terça-feira, 30 de junho de 2020

3a viagem missionária
       
      Introdução 
      Já comentamos aqui a abrangência das viagens de Paulo. Lucas nos dá um esboço geral, porém deixando um periferia, por assim dizer, de informações, fazendo-nos vislumbrar uma atividade bem maior do apóstolo.
     E também concedendo oportunidade de compararmos informações nas cartas escritas às igrejas, com aquelas que estão registradas pelo médico amado, Cl 4,14.
    Neste final da segunda viagem missionária, quando mais uma pressão das intrigas dos judeus fez Paulo sair às pressas, de Corinto para Éfeso, podemos constatar o modo como as formações dos Atos dos Apóstolos encontram eco nas epístolas paulinas.

       De Corinto a Éfeso 
     Em sua carta 1 Co 2,1-5, "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria.
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder,
para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus", em função das circunstâncias que o afligiam, nesse final da 2a viagem missionária, ele pôde descrever, de modo preciso, como o evangelho é testemunhado no poder do Espírito:
1. Paulo esteve entre os coríntios anunciando o testemunho de Deus (como em Listra, At 14,17, já dissera aos moradores da cidade), v. 1a;
2. Não se anuncia o evangelho, que é o testemunho de Deus, com ostentação de palavra ou de sabedoria, v. 1b;
3. O conteúdo do evangelho é, como nessa mesma carta Paulo elucida, a "mensagem da cruz": nada saber, senão a Jesus crucificado, v. 2;
4. Paulo esclarece, agora, sobre a natureza da pregação, que não é linguagem persuasiva de sabedoria (marketing puramente humano): o que a pregação não é;
5. Mas a pregação é "demonstração do Espírito e de poder" (Rm 1,16, o evangelho é o "poder de Deus"): o que a pregação é;
6. A fé não se apoia em sabedoria humana, v.5a;
7. A fé se apoia no poder de Deus, v. 5b.

      Este testemunho de Paulo, acerca das circunstâncias de sua chegada a Corinto, confere com o que lemos em At 18,6.9-10.12-13. Contra todos esses obstáculos, Paulo ainda permaneceu por 1 ano e 1/2 em Corinto, At 18,11, até que se despedisse dos irmãos, navegando para Antioquia, na Síria, porém passando por Éfeso, onde não vai se demorar, porém deixará uma promessa de retorno, programada para a 3a viagem missionária.
    Bênção maior, também, como ocorrera em Derbe, onde havia encontrado Timóteo, At 16,1-3, início da 2a jornada missionária, foi desta vez encontrar Áquila e Priscila, companheiros de evangelho e de mesma arte na profissão, At 18,1-3. Paulo vai tomar consigo o casal, certamente reconhecendo o potencial que têm, ensaiva-se uma grande parceria de muitos frutos para o reino de Deus. 
     Assim como a troca de Barnabé-Saulo para Paulo-Barnabé, desta vez Áquila-Priscla vão se tornar Priscila-Áquila, definitivamente comprovando que, para Deus, não há distinção entre homem e mulher, no desempenho das tarefas do reino: At 18,26; Gn 1,27; Gl 3,28-29.
    Essa dupla, esse casal são de extrema cumplicidade no ministério de Paulo e se desdobram no serviço do reino, com toda a dedicação. As principais características de Priscila e Áquila são:
1. Companheiros oportunos de Paulo, cristãos de Roma, que certamente compartilharam com o apóstolo a realidade do evangelho na capital do mundo, Roma, porque Paulo escreveu sua carta àqueles irmãos sem nunca ter antes estado lá:  At 18,1-4 e Rm 1,8-14;
2. A companhia deles com Paulo nas pregações na sinagoga em Corinto, assim como o fato de estar morando juntos, certamente permitiu que mutuamente se fortalecessem na fé, Em 16,3, assim como repartissem, entre si, os dons que receberam do Espírito. A indicação dessa mutualidade se expressou na qualidade de preceptores de Apolo, em Éfeso, At 18,24-28, já na 3a viagem missionária;
3. O fato de passar a serem designados com o nome da esposa precedendo o do marido indica a natural prioridade que foi dada a ela. O caráter impositivo da superioridade do homem não é compatível com a tradição bíblica e, no contexto da igreja e do reino de Deus não há prioridades de um ou uma sobre o outro ou outra. Lembrar Fp 2,3, "cada um(a) o(a) outro(a) superior a si mesmo(a)";
4. Tinham uma igreja em sua casa, 1 Co 16,19, o que constitui num desafio. Encontrar igrejas prontas onde, às vezes, ainda que imperceptivelmente, por força do ego, alguém deseja exercer ministérios, pode privar uma cidade da urgência em reunir os que Deus deseja alcançar, como mesmo em Corinto, Deus revelou a Paulo, At 18,9-10. No presente secularismo, a reação à fé tem até intimidado os próprios crentes, Lc 18,8. A disponibilidade para servir a Deus em seu reino deve ser permanente.

       Em Éfeso 
     Paulo havia passado por essa cidade ao final da 2a viagem missionária. Deixara ali seus mais recentes amigos, o casal Priscila e Áquila. Houve insistência que ali permanecesse, mas o apóstolo se comprometeu a retornar em breve, At 18,19-21.
     Como era seu costume, foi a Jerusalém, a igreja-mãe, assim como esteve em sua igreja de origem, Antioquia. Pela terceira vez, Lucas menciona o ministério de Paulo na Galácia e Frígia, onde o foco do problema que provocou o 1o Concílio em Jerusalém e a escrita da carta aos Gálatas foi mais problemático.
     Enquanto o apóstolo faz esse tour missionário, confirmando os irmãos, At 18,23, chega a Éfeso e lá encontra o casal amigo de Paulo um judeu de Alexandria chamado Apolo. Bem, judeu se chamar Apolo, nome de deus grego, já era exceção, embora sua origem, Alexandria, a capital intelectual do mundo daquela época, mais ou menos explique.
    Não conhecia o batismo de Jesus, havia como que parado no tempo. Embora isso fosse indicação de fé, era necessário avançar, para que compreendesse que a profecia de João Batista, o único profeta a apontar e enxergar Jesus fisicamente, sua profecia havia se cumprido. 
    Áquila e Priscila se encarregaram de lhe suprir esse lapso.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Lição 13 - Passa a Macedônia e ajuda-nos - At 16,6-18,28

Passa à Macedônia e ajuda-nos.
     Após Paulo passar pelos lugares que havia percorrido em sua 1a viagem missionária, At 16,1-5, mostrando as decisões do Concílio de Jerusalém e confirmando na fé aqueles irmãos, o apóstolo defronta uma tumultuada escolha, como opção para a continuidade daquela que ficou conhecida como 2a viagem missionária.
     A chamada "visão de Trôade", At 16,6-10 representou, para Paulo, Silas e Timóteo a definição do circuito que deveriam cobrir para cumprir sua viagem missionária. Abortaram, às duras penas, quatro opções de escolha. 
     A primeira lição a destacar era a sede por missões. Assinavam encontrar um rumo definido. Percorreram Frígia e Galácia, tentaram Ásia, Mídia a Bitínia. E muito curioso anotar que foram opções descartadas, porque o Espírito Santo impedia, para vejam só. 
    Até que, à noite, sonho ou visão, um varão macedônio, que para alguns poderia ser o próprio Lucas, que assim se introduz na narrativa, com o indicativo "nós", a partir de então, navegam os quatro em direção à essa região. Aqui a segunda lição: o Espírito Santo, que já vocacionou os missionários, indica as prioridades de escolha. 
      De Filipos, considerada a primeira, como destaque, e colônia romana, entrada do Distrito, até Corinto, Paulo cobre a espinha dorsal da antiga Grécia, ponteando as cidades que, posteriormente, vão render seu grupo principal de epístolas a serem escritas.
    
