.

   E 3. "Como Deus, conhecereis o bem e o mal". Aqui ela quis dizer, ora, vocês é que são deus, sejam "como" deus, sejam deuses vocês mesmos. Vai ver que ele nem existe...

   Herdamos a sindrome. Mesmo nus e fora do paraíso, a serpente sussura aos nossos ouvidos. E, pelo suporte do Evangelho, no texto de Lucas, a identidade da serpente está desvelada. Se havia alguma dúvida, trata-se do diabo.

   Alguém pode dizer, ora, se eu não cria nem na serpente, muito mais no diabo é que não creio. Desculpe insistir, mas crer, ter fé, é em Jesus que se deposita. Jesus é o objeto de nossa fé. E noutro trecho das Escrituras, está escrito que ele é Autor e Consumador da fé.

   São tentações de toda sorte. Ela se retira e retorna, sempre procurando ocasião oportuna. Você não tem de acreditar nela. Basta saber que, de antemão, como cartão de identidade, vai te propor: 1. Ponha em dúvida o que Deus diz (se é que o diz); 2. Faça o contrário (tem, para isso, todas as minhas garantias); 3. Em caso de ainda ter dúvidas, ora, seja deus você mesmo: não existe bem e mal.

   Essa síndrome persiste. Mas tem tratamento.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Antecedentes de Jeremais

 "¹ A mim me veio a palavra do Senhor, dizendo: ² Vai e clama aos ouvidos de Jerusalém: Assim diz o Senhor: Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva, e de como me seguias no deserto, numa terra em que se não semeia. ³ Então, Israel era consagrado ao Senhor e era as primícias da sua colheita; todos os que o devoraram se faziam culpados; o mal vinha sobre eles, diz o Senhor. ⁴ Ouvi a palavra do Senhor, ó casa de Jacó e todas as famílias da casa de Israel. ⁵ Assim diz o Senhor: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para de mim se afastarem, indo após a nulidade dos ídolos e se tornando nulos eles mesmos, ⁶ e sem perguntarem: Onde está o Senhor, que nos fez subir da terra do Egito? Que nos guiou através do deserto, por uma terra de ermos e de covas, por uma terra de sequidão e sombra de morte, por uma terra em que ninguém transitava e na qual não morava homem algum? ⁷ Eu vos introduzi numa terra fértil, para que comêsseis o seu fruto e o seu bem; mas, depois de terdes entrado nela, vós a contaminastes e da minha herança fizestes abominação. ⁸ Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, os pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram por Baal e andaram atrás de coisas de nenhum proveito."

Jeremias 2:1-8

    Com Jeremias, cerca de 150 anos após Isaías, numa forma poética, como afirmam os analistas, por influência de sua leitura de Oseias, menciona-se, numa forma acentuadamente poética, a afinidade entre Deus e seu povo e como ela foi invertida pela infidelidade.

   Havia uma afeição de Israel muito mais íntima com o Senhor, em sua juventude, quando conduzidos pelo deserto, então considerados consagrados ao Senhor, protegidos da gana usual dos inimigos à volta. Mas o passo seguinte da fala do profeta é questionar sobre o que mudou.

   Como se tornou possível, inquire o profeta, falando em nome do Senhor, terem se afastado de Deus e seguido após a nulidade dos ídolos. Absurda opção. Estupenda a menção de que não se tenham questionado, eles mesmos, frente a essa escolha estúpida, perguntado-se pelo Deus da antiga relação, pelo seu resgate do Egito, condução pelo deserto e herança da terra prometida.

    O profeta ressalta a série se perigos pelos quais passaram, como nômades no deserto, numa "terra de ermos e covas, sequidão e sombra de morte", região inóspita, para posteriormente introduzi-los numa terra fértil, da qual havia provisão de todos os frutos, lembrada a constatação dos espias e a recorrente legenda da "terra que mana leite e mel".

    Mas logo vem a menção de uma inexplicável razão das distorções de conduta, contaminando-se a si mesmos e à terra, tornando-se abomináveis. E com a cumplicidade de toda a liderança que, no contexto de Israel, era especificamente consagrada para que fossem modelo de conduta e advertência.

   Jeremias alinha os sacerdotes, os doutores da lei, os pastores, os profetas, enfim, contra todos estará a postura do profeta, visto que todos se posicionam contra Deus, sejam grandes e pequenos. O profeta, definitivamente, será rejeitado, em todos os graus, incluída Anatote, sua vila Natal, colada a 5 km de Jerusalém.

   A notoriedade ao inverso de Jeremias, na capital, reverbera em sua vila. Definitivamente convertido ao Senhor, do mesmo modo, quase sozinho, como "cara dura", segundo explicitado em sua vocação, coloca-se contra quem se coloca, de si mesmo, contra Deus.

