sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Síndrome de Adão e Eva

 "A interação verbal só é possível por meio de algum gênero que se materializa em textos, que assumem formas variadas para atender a propósitos diversos, e essas formas e propósitos somente são acessíveis por meio dos suportes, pois neles é que estão gravadas e registradas (física ou virtualmente) as marcas dessa interação que se estabelece."

    Síndrome: "Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que define as manifestações clínicas de uma ou várias doenças ou condições clínicas, independentemente da etiologia que as diferencia".

   Somos portadores da "síndrome de Adão e Eva". Esta é uma das narrativas, talvez a mais ridicularizada das encontradas no texto bíblico. Acima, indicamos outra definição.

   Considerada lida, expressa o texto e seu gênero literário como suporte de uma interação verbal. Portanto, o texto bíblico é suporte para a interação verbal entre Deus e o ser humano, seja homem ou mulher.

   Uma vez suposta a existência de Deus, ou seja, para quem crê em Sua existência, o texto bíblico constitui-se no veículo dessa comunicação. Isto é, há verdades reveladas por detrás, por assim dizer, do que expressa o texto.

   Síndrome de Adão e Eva significa dizer que, pelo expresso na Bíblia, que nos coloca como descendentes diretos desse casal primordial, herdamos deles virtudes e defeitos.

   O texto diz que Deus nos criou à Sua imagem e semelhança porém, agora decaídos, por herança desse prirmeiro casal, somos também à imagem e semelhança de Adão e Eva.

   Portanto, herdar essa síndrome, significa dizer que a história se repete. E não é como farsa. Estamos fora do paraíso (e, definitivamente, nus), mas as sugestões da serpente nos perseguem.

   Em Lucas 4,13, este evangelista faz uma menção dessa mesma personagem do Gênesis. Textualmente, Lucas afirma: ¹³ Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno."

   Aqui trata-se de Jesus, diga-se, de passagem, personagem que herdou a imagem e semelhança de Deus, mas não herdou essa mesma imagem e semelhança de Adão e Eva, mas foi submetido, como o primeiro casal, às mesmas tentações.

   Que tentações? Como ficou explícito no texto do Gênesis (e como destaca um teólogo muito conhecido, Karl Barth), é relevante, antes de ridicularizar a personagem serpente, no suporte literário, em Gênesis, ater-se ao que ela diz.

   Pelo menos, três coisas ela diz: 1. "É assim que Deus disse?" Portanto, põe em dúvida o que Deus diz, se é que diz alguma coisa; 2. Ora, se porventura Ele diz, faça exatamente o contrário: ele disse "Certamente vão morrer?". Eu digo, disse a serpente: "É certo que não vão morrer". Faça o contrário, diz ela.

   E 3. "Como Deus, conhecereis o bem e o mal". Aqui ela quis dizer, ora, vocês é que são deus, sejam "como" deus, sejam deuses vocês mesmos. Vai ver que ele nem existe...

   Herdamos a sindrome. Mesmo nus e fora do paraíso, a serpente sussura aos nossos ouvidos. E, pelo suporte do Evangelho, no texto de Lucas, a identidade da serpente está desvelada. Se havia alguma dúvida, trata-se do diabo.

   Alguém pode dizer, ora, se eu não cria nem na serpente, muito mais no diabo é que não creio. Desculpe insistir, mas crer, ter fé, é em Jesus que se deposita. Jesus é o objeto de nossa fé. E noutro trecho das Escrituras, está escrito que ele é Autor e Consumador da fé.

   São tentações de toda sorte. Ela se retira e retorna, sempre procurando ocasião oportuna. Você não tem de acreditar nela. Basta saber que, de antemão, como cartão de identidade, vai te propor: 1. Ponha em dúvida o que Deus diz (se é que o diz); 2. Faça o contrário (tem, para isso, todas as minhas garantias); 3. Em caso de ainda ter dúvidas, ora, seja deus você mesmo: não existe bem e mal.

   Essa síndrome persiste. Mas tem tratamento.

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