1. 2a viagem e suas lições iniciais 

1.1. O pronto de partida foi uma "tal desavença", At 15,39. Lucas não detalha. É econômico nos qualitativos em seus livros. Mas o advérbio de intensidade "tal" define que não foi de pouca monta esse desentendimento. Levando em conta a dimensão do iriam realizar, porque a proposta foi de Paulo a Barnabé, At 15,36: "Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam", um obstáculo como esse, que provocou o desmantelamento da dupla Paulo-Barnabé, independente dos argumentos de um ou de outro, não deveriam se opor à grandiosidade da tarefa. Mas Barnabé continuou sendo Barnabé: ficou do lado de quem foi rejeitado, em que (muito) pesasse sua comunhão com Paulo: princípios são princípios. E Paulo seguiu com Silas, que era considerado, pela igreja em Antioquia, profeta, At 15,32 que, juntamente com Judas, desde Jerusalém, acompanhavam Paulo e Barnabé, trazendo a Antioquia a decisão do 1o Concílio de Jerusalém, At 15,22-34.
1.2. Sede por missões: o Salmo 42 fala de sede de Deus. Há um específico nessa sede. Por exemplo, quando Jesus se refere à mulher samaritana, define o tipo de "água da vida" que somente ele, Jesus, tem. Missões é para saciar a sede de Deus. E somente Jesus tem essa água. E, pelo que ensinou aos apóstolos que, simuladamente, censuravam Jesus porque dava atenção a uma (1) mulher, (2) samaritana e (3) de reputação duvidosa, o Mestre afirmou: "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa", Jo 4,35. Portanto, missões (1) sacia a sede de Deus, (2) somente Jesus tem essa "água da vida" e (3) é ministério específico da igreja.
1.3. Como já disse Jesus, no texto acima, é necessário enxergar os campos da ceifa do Senhor. Basta altear a vista. E o mesmo Espírito que selecionava os que vão seguir para missões, At 13,1-3, aponta para as prioridades e as confirma, At 16,6-10. A igreja, em seu contexto, produz os vocacionados, envia, sustenta em todos os sentidos e acolhe os frutos, At 14,27-28.
1.4. Toda a igreja deve sempre estar preparada para missões. A igreja não "faz missões". A igreja "é missões". De si mesma, relacionado a sua identidade ela é missionária. Porque Deus é missionário. "Quem há de ir por nós?". "Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas". "Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos". "Se anuncio o evangelho, não tenho de que me glóriar, pois sobre mim para essa obrigação: aí de mim se não pregar o evangelho". "Rogai ao Senhor da seara, para que enviei trabalhadores a sua seara". Enfim, quanta lauda e quanto clamor há nas Escrituras pela necessidade e pelo prazer de proclamar o evangelho.
1.5. A igreja de Antioquia da Síria era modelo de missões: "Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram". At 13,1-3.
1.5.1. Havia um permanente ministério pronto para todo o tipo de serviço relacionado a todas as responsabilidade de uma igreja: "Havia profetas e mestres", citados nominalmente, gente preparada, em todos os sentidos, e disponível para missões;
1.5.2. "Servindo eles ao Senhor e jejuando". Para eles, tanto servir, como jejuar, no amplo sentido que essas duas ações significam, permitiu que entendessem E atendessem ao chamado, à vocação do Espírito Santo. Isso significa que oravam, estudavam, planejavam, liam as Escrituras, pregavam, ensinavam, terminavam, praticavam missões. O chamado do Espírito não significa mágica ou magia, mas preparo, habitação e consciência.
1.5.3. "Separai-me, jejuando, orando, impondo mãos, despediram": assumiram missões em todos os sentidos. Eram solteiros os que iam? Que sustento? Qual se futuro? Fariam tendas, como Paulo, ao mesmo tempo em que pregavam? Quais os imprevistos? E as emergências? Plano de saúde e odontológico? Previdência social? Aluguel e moradia dignos?

     Enviaram os melhores. Paulo e seu mentor no início da conversão, Barnabé, que era escolado desde o início das obras da igreja. Era voluntário com a sua própria vida. Uma dupla imbatível, com uma identidade e uma dívida de comunhão e fraternidade que eram exemplos na história recente da igreja. Essa era a força e a ponta de lança de início do ministério de Paulo. Lucas concentrou-se no que Paulo, Silas e Timóteo irão produzir. Mas, com certeza, a outra vertente, com Barnabé e João Marcos, muitos outros frutos produziu, At 15,39: "Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre".
      
2.    2a viagem missionária em flashes

       2.1. Filipos:
     Colônia romana, uma Rom em miniatura, naquele distrito, nem sinagoga era permitido construir. Paulo desceu à beira do rio Gangites, onde havia um grupo de mulheres que ali se reunia. Lídia, comerciante de tecidos, de Tiatira, ouviu o evangelho: "o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia", At 16,14. Paulo passou a se hospedar na casa dela, com Silas, Timóteo e Lucas, e pregava no lugar de oração, beira rio, diariamente. Uma moça, que se revelou oprimida por demônios, os acompanhava, enunciando elogios: "Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação", At 16,17, até que Paulo achasse que bastava, e repreendeu o espírito: "Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu", At 16,18. Como era articulada a manipuladores da fé alheia, que a usavam para adivinhações, acusaram injustamente Paulo e Silas de desmerecer os costumes romanos: "Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade,
propagando costumes que não podemos receber, nem praticar, porque somos romanos", At16,20-21. Os apóstolos foram açoitados e presos. Mas, como José do Egito, ainda que feridos, testemunharam na prisão. E como com Pedro, um terremoto localizado, destrancou as celas. O carcereiro, achando que haveria fuga em massa, queria suicidar-se. A palavra de ordem de Paulo o impediu, levou os prisioneiros para a sua casa, fez-lhes curativos, converteram-se ele e sua família, sendo batizados. Os pretores, dia seguinte, tiveram que, pessoalmente, retratar-se com Paulo, cidadão tornando sem julgamento açoitado no coração de uma colônia romana. Os que o açoitaram, não fosse o espírito de perdão do apóstolo, do mesmo modo seriam punidos.

    2.2. Tessalônica 
   Havia sinagoga. Prioridade estratégica de Paulo. Três sábados seguidos argumentou sobre as Escrituras, anunciando o evangelho: a) arrazoou; b) expôs; c) demonstrou, sempre baseado nas Escrituras. Anunciava o kerigma: necessidade primordial da morte e ressureição de Jesus: "...ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio", At 17,3 . E o resultado: "Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres" At 17,4. E a oposição: "Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do povo", At 17,5. O argumento com que tumultuaram toda a cidade era dizer que Paulo e Silas proclamavam um outro rei, Jesus, no lugar de César, epônimo do Imperador Romano. Durante a noite, então, os irmãos os conduziram a Bereia.

      2.3. Bereia
     Mesma estratégia da sinagoga. Mas com um diferencial que, até com o comedimento de Lucas, não passou despercebido e não deixou de anotar: "Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.
Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens", At 17,11-12. Paulo usa em Tessalônica toda a força de seu argumento para convencer, enquanto que em Bereia, certamente, foi mais solicitado a responder a inquirição dos bereanos. E olhem que, ao escrever sua 1a carta aos Tessalonicenses, indica o surpreendente resultado que sua ação missionária teve naquela cidade: "...porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós. Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia. Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não termos necessidade de acrescentar coisa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro
e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura. 1 Ts 1,5-10. A escolha da Macedônia, sob direção do Espírito, concede um laboratório de missões rico em frutos permanentes. A intriga dos judeus os alcança, a estratégia é que Lucas e Paulo avancem até Atenas e Silas e Timóteo prossigam, ali, confirmando os irmãos: "Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus era anunciada por Paulo também em Bereia, foram lá excitar e perturbar o povo.
Então, os irmãos promoveram, sem detença, a partida de Paulo para os lados do mar. Porém Silas e Timóteo continuaram ali", At 17,13-14.
    
