domingo, 30 de julho de 2023

O sermão da alegria

 "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor." Salmos 122:1.

   O salmo que associa alegria ao ato de ir à casa do Senhor. A primeira pergunta seria sobre o que é "alegria".

   Há várias razões por que se alegrar. Desde a simples euforia até razões mais fundamentais da alegria.

  A Bíblia menciona outras situações em que alegria tem esse fundamento. Como, por exemplo, no Salmo 1, quando toda a alegria ou muita alegria está associada a meditar na Lei do Senhor.

   Não meramente meditar, mas no efeito da troca de situações de risco flagrante, pelo hábito de pôr em prática, no dia a dia da vida, o que ensina a Lei do Senhor, evitando os "grupos de risco" dos ímpios, pecadores e escarnecedores, imitando e até assimilando seu mau exemplo.

   Outro Salmo é o 100, no qual há um convite a celebrar o Senhor com alegria. Todas as terras devem celebrar. Somos convidados a servir ao Senhor com alegria, como modelo a todas as terras. E exatamente nos ensina como devemos nos apresentar na casa do Senhor.

   "Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome." Salmos 100:4.

   Neste trecho, há como que uma exortação a que, pelas portas da casa do Senhor, entremos com gratidão, com hinos de louvor, louvando o nome do Senhor e bendizendo o seu nome. Até que ponto nossa sensibilidade, como crentes, ou a ausência dela, habilita a considerarmos exatamente assim nosso ingresso pelas portas da casa do Senhor?

  Há certos desdobramentos e certas motivações de alegria. O próprio salmista, em outro trecho, diz "Sabei que o Senhor é Deus, foi ele quem nos fez e dele somos".

   Há então três razões que são "saber", "ser" e "pertencer" ao Senhor. E ainda o salmista encerra, indicando mais três razões: "Deus é bom, eternas são sua misericórdia e sua verdade".

   Podemos, então, afirmar que, na casa do Senhor, somos exortados a refletir sobre nossa identidade, que está, definitivamente, associada à identidade de Deus.

   Deus não é algo fora de nós, mas também não é um ídolo inventado por nós, mas dEle vêm as bênçãos, como essas de saber-se dEle, ser em função dEle e pertencer a Ele.

   A outra parte do versículo, Sl 112,1, menciona a casa do Senhor. Desde muito cedo, na história de Israel, Deus deseja preparar uma casa onde o povo residir.

   No Egito, eram escravos. Ali não tinham casa definitiva. Ao sair, no deserto, eram peregrinos, moravam em tendas. Tanto que Deus planejou e orientou Moisés a construir uma tenda, um tabernáculo, como morada de Deus com o povo.

   Casa então significa morada, refúgio, lugar de habitação e segurança. Deus estar presente no meio do povo representava identidade e segurança. O que havia na tenda era tudo o que havia nas tendas de ttodos. 

    Somente que, na Tenda do Tabernáculo, havia um áudio-visual profético que apontava para Jesus. Porque Ele é quem, definitivamente, iria nos habilitar a morar na Casa do Senhor, não nessa tenda terrena de nossa peregrinação, mas na celestial e eterna.

   Então, vir à casa do Senhor, é reconhecer que Ele habita entre nós, que todos somos conduzidos por Ele, que nossa casa definitiva é onde ele está, que Ele segue conosco todo o tempo.

   Claro que o Novo Testamento revela que Deus habita em nós, que somos um edifício construído e onde o Espírito Santo habita e que o próprio Jesus e o Pai exortam a que, uma vez guardada a Sua palavra, o Pai e o Filho habitam em nós.

   Mas a salvação não é individualista. As bênçãos de Deus não vêm seletivamete, somente para alguns, senão para todos. A casa do Senhor é o lugar que nos ensina que Deus habita no meio de Seu povo.

   Por isso o salmista generaliza: "somos o seu povo, rebanho do seu pastoreio". Somos então chamados à alegria. E não apenas a uma euforia passageira. A alegria do Senhor é a que contagia todas as demais alegrias da vida.

   Embora e ainda que Jesus tenha nos prevenido que o mundo é um lugar de aflição e que, num certo sentido, para o encontro com o Senhor, a tristeza de Deus, no arrependimento, apareça primeiro, a alegria do Senhor prevalece em nosso viver.

