sábado, 13 de junho de 2020

Contar dias

"Um novo dia raiou".
   Nasci a 6 de maio de 1957, no Hospital dos Servidores do Estado - HSE, Estado da Guanabara. O título acima é retirado do livro de Jair Pereira Ramalho, o pediatra que me atendeu após nascido e, como eu, filho de pastor. 
     Acordei no dia de hoje pensando no dia. Uma rápida conta aqui, na calculadora do smarth, me informa que já vivi 22995 deles. Sem contar os anos bissextos e o mês que fechou em 6 de junho, agora, no exato último dia de minha mãe entre nós, há 1460 dias atrás. 
     Então, somando esses 37 dias, até  hoje, dá o total de 23032 dias, por coincidência, ora vejam só, um palíndromo, quer dizer, número lido também de trás para a frente. 
    Esse dia de meu nascimento, vida de Dorcas, quando já vivera 9855 dias, com mais 54 dias, foi o seu segundo parto, esse vingou, pois houve 2 abortos espontâneos antes. 
      Contava no ano anterior, com exatos 365 dias a menos, quando sepultou Cid, do primeiro parto, com apenas 12 dias de nascido. Então, comemorou o aniversário com o sepultamento do filho. Que dia!
    Um dos salmistas escreveu um trecho de oração rogando a Deus que nos ensinasse a contar os dias. "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio".
    Será essa conta aí? Há dias que marcam nossa existência. Esse aí, do meu nascimento, já mencionei: que marca na vida de Dorcas! O da profissão de fé, já falei dele mais de uma vez. Mas houve outro em 1967.
     Contava eu 3650 dias de vida e mais 51 quando, em 27 de junho de 1957, fui atropelado, esquina de Pe Manso (que ironia) com Av. Ernani Cardoso, saindo da Escola Paraná, na época. 
     O anjo que Deus enviou pôs, sobre o seu colo, o molambo de perna esquerda que restou da fratura exposta. Esse cara se melou todo com o meu sangue, amparando-a no carro que me levou ao Carlos Chagas, em Mal Hermes, deitado no colo da vice-diretora. Outro anjo. Que dia!
     Outra ironia, minha esposa tinha nesse dia exatos 83 dias de nascida. Deus escreve os dias, diz outro salmista. Mas não como prognóstico ou ludomania: faz isso como arte.
   A gente também pode e deve olhar para trás, numa obra conjunta, para saber o que os dias vividos, no conjunto todo da obra, ensinam. Vai depender de um dia. Que dia?
    Houve uma tarde horripilante de sexta-feira. Encostando num sábado, perto da 12a hora, como se contava por lá as 18h, que o céu se encobriu ameaçadoramente.
    Misturaram-se efeitos dos elementos da natureza, coisas maravilhosas ocorreram, como pessoas mortas que apareceram vivas, enfim, que dia! Nesse dia Jesus morreu na cruz.
   Esse, sim, o dia que muda todos os outros dias. Passa imperceptível para muitos, como incompreensível. Para outros, ponteado como fundamental na conta dos dias.
    Nesse dia, Deus resgatou todos os meus dias. Toda a minha existência. Só posso aqui responder por mim. Desculpem. Nesse caso, cada um responde por si.
    Se ensinar a contar os dias inclui os erros, no atacado e no varejo, pois Deus, que conhece todos os meus dias, contou todos e pôs tudo na conta do crucificado.
     Essa é a matemática de Deus. Deus conta os dias. Conta esses dias sombrios que vivemos. Igual ao Egito, tem de ficar em casa. Diferente do Egito, não é "anjo da morte" e não adianta ter ou não ter a marca do sangue.
    Dias sinistros. Vamos contar esses dias. Daqui a muitos dias, contados como múltiplos de 365, vamos dizer fulano, beltrano, que sobreviveu à pandemia de 2020. Ou sicrano, que ficou por lá, vitimado pelo COVID-19.
     Que dias! Cada história. Todas as histórias. Até agora, 97 dias dela no Brasil. Algum desconto por meses de 30/31 e até 29 dias, neste ano bissexto. Como foi bissexto o ano de 1956, quando Dorcas, minha mãe, sepultou Cid Araujo de Oliveira no seu dia de 26 anos: 9490 dias, aproximadamente.
     Certamente, contar os dias é mais do que, simplesmente, essa conta matemática. Seria bom viver contando cada dia. A vida moderna nos empurra a viver sem contar os dias.
     Às vezes, absortos por segundos, até, esperando carregar um arquivo, esquecemos o arco maravilhoso desse novo dia que raiou. Diz o outro salmista, o sol sai como um noivo e percorre seu trajeto, como um rei, até entrar na tenda de seu domínio. 
    Cada dia. Todos os dias. Ensina-nos, Senhor, a contar os nossos dias.

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