    2.4. Atenas 
    Há muito tempo atrás a época áurea da Grécia e de Atenas haviam passado. Considerada berço da cultura ocidental e da democracia, por sua importância da Grécia antiga. Nesse tempo, estava ocupada pelos romanos e ainda tinha muito de seu orgulho antigo. E agora, chegando a esse símbolo vivo da civilização, Paulo vai plantar, no espaço do areópago ateniense, o ponto principal da fé, que é a ressurreição de Jesus. Tendo ido à sinagoga, sua pregação despertou interesse  entre judeus, gentios e até entre filósofos epicureus e estóicos, At 17,15-21, que quiseram ouvi-lo no principal centro de mídia da cidade. Podemos nos deleitar com a exposição de Paulo, devedores ao cuidado com que Lucas registrou sua pregação naquele dia. Vamos aplicar o mesmo método padrão simplificado: 1. Introdução, At 17,22-23; 2. Argumentação ou corpo do sermão, At 17,24-29; 3. Conclusão, At 17,30-31. Alguns que comentam esse sermão, costumam afirmar que Paulo, impressionado pelo auditório, foi rebuscado em sua oratória. Mas assim não entendemos, ao contrário, lançou não do recurso de contextualização logo na introdução, expôs sua tese, na argumentação, que foi falar dos atributos de Deus, o "ilustre desconhecido" para os atenienses e gregos em geral, e focou o ponto central da fé, que é a ressureição. Emvira um grupo o tenha interrompido, o resultado configurou-se na conversão de um grupo de pessoas, entre as quais Dionísio e Damaris: "Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais", At 17,34.

     2.5. Corinto 
    Paulo chega a Corinto exaurido. Somente sabemos disso, não pôr Lucas, mas por uma anotação dele mesmo em 1 Co 2,1-5: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus". Tanto é assim que, numa visão, ele é estimulado a permanecer na cidade e fica por uma prazo de 1,5 ano: At 18,9-11. Ao chegar, é animado por encontrar Áquila e Priscila, com quem se hospeda e trabalha, At 18,1-3. A estratégia da sinagoga foi a mesma, a reação dos judeus violenta, chegando a espancar o principal da sinagoga em frente ao tribunal que, sob Gálio, o procônsul romano, ao invés de condenar Paulo, reprovou os judeus, At 18,12-17. O apóstolo ainda ficou um tempo na cidade, mas se deslocou até Éfeso, levando os novos companheiros, o casal amigo, com os demais companheiros. Constatou em Éfeso um lugar propício para a pregação do evangelho e saiu dela prometendo retornar na sua 3a viagem missionária, At 18,18-22.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Viagens missionárias de Paulo

      Paulo mesmo disse, na 2 Co 1,17-19, que não há "sim/não" nas decisões missionárias, porque o próprio Jesus não é "sim/não". Missões, o papel primordial da igreja, requer critérios de (1) identidade original dessa tarefa, (2) utilização de recursos, a partir de amplo aprendizado e (3) efetivo esforço, como resultado de um respaldo bem planejado. At 16,6-9.

1a viagem missionária

      Conhecemos do tour missionário do apóstolo Paulo devido ao registro minucioso de Lucas. O próprio Paulo estabelece que suas decisões por viagens são estritamente definidas em oração.
     Daí termos certeza de que, em todo o tempo, seu esforço missionário não foi aleatório e representou, com exatidão, o mandado de Jesus.
     A  igreja é missionária todo o tempo. Há variadas modalidades desse desafio. Paulo, que liderava a oposição ao mandado de "Ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda a criatura", tornou-se o líder de primeiro esforço missionário em larga escala.
     Paulo realizou diversas viagens. As cartas que escreveu indicam outros turnos. O próprio livro de Atos também, sem pormenorizar as atividades do apóstolo. Sua provável viagem à Espanha, também, seria uma jornada não detalhada de sua atividade.
     Vamos abordar aqui as denominadas três viagens, selecionando tópicos que as representam. Assim, conheceremos, em linhas gerais, a prática missionária de Paulo e aprenderemos com a ação e estratégia do apóstolo.
     Já abordamos seu primeiro sermão na sinagoga em Antioquia da Pisídia. Vinha de atravessar a ilha de Chipre, onde aportou em Salamina, pregado nas sinagigas judaicas e atravessado a ilha até Pafos, At 13,5-6, onde ocorreu um fato inusitado, v. 5-12.
    Parecido com o caso de Simão, em Samaria, At 8,9-13 e 18-25, que vendo os sinais que Deus concedeu a Felipe operar, quis usurpar o que, para ele, era mágica.
    Barjesus ou Elimas, já apontado por Lucas como "falso profeta", At 13,6, atrapalhava ao procônsul romano Sérgio Paulo ouvir o evangelho. Paulo repreendeu-o e, em função disso, ficou cego, andando à volta procurando ajuda.
    Destaque para a variedade de sinagogas que havia na ilha, assim pela conversão de uma autoridade romana, certamente de livre curso entre os judeus. Lembrar que estamos fora de território judaico.
     E que posteriormente, em sua carta a Tito, Paulo vai mencionar que esse foi o lugar onde deixou esse seu companheiro, Tt 1,5, para que "pusesse em ordem as coisas restantes" e "em casa cidade constituísse presbíteros".
    Essa recomendação indica o modo como, nessa ilha, o evangelho se consolidou. Um dado não muito positivo, pelo efeito que ocorrerá no futuro, de que Lucas não detalha as causas, foi o retorno a Jerusalém do segundo companheiro de viagem de Paulo, João Marcos, At 13,13.
     Já falamos do sermão em Antioquia da Pisídia. Os efeitos foram tão positivos, que Paulo e Barnabé foram convidados a retornar à sinagoga, At 13,42-43. Mas começam as intrigas dos judeus e Paulo, antes perseguidor, começa a ser perseguido, At 13,44-45.
    Paulo destaca que sua ênfase era primeiro os judeus, mas que sua rejeição abria caminho à conversão dos gentios, v. 46-47. Pois estes se convertem e passaram a pregar o evangelho por toda a região, v. 48-49, que era fronteira com a Anatólia e Galácia, hoje litoral do mar Mediterrâneo na Turquia.
     A pressão e intriga dos judeus, At 13,50-51, empurram Paulo e Barnabé a Icônio, porém discípulos convertidos ficam confirmados em Antioquia, v. 52. Hoje ela se chama Cônia, sendo a capital da maior província da Turquia, que tem o mesmo nome, At 14,1-7.
     Nela, novamente, o evangelho se expandiu, com judeus e gregos crendo em Jesus, 14,1, mas novamente houve intriga, v. 2. Sem que se intimidassem, falaram ainda com mais ousadia, também confirmada a sua palavra com sinais e prodígios, v. 3, mais conversões houve e recrudesceu a perseguição.
     Sob ameaça de apedrejamento, retiraram-se para Listra, próxima a Derbe onde, mais para diante, em sua segunda viagem missionária, Paulo vai encontrar aquele que se tornará seu principal colaborador. E são essas também as congregações às quais se dirige, quando escreve aos Gálatas.
      Esses judeus que conspiram contra Paulo vão pressionar, de tal forma, as comunidades de irmãos, que vão tentar induzi-las a entrar para o judaísmo, para só então ser "salvos". Serão denominados "judaizantes".
     A carta aos Gálatas é escrita, de um fôlego e em caráter de emergência, para frisar que a salvação não dependia da guarda dos mandamentos, mas unicamente da fé. Nos vemos diante da providência de Deus.
     Porque toda essa dificuldade e pressão que Paulo enfrenta nessa sua primeira viagem, como as dificuldades que vão ficar para trás e a problemática que se configurou para o futuro, em conjunto, geraram uma das mais claras, diretas e inéditas das cartas do apóstolo, defendendo a autonomia do evangelho, sua autenticidade e exclusividade na obra de salvação .
     Em Listra, At 14,28, os assim chamados apóstolos Barnabé e Saulo, em At 13,7, e agora Paulo e Barnabé, 13,50 e outros, nessa cidade são chamados, Júpiter (Barnabé) e Mercúrio (Paulo), v. 12. Assim como em Perge havia o culto a Ártemis, Lua, deusa da caça, em Lsitra havia um templo a Júpiter, o Zeus grego, pai de todos os deuses, v. 13.
     Tudo isso porque Paulo e Barnabé, v. 8-11, como Pedro e João, à porta Formosa do Templo de Jerusalém, At 3,1-9, pelo poder de Jesus, curaram um paralítico de nascença. A cidade afluiu, trazendo oferendas de suas casas, julgando serem deuses esses dois apóstolos, v. 11-13.
     Foi mais uma oportunidade para Paulo e Barnabé indicarem que não havia mágica ou misticismo, mas era o poder de Deus. E não fizeram seções de cura para os moradores da cidade, porque não é essa a tarefa e missão da igreja, mas apontaram a salvação em Jesus.
     "Porém os judeus", v. 19, mais esta vez, vindos nos rastro da atividade deles, a partir de Antioquia e Icônio, desta vez o apedrejaram. E foi tão enfático o que fizeram, que o arrastaram como morto, para fora da cidade. Certamente houve um milagre, ainda que imperceptível, v. 20.
     Dia seguinte seguiram para Derbe, v. 20, e muitos ali se converteram, v. 21, indicando a dupla o tour de retorno, revisitando os crentes a cada cidade, 14,21-24. A partir de Perge, novamente, desta vez no porto de Atália, seguem por mar para Antioquia, desta vez da Síria, a igreja que os enviou, v. 25-28.