    Não como uma obrigação, mas como um resultado. Justamente, em Ne 8,10, quando o povo de Israel reconstruía suas moradas, os muros da cidade e o seu Templo, Neemias exortou o povo a confiar no Senhor, reconhecendo que alegria no Senhor é a nossa força.

    Para sempre a alegria está associada ao Senhor, está associada a esta casa, está relacionada a todos os passos de nossa vida, ainda que haja provações, como afirma Tiago:

"Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes. Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos.". Tg 1,2-8. Amém.

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Quanto à mulher

 ²⁸ Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:

²⁹ Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?!
³⁰ Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.
João 4:28-30

    Quanto à mulher. Tudo o que se pode dizer dessa mulher. Ou tudo o que se pode dizer de todas as mulheres. Ou ainda das mulheres que seguiram e seguem Jesus.

   Esta foi surpreendida com o maior dos encontros possíveis. Inesperadamente. Providencialmente.

   Jesus conduziu o diálogo a partir do mais simples, direto e óbvio. Água, o que os dois procuravam. Não devia haver preconceito. Um dos mais dolorosos recalques.

   Jesus, tanto quanto ela, tinha sede. Ela podia suprir o Mestre, este poderia supri-la: ela com a água que podia dispor. Jesus, com a que somente ele tinha para oferecer.

   Ela afirma sobre a água de que dispunha que o poço era secular, concedido pelo patriarca Jacó. Pergunta, pois, comparativamente, se e onde Jesus poderia dispor da água que prometia.

   Ela volta à polêmica inicial, de que judeus e samaritanos vivem disputando o que é, de si mesmos, o mais importante.

   Jesus eleva o tom, para definir de que água está falando. Afirma sobre ela ser água viva e tem como consequência uma fonte perene e eterna.

   Jesus, com suas palavras, queria que a mulher compreendesse o diferencial do que somente ele tem a oferecer. E como isso transforma a vida de quem recebe.

   Jesus é o único que pode devolver à vida a eternidade. E, com esse dom, fazer florescer uma nova vida, desde já, uma "fonte a jorrar para a vida eterna".

   Numa outra vez, Jesus já havia dito: "No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva". Jo 7,37-38.

    Falou assim a uma multidão. Aqui fala a uma mulher, de modo pessoal. E o que isso, figuradamente, significa, é receber o Espírito Santo, como já desmonstrara a Nicodemos.

   E Jesus prossegue revelando-se à samaritana, demonstramdo como, com todo o cuidado, desvelo para si mesma a mulher.

   Tira-lhe o peso do desgaste das relações frustradas. E da maneira amorosa como faz, enseja que ela lhe pergunte se é profeta.

    Mas o que pensa do que seja ser profeta, de novo, remete a mulher à polêmica da religião e confronto entre judeus e samaritanos. Onde adorar? Aliás, o que é adorar.

    Uns dizem isto, outros aquilo. E vem a afirmação fundamental de Jesus, que extrapola religião e, até mesmo, ortodoxia: Deus procura verdadeiros adoradores.

   Estava no ponto dela mencionar o Messias. Também não se sabia o que ela pensava dele. Mas certamente punha nessa expectativa grande esperança.

    E Jesus faz o que veio para fazer. Revela-se à mulher. Eu sou. Falo contigo. Exatamente neste ponto chegam os discípulos.

   Ela não mais é a mesma que havia encontrado Jesus. O que surpreende, é ter largado o cântaro, razão primeira de sua ida ao poço.

   Não combina muito com o jeito feminino ou com sua personalidade esquecer, distrair-se, a não ser que outro valor maior tenha sido posto em destaque. E, ao chegar de volta, denuncia o encontro que teve, motivando seus companheiros a conhecer Jesus.

   Ela fazia, exatamente, o que Jesus recomendava aos apóstolos fazer, ou seja, incorporar à sua vivência. Descobrira o maior valor de sua vida.

   Agora tinha dentro um rio a jorrar para a eternidade. Jesus, enquanto isso, abria os olhos aos discípulos, porque, do mesmo modo que a mulher, emperravam no preconceito histórico de richas entre judeus e samaritanos, agregado à fala de Jesus com uma estranha suspeita.