   Fiel ao Senhor e à sua vocação, exatamente desse modo o profeta cumpriu seu papel: 

¹⁸ "Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de ferro e por muros de bronze, contra todo o país, contra os reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo." Jr 1,18.

   Nunca foi esse o expediente que o profeta preferiu ou escolheu. E não combinava com o seu temperamento. Mas pesou sobre ele essa obrigação. As desculpas costumeiras, registradas na descrição de sua vocação, no início do livro, retratam com que constrangimento aceita o seu chamado.

   Desse modo aprende. Desse modo sensibiliza-se, para privar do mesmo sentimento de Deus. Em sua vocação, o profeta aproxima-se ao extremo do Senhor, a fim de vivenciar, como padrão, a comunhão que Deus deseja manter com Seu povo.

domingo, 6 de agosto de 2023

No que se baseia a nossa fé

 Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor?

1. Nossa fé se baseia na pregação, do anúncio da palavra de Deus: Ele verdadeiramente fala;

² Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse.
³ Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.

2. Nossa fé se baseia no "Renovo de Deus": porque Deus reduz a nada o que, prepotentemente, supõe ser;

⁴ Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.
⁵ Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.

3. Nossa fé se baseia no que fez por nós o Renovo de Deus: o que supostamente seria feito nosso não conta;

⁶ Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
⁷ Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
⁸ Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido.
⁹ Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.

4. Nossa fé se baseia na afronta feita ao Renovo: ainda que seja a maior marca do pecado humano, para Deus é salvação;

¹⁰ Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
¹¹ Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.
¹² Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.

5. Nossa fé se baseia no que Deus reconhece com ação dEle a nosso favor, ainda que reprente desamparo ao Filho.

Isaías 53:1-12

Sorrisos

 

Camila

                  
                    David                        Samuel                                               
    Não sei se JOCUM teve domingo assim tão triste. Todos esperamos que jamais se repita. Também não sei se há provação maior do que esta. Mas sempre ecoa a exortação de Tiago: tende motivo de toda a alegria.

  Tiago poderia, em sua tentativa, muito difícil de entendermos, dizer somente "tende motivo de alegria". Mas ele ainda menciona "toda a alegria". Onde e como toda a alegria?

   Só se for no céu. No céu, há sempre alegria. E a gente imagina e agradece a alegria da recepção de nossos missionários, tão cedo e tão jovens. Quanta alegria nessa acolhida!

   Eles decidiram que suas vidas seria levar aos outros, a tantos, a "toda tribo, língua, povo e nação" toda a alegria. Mesmo sabendo das provações que se enfrenta neste mundo.

   Das aflições, como preveniu o Mestre deles e nosso: "No mundo tereis aflições". Amanhece para todos nós um domingo cheio de aflições. O primeiro domingo no céu para Camila, David e Samuel. Os sorrisos de uma vida com Jesus, que só temos, agora, nas fotos, com certeza, brilham, com muito maior intensidade agora, no céu.

   Agora no céu. Imaginaram o sorriso de Jesus ao recebê-los? Eles e nós somos os únicos a fazer essa ponte. Somos os únicos a afirmar, com ousadia, segundo menciona o autor de Hebreus, que Jesus entrou no céu para nos preparar lugar.

   Motivo de toda a alegria. Aqui, Senhor, não está sendo um domingo de alegria. Mas na Tua providência e soberania, na expectativa do teu amor e teu consolo, venha sobre nós a tua paz.

   Essa mesma, que a Bíblia diz que excede todo o entendimento. Eles atendiam o Teu clamor: "Quem há de ir por nós"? Atenderam a exortação de Jesus: "Nunca deixem de horar por obreiros para a seara".

   Que falta farão entre nós! Que ausência agora em meio a sua família. Por isso, Pai, nesta hora, somente a nossa fé, a fé de uma vez concedida a nós e a eles, que agora então contigo aí, somente essa fé pode abrir nossa visão.

   Somente essa fé pode nos consolar. Pode intensificar nosso compromisso. Somente nós, igreja de Jesus, reafirmamos que há uma ponte permanente entre esta vida e a vida eterna no céu. Viveremos para isso, enquanto aqui estivermos.

   Nunca deixando de anunciar toda a alegria. Nunca deixando de ter motivo de toda a alegria. Ainda que a provação seja muito dolorosa.

    Por detrás dos sorrisos, toda a certeza de estar sempre no lugar onde Jesus quer que estejamos. Sorriso por realizar, com toda a intensidade, a Sua vontade. Nunca se apagam. Nunca esqueçamos deles. Vamos sorrir igual, mesmo com qualquer motivo de toda provação.

Nada: Grupo Logos