2a viagem missionária

    O intervalo entre a primeira e a segunda viagem de Paulo, em Atos 15,1-41, está preenchido com o denominado 1o Concílio da igreja, em Jerusalém. O que os levou a se reunirem foi o problema que se configurou no contexto das cidades dessa 1a viagem missionária, especificamente na região da Galácia.
     A carta a essas igrejas aqui mencionadas, que envolvem as cidades de Icônio, Derbe  e Listra, apresenta e combate a heresia da falsa necessidade do crente judaizar-se, de modo a garantir sua salvação, At 15,1-2.
     Pelo que deduzimos da leitura desses versículos, essa ideia alcançou Antioquia, onde Paulo congregava e, certamente, pelo sucesso que foi sua primeira viagem missionária e a quantidade de conversões entre os gentios.
    A decisão desse concílio alcança Antioquia, At 15,30, sendo Paulo e Barnabé seus portadores, e a todos satisfaz. Foi decisiva a palavra de Pedro, At 15,6-11, com relação a definir com clareza poder e a exclusividade do evangelho.
     Nesse meio tempo, logo após retornarem, ali mesmo na região de Antioquia, os dois companheiros permaneceram pregando o evangelho, At 15,35. Foi quando Paulo decidiu que deveriam retornar, para visitar e confirmar os crentes, pelo circuito da 1a viagem missionária.
      Barnabé decidiu formarem o mesmo grupo da vez anterior. Mas Paulo recusou aceitar novamente João Marcos em companhia deles. Lucas, sempre econômico em adjetivos, inclui um advérbio de intensidade, "tal", e classifica como "desavença" o que ocorreu entre os inseparáveis, até aí, amigos: At 15,37-39.
     Paulo seguiu com Silas, junto com Judas chamado profeta, em Antioquia, 15,32, voltando pelas cidades da 1a viagem, mostrando aos irmãos as decisões do 1o Concílio de Jerusalém, At 16,4.
     Foi quando, em Trôade, Paulo teve a visão decisiva que o encaminha à Macedônia, At 16,6-10. Filipos, Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto. Esse corredor se constituiu num grande desafio, acompanhando das mesmas provações costureiras. Quando chega a Corinto, é necessário que Deus o fortaleça numa visão, indicando o ministério rico em frutos que ele teria nessa cidade, At 18,9-11, o que lhe definiu permanecer 1,5 ano pregando nessa cidade.

Conclusão
1. Igreja base: Antioquia envia Paulo. Depois de seu turno, sempre retorna a ela. A Jerusalém também sempre sobe, como foi na época do Concílio, para representar, exatamente, sua congregação de origem. Entre eles exerce ação conjunta, pois quem é enviado por uma igreja têm, como principal sintoma, nunca abandoná-la.
2. Fundamental o companheiro. Barnabé foi marcante desde a conversão. O único corajoso em ombrear com Saulo, recém-convertido. Inseparável companheiro e tão fiel a seus princípios, que optou por João Marcos quando avaliou que Paulo não tinha razão.
3. A pressão dos judeus foi em todos os sentidos: agressão contra os dois, mas também urdindo uma doutrina para considerar seria o grupo da igreja é submeter todos às exigências do judaísmo. Foi uma oportunidade sem igual para reafirmar a doutrina sadia da revelação do evangelho.
4. Em todo o percurso a ênfase foi o evangelho. Nenhum sinal ou milagre, perseguição ou resistência afastou os dois apóstolos de pegar tão somente a mensagem única de salvação.

domingo, 14 de junho de 2020

Os 10 mandamentos do Corona

1. Todos são iguais. Embora, em alguns casos, as vantagens, honesta ou desonestamente adquiridas, sejam decisivas, por mais dolorido que seja (para alguns), devemos reconhecer e praticar que todos somos iguais. 
2. Não depende dele a escolha entre o bem e o mal. Ninguém será mal ou será bom em função do vírus. A maldade tem outra origem e é, exclusivamente, inerente ao ser humano. Ainda em meio à pandemia, pode-se aprender a ser bom ou continuar sendo mal.
3. Sempre precisamos uns dos outros. O que nos atende e com o que atendemos, seria ideal compreender, que representa interdependência. Embora o egoísmo também não seja uma novidade, a solidariedade pode e deve ser simples e amplamente praticada nesse momento.
4. Raça, sexo e religião, entre outros motivos fúteis, sempre foram motivo de conflitos mortais. E ainda que velada ou explicitamente, essa briga continua. E a humanidade segue seu ciclo. Esta não é a primeira e não será a última pandemia: continua a chance do aprendizado em construir pontes e eliminar barreiras.
5. Serviço: todos deveriam compreender que esse é o principal espírito com que vale a pena viver. Ninguém deveria servir por obrigação ou obrigar outro a prestar serviço. Temos sede de uma humanidade voluntária. As chances do voluntariado estão flagrantes e clamando, por todos os lados.
6. Há serviços mais urgentes do que outros: a doença que não se instala só no paciente; o professor que precisa da destreza maior de seu colega; os alunos que devem se unir e dar prioridade aos colegas menos alcançados; os serviços obrigatórios, com seus servidores mais expostos. Solidarize-se.
7. Todos vamos mudar nossos hábitos. A roda à porta de casa, nos bares e na casa de amigos; o futebol; o shopping; a higiene atenta e obrigatória; e até igrejas: cuidado, atenção, cautela, de agora em diante, a distância regulamentar, e não o aconchego, vai prevalecer.
8. Vamos nos reiventar. Não vamos perder nossa principal característica. O jeito festeiro, o gesto do abraço, o beijinho no rosto podem ficar mais restritos. Mas vamos inventar outros modos de expressar amor.
9. Sempre é tempo de aprender a amar. Para quem avalia que Jesus foi exemplo de amor, foi ele que disse que se aprende amar, amando o inimigo. E foi Paulo, um apóstolo dele, que disse que todos já fomos (e muitos ainda são) inimigos de Deus. Nem por isso e nem por nenhum instante, Deus deixou de ser amor. Não podemos abandonar o amor.
10. Não espere que o vírus torne você mais humano: a fonte da bondade não está em nenhum vírus e nem em nenhuma pandemia. Olhemos à volta: independente de que quadrante provêm, ainda se veem espetáculos de maldade e outros de bondade. Tomara que a sua escolha seja ser bom. Exercício e oportunidade de exercer bondade não faltam.