   A mulher cumpria, por si, toda a expectativa que Jesus ensinava aos discípulos estar vigente. Desde o início de seu ministério, Jesus anunciava "estarem brancos os campos" para a ceifa.

   "Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, proclamando o evangelho de Deus. "O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam no evangelho!" Mc 1,14-15.

   A ceifa já teve seu início. Jesus foi o primeiro a anunciar o evangelho de Deus. O apelo principal provém dele. A urgência Jesus demonstrou aos discípulos por meio de sua conversa com a samaritana.

   E ela, demonstrando ter aprendido, convocou sua turma, seu círculo de amigos, todos homens. Permitiam-se essa intimidade é iniciativa dela.

   E vieram, e constataram, por si mesmos, tratar-se do Messias. E o convidaram a trazer aos demais sua mensagem. Conduziram-no à cidade, onde ficou por mais dois dias.

   Jesus transforma o distanciamento em aproximação. Surpreendente. Paulo afirma que somos aproximados pelo sangue de Cristo. Após sua ressurreição, somos nós a fazer o que ele mesmo fez e nos ensinou a fazer.

   Como a mulher,
   

   

Aconchego do Senhor

"Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, desde agora e para sempre!"

 Costuma-se, de modo impróprio e inoportuno, criticar-se teólogos. Cuide-se, pimeiro, de lhes não atribuir infalibilidade. Mas nem de si pretendem. 

   Ou afirmar-se que qualquer um seja um deles. Fidelidade à palavra, método e espiritualidade os formam. As Escrituras nos apresentam perfis de vários deles. Menciono, por exemplo, Timóteo, aluno de outro, que foi Paulo.

   E o terceiro ponto é que estejam privados da soberba. E para tanto, na oração acima, o salmista espelha esse antídoto.

   Com sinceridade, ele afirma para Deus, não ser tomado por soberba no coração, altivez no olhar e não porfiar pelo que seja alto ou maravilhoso demais.

   Sua primeira virtude é atinar com a simplicidade de Deus. O Altíssimo, justamente assim nomeado, enuncia por boca de Isaías: sim, que "habita num alto e santo lugar" como também "com o contrito e abatido de espírito". 57,15.

    Deus encurta a distância. E grandes coisas ou coisas maravilhosas, no sentido de complicadas de entender, não são a prioridade do Altíssimo. Paulo menciona que Deus desanca a sabedoria deste século, para expor Sua própria.

   E Tiago enumera as características dela: "Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera.", 3,17.

    A confissão do salmista revela privar consigo dessa sabedoria. Muito provavelmente uma situação de angústia da alma premeu-o a elevar sua expectativa, porém fora dos propósitos de Deus.

   Aliás, certa vez, quando efetuou um censo em seu reino, Davi foi flagrado focando, sim, coisas demasiadamente grandes para si. Parece ter esquecido de outro verso, por ele mesmo escrito: "O cavalo não garante vitória", Sl 33,7.

     Mas também parece ter aprendido a lição. Que a força não está com o forte. Mas está com o Senhor. Então, instruiu a si mesmo quanto ao que fazer: "Calar e sossegar a alma", do mesmo modo que uma criança mansa ressona após sua mamada.

   Quando imaginamos a personalidade do salmista, avaliamos o quanto foi trabalhoso para Davi agir consigo mesmo desse modo. Mas uma vez que abstraímos, na aplicação do cântico de romagem, para qualquer outro, tomamos como padrão de conduta.

    Não se quer dizer que há puerilidade no que se refere a Deus, tanto se diz que é tão inventado como qualquer deus. Paulo já diz: "Ó, profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são
os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu,
para que ele o recompense?", Rm 11,33-35.

    O salmista se refere a cogitar-se além do que o próprio Deus permite e torna acessível. Deus desvelou-se em Jesus. Não há nada acima, maior ou maravilhoso, mais do que ver Deus no rosto de Cristo.

    Lembramos Felipe, que num assombro, pediu: "Mostra-nos o Pai, e isso nos basta", Jo 14,8. Pois nem mostrar é tal suposição longe de bastar. A fé que se requer nem acontece e nem opera por essa via.

    Era coisa maravilhosa demais. Como Moisés, no deserto, de modo muito mais maduro, desejou ver Deus em sua glória. Maravilhoso demais para ele. E para qualquer um. A não ser para o Filho.