sábado, 13 de junho de 2020

Contar dias

"Um novo dia raiou".
   Nasci a 6 de maio de 1957, no Hospital dos Servidores do Estado - HSE, Estado da Guanabara. O título acima é retirado do livro de Jair Pereira Ramalho, o pediatra que me atendeu após nascido e, como eu, filho de pastor. 
     Acordei no dia de hoje pensando no dia. Uma rápida conta aqui, na calculadora do smarth, me informa que já vivi 22995 deles. Sem contar os anos bissextos e o mês que fechou em 6 de junho, agora, no exato último dia de minha mãe entre nós, há 1460 dias atrás. 
     Então, somando esses 37 dias, até  hoje, dá o total de 23032 dias, por coincidência, ora vejam só, um palíndromo, quer dizer, número lido também de trás para a frente. 
    Esse dia de meu nascimento, vida de Dorcas, quando já vivera 9855 dias, com mais 54 dias, foi o seu segundo parto, esse vingou, pois houve 2 abortos espontâneos antes. 
      Contava no ano anterior, com exatos 365 dias a menos, quando sepultou Cid, do primeiro parto, com apenas 12 dias de nascido. Então, comemorou o aniversário com o sepultamento do filho. Que dia!
    Um dos salmistas escreveu um trecho de oração rogando a Deus que nos ensinasse a contar os dias. "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio".
    Será essa conta aí? Há dias que marcam nossa existência. Esse aí, do meu nascimento, já mencionei: que marca na vida de Dorcas! O da profissão de fé, já falei dele mais de uma vez. Mas houve outro em 1967.
     Contava eu 3650 dias de vida e mais 51 quando, em 27 de junho de 1957, fui atropelado, esquina de Pe Manso (que ironia) com Av. Ernani Cardoso, saindo da Escola Paraná, na época. 
     O anjo que Deus enviou pôs, sobre o seu colo, o molambo de perna esquerda que restou da fratura exposta. Esse cara se melou todo com o meu sangue, amparando-a no carro que me levou ao Carlos Chagas, em Mal Hermes, deitado no colo da vice-diretora. Outro anjo. Que dia!
     Outra ironia, minha esposa tinha nesse dia exatos 83 dias de nascida. Deus escreve os dias, diz outro salmista. Mas não como prognóstico ou ludomania: faz isso como arte.
   A gente também pode e deve olhar para trás, numa obra conjunta, para saber o que os dias vividos, no conjunto todo da obra, ensinam. Vai depender de um dia. Que dia?
    Houve uma tarde horripilante de sexta-feira. Encostando num sábado, perto da 12a hora, como se contava por lá as 18h, que o céu se encobriu ameaçadoramente.
    Misturaram-se efeitos dos elementos da natureza, coisas maravilhosas ocorreram, como pessoas mortas que apareceram vivas, enfim, que dia! Nesse dia Jesus morreu na cruz.
   Esse, sim, o dia que muda todos os outros dias. Passa imperceptível para muitos, como incompreensível. Para outros, ponteado como fundamental na conta dos dias.
    Nesse dia, Deus resgatou todos os meus dias. Toda a minha existência. Só posso aqui responder por mim. Desculpem. Nesse caso, cada um responde por si.
    Se ensinar a contar os dias inclui os erros, no atacado e no varejo, pois Deus, que conhece todos os meus dias, contou todos e pôs tudo na conta do crucificado.
     Essa é a matemática de Deus. Deus conta os dias. Conta esses dias sombrios que vivemos. Igual ao Egito, tem de ficar em casa. Diferente do Egito, não é "anjo da morte" e não adianta ter ou não ter a marca do sangue.
    Dias sinistros. Vamos contar esses dias. Daqui a muitos dias, contados como múltiplos de 365, vamos dizer fulano, beltrano, que sobreviveu à pandemia de 2020. Ou sicrano, que ficou por lá, vitimado pelo COVID-19.
     Que dias! Cada história. Todas as histórias. Até agora, 97 dias dela no Brasil. Algum desconto por meses de 30/31 e até 29 dias, neste ano bissexto. Como foi bissexto o ano de 1956, quando Dorcas, minha mãe, sepultou Cid Araujo de Oliveira no seu dia de 26 anos: 9490 dias, aproximadamente.
     Certamente, contar os dias é mais do que, simplesmente, essa conta matemática. Seria bom viver contando cada dia. A vida moderna nos empurra a viver sem contar os dias.
     Às vezes, absortos por segundos, até, esperando carregar um arquivo, esquecemos o arco maravilhoso desse novo dia que raiou. Diz o outro salmista, o sol sai como um noivo e percorre seu trajeto, como um rei, até entrar na tenda de seu domínio. 
    Cada dia. Todos os dias. Ensina-nos, Senhor, a contar os nossos dias.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Lição 12 - At 13,22-41 - O 1° sermão de Paulo

O 1° sermão de Paulo

At 13,22-41

    "Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a.
Paulo, levantando-se e fazendo com a mão sinal de silêncio, disse: Varões israelitas e vós outros que também temeis a Deus, ouvi.
O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou o povo durante sua peregrinação na terra do Egito, donde os tirou com braço poderoso;
e suportou-lhes os maus costumes por cerca de quarenta anos no deserto;
e, havendo destruído sete nações na terra de Canaã, deu-lhes essa terra por herança,
vencidos cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disto, lhes deu juízes, até o profeta Samuel.
Então, eles pediram um rei, e Deus lhes deparou Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim, e isto pelo espaço de quarenta anos.
E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade.
Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o Salvador, que é Jesus,
havendo João, primeiro, pregado a todo o povo de Israel, antes da manifestação dele, batismo de arrependimento.
Mas, ao completar João a sua carreira, dizia: Não sou quem supondes; mas após mim vem aquele de cujos pés não sou digno de desatar as sandálias.
Irmãos, descendência de Abraão e vós outros os que temeis a Deus, a nós nos foi enviada a palavra desta salvação.
Pois os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se leem todos os sábados, quando o condenaram, cumpriram as profecias;
e, embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto.
Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo.
Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos;
e foi visto muitos dias pelos que, com ele, subiram da Galileia para Jerusalém, os quais são agora as suas testemunhas perante o povo.
Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais,
como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.
E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi.
Por isso, também diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção.
Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção.
Porém aquele a quem Deus ressuscitou não viu corrupção.
Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste;
e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.
Notai, pois, que não vos sobrevenha o que está dito nos profetas:
Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei, porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la contar". 

     Introdução
     Não sabemos se Paulo, no período em que, recém-convertido, ainda em Damasco, lançou-se a evangelizar, "E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus", At 9,20, se já elaborava sermões como o que Lucas registrou, esse já na primeira viagem missionária,  na sinagoga de Antioquia da Pisídia.
    Em Jerusalém, Barnabé (sempre ele), ciceroneou Paulo entre os apóstolos, para que desse testemunho de sua conversão e já da atividade em Damasco, ocasião em que ele também não perdeu tempo mas, de novo, lançou-se a "pregar ousadamente":
"Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em nome do Senhor", At 9,27,28.
      Pois nessa 1a viagem missionária, Paulo já passou por toda a fase em que aprimorou sua visão a respeito da Bíblia de seu tempo, o Antigo Testamento, entendendo-o pela ótica da promessa do Messias, cumprida em Jesus. E será o anúncio desse evangelho que vai publicar por todo o mundo.
      Além de focar, aqui, o sermão de Paulo, vamos compará-lo ao de Pedro, em At 3,11-26, quando naquela circunstância foi anunciado, em outro contexto, o evangelho de Jesus. Paulo tem uma assistência homogênea numa sinagoga, pronta para ouvir, enquanto que Pedro tem um grupo maior de patrícios, sob o impacto da cura do paralítico, nas dependências do complexo do Templo de Jerusalém. Vamos analisar, comparativamente, esses dois sermões.
   
     O 1o sermão de Paulo
     Lucas assinala o 1o sermão pregado por Paulo, na sinagoga de Antioquia da Pisídia, no início das jornadas missionárias desse apóstolo.
    Uma sinagoga era um centro irradiador do judaísmo. Os séculos, e até milênio, de tradição judaica estavam ali concentrados, incluídas a tradição dos costumes e os registros das Escrituras.
    Para se ter ideia da importância da sinagoga,  basta dizer que o modelo de culto que as igrejas hoje praticam é sinagogal. Aqui mesmo, At 13,15, Paulo atende a um convite do chefe da sinagoga, como oportunidade para que falasse:
"Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a".
    Portanto, leitura da Bíblia e sermão, num contexto de uma assistência atenta, é herança do culto sinagogal. Essa tradição sadia tem sido desprezada em muitas igrejas, nos dias atuais, ou por não ter quem seja capacitado, e/ou quantos tenham interesse por pregar sermões, ou ainda pela qualidade e concentração do auditório, em relação a desejar ouvir.
     O sermão de Paulo vai fugir um pouco da organização simplificada que costumamos observar nos sermões de Pedro. Evidentemente, por se tratar de outro contexto de ouvintes, assim como pela diferença de abordagem, feita por Paulo.
     Ele fará um histórico da providência de Deus, na história e vocação do povo de Israel, do êxodo no Egito à entrada na Terra Prometida, concentrando sua atenção na transição dos juízes à monarquia, focando em Samuel, Saul e Davi, para indicar Jesus como descendente direto deste rei-herói dos judeus.
      E com referência a sua assistência, em At 13,16 há um detalhe muito relevante. Havia judeus, é claro, como maioria, na sinagoga, mas também "vós outros que temeis a Deus", ou seja, eram gentios. E a própria receptividade, ao final do sermão, At 13,42-44, indica que essa sinagoga estava aberta a ouvir o evangelho.
     Expondo aqui uma proposta de subdivisões, vamos ter:
1. Introdução histórico-doutrinária: At 13,17-22 - Paulo discorre sobre as ações de Deus em favor do povo, desde o resgate no Egito, até à entrada na terra prometida. E pontua as estações percorridas: libertação do cativeiro no Egito, "maus costumes" no deserto, 7 nações derrotadas na conquista da terra e o período dos juízes, até a liderança de Samuel, Saul e Davi;
2. Corpo do Sermão: Jesus, descendente de Davi e o kerigma cristão: At 13,23-37 - Neste trecho, Paulo introduz a pessoa de Jesus, descendente direto de Davi: "Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel o Salvador, que é Jesus", v.23, assim como define as etapas de sua argumentação:
2.1. At 13,23-25: João Batista dá destaque a Jesus, sendo seu profeta precursor, que veio pregando batismo de arrependimento e anunciando Jesus como superior a si mesmo. Vale lembrar que havia ainda quem desse destaque a esse profeta, At 19,1-4, desconhecendo os fatos específicos do evangelho, como o núcleo central do kerigma, que Paulo vai agora indicar.
2.2. At 13,26-31: kerigma: Paulo indica como a prisão, condenação e morte de Jesus contrariam a promessa das Escrituras, essa mesma lida todos os sábados nas sinagogas. Mas que a morte e ressureição eram também cumprimento dela. Os trechos "pediram que fosse morto", v. 28, "puseram-no num túmulo", v. 29, "mas ressuscitou", v. 30, expressam os três pontos do kerigma.
2.3. At 13,32-37: Testemunho autorizado: aqui, neste trecho do sermão, Paulo reafirma a autoridade da igreja no testemunho dado a respeito da ressurreição de Jesus. De novo evoca seus ouvintes para lhes explicar que anunciam o evangelho. E vai indicar o referencial de sua mensagem nas Escrituras. Vai referenciar nelas a ressurreição.
a) vai citar dois salmos, "Tu és meu filho, eu hoje te gerei", Sl 2,7, e textos aos quais Pedro também recorreu no sermão do dia de Pentecostes, At 13,33, com At 2,26-27, ref. Sl 16,10, assim como a argumentação recorrente de At 13,36 e At 2,29, certamente por estar associada a uma declaração de Davi, esta uma confitmação escriturística da ressureição de Jesus, em salmos de Davi, a quem Pedro chama profeta;
3. Conclusão: At 13,38-41: Paulo fará três afirmações fundamentais à fé que, no futuro, vão se constituir em pontos centrais de sua doutrina nas epístolas que vai escrever: At 13,37 e Rm 1,4, ressurreição como garantia da santidade de Jesus e vínculo da filiação de Jesus ao Pai; At 13,38 e Rm 6,11, remissão dos pecados por meio do batismo na morte e ressurreição em Jesus; At 13,39 e Gl 2,16, a justificação unicamente pela fé em Jesus, independentemente das obras da lei. Também fará, ao final, uma solene advertência que seja valorizada e ouvida a palavra do testemunho da igreja, citando mais um profeta, Habacuque, como referencial das Escrituras, Hc 1,5.

      Sermão de Pedro no Templo
     Pedro se viu num contexto totalmente diferente daquele de Paulo. Não havia uma assistência pronta para ouvir o seu sermão. Ele e João subiram ao Templo para orar, numa hora programada, At 3,1.
     Inesperado o pedido do paralítico, talvez mais ainda a ousadia e autoridade de Pedro ao ordenar que, em nome de Jesus, saltasse, At 3,4-6, imediatamente entrando com Pedro e João no Templo, At 3,7-11.
     Acercaram-se de Pedro e João a multidão, naquela área externa do complexo arquitetônico do Templo, e Pedro mais uma vez tem chance de indicar qual foi a função da cura do paralítico, sinal profético que aponta e cria oportunidade de fé no evangelho.
     Da mesma forma, subdividimos nas três clássicas partes o sermão da Pedro:
1. Introdução: At 3,12, de modo magistral Pedro opera a inversão que, até hoje em dia, prevalece e atrapalha a ênfase principal do ministério da igreja: o "Por quê?" de Pedro opera essa inversão: o milagre em si, a cura do paralítico não é o ponto central, mas sim o poder no nome de Jesus e o específico da fé no evangelho para a salvação.
2. Corpo do sermão: At 13-24, Pedro vai trabalhar num efeito de contrastes, comparando a ação de Deus frente à cumplicidade que houve entre autoridades judaicas e parcela do povo que rejeitou Jesus. O "Deus de Abraão, Isaac e Jacó glorificou Jesus", enquanto que o povo "nega e trai Jesus perante Pilatos", At 3,13; continua Pedro afirmando que "negaram o Santo e o Justo", Jesus, pedindo em troca um homicida, At 3,14; a seguir, sua argumentação avança, definindo com maior clareza a pessoa de Jesus, "dessarte mataste o Autor da vida", em contraste com Deus, que "ressuscitou-o dentre os mortos", At 3,15.
      Chegando a esse ponto, Pedro está pronto a trazer a atenção de todos a Jesus, reafirmando que, em nome dele, o paralítico andou. E não para indicar que todo paralítico vai voltar a andar, pelo poder de Jesus, mas que todo o que crer no poder do ressuscitado, terá perdoado seus pecados, At 3,16-18.
3. Conclusão do sermão: At 3,19-26, nesse contexto já é possível para Pedro apelar ao arrependimento, conversão e cancelamento do pecado, At 3,19. E Pedro, desta vez, alonga-se em sua conclusão, ao demonstrar que Moisés anuncia um profeta semelhante a ele, Jesus, testemunho este também dado por todos os demais profetas, At 3,22-24, esse mesmo  Jesus  ressuscitado e acolhido no céu, até o tempo propício para a Sua volta, At 13,20-21. Com uma advertência final, a que a palavra profética desse evangelho seja acolhida, At 13,25-26, porque são descendentes desses profetas, herdeiros da aliança com Deus, agora manifesta no sangue de Jesus, Jr 31,31 com Mt 26,27-28, escolham o perdão do pecado, pelo Servo a quem Deus ressuscitou, v. 26, e não se permitam excluir, v. 23, não ouvindo a voz desse Profeta e dessa profecia anunciada desde Moisés.