   Ninguém jamais viu a Deus, exceto o Filho, que O viu e O revelou. Ele é o Deus unigênito, no seio do Pai. Deus reservou a Si o direito de semente revelar-se no Filho. O Verbo se fez carne. Vimos a Sua glória, como a do Unigênito do Pai.

    Isso, sim, é maravilhoso. Para além dessa revelação e para além dessa palavra, o salmista não se aventura. A palavra de Deus nos faz calar a alma e sossegar, como a um bebê que se satisfaz no aconchego de sua mãe.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Aconchego do Senhor

 

"Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, desde agora e para sempre!" Salmo 131.

    Costuma-se, de modo impróprio e inoportuno, criticar-se teólogos. Cuide-se, pimeiro, de lhes não atribuir infalibilidade. Mas nem de si pretendem.

   Ou afirmar-se que qualquer um seja um deles. Fidelidade à palavra, método e espiritualidade os formam. As Escrituras nos apresentam perfis de vários deles. Menciono, por exemplo, Timóteo, aluno de outro, que foi Paulo.

   E o terceiro ponto é que estejam privados da soberba. E para tanto, na oração acima, o salmista espelha esse antídoto.

   Com sinceridade, ele afirma para Deus, não ser tomado por soberba no coração, altivez no olhar e não porfiar pelo que seja alto ou maravilhoso demais.

   Sua primeira virtude é atinar com a simplicidade de Deus. O Altíssimo, justamente assim nomeado, enuncia por boca de Isaías: sim, que "habita num alto e santo lugar" como também "com o contrito e abatido de espírito". 57,15.

    Deus encurta a distância. E grandes coisas ou coisas maravilhosas, no sentido de complicadas de entender, não são a prioridade do Altíssimo. Paulo menciona que Deus desanca a sabedoria deste século, para expor Sua própria.

   E Tiago enumera as características dela: "Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera.", 3,17.

    A confissão do salmista revela privar consigo dessa sabedoria. Muito provavelmente uma situação de angústia da alma premeu-o a elevar sua expectativa, porém fora dos propósitos de Deus.

   Aliás, certa vez, quando efetuou um censo em seu reino, Davi foi flagrado focando, sim, coisas demasiadamente grandes para si. Parece ter esquecido de outro verso, por ele mesmo escrito: "O cavalo não garante vitória", Sl 33,7.

     Mas também parece ter aprendido a lição. Que a força não está com o forte. Mas está com o Senhor. Então, instruiu a si mesmo quanto ao que fazer: "Calar e sossegar a alma", do mesmo modo que uma criança mansa ressona após sua mamada.

   Quando imaginamos a personalidade do salmista, avaliamos o quanto foi trabalhoso para Davi agir consigo mesmo desse modo. Mas uma vez que abstraímos, na aplicação do cântico de romagem, para qualquer outro, tomamos como padrão de conduta.

    Não se quer dizer que há puerilidade no que se refere a Deus, tanto se diz que é tão inventado como qualquer deus. Paulo já diz: "Ó, profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são
os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!
Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu,
para que ele o recompense?", Rm 11,33-35.

    O salmista se refere a cogitar-se além do que o próprio Deus permite e torna acessível. Deus desvelou-se em Jesus. Não há nada acima, maior ou maravilhoso, mais do que ver Deus no rosto de Cristo.

    Lembramos Felipe, que num assombro, pediu: "Mostra-nos o Pai, e isso nos basta", Jo 14,8. Pois nem mostrar é tal suposição longe de bastar. A fé que se requer nem acontece e nem opera por essa via.

    Era coisa maravilhosa demais. Como Moisés, no deserto, de modo muito mais maduro, desejou ver Deus em sua glória. Maravilhoso demais para ele. E para qualquer um. A não ser para o Filho.

   Ninguém jamais viu a Deus, exceto o Filho, que O viu e O revelou. Ele é o Deus unigênito, no seio do Pai. Deus reservou a Si o direito de semente revelar-se no Filho. O Verbo se fez carne. Vimos a Sua glória, como a do Unigênito do Pai.