     Conclusão
     A confrontação de dois entre os sermões desses dois gigantes, Pedro e Paulo, transmitem lições muito importantes:
1. O sermão é um gênero textual próprio da pregação do evangelho. Consagrado por uso na Bíblia, como indicado aqui na modalidade de púlpito, por Paulo, na sinagoga, e no confronto positivo com o grupo de Pedro, na porta Formosa do Templo, não deve ser menosprezado pela igreja. Constam como registro escrito por Lucas, com riqueza de detalhes e fidelidade de testemunho;
2. A palavra "sermão" costuma ser vista com rejeição: ou significa uma exortação mal aceita, "Já vai me dar um 'sermão'?", ou, no contexto dos cultos atuais, é a parte do culto menos apreciada. Eu já ouvi: "Irmãos, infelizmente vamos terminar o 'louvor', para ouvir o sermão". Isso representa, caso parta de evangélicos, a desvalorização de um dos principais recursos de proclamação do evangelho, essencial estratégia e trincheira da missão da igreja;
3. Na ordem ou liturgia do culto, o mínimo de tempo é reservado a ele, como indicado acima: hora e meia de "cantoria", para 10 ou, no máximo, 15 min para o sermão, com toda a "equipe de louvor" fora do templo e concentração mínima de uma assistência já cansada de tanto tempo em pé cantando. Nenhuma parte do culto deve ser desvalorizada ou aumentada em detrimento de outras. Todas exercem sua finalidade e equilíbrio, lição que deve ser aprendida e praticada. Porém, se no culto o período do sermão for menosprezado, a qualidade de todo o culto estará comprometida, pela principal parte que lhe confere conteúdo. 
4. Culto, como dizia o Bispo anglicano Robson Cavalcante, é mais aula do que entretenimento. Se no futebol, "paixão nacional", temos 15 min de intervalo, a igreja é 1h30, pelo menos, de instrução para a batalha que travamos, do lado de fora dela, contra as forças do mal. Se instrução e preparo forem ruins, haverá derrotas, com certeza.
4. Sermões precisam ser bem entregues, o que exige ser bem preparados. Debruçado sobre as Escrituras, evidentemente, mas em preparo acadêmico e espiritual. Como Deus falou a Josué, Js 1,7-8, e Paulo a Timóteo, 1 Tm 4,11-15, há um conjunto de fatores que contribuem para a construção de bons sermões: desde a aplicação em conhecer e cumprir as Escrituras, para poder pregar, até a aplicação à leitura e preparo pessoal no estudo, para se pregar com conteúdo, consciência e proveito;
5. Lucas registra em Atos vários sermões: Pelo menos 3 de Pedro, em Pentecostes, na porta Formosa, no Templo, e na casa de Cornélio. Incluídos os libelos de defesa dele, duas vezes, diante das autoridades judaicas. De Paulo, são 3 também, em Antioquia da Pisídia, em Atenas e aos presbíteros de Éfeso, em sua despedida. Incluídos também os 3 libelos de defesa, em Jerusalém, ao povo, e duas vezes em Cesareia: diante de Festo e diante do rei Agripa. E ainda o sermão de Estêvão;
6. Portanto, fácil constatar a importância que Lucas dá a esse gênero de fala e de texto. Se, cuidadosamente, pesquisou, de forma acurada, como diz, e anotou os sermões, é porque reconhece o seu potencial de testemunho. E o seu cuidado, a providência de Deus e diligência do Espírito permitiram que todos esses textos se tornassem Escritura;
7. Os auditórios influenciam na opção consciente do pregador. Para Paulo, como se fosse uma aula, no contexto de uma sinagoga, um grupo homogêneo já à espera de uma fala desse género. Pedro, um grupo heterogêneo, ao ar-livre, como que pego de surpresa. Nem todos terão o dom de preparo e entrega de sermões. O diácono Estêvão apresentou um, também libelo de defesa, mas não há registro de nenhum do outro diácono evangelista Felipe. Mas seja de supetão ou com antecedência, precisamos sempre estar acadêmica, espiritual e escrituristicamente prontos.

terça-feira, 2 de junho de 2020

Lição 10 - Estratégia de Paulo - At 16,1-10

Lição 10 - Estratégia de Paulo

Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego;
dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio.
Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares; pois todos sabiam que seu pai era grego.
Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que as observassem, as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém.
Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número.
E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia,
defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.
E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade.
À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos.
Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho.

Atos 16:1-10

Introdução 
      A estratégia de Paulo: a igreja precisa de uma estratégia ou estratégias inteligentes. A autenticidade de sua mensagem, bem como o específico dessa mensagem não podem ser confundidos com outras vozes e outras prioridades, sob pena de dissolver sua identidade e, como dizia Jesus, tornar-se sal insípido, At16,9.
      O chamado de Paulo: a vocação específica para o ministério requer (1) autenticidade por confirmação do Espírito e (2) reconhecimento, autoridade e envio pela igreja. Falsos ou equivocadamente vocacionados têm promovido e espalhado grade prejuízo, enfraquecendo e envergonhando o ministério da igreja. At 13,1-3.

1. Estações na vida de Paulo 
1.1. Compreensível que, logo após sua conversão, como indica Lucas que, literalmente, caíssem todas as escamas que cegavam o jovem, Paulo iniciasse pregando e, destemidamente, testemunhasse o poder de Deus em sua vida, At 9,20-25. A descrição que os judeus de Damasco tinham dele era de que "exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de Jesus" e viera àquela capital para levar "amarrados" os novos crentes da Síria aos principais sacerdotes em Jerusalém.
1.2. Mas, diz o texto, santa confusão, quando percebiam "atônitos" a mudança que Deus havia realizado na vida dele: "logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o filho de Deus". Mas muitos dias depois, era provocação demais, o homem que fora um bem sucedido perseguidor dos cristãos, agora pregava como qualquer deles. Providenciada foi, pelos discípulos, sua fuga, à noite, descido por um cesto, junto à muralha da cidade, em direção a Jerusalém. 
1a estratégia: Paulo sempre, em suas viagens, irá procurar a sinagoga dos judeus, posto avançado e estratégico, centro de culto, com preservação da Torah, Antigo Testamento, e também preservação da cultura judaica em suas colônias, pelo mundo grego.
1.3. At 9,26-30, em Jerusalém também não lhe deram sossego e a gana por matá-lo o alcançou ali. Foi importante, na vida de Paulo, Barnabé associar-se a ele. Levou-o aos apóstolos, discorreu sobre seu testemunho de conversão, mas logo verificaram a necessidade de tirar Paulo do cenário a ele desfavorável: definitivamente, a conversão do líder máximo da perseguição à igreja era demais para os judeus. Encaminharam-no a sua terra natal, onde deveria ficar por um tempo.
2a estratégia: Paulo vai construir uma rede de auxiliares próximos, o que será poderoso instrumento de comunicação e transmissão de ensino, orientações e instruções. Para ele, para a igreja, de um modo geral, e para cada auxiliar, será decisivo fator de fortalecimento, assistência e expansão do ministério da igreja. 
1.4. Nessa fase de sua vida, Paulo esclarece na carta aos Gálatas 1,18-24, que havia partido em viagem para as "regiões da Arábia" e, 3 anos depois, retornou a Jerusalém. Por 15 dias, encontrou Pedro e Tiago, este O "irmão do Senhor", quer dizer, Irmão de Jesus por parte de mãe, e relata que essa estada foi para assuntos genéricos, ainda era um desconhecido para as igrejas, somente correndo boca a boca o espanto do contraste, típico do milagre da conversão.
3a estratégia: Paulo preparou-se para exercer o seu ministério. Além de leitor assíduo, como mostram os textos 2 Tm 4,13, quando pede "livros e pergaminhos", At 17,28, citação do discurso em Atenas, em At 19,9-10, quando escolheu a escola de Tirano, em Éfeso onde, durante 2 anos, "discorria diariamente", Tt 1,12, quando menciona um dos profetas de Creta que ele conhecia, em 1 Ts 5,21, quando sugere um filtro constante para o que é bom, em 1 Tm 4,13, quando recomenda ao jovem pastor "aplicar-se à leitura, à exortação e ao ensino", tudo e sempre relacionado ao preparo acadêmico.
1.5. Há um intervalo, em Atos, da descrição da viagem de Paulo para Tarso, sua terra de origem, até a descrição de sua vocação, em At 13,1-3. Após o avivamento em Samaria, no qual os apóstolos deram cobertura à atividade de Felipe, este sobe em direção a Cesareia, At 8,40, enquanto os apóstolos percorrem Samaria, At 8,25. Pedro chegará a Cesareia também, para pregar na casa de Cornélio, quem sabe alguma influência do mistério de Felipe o havia alcançado. Esse trecho também narra o triste martírio de Tiago, irmão de João, estes os dois filhos de Zebedeu, e o livramento milagroso que Deus proporcionou a Pedro, mantido preso por Herodes Agripa I, que também o queria matar, At 12,6-11.

2. Chamado missionário de Paulo
    Aqui em At 13,1-3 aprendemos algumas lições relevantes com relação à vocação de Deus:
2.1. A igreja é o celeiro permanente de onde Deus sanciona a vocação. A menção de uma relação de nomes indica a variedade entre a qual Deus escolhe, segundo dons, talentos e aptidão, aqueles a quem vai enviar: "Havia na igreja em Antioquia profetas e mestres".
2.2. A igreja, os crentes, antecipadamente, desde sempre, devem estar preparados e se preparar para essa disponibilidade. A relação de nomes indicava aqueles(as) prontos(as), que não se descuidavam, nem eles e nem a igreja, em seu preparo. 
2.3. "Servindo e jejuando", não que isso fosse novidade ou extraordinário, vinham naturalmente praticando e reconheceram o chamado do Espírito Santo. Na conversão, na escolha, preparo e chamado para o ministério, o Espírito Santo é agente, aliás, com as duas outras Pessoas da trindade. 
2.4 . "Separai-me, agora, Barnabé e Saulo". Não existe chamada isolada, vocação ou ministério individual. O Espírito sabe que caminham juntos. Que precisam uns dos outros. A tendência pastoral atual de autossuficiência, seja de pastores, "ministérios" ou igrejas, não é autorizada, abençoada ou motivada por ação do Espírito Santo. Barnabé, em vários aspectos, nessa fase da vida de Paulo, era fundamental para solidificar a experiência do apóstolo, dar-lhe suporte e servir como mediador nesse início de ministério dele. Aliás, Barnabé é também apóstolo, At 14,14.
2.5. A igreja dá suporte, em toda a formação inicial, contexto de comunhão, ensino e prática ministerial. Aqui vale lembrar o perfil da igreja definida em Atos dos Apóstolos. O Espírito Santo autentica. Nessa fase, Paulo já havia cursado o seu "seminário". Muito provavelmente não havia, na época de Paulo, as escolas de teologia como temos hoje. Mas Paulo se preparou, discípulo que foi de um dos mais sábios mestres do judaísmo, Gamaliel, At 22,3 e At 5,34, ver também Fp 3,4-6, trechos estes que confirmam o seu preparo acadêmico prévio. Porém, após a sua conversão, o tempo de exílio voluntário em sua terra natal, assegurou-lhe todo o preparo, revisão e releitura necessários.
4a estratégia: Paulo ampliava o seu preparo acadêmico, 1 Co 2,6. Há uma lista imensa de absurdos que, constantemente, são divulgados e criam escola, principalmente entre quem é preguiçoso e desleixado com relação ao preparo para o ministério. Algumas orientações:
4.1. Um é o preparo no contexto da igreja, como vimos acima no chamado de Paulo, outro será o preparo no seminário. Quem adquiriu maturidade em sua vida como igreja, certamente será um autêntico vocacionado, quando confirmado pelo Espírito Santo.
4.2. Não existe a dicotomia entre ação do Espírito, poder de Deus, carisma, oração, dons, "sobrenatural", de um lado, e livros, pesquisa, teologia, disciplinas de currículo, escola de teologia de outro. As pessoas ficam selecionando trechos das Escrituras que, lidos e repetidos, querem provar com eles que Deus "usa" mais quem não é inteligente e que estudos e inteligência acadêmica trabalham contra a fé. 
4.3. Os próprios perfis de ministros e vocacionados da Bíblia indicam o que evita o mal entendido acima mencionado. Deve-se compreender a extensão do dom que receberam. Exemplo: Pedro e João, amigos íntimos no início de ministério, como Barnabé e Paulo, tiveram ênfase e ministérios distintos, dali para o final de suas vidas. Pedro pregava, João não era pregador; Pedro lia, esforçava-se para entender e recomendava leitura, 2 Pe 3,14-18, sendo a menção de At 14,13 uma expressão do preconceito contra ele e não um dado de sua biografia. João foi teólogo e escritor de Evangelho, Epístolas e do Apocalipse. Mas Pedro também foi pastor e escritor de Epístolas e, certamente, depoente por detrás do Evangelho de Marcos. Portanto, dizer como Paulo diz, em 1 Co 1,26-29, não significa livre curso a gente relaxada para se autorizar vocacionada, mas que a primazia do poder pertence a Deus, que usa poderosamente a quem escolhe. Os verdadeiros vocacionados sempre buscam perfeição.

3. Primeira viagem missionária de Paulo, Atos 13,4-14,27, assim chamada, define seu primeiro percurso descrito no livro de Atos. Embora o apóstolo, certamente, tenha percorrido outros lugares apenas nominal ou genericamente indicados, e outros circuitos, mencionados ou não, Lucas descreve esta e mais duas, além da viagem a Roma, em Atos 27.
3.1. "Enviados, pois, pelo Espírito Santo", essa era a convicção da igreja e o comando do Espírito Santo, havendo perfeita sincronia. Descem ao porto em Selêucia, navegam até a ilha de Chipre e chegam a Salamina. Dali atravessam até a outra ponta, em Pafos. navegando então, de novo, até o continente, na Ásia Menor, atual Turquia, alcançado Perge, na província romana da Panfília. Dali, chegam à chamada Antioquia da Pisídia, para diferenciar daquela da Síria, próxima à região de origem de Paulo, onde situava-se a igreja que o enviou. Prega na sinagoga dessa cidade o seu primeiro sermão. 
5a estratégia: Paulo usou planejar e realizar viagens missionários, num tempo em que estradas romanas por terra e rotas marítimas comerciais garantiram a ele cobrir todo o entorno do Mediterrâneo, sempre retornando à igreja-base, em Antioquia da Síria, e passando pela igreja-mãe, em Jerusalém. Ao decidir, como menciona em 2 Co 1,15-22, não deliberava por palpite, mas buscava a orientação do Senhor, o respaldo da igreja e a companhia de outros servos do Senhor.

Conclusão

    Para encerrar, desejo lembrar minha experiência com viagens missionárias, respaldo da igreja e companhia de servos do Senhor. 
    Em 1986, indo de ônibus para uma reunião da União Feminina, de Cascadura a Anchieta, bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, Gercino da Silva, pernambucano meu irmão em Crsiro e companheiro, mostrou-me uma revista de escola dominical que trazia um mapa do Brasil estampado e, como em relevo, estados onde não havia igrejas congregacionais implantadas.
    Ponteou Mato Grosso do Sul e afirmou conhecer, porque já fora caminhoneiro. E, para minha surpresa, disse que ele e sua esposa estavam dispostos a ir para aquela cidade iniciar um trabalho missionário. Destaque-se que, na época, o casal residia em Madureira, bairro ao lado daquele de nossa igreja, sendo ambos já de terceira idade. Imediatamente lembrei do texto em que Jesus exorta orar por obreiros e deduzi: se temos obreiros, temos tudo o mais.
      Gercino passou a insistir, sem esmorecer, que fôssemos a Campo Grande, a capital do estado, a 1500 km de distância, 22h de ônibus da Rodoviária Novo Rio até àquela da cidade, na época pela empresa Andorinhas, com baldeação e troca de motoristas em São Paulo e Presidente Prudente. Fizemos a primeira viagem em meados de 1987.     
      Amanhecendo, visto termos saído do Rio no ônibus das 16h30min, Gercino havia se deslocado à frente, para conversar com o motorista. Sua estrutura biológica, acostumada a plantões ao volante, permitia. Descemos, procuramos um hotel encostando à antiga rodoviária daquela capital, indicação do Presb. Arlindo, que guiava excursões a Corumbá, por aquele circuito. 
     No hotel indicado, o moço me recebeu indiferente, sem nem me encarar, dizendo não haver nenhuma vaga. Agradeci, estávamos cansados da noite mal dormida, e cruzei com Gercino, eu me dirigindo à saída, ele indo argumentar com o atendente. Chamei-o da porta, ironizando: "O moço está muito ocupado, Gercino, vamos procrurar outro rumo".
     E meu essencial companheiro de viagem mencionou o nome "Arlindo, foi ele que me mandou aqui". Eu repliquei que o moço não vai saber quem é, Gercino. Mas o amigo e irmão mencionou, para o atendente do hotel colado na rodoviária, a palavra mágica: "aquele que faz excursão". Não precisou outra palavra.
    E para este último parágrafo, essa foi a primeira de uma série de viagens a Campo Grande, MS. Envolveram-se 4 igrejas. Nessa primeira viagem, compramos o imóvel onde hoje a igreja se reúne: aquela conversa matinal, ainda no ônibus, definiu a ida a esse bairro. Três pastores por lá já passaram. Um deles adquiriu a casa pastoral, bem defronte à igreja, do outro lado da dupla avenida. Com essa viagem, fomos despertados para abrir em Porto Velho. Visitamos o Acre, 4 pastores, em agosto de 1993. Para cá eu vim em janeiro de 1995. Minha chegada aqui definiu a ida do missionário Nelson Rosa e sua esposa para abrir Porto Velho. Cumpria-se a profecia. E aqui estou no Acre há 25 anos . 
     Que venham mais viagens missionárias. Que nem falei daquelas de Antonio Limeira Neto que, na década de 80, viajou e implantou no Acre, onde estou, no Amazonas e em Roraima. Orientação do Senhor, respaldo da igreja e companhia de irmãos em Cristo.