    Isso, sim, é maravilhoso. Para além dessa revelação e para além dessa palavra, o salmista não se aventura. A palavra de Deus nos faz calar a alma e sossegar, como a um bebê que se satisfaz no aconchego de sua mãe.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Dupla Esperança



Gui e AnaCatrina
Sem apelidos, por favor
Ordenam os pais

Ora, pediam oração
Assustados
Nem ano de casados
Ainda tinham
Mas já queriam menino

Brinquem com Deus não
Mandou dois:
Menino homem
Menino mulher

A esperança vem em dupla
Para este mundo tão machucado
Muita dor, mágoa, maldade
Já dizia Lameque,
Pai de Noé:
Terra amaldiçoada

Tempos difíceis
Mas o profeta sempre replica
Mas para quem vivia à sombra da morte
Veio a luz
Jesus, resplandecente
Sol da Justiça
Em meio ao caos

Bem-vindos, Guilherme e Ana Catarina
Trazem bênção consigo
Para este mundo cansado

Vocês são dádiva de Deus
Assim creem teus pais
Não teus donos
Mas servos a serviço
A quem foram vocês concedidos
Como privilégio

Diante de vocês
O caminho do Senhor
Senda da vida e da vitória
Sejam sempre instruídos nEle

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Parceria

   Houve a primeira semana. Trabalho de seis dias e descanso no sétimo. Cada dia avaliado, ao final, como bom. No penúltimo dia, avaliação final de todo o conjunto.

  Resumidamente, no primeiro dia separou luz e trevas. Bem definido. No segundo, estabeleceu o firmamento (ou fundamento, se assim preferem). Para, no terceiro, preparar o chão do planeta, separando terra firme dos oceanos.

  E ainda encher dos vegetais a terra e os oceanos, sim, algas são vegetais. Por serem essenciais à filtragem do oxigênio, sem o qual não haveria seres vivos. Tudo preparado para o sol, no quarto dia, que vai liberar, pela fotossíntese, a atmosfera.

   E a próxima tarefa do Criador foi a obviedade que até a ciência reconhece, de povoar os oceanos, com uma variedade, até hoje, não totalmente conhecida. Termina o antepenúltimo dia, o quinto, portanto.

   Para no sexto, povoar agora toda a terra. Por último, o Artífice agora criou homem e mulher, somente que com um toque inédito, sui generis, que foi formá-los à Sua própria imagem e semelhança.

   O salmista diz "todo o ser que respira, louve ao Senhor", reconhece esse autor, para dizer que toda a criação ateste sua origem. Somente homem e mulher adquiriram a capacidade de negar essa autoria.

  (1) Luz X trevas, (2) firmamento, (3) chão para o jardim e oceanos, (4) astros, (5) povoamento dos oceanos e (6) povoamento do planeta, com homem e mulher, ao final, e (7) descanso.

   Está foi a semana primordial. Na contagem do homem, quantos anos terrestres decorreram, não sabemos. Mas 7 é um número completo. Significa a totalidade dos feitos de Deus.

   Interessante é o Filho referir-se ao Pai como quem, até agora, trabalha. "Meu Pai trabalha até agora", Jo 5,17. E o profeta Isaías dizer, em relação ao Altíssimo: "Nunca se viu, ouviu-se falar ou se percebeu, em tempo nenhum, Deus que trabalha por quem nEle espera", Is 64,4.

   Nem inventado, caso as Escrituras fossem um livro de um Deus inventado. O que nelas se revela, é servo de quem nele espera. Por isso Marcos Evangelista afirma que "o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir", dando até a vida por quem nEle crer.

   Basta uma semana. Em termos, pois, como diz o autor de Hebreus, Deus terminou tudo nessa semana. Noutros termos, trabalha para corrigir um acidente de percurso, que foi a rebeldia humana.

   Resolve com amor. Trabalha por quem nEle espera. E como atesta Paulo Apóstolo, pelo testemunho das Escrituras, "quem nEle crer não será confundido".

    Numa semana, Deus estabeleceu início e término de toda a Sua obra. Entre nesse esquema. Como ficar de fora? Sem Deus no mundo, como afirma Paulo? Prefira a luz, entre luz e trevas. Estribe-se no firmamento. Enxergue a terra como um jardim.

   Empenhe-se pela restauração da obra de Deus no mundo, do mesmo modo que Ele, que trabalha até agora. Há possibilidade de parceria. Mais uma vez, Paulo Apóstolo utiliza uma expressão que denota essa escolha.

    "Somos cooperadores de Deus". E, nessa condição, exortamos homens e mulheres: "não recebam em vão a graça de Deus". Porque foi por ela, por Sua graça, que Deus tudo inciou com a primeira semana.
  
    A terra é um jardim. Deus trabalha até agora. Por todo aquele que nEle espera. Contempla a criação e o ser humano, a quem ama, com Sua graça. E busca parceria.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Assunto teológico

   Fortuito. Na leitura bíblica do dia, mesmo porque, já há dois domingos, venho repetindo, no e do púlpito de minha congregação, que a Bíblia é, toda e autenticamente palavra de Deus.

   Por um lado, para alguns, pode soar caduco. Para a minha imagem, sem problemas, pois já, já começo a ficar. Mas espero, ainda assim, repetir, até não mais poder, essa afirmação acima.

   Queiram ou não admitir. Então hoje me coube ler Romanos 7. Leituras eventuais que estou procurando fazer, não sem antes, repetir, para mim mesmo, "estou lendo um recado de Deus". 

   Ou ainda, "o sujeito que escreveu isso, acreditava plenamente no que dizia". E por aí. Pois Romanos 7 me soou como uma análise obrigatória de minha personalidade.

   E, por extensão, refleti, uma análise de todas as personalidades. De cada uma delas, admitam ou não. A começar pelo próprio autor do texto que, aliás, inclui-se em sua autodefinição.

   E, diga-se, não é um análise enxuta. Para dizer pouco, é muito depreciativa. Eu nem diria que se trata de uma psicanálise, talvez seria mais próprio dizer, se existisse o termo, uma teologizanálise.

   Não dá para avançar, lendo as Escrituras, sem incorporar esse capítulo à experiência comum de cada um. Ainda que se tenha começado por outra parte dela, obrigatório sempre será chegar a esse Romanos 7.

   Descer fundo a essa percepção. Textos atrás, falei de uma herança que herdamos da serpente, aquela do Gênesis (ou o dragão do Apocalipse, se preferirem). Pode chamar do que quiser.

   Sejam figuras mitológicas, literárias, enfim, há um fundo de verdade nessa designação. Mas o que deixam transparecer, seja a narrativa do Gênesis ou a apocalíptica do Apocalipse, é que a verdade, por detrás, está claramente explícita por Paulo Apóstolo em Romanos 7.

    "Miserável homem (ou mulher) que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?", Rm 7,24.

   Este trecho pode ser assumido como síntese de toda a perícope. Herança da serpente. E pelo que Jesus afirma, sobre o Espírito Santo prometido, somente este pode convencer alguém de que essa descrição aplica-se a todo e qualquer ser humano.

    Portanto, uma teologizanálise geral e específica, ao mesmo tempo, democrática, ainda que se admita ou não. Não há como prosseguir qualquer leitura proficiente das Escrituras sem passar por esse texto.

   E quem convence dessa condição é, assim denominada, a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo, prometido e já derramado por Jesus Cristo. Esse termo "derramado" signjfica isso mesmo, acessível, sobrando, sem restrições, distribuído a todos.

    Admitido ou não, esse é o único meio de acesso a todos os demais benefícios das Escrituras. Por incrível que pareça, essa é a primeira sessão de análise. Aliás, as Escrituras estão aí para indicar a única cura possível para esse mal. Aliás, esse é o mal.

    Há uma cruz nesse caminho. É o principal anúncio das Escrituras. Sua parte mais antiga, o Antigo Testamento, AT, promete-a, e o Novo Testamento, NT, a parte mais recente, indica-a. 

   E a personagem principal das Escrituras, do mesmo modo, prometido, no AT, e indicado, no NT, foi quem nessa cruz foi dependurado. Por isso o capítulo 8 da carta aos Romanos afirma:

   "... porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte." Rm 8,2.

    Isso mesmo. O terno é este: libertação. A herança maldita da serpente, dela somente é possível se livrar uma vez, melhor, de uma vez libertos pela lei do Espírito. 

    São três leis: a lei do pecado, a lei da morte e a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus. Esta última, a mais forte e definitiva. 

   Não é o psicanalista que vai te convencer disso. Esse assunto é